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E-book677 páginas10 horas

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Sobre este e-book

________________________________________________________ De: Dean Roth Assunto: URGENTE!!! Data: 18 de dezembro de 2014 11:47 Para: Hayden Sullivan Hayden, Não consegui falar com vocês pelo celular! Tenho péssimas notícias! Se não for o James, você e a Cris têm outros inimigos dispostos a jogar pesado! Temos que detê-los rapidamente! Recebemos uma correspondência endereçada a vocês. Dentro dela tinha um bilhete e uma caixinha de presente branca com laços preto. O bilhete diz: “Existe um delator e um mentiroso entre vocês. Alguma suspeita? Vocês vão se surpreender! Amigos e irmãos serão os primeiros a cair e recair. E que comecem os jogos! ” Dentro da caixinha encontramos um sapatinho de crochê branco coberto de sangue, ao lado um dedo indicador. Analisamos o dedo e pertence ao Landon! Ele está desaparecido há quarenta e oito horas. Precisamos ser rápidos, descobrir se ele ainda está vivo! É o nosso amigo, Hayden! Preciso de vocês com urgência aqui em LA!!! No aguardo, Dean _____________________________________________________ OBSERVAÇÃO: VERSÃO IMPRESSA DIVIDIDA EM DUAS PARTES. VERSÃO E-PUB COMPLETO.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de dez. de 2016
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    Game Over - Glaucia Pereira

    Autor: Glaucia Pereira

    Capa: Pamella Mendes

    Revisão: Glaucia Pereira

    ISBN:

    Ano: 2016

    Dedico essa obra a minha mãe.

    1.PRÓLOGO

    1.1. HAYDEN

    DOIS ANOS E SETE MESES ATRÁS.

    Meu coração está martelando no peito, minhas mãos suam, uma dor horrível atinge o meu estômago, mas sei que tudo isso é psicológico, é o meu corpo tentando convencer a minha mente a desistir do que estou prestes a fazer, mas não posso me esquivar.

    Toco a campainha com dedos trêmulos, e assim que ela abre a porta, eu disparo da forma mais fria e indiferente que consigo:

    - Precisamos conversar.

    - Claro! – Ela responde no mesmo tom. Não nos tocamos, não nos cumprimentamos, agimos como duas ilhas isoladas e inóspitas. – Vá direto ao ponto. – Ela abre espaço para que eu entre.

    - No caso é ao ponto final! – Ela fecha a porta após minha passagem, e ficamos calados, nos encarando.

    - É isso mesmo que você quer?! Pôr um ponto final na nossa relação?! Na nossa história?!

    - Na nossa relação, Cristina! Não na nossa história. Trabalhamos juntos, somos amigos!

    - Não sei se quero ser a sua amiga, Hayden! Não sei se consigo! É isso mesmo que você quer?!

    - Sim!

    - Tudo bem. – Ela me dá as costas e caminha em direção as escadas.

    - Aonde você vai?!

    - Não vou sozinha. Por favor, me acompanhe!

    E subimos para o terceiro andar, onde ficam as suítes.

    - Cristina, não estou no clima para despedidas! Só tornariam as coisas mais difíceis para nós!

    - Concordo!

    Ela entra em seu quarto – Nosso quarto – E deixa a porta aberta para que eu entre. Fico parado no batente para não cair em tentação.

    - Cristina, o que está fazendo?!

    - O que você pediu. Ponto final. – Ela volta com duas malas de rodinha – Tem mais duas no closet, pode pegar essas e descer com elas, já chego a sala com as outras.

    E a dor em meu estômago aumenta bruscamente. Esperava uma discussão e muito choro, mas não isso.

    Ela pretendia terminar comigo?! Por isso arrumou as minhas roupas?! – Me questiono entre um turbilhão de sentimentos.

    - Tudo bem!!... eu te aguardo na sala. – Digo mantendo minhas feições e emoções veladas.

    - Eu já desço. Só preciso trocar de roupa. Essa camisa também é sua!

    E só neste momento reparo que ela está vestida apenas com a minha camisa de flanela preta, ela sempre gostou dessa camisa porque é bem quente e confortável. Ela costuma dizer que tem meu cheiro impregnado, e usá-la é como está abraçada comigo.

    - Não precisa...

    - Sim! Precisa! Eu já desço. Vou levar só uns três ou quatro minutos.

    Eu apenas assinto e saio dali me sentindo confuso. Sem ter certeza dos meus atos. Meus passos são tão lentos, que percebo que estou me despedindo da casa. Antigamente a achava gigante, mas hoje em dia era o nosso lar, onde estávamos com os nossos amigos, ou sozinhos, vivendo as nossas vidas, compartilhando momentos felizes e também tristes. Lembro de fazermos amor em cada canto desta casa.

    Pensamento errado, hora errada, Hayden! – Me Censuro.

    E enquanto a aguardo, me vejo entrando casa adentro, indo em direção a sala de jantar e cozinha, quintal dos fundos, com a piscina e a churrasqueira.

    Perdi as contas de quantas vezes fizemos amor aqui fora!

    - Aí está você! Já desci as suas malas! – Ela diz sem conseguir ocultar a emoção na voz.

