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O Lugar da Dor: Uma Beleza Obscura na Vida Humana
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O Lugar da Dor: Uma Beleza Obscura na Vida Humana
E-book202 páginas3 horas

O Lugar da Dor: Uma Beleza Obscura na Vida Humana

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Sobre este e-book

A dor é um fenômeno humano que existe desde os primórdios da humanidade. Falar sobre esse tema é olhar para os mais íntimos sofrimentos do homem ao longo dos tempos. Existe na dor uma profundidade e complexidade que possibilitam tornar o sofrimento uma beleza obscura na vida do homem. Este livro busca correlacionar a dor e o processo de psicoterapia, por meio da compreensão dos tipos de dor, das formas de trabalho e do manejo da dor, dos lugares onde se encontra a dor e dos possíveis retratos desta no mundo. É um olhar pela perspectiva da psicologia analítica. Evidencia-se que o trabalho com a dor é uma premissa essencial para o processo de análise. Há uma subjetividade na dor e, portanto, ao trabalhar com o sofrimento se faz necessário levar em consideração a equação pessoal do paciente, bem como a do analista. Para aqueles que sofrem a dor, além da psicoterapia, há elementos no mundo, como a arte e a religião, que possibilitam suportar e passar pelos momentos dolorosos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de jul. de 2021
ISBN9786558204886
O Lugar da Dor: Uma Beleza Obscura na Vida Humana

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    O Lugar da Dor - Raphaella Portella

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO MULTIDISCIPLINARIDADES EM SAÚDE E HUMANIDADES

    Dedico esta obra a todos aqueles que passaram por um momento

    devastador em suas vidas e sobreviveram ao caos.

    PREFÁCIO

    O livro da autora Raphaella Portella, que admiro por tamanha dedicação e pesquisa, trata de um tema tão pungente e universal, com extrema necessidade de reflexão. Ter a oportunidade de escrever algumas linhas sobre ele é uma grande alegria por ter presenciado as dores de parto da Raphaella ao pesquisar, dialogar e escrever sobre o tema. Prefaciar o livro é, então, ver a criação caminhar, rumo ao seu compartilhamento.

    Dores, sofrimentos, com suas expressões pessoais e culturais é o que o livro primeiramente descreve. De forma única por seu compilar e refletir, Raphaella conduz o leitor a visitar os diversos tipos de dores: de amor, de saudades, do corpo, da alma, da perda, do abandono, da rejeição, da vergonha, da culpa, entre muitas outras. São muitas as dores vividas ao longo de uma vida. Diferentes nuances de dores, com suas gradações específicas.

    Assim, o livro é um convite a refletir sobre o fato de que estar vivo é poder sentir dor. Algo que pouco se pensa: a dor que por vezes quase mata, é também aquela que marca a vitalidade de algo. Mas, quanto se suporta de dor, como viver em meio à dor? Como manter a vitalidade face ao sofrimento?

    Vive-se as dores de forma singular, por mais que estas tenham pontos que a caracterizam sobremaneira: reconhece-se aquele que está sofrendo um luto da mesma forma que, por vezes, um médico sabe reconhecer se a dor vem de um determinado órgão. Ainda assim são requeridos vários exames do corpo e da alma para chegar a conhecer um pouco daquilo que gera alguma morbidade e sofrimento. Há dores quietas, como existem focos de sofrimento que agem de forma não perceptível a olho nu.

    Ponto importante colocado nas reflexões da autora é a relação estabelecida entre o conscientizar-se e as dores. As dores do crescimento, do amadurecimento. As dores que precedem as transformações. As dores que a inconsciência pode gerar e esconder chances de reconstrução. Por outro lado, a dor lancinante que cega, que requer analgesia para que nela se possa tocar. Aquela dor para a qual não se pode olhar de frente porque petrifica, paralisa. Dores insuportáveis para determinada pessoa. Em muitas situações é preciso tomar o remédio amargo da dor e para a dor bem aos poucos.

    Dor e psicoterapia, outro ponto extremamente explorado no presente livro. Psicoterapia local por excelência, na qual sofrimentos podem ser compartilhados na segurança da busca por compreensão, e não julgamento; espaço de acolhimento para estas e para a busca por transformação.