    E quando a olho, eu vejo tudo lá, toda a sua dor. Ela está com a minha camisa nas mãos.

    - Obrigado! Nem percebi que caminhei até aqui! – E me xingo pelo tremor na voz.

    - É normal! São mais de doze anos. Se quiser, posso deixá-lo sozinho, quando se sentir pronto, estarei na sala.

    Abro um sorriso triste quebrando um pouco a distância que estabelecemos inicialmente.

    - Acho que nunca me sentirei pronto. Eu só preciso fazê-lo! – Ela assente, estende a mão para me passar a camisa, evitando o contato entre nós, e saí me deixando sozinho.

    Sento próximo a piscina e fico refletindo por que estou terminando com ela, se ainda a amo. Não é por mim. É por ela! Eu a quero para sempre comigo, mas não posso querer sozinho! Estou com quase trinta e três anos, quero casar, constituir uma família feliz e amorosa, mas isso parece o próprio apocalipse para Cristina. Eu sei que no fundo é apenas medo de perder mais alguém, ela já perdeu muito! O que ela não quer enxergar é que as perdas são inevitáveis no decorrer da vida! Assim como se ela permitir, os ganhos também acontecerão! Mas não tenho mais forças para argumentar. Cheguei ao meu limite!

    Levando e vou em direção a sala em passos largos e firmes:

    - Obrigado por ... permitir que eu tivesse esse tempo sozinho!

    - O que você quiser e precisar, Hayden... sempre! – E ficamos nos olhando. Vejo em seu olhar uma esperança muda de que eu desista.

    - ... Lembrei de uma frase da Clarice Lispector. É mais ou menos assim: Por te falar eu te assustarei e te perderei? Mas se eu não falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia. ... – Solto um suspiro ruidoso antes de concluir: - No final das contas eu devo ser meio burro! Levei todo esse tempo para entender e aceitar que na verdade você não pode me dar aquilo que eu mais quero! Você simplesmente não quer o mesmo!!!... Eu sempre vou te amar, Cristina! Sempre! Mas preciso que seja de um modo diferente. Preciso que seja apenas um amor de amigos! Eu não posso mais...

    - Tudo bem! Eu entendo você! – E sua armadura cai junto com as lágrimas – Você está certo! Não tenho como argumentar com o que você disse! Você merece alguém melhor do que eu! Uma mulher inteira! Sem traumas, sem medos! Eu te amo incondicionalmente, e só quero que você seja feliz! Eu te libero para isso...

    Não consigo dizer nada. Sei que se tentar consolá-la, vou fraquejar na minha decisão. Vou fazer o que o meu coração está mandando fazer. Vou pegá-la no colo e levá-la para o nosso quarto, mas depois os nossos problemas ainda serão os mesmos! Então caminho em direção a porta procurando as minhas malas.

    - Eu as coloquei no seu carro enquanto estava nos fundos. Não queria vê-lo sair com elas! – Ela sussurra respondendo minha pergunta muda.

    Gostaria de agradecer pelo gesto e dizer algo mais, mas não consigo. Estou no limite do meu autocontrole. Preciso sair dali e deixá-la para trás, então apenas assinto e saio da casa. Ainda ouço o som da porta batendo e de algo sendo estilhaçado. Algum objeto de vidro.

    Entro no carro, encaixo o celular no suporte, e ligo para Bia, enquanto dirijo para me afastar o mais rápido possível dali:

    - Nós terminamos. Ela precisa de você! – Silêncio do outro lado da linha – Bia?! Está me ouvindo?!

    - Como assim?! Por que me ligou antes de ligar para o Luke?! Você sempre liga para ele. E vocês precisam parar com essas brigas. Está desgastando a relação de vocês! Não a amor que suporte tanta crise!

    - Não foi uma briga. Nós nem discutimos! Acabei de sair da casa dela com as minhas malas, Beatriz. Dessa vez foi para valer! Fim... e ela precisa de você!

    - Puta que pariu!! Venha para cá para ficar com o Luke. Estou indo para aí!

    - Obrigado!

    - Venha logo, e aguente firme! Beijos! – Ela diz em um tom de voz preocupado, mas não consigo responder.

    Desligo o celular e paro o carro no acostamento para chorar tudo que me sufoca. Espero a dor diminuir e se abrandar, mas ela parece não ter fim, nunca senti tanta dor na minha vida, então fico ali, tentando acalmar o meu desespero em vão, após algum tempo no qual sou incapaz de medir, ouço a porta do carona sendo aberta. Olho para o lado e vejo o Luciano.

    - Mas... como?!...

    - Eu te achei?! Rastreei seu celular, e vi que estava parado. Sabia que precisava de mim.... Sinto muito, cara! Sinto mesmo! Eu vou te levar para casa. Lá nós conversamos... ou podemos chorar juntos. Vamos trocar de lugar, você não tem condições de dirigir. – Apenas assinto.

    - E a Bia?!

    - Acabou de me deixar aqui e seguiu para casa da Cris. Não se preocupe! A Bia a conhece como eu te conheço. Vocês ficarão bem!

    - Será?!

    - Tem que ser, meu amigo! Tem que ser!

    Saímos do carro e damos a volta para trocar de lugar. Acho que nunca me senti tão perdido em toda a minha vida. Agradeço silenciosamente o fato do meu amigo me conhecer tão bem. Pensei que estava firme, mas agora vejo que estou arrasado como nunca estive antes. Ela me mudou, me transformou, e agora eu preciso me reinventar.                                                                                               

    1.2 CRISTINA

    Após sua saída, eu queria expor aquilo que sentia por dentro, e foi como se entrasse em estado de transe. Apenas uma parte minha tinha consciência do que eu fazia. A outra parte estava em torpor, completamente entregue a dor que a sua partida me causou.

    Eu tentei ser forte! Eu sabia que isso aconteceria no momento em que ele me disse que precisava de distância, que talvez eu estivesse certa. Hayden nunca concordou comigo, mas ouvir um não ao seu pedido de casamento certamente o fez entender que nunca serei a mulher que ele deseja.

    Ao mesmo tempo que isso me trouxe alivio, também me trouxe uma dor excruciante, algo que nunca senti, mesmo já tendo sentido tanta dor. Eu realmente não sei como vou sobreviver a isso!!

    - Meu Deus, Cristina!! Pare com isso!! Você enlouqueceu?!? – Ouço Beatriz gritando comigo.

    E só nesse instante eu paro olhando a minha volta. A sala está um caos! Acho que não sobrou nada inteiro, todos os objetos de vidro se transformaram em cacos espalhados por todos os lados, até mesmo a teve, que está presa na parede está com um rombo, certamente eu lancei algo contra ela. Os sofás estão fora do lugar e virados, a mesinha de centro espatifada me dá a dica que provavelmente foi ela que lancei contra a tevê.

    Enquanto vejo cada um desses detalhes, sinto a dor me exaurir. Uma vertigem que me atinge e tudo se apaga.

    Quando acordo sinto meu corpo pesado e rígido, estou deitada na minha cama, - nossa cama! – E pelo modo que me sinto, sei que dormi por horas.

    - Finalmente você acordou!! Estávamos pensando em te levar para o hospital!! – Ouço Bia em um tom baixo, mas que não oculta a sua preocupação.

    - É verdade!! Você nos deu um susto e tanto!! Vou esquentar a sua sopa e deixar vocês conversarem enquanto isso!! – Landon diz antes de se aproximar e me dar um beijo na testa.

    Ficamos em silêncio observando ele, até que saía e tenha o cuidado de fechar a porta.

    - Como você se sente?!? – Bia pergunta com voz tensa.

    - Como se não estivesse viva!!.... Eu fiz todas as escolhas erradas, Bia!! Estou sem rumo!!

    - Você sabe o que tem que fazer!! Apenas aceite o que sente por ele e se jogue!! Vai dar tudo certo! Vocês se amam!! Hayden não está diferente de você!! Ele está arrasado lá em casa!! Luke está cuidando dele enquanto estou aqui com você. Por que não põe um ponto final nesse sofrimento de vocês dois?!?

    - Não! Eu não posso!! Não posso dar ao Hayden o que ele quer! Você já viu a família no qual eu pertenço?! O mundo em que vivemos?! Não posso me casar! Não posso dar um filho a ele! Não com tudo que nos cerca! O mundo está uma merda! Por que eu traria outro ser humano para isso?! Pode me explicar?!?

    - Porque nem tudo na vida é essa merda e essa confusão!! Porque existe esperança! Existe amor! Porque vocês se amam, e.....

    - Do que adianta amá-lo se eu faço mal a ele?!?

    - Mas do que você está falando, Cristina?!?

    - Hayden quer uma família, e eu tenho medo de ter uma! Minha mãe se jogou de cabeça no amor que sentia pelo meu pai e isso a matou! Meu pai foi infeliz e se tornou mal! Eu não quero repetir esses passos, e..... Os pais do Hayden romperam com ele por minha causa!! Eu não dou nada a ele! Eu só tiro as suas chances de ser feliz!! Preciso deixa-lo ir para ser feliz! Ele merece!! Eu devo isso a ele! Vou refazer a minha vida! Mas sem ele!! Hayden será apenas um amigo!!

    Beatriz me olha com tristeza evidente. Eu nunca a vi tão branda. Eu devo ter mesmo a assustado.

    - Você surtou, Cristina! Destruiu a sala inteira, não sobrou nada!! Se cortou e não percebeu, estava tentando literalmente libertar a sua dor, e como sempre se virou contra si mesma! Como vai ser isso?!? Eu vejo que você o ama!!

    - Sim, eu o amo! Sempre vou amá-lo! Só precisa ser de um modo diferente. E será!!... Por favor, volte para a sua casa, para o seu marido! Eu preciso de um tempo para mim mesma, e eu te prometo que vou me refazer. Eu só preciso de tempo para que a ferida sangre livremente. Depois ela se cicatrizará!

    - Tudo bem!! Que assim seja!! Sei como é teimosa!! Vou levar o Landon comigo. Mas não deixe que eu me arrependa disso, está bem?!?

    - Palavra de escoteiro!!

    - Isso não ajuda muito já que nunca fomos escoteiras!! – Ela diz sorrindo e retribuo o seu gesto, mesmo que seja rápido e fugaz.