    Tal qual um centro cirúrgico, a psicoterapia é um lugar que acolhe e trabalha nas fontes da dor. Assepsia, cuidado técnico e risco de infecções sempre estão presentes. No processo psicoterápico, as dores se colocam à mostra e todo cuidado se faz necessário; cada paciente, uma atuação. Há que não se julgar a relação de um ser frente ao sofrimento, há que se buscar entender qual padrão anímico colore seu sentimento de dor. Pode-se viver uma situação sob as lentes da despedida, mas também sob a perspectiva do nascimento – quando um filho sai de casa seus pais sofrem, mas também podem se alegrar ao vê-lo crescer.

    A perspectiva pela qual se vive determinada situação é o que pode ser transformado nessa vida e a psicoterapia busca compreender o que a psique tem a dizer sobre uma situação inexorável, qual as dores. O trabalho com a psique e seu jeito específico de estar vivendo determinada dor pode fazer com que nasçam outras formas de ser, existir, sentir e viver esse sofrimento.

    Sempre bem lembrado nas reflexões da autora: por mais que as dores e suas agonias estejam sempre presentes no consultório psicoterápico seu objetivo não é cultivar sofrimentos, assim como não é a promessa de uma vida sem estes. Como trabalhar com as dores? Como reconhecer suas falas e especificidades? Em noites escuras da alma, como continuar a viver? Como encontrar sentido em meio a estas? Direcionamentos? Significados? Tarefas essas da psicoterapia, a relação entre analista e paciente visa a reconhecer as respostas psíquicas frente às dores, e assim a vida continuar seu caminhar. Há de existir um momento no qual depois de ser colocada a possibilidade de a dor falar, ser ouvida, acolhida, acalentada, cuidada ela também, aos poucos, aponte novos sentidos.

    De forma extremamente criteriosa este livro faz jus ao seu tema, pois a autora esmiúça miríades de possibilidades de trabalho psicoterápico frente ao sofrimento do outro e daquele com que trabalha com este. Em que momento de sua relação com o sofrimento o paciente se encontra? É preciso deixá-lo expressar suas dores, conhecê-las? Não quer falar sobre elas? Qual o grau de possibilidade psíquica para lidar com a dor? Quando buscar ajuda interdisciplinar? O que as imagens psíquicas falam sobre essa dor e suas possibilidades transformativas?

    Dores e sofrimentos transformam sem deixar de refletir sobre quando a dor se torna um trauma difícil de ser englobado no todo psíquico – a partir das reviravoltas que provocam, não se é mais o mesmo; nem para os outros e nem para si. Há uma certeza na vida: tudo se modifica, tudo se transforma. Mesmo a maior dor tem a possibilidade de transformação – é o que temos a oportunidade de sentir ao ler o livro de Raphaella. Boa leitura!

    Renata Cunha Wenth

    Analista Junguiana

    Membro analista do Instituto Junguiano

    do Paraná – IJPR/Associação Junguiana do Brasil – AJB

    INTRODUÇÃO

    Todos os dias, em diversos contextos diferentes, o tema da felicidade está presente. Existem milhares de trabalhos, de escritos e de publicações literárias acerca da felicidade. Atualmente, se está cercado pela informação de que é preciso ser feliz. Mas, e a dor? Quem fala sobre o sofrer? Quem está disposto a olhar para a dor como algo que faz parte do processo? Essa ausência de atenção sobre o tema pode tornar os indivíduos estranhos e desconhecidos ao sofrimento. Hoje a dor é uma experiência a ser evitada a todo custo em nossa sociedade.

    Mas há um fato irremediável, em um momento ou outro da vida, o ser humano se depara com um período de tristeza, um sofrimento, uma perda, uma frustração ou um fracasso, tão intensos e duradouros, que causam dor.

    Um casamento difícil, um filho com algum problema, um terrível estado de espírito, uma doença, a perda de um cônjuge, a traição de uma pessoa próxima, divórcio, a perda do emprego ou até mesmo uma crise financeira. Essas são algumas das infinitas situações que podem ser compreendidas como fontes de um profundo desespero: fontes da dor. São acontecimentos externos ou uma disposição interior que atingem no cerne da existência.