    - Obrigada Bia!! Agradeça ao Luke por mim, por.... – E não consigo completar.

    É horrível pensar que ele está sofrendo por minha causa, me faz sentir ainda pior.

    - Hey! Pare com isso!! Vocês são os nossos melhores amigos! Não há nada que não faríamos por vocês!!

    Ouço um bater na porta, seguida da sua abertura:

    - Espero não ter atrapalhado a conversa de vocês! Trouxe uma sopinha para você. A nossa favorita! Tem legumes e pedacinhos de carne!!

    Ele põe a bandeja sobre o meu colo, e eu me ajeito para tomar. Landon mora sozinho há muitos anos e por isso sabe fazer de tudo.

    Assim que eu começo a comer ele pega o meu celular. Não digo nada, pois ele é para mim uma versão masculina da Bia, é meu melhor amigo, como um irmão. Nossa amizade é muito parecida a que eu tinha com o Daniel, tirando a minha paixonite.

    - Coloquei meu número como primeira opção de discagem rápida. Se houver algum problema, me liga! É só apertar um botão, está bem?!?

    Eu apenas assinto.

    - Estou quase com ciúmes!! Mas vai ser bom ter alguém para me ajudar a tentar por algo dentro dessa cabecinha dura!!

    - Obrigada, Bia! Eu sempre posso contar com a sua sinceridade!! Obrigada, Landon!! Eu vou ficar bem, eu prometo!! Não precisam se preocupar!

    - Então nós vamos indo!! Se cuide!! – Landon diz se aproximando e depositando um beijo na minha testa.

    Bia se aproxima e faz o mesmo, então os dois se vão.

    Mal noto a passagem do tempo, mas vejo o dia escurecer e depois clarear. O torpor voltou a me atingir, mas agora ele me domina por completo. Eu apenas assisto à passagem das horas, e os únicos momentos em que reajo são quando Beatriz ou Landon me ligam. Eu não quero dar razão para que um deles venham até aqui, e por isso me forço a pôr algum ânimo na voz ao falar com eles.

    Não sei quanto tempo fico assim, mas percebo que preciso reagir. Tia Amélia ficaria muito triste se me visse me entregar deste modo, e é essa ideia que me faz levantar. Mais uma vez a vertigem me ataca e sei que é consequência dos dias sem alimentos. Vou ao banheiro e faço minha higiene pessoal, depois decido ir até a cozinha. A fraqueza e os três lances de escada não são uma boa combinação.

    Quando estou chegando ao terceiro lance sinto uma nova vertigem, mas diferente das primeiras, ela é mais rápida e forte. E por isso eu apago.

    Não sei quanto tempo fiquei desmaiada, não é algo que geralmente me assuste, mas ao sentir uma dor aguda no abdômen, eu me encolho em posição fetal, e apago mais vez.

    Quando volto a acordar percebo que não consigo levantar, e imagino que tenha machucado a coluna, olho para as minhas pernas e noto uma poça de sangue, ela parece vir da região intima. Rapidamente busco meu celular e uso a discagem rápida.

    - Cris, o que houve?!? – Landon atende alarmado.

    - Socorro, Landon, estou sangrando! Preciso da sua ajuda!! Estou muito fraca!!

    - Fique exatamente onde está!! Chego aí em cinco minutos. Fica na linha comigo, está bem?!?

    - Não conte nada a ninguém!! Principalmente ao Hayden, só venha rápido está bem?!?

    - Tudo bem!! Fale mais! Converse comigo!! Não perca a consciência!

    - Ahh!! Está doendo muito!! Eu acho que vou... – E pago mais uma vez.                                                                                               

    2.REUNIÃO

    2.1. BEATRIZ - TEMPOS ATUAIS.

    Estou me sentindo estranha há alguns dias, talvez porque estou segurando a língua. Perguntei como eles estavam para sondar, e ela me garantiu que está tudo bem. Ele também disso isso. Ambos dizem que estão felizes. Mas eu os conheço! Algo não está certo, e hoje eu descobri o que é! Só não sei até onde isso vem de mim. Talvez a única inconformado seja eu mesma! Nem eu estou me entendendo ao certo!

    - O que será que houve para o Mark nos convocar?! – Eu pergunto aflita encarando o meu pedaço particular do céu nos olhos do Luke.

    - Não faço ideia! Ou é um caso muito sério que não pode esperar, e todas as equipes já estão com seus casos, ou...

    - Ou?! Pode ser um caso pessoal?! – Ele assente e completa:

    - Sabemos que o James está vivo! O cara é esperto! Se não fosse, já teríamos localizado e prendido ele. Em algum momento ele vai atacar. Pode ter sido agora para nos forçar a voltar para Los Angeles! Afinal, estávamos nos noticiários! O que é ridículo, por sinal!

    - Eu espero que esteja errado!

    - Eu também... Hey, meu amor! Não fique assim! Seja o que for, vamos dar conta. Você sabe que é muito mais fácil trabalharmos em casa, temos mais recursos!

    - Não é só isso que está me incomodando!

    - O que mais está te incomodando?! – Ele me questiona lançando um sorriso malicioso.

    Respiro fundo para respondê-lo, sei que ele não vai gostar do que vou dizer:

    - O pedido de casamento do Hayden. Pronto! Falei! – Ele sorri ainda mais.

    - Está decepcionada! Esperava que em algum momento eles voltassem e esse pedido fosse feito para a Cris!

    - Uau! Você realmente me conhece! Não está bravo comigo por pensar isso?!

    - Claro que não! Acho que também esperava por isso. Eles ficaram juntos por mais de doze anos! Mas você não pode esquecer que ele já fez o pedido a ela! Foi a Cris quem disse não, e por isso eles terminaram!

    - Eu sei! Mas a Cris mudou, eu sinto! Principalmente agora que o pai morreu e tantas coisas vieram à tona! E também... olha, eu gosto da Amanda, de verdade! Mas... eles se conhecem há um mês! Em período de férias! Eles simplesmente não se conhecem! O que deu no Hayden?! A Amanda não faz a mínima ideia de como ele é em dias estressantes, como ele não sabe como ela é em situações extremas!!... Vejo uma grande confusão a caminho...

    - Amor...

    - E o André?! Ele morre de ciúme da Cris! Imagina como vai ser em Los Angeles?! Até hoje as pessoas e o nosso círculo social veem e tratam a Cris e o Hay como um casal! E se for o James?! O passado deles virá à tona com força total, e...

    - Calma Bia! Respira! Você tem razão em tudo que disse. Não podemos fazer nada, apenas nos manter atentos e tentar ajudar os quatro!  O fato é que hoje a Cris está com o André, como o Darth está com a Amanda! Talvez eles tivessem que amadurecer juntos para estarem prontos para os seus verdadeiros amores! Mesmo que isso não seja o que a gente esperava.

    - Você é um romântico incurável, sabia?!

    - Sabia! Você tem que admitir que isso me ajudou com você!

    - Com toda certeza! – E me jogo em seus braços em um beijo profundo e quente.

    Tiro sua camiseta em tempo recorde e quando ele vai tirar a minha, alguém bate na porta:

    - Legal! Bem na hora certa! – Ele diz com ironia.

    - Pode entrar! – Eu digo frustrada. Hayden aparece em meu campo de visão – Hayden, vou trocar seu apelido para empata foda!

    - Beatriz! – Luciano ralha comigo.

    - Desculpe! Não queria atrapalhar! Recebi mais informações sobre o caso. Quero falar sobre isso no escritório. Vou avisar a Cris e o André. Depois vou falar com a Amanda para que ela nos aguarde sair do escritório, não a quero se envolvendo com o nosso trabalho.

    - O que houve Hayden?! Por que está tão sério?! O que você descobriu sobre o caso?!

    - No escritório, Beatriz. Lá eu conto o que recebi. Estejam preparados!

    - Para quê?! – Luciano pergunta – É o James?!

    - É possível! Por favor, vão para o escritório, eu vou chamar a Cris e o André, quanto antes conversarmos, antes discutiremos todas as possibilidades. Eu... estou meio zonzo. Vamos lá, pessoal! Eu preciso de vocês!

     E sai em direção ao final do corredor. Saio quase correndo em direção ao escritório. O jeito do Hayden me assustou. Não vou aguardá-lo, quero saber neste minuto o que está acontecendo.

    - Bia! Me espera! – Ainda ouço o Luke me chamar, mas estou em alerta total, não posso esperar.

    Entro no escritório e nem me dou ao trabalho de fechar a porta. O computador do Hayden está ligado e desbloqueado, isso indica que ele saiu correndo para nos chamar. Com certeza se trata de algo pessoal!!

    - O que está fazendo, Bia?! O Hayden já vai chegar! Tenha um pouco de calma!

    - Preciso descobrir agora... – E paraliso com a primeira frase do e-mail:

    De: Dean Roth

    Assunto: URGENTE!!!

    Data: 18 de dezembro de 2014 11:47

    Para: Hayden Sullivan

    Hayden,

    Más notícias! Se não for o James, você e a Cris têm outros inimigos dispostos a jogar pesado! Temos que detê-los rapidamente!

    Recebemos uma correspondência endereçada a vocês. Dentro dela existe um bilhete e uma caixinha de presente branca com laços vermelho e preto. O bilhete diz:

    Existe um delator e um mentiroso entre vocês. Alguma suspeita? Vocês vão se surpreender! Amigos e irmãos serão os primeiros a cair e recair. E que comecem os jogos!

    Dentro da caixinha encontramos um sapatinho de crochê branco coberto de sangue, ao lado um dedo indicador. Analisamos o dedo e pertence ao Landon! Ele está desaparecido há quarenta e oito horas. Precisamos ser rápidos, descobrir se ele ainda está vivo!

    É o nosso amigo, Hayden! Preciso de vocês com urgência!!!

    Abraços,

    Dean

    - Ai meu Deus! Não, não, não!

    - O que houve?!

    - Temos um louco atrás do Hay e da Cris! Ele está com o Landon! Talvez... talvez ele esteja morto! O Landon pode estar morto, Luke! Eu não quero que isso recomece! Eu não quero!

    - Shhh... Se acalme!