    A dor é um fenômeno universal que habita não só o corpo, mas também a alma e pode ser representada, essencialmente, pelo que chamamos de sofrimento. Falar sobre esse tema é olhar para os mais íntimos sofrimentos do homem ao longo dos tempos. Existe na dor uma profundidade e complexidade que possibilitam tornar o sofrimento uma beleza obscura na vida do homem. Esse fenômeno acompanha a humanidade desde os seus primórdios e ao longo dos anos foi visto e compreendido de formas diferentes. Por exemplo, de acordo com Ceccarelli¹, na Grécia pré-socrática o sofrimento psíquico era um castigo dos deuses irritados com a hybris dos homens.

    A dor é parte da vida, sempre sentida pelo ser humano, portanto, essa obra visa a um olhar psicológico sobre esse fenômeno que eternamente persistirá na existência humana. A dor é compreendida de formas distintas dentro de cada visão psicológica existente, no entanto esse texto busca refletir sobre a dor dentro da visão da psicologia analítica. A proposta é trazer essa temática à tona; busca-se trazer questionamentos e, não, respostas, com o objetivo de instigar a se pensar e falar sobre a dor; uma proposta de aproximação ao tema da dor, que hoje é tão evitada, de tantas formas diferentes.

    Na atualidade, parece existir uma tendência de banir o sofrimento do mundo e buscar sempre o aumento da produção e do bem-estar a qualquer custo, apesar da dor ser sempre presente e influenciar o ser humano em seu lado social, emocional, familiar, profissional. Nesse sentido, dar visibilidade ao processo de significação do sofrimento é uma possibilidade de encontrar um lugar para esse fenômeno humano tão evitado.

    Espero que essa leitura possa ser um convite, em especial aos psicoterapeutas, a refletir, se não houve um momento que sentiu o desejo de que o outro saísse daquela situação dolorosa, se não ocorreu em algum ponto uma vontade de poder resolver os problemas do outro. Todo psicoterapeuta é humano e, portanto, também é afetado por esse padrão coletivo de que o sofrimento não deveria existir. Está aqui, então, a grande importância de o psicoterapeuta buscar aprofundamento nessa temática da dor.

    É humanamente normal que a primeira resposta egóica a surgir seja a de não querer sofrer, mas essa não pode ser a única. A dor é algo que pertence à natureza humana e que, portanto, precisa ser conhecida; é preciso abrir-se para uma relação com as dores. Falar sobre esse tema é doloroso, pode não agradar ouvir sobre ele, pode remexer com as emoções, até porque, quem nunca sofreu? Kubler-Ross² em sua autobiografia – A Roda da Vida – afirmou não há nada garantido na vida, a não ser a certeza de que todos temos de enfrentar dificuldades. É assim que aprendemos.

    Em minha prática clínica, constantemente entro em contato com dores e sofrimentos presentes nos seres humanos, o que despertou o interesse em buscar compreender o lugar que a dor de cada paciente ocupa em seus próprios processos de psicoterapia. Em cada relato, percebe-se que muito além do que buscar um psicodiagnóstico de suas queixas. Existe uma tentativa de em palavras descrever suas dores, mostrar o seu âmago dolorido. Há algo que está fervilhando dentro deles, suas almas estão constantemente mergulhadas em emoções confusas e irracionais, sua sombra surge em meio a essa dissolução de seu ego em um lago de sofrimento, portanto, a partir disso, me propus a uma tentativa de olhar para o ser humano através das dores e de suas expressões.

    Em especial, este trabalho visa a analisar o lugar da dor no processo psicoterápico, partindo da premissa de a dor ser uma expressão da alma humana, um reflexo da alma.

    Para tal, o primeiro capítulo busca conceitos sobre a dor e seu lugar na história, além de explorar a diversidade de dores existentes na vida dos seres humanos. No segundo capítulo, explanou-se sobre as fronteiras da dor, por um olhar que vai do individual ao coletivo. No terceiro capítulo, o olhar é acerca da dor sob a ótica da psicologia analítica e no processo de psicoterapia, sendo apresentada a psicoterapia como lugar da escuta da dor e expostas formas de trabalho para com a dor.

    A dor como qualquer fato psíquico expressa-se em imagens. Portanto, no quarto capítulo deste livro a dor será vista em suas expressões imagéticas, do indivíduo ao coletivo e cultural. No último capítulo, se encontram as reflexões atuais que buscam instigar um olhar mais contextualizado aos dias de hoje, além de expor sinteticamente as principais reflexões sobre a dor desenvolvidas ao longo dessas páginas.

    Desejo que essa leitura leve a lugares escondidos e possa tocar o seu cerne para abrir um espaço

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