    - Não! Eu não quero me acalmar! Eu quero que essa merda pare! Por favor, leia o e-mail do Dean!

    E ele vai para frente do computador, enquanto me afasto e caminho pela biblioteca de um lado para outro. Penso em tudo que li, e uma enxurrada de imagens invadem a minha mente: Quando conheci Landon, Dean e Luke.

    Ele sempre foi de longe o mais animado, o mais cheio de vida e energia. Parecia nunca se cansar. Sempre brincalhão e sorridente, e um ótimo amigo e ouvinte. Sei disso porque a Cris conversava muito com ele em particular, sei que trocavam algumas confidencias, e isso não é pouca coisa se tratando da Cris, que confia tão pouco nas pessoas.

    - Temos que salvá-lo! Vamos salvá-lo! – A voz determinada do Luciano me tira do devaneio.

    - Você me promete isso?! – Eu digo sem conseguir conter as minhas lágrimas. Percebo que o Luciano tem os olhos marejados.

    - Prometo. Nós vamos resgatá-lo!

    Me jogo em seus braços e choro até soluçar.

    - Ele já está mutilado! Tiraram... um dedo dele! Que tipo de monstro tira o dedo da mão de uma pessoa que as usa para salvar vidas?! Ele trabalha salvando vidas, Luke! Ele salva pessoas! Como... podem fazer isso com ele?!

    - Eu não sei, meu amor! Nada justifica essa barbárie!

    E ouvimos o som da porta sendo aberta. – Eu nem havia notado que o Luke a fechou – E Cristina entra com expressão temerosa ao lado de um André apreensivo.

    - O que houve?! – Ela pergunta com um fio de voz.

    - Landon! – Eu digo, e a menção de seu nome me traz uma nova crise de choro, na qual eu não consigo conter.

    - O que aconteceu com ele?! – Ela mais uma vez sussurra a pergunta.

    - Não sabemos ao certo! – Responde Luke com a voz embargada – Ele está desaparecido, está em perigo...

    - Eu pedi que me esperassem! – Ouço a voz congelante do Hayden.

    Ele está muito bravo! Isso não é bom!

    2.2. ANDRÉ

    O caso nem se iniciou e já me sinto enjoado. A partir do momento que recebemos as mensagens tudo ficou diferente, o clima mudou radicalmente. É meio sufocante de se ver. Eles nem percebem porque estão os quatro há muito tempo trabalhando juntos, mas eu e a Amanda sentimos a mudança. Eles se tornam outras pessoas, totalmente focados, parecem até deixar os próprios sentimentos de lado.

    Quis dar espaço a Cristina, não precisávamos fazer as malas porque nem as desfazemos. Coisas da Cris! Ela disse que a qualquer momento poderíamos ser interrompidos, então era melhor está sempre pronto. – Que tipo de pessoa vive assim?! – Acho que a resposta para essa pergunta é Cristina Batista Carter!

    - Que bom que encontrei você! Recebi informações sobre o caso! Vai abalar a Cristina! Precisa estar atento. Ela vai precisar muito da sua força, e nestes momentos ela tende a afastar as pessoas! – Hayden me diz.

    Mais uma vez esfregando na minha cara o quanto são próximos e íntimos.

    - Tenho certeza que você estará por perto para me ajudar a desvendar todos os mistérios da Cristina!! – Eu digo sem ocultar o cinismo nas palavras.

    Ele parece surpreso:

    - Qual o seu problema, André?! Acho que já conversamos e esclarecemos as coisas! Se for tomar esse rumo, as coisas vão desandar!

    - Está me ameaçando?!

    - Estou fazendo a constatação do óbvio, e aparentemente perdendo meu tempo!!... Vamos chamar a Cristina para a reunião. Agora!

    - Hayden, você não manda em mim!

    - Está enganado! Eu mando em você, e em toda a equipe. Posso te tirar dela antes mesmo da sua primeira aula prática! – E ficamos nos encarando.

    Assumo, estou puto da vida! Estas semanas de férias foram o paraíso. Me senti seguro como não me sinto há anos! Eu sei que ela me ama, como sei que ele está com a Amanda, e a ama. Mas me incomoda o passado deles, saber que estiveram juntos, que compartilharam momentos e intimidades. Me mata a ideia de saber que ele a tocou antes de mim. Que a teve antes de mim. Eu sei, é loucura! Pareço um homem das cavernas.

    - Pode me tirar da vida dela também?! – Eu o desafio, e Hayden dá um passo para trás.

    - Como é que é?! Está se ouvindo?! Você enlouqueceu?! Há menos de uma hora você me viu pedindo a Amanda em casamento, como pode fazer uma ceninha de ciúmes da Cris?!?... Eu simplesmente não tenho paciência, e nem tempo para isso! Então nós vamos ao quarto de vocês com a melhor cara possível para chamar a Cris para reunião. Depois vou avisar para Amanda, e nos encontramos na biblioteca. Sobre isso, conversamos depois, eu e você! De homem para homem! Estamos entendidos?!

    - Sim! Vamos chamar a Cris. – E caminho na frente furioso.

    Estou errado, eu seu disso! Mas meu sangue ferve toda vez que sinto que ele joga na minha cara que eu não a conheço como ele.

    Entramos no quarto e vemos a Cristina sentada no meio da nossa cama, olhando sem realmente ver a janela aberta. Ela parece perdida e distante, ao ponto de não nos notar diante dela:

    - Cris?! Meu amor, tudo bem?! – Eu digo em um tom baixo para não a assustar – O que foi?! – Insisto, e finalmente a alcanço, tirando de seu devaneio.

    - Oi! Não foi nada! Estava viajando no tempo! Lembrando de como vim parar aqui! Não aqui, no apartamento! Digo dentro do FBI.

    Hayden faz uma expressão de desagrado e põe sua mão sobre a dela. Enrijeço automaticamente.

    - Está bem mesmo?! Preciso de você! Vou precisar mais do que nunca! Sabe que sempre pode falar comigo, certo?! Sobre tudo e qualquer coisa! – Ele diz intenso.

    Só pode ser provocação! Eu penso comigo tentando não me mostrar abalado.

    - Sempre! Eu sei! – Ela encara seu rosto com a mesma intensidade, então desvia o olhar e me busca com olhos culpados.

    Sem ao menos pensar, me vejo perguntando:

    - Acha que não valeu a pena?! Quero dizer, passar por tudo que passou para estar aqui e agora comigo?!

    - A perda de nenhuma vida inocente vale a pena, André! Não se troca uma vida por outra – Ela me responde e olha para o Hayden, claramente lhe mandando uma mensagem. Mas eu não sou capaz de entender nem mesmo a verbalizada. Então ela se volta a mim: – Mas de alguma forma maluca teve as suas compensações. Eu conheci pessoas incríveis que fazem a vida valer a pena. Você é uma dessas pessoas, mas ainda lamento... me desculpem! Estou um pouco nostálgica hoje! Acho que é o fato de voltarmos para Los Angeles! Quando partiremos?! – Ela volta a focar no Hayden, e neste momento eu percebo que nunca deixei de me sentir inseguro com relação a ele.

    - Nosso avião estará disponível em duas horas, tive informações sobre o caso. Precisamos conversar.

    - Pelo seu jeito, é um caso atípico!

    - É um caso pessoal, Cris! – E como ele havia dito, ela imediatamente empalidece.

    - Então ele finalmente veio cobrar a sua vingança?! Sabia que não estava morto!

    E mais uma vez me sinto por fora da conversa e da cumplicidade existente entre eles.

    - Ainda não temos certeza que seja ele... vamos lá, temos que conversar com todos, a Bia e o Luke estão na biblioteca. Vou falar com a Amanda. Não quero que ela participe disso!

    E neste momento ela parece finalmente lembrar que eu existo. Trocamos um olhar de reconhecimento, afinal, conhecemos a Amanda – Vai dar merda! Ela não vai aceitar ser a única excluída nisso! – Acenamos em concordância e nos dirigimos à biblioteca.

    Mais uma vez sou obrigado a engolir as palavras do Hayden, pois ela está de fato andando a frente, sem permitir a minha aproximação. Tento ser compreensivo, mas o meu lado pessimista me diz que os problemas estão apenas começando, e se estenderão do profissional ao pessoal!

    Meus devaneios são interrompidos no momento em que entramos na biblioteca e encontramos a Bia chorando nos braços do marido, que ao invés de acalmá-la, chora junto:

    - O que houve?! – Cris pergunta com voz fraca, e temos apenas um nome como resposta:

    - Landon! – Bia diz aos prantos.

    2.3. AMANDA

    Meu mundo virou ao avesso há um mês! Desde que pus meus olhos nele. Hayden é diferente de todos os caras que já conheci na vida. Ele não é cheio de joguinhos. Ele é direto e objetivo, juro que essa franqueza me pegou desprevenida.

    Não tenho o hábito a ceder aos caprichos de nenhum cara, mas ele tem um certo poder sobre mim, um certo fascínio. Me sinto sonhando há um mês. Pelos menos me sentia assim, até os quatro celulares tocarem simultaneamente. Ali eu senti um balde de água fria me acordando para realidade.

    Nossas férias foram simplesmente interrompidas, e nenhum deles pareceu surpreso ou chateado, como se isso fosse a rotina deles, e algo me diz que é isso mesmo!

    Hayden me questionou se eu tinha certeza sobre o seu pedido de casamento – Caramba! Como assim?! – Vi um receio na minha resposta, o que é estranho. Ele é tudo, menos um cara inseguro. Essa é sem dúvida a principal diferença entre ele e o André. Deve ser difícil para a Cristina ir de um extremo ao outro, literalmente!

    Agora estou aqui, arrumando as nossas malas. Notei uma mudança no Hayden a partir do momento que se dirigiu aos amigos de forma profissional. Muito frio e distante, um olhar velado e intenso que me fez dar um passo involuntário para trás, ali eu vi algo que ainda não havia notado: Ele pode ser perigoso!

    Levo um susto quando a porta é aberta abruptamente:

    - Deus! Você quase me matou de susto! – Eu digo com as mãos sobre o coração.

    - Desculpe! Eu apenas... abri a porta. Vamos entrar em reunião no escritório para discutir algumas informações sobre o caso. Gostaria que você não interrompesse em hipótese alguma. Tudo bem?!

    - Certo! Entendo que não posso participar por causa do sigilo e tudo mais. Embora o André tenha participado das investigações da Cris, e...

    - Nem continua!

    - Como é que é?!

    - Amanda, eu vim apenas explicar onde estamos, e porque você não pode estar conosco. Agora não é o momento para comparações ou discussões bobas.

    - De novo: Como é que é?! Por que está me tratando assim?!

    - Assim como?!

    - Frio! Distante! Parece até que eu fiz algo de errado!

    Ele fecha os olhos e respira fundo, parece tentar controlar o seu mau gênio.

    - Desculpe! Você tem razão! Estou sendo um babaca! Mas no momento esse babaca não pode ficar aqui tentando concertar as idiotices que faz! Eu sinto muito! Estou no escritório. Assim que possível a gente conversa, está bem?!

    Eu apenas assinto. Estou tão passada que não consigo proferir uma única palavra. Ele sai do quarto como uma bala. Nem ao menos me deu um beijo. É a primeira vez que ele vem a mim e não faz nenhum gesto carinhoso, pelo contrário, quase iniciou uma briga. Nossa primeira discussão!

    O que ainda estou fazendo aqui?! Deveria pegar as minhas coisas e ir embora! Pelo menos sabe que é um idiota, babaca, imbecil... que por sinal eu amo! Droga!

    2.4. HAYDEN

    Caminho em direção ao escritório controlando minha irritação. Temos um caso sério em mãos, um amigo correndo risco de morte. Não tenho tempo, nem paciência para lidar com as inseguranças do André, ou as infantilidades da Amanda. Para mim é tudo muito óbvio! Não existe razões para o ciúme do André. Como não existe razão para Amanda se comparar a ele. Ela não sabe nada! Assistir ao noticiário que trouxe sua versão sobre o caso e ação do resgate ao John, não lhe dá direitos! Se fosse assim, teríamos que nos reunir no Maracanã, com todos que viram a maldita reportagem!

    Respiro fundo. Não posso ficar nervoso ou abalado. Tenho a obrigação de ser o mais centrado, para que os outros ajam da mesma forma. Mas esse mantra desce pelo ralo conforme me aproximo do escritório e ouço vozes:

    - O que aconteceu com ele?! – Cristina sussurra.

    - Não sabemos ao certo! – Ouço a voz do Luciano embargada. Mas que merda! – Ele está desaparecido, está em perigo...

    - Eu pedi que me esperassem! – Digo sendo mais rude do que pretendia – Eu dei uma ordem direta!

    - Por que está sendo grosseiro?! Estão apenas me deixando assustada! Eu só ouvi dois nomes, e...

    - Se me deixar falar, eu prometo que serei direto e objetivo! – Eu corto a Cristina.

    - Não fale assim com ela! – André me encara dando um passo na minha direção.

    - Já disse que com você eu falo depois! – Eu digo imitando seu gesto.

    - Hey! O que é isso?! – Diz Luciano deixando a Bia de lado e se pondo entre nós dois – Não é hora para isso!

    - Que porra está acontecendo aqui?! – Cristina sobe seu tom de voz – Vocês dois parem agora mesmo! Foda-se que você é o meu chefe! Eu vou respeitá-lo no momento que agir como tal! E você, André, fica na sua! Existe uma hierarquia aqui dentro! Eu sei me defender sozinha, e colocar quem for preciso no seu devido lugar!

    - Enquanto essa reunião vira essa balbúrdia, o Landon pode estar sendo torturado ou assassinado agora mesmo! – Profere Beatriz.

    E um silêncio sepulcral toma conta da biblioteca. Retomo o controle das minhas emoções, sei que perdi a cabeça deixando todos ainda mais nervosos. Vou até mesa e rompo o silêncio:

    - Beatriz tem razão. Peço desculpas por perder o foco, e o controle. Vamos recomeçar... recebi um e-mail do Dean sobre o caso. Pelo que percebi, Beatriz e Luciano leram o meu e-mail, mas Cristina e André ainda não. Vou lê-lo para todos, depois discutiremos todas as possibilidades:

    "Más notícias! Se não for o James, você e a Cris têm outros inimigos dispostos a jogar pesado! Temos que detê-los rapidamente!

    Recebemos uma correspondência endereçada a vocês. Dentro dela existe um bilhete e uma caixinha de presente branca com laços pretos. O bilhete diz:

     ‘Existe um delator e um mentiroso entre vocês. Alguma suspeita? Vocês vão se surpreender! Amigos e irmãos serão os primeiros a cair e recair. E que comecem os jogos! ’

    Dentro da caixinha encontramos um sapatinho de crochê branco coberto de sangue, ao lado um dedo indicador. Analisamos o dedo e pertence ao Landon! Ele está desaparecido há quarenta e oito horas. Precisamos ser rápidos, descobrir se ele ainda está vivo!"

    E mais uma vez o silêncio reina na biblioteca, salvo pelos soluços que Beatriz não consegue conter.

    - Ele está desaparecido há quarenta e oito horas, o Dean não diz se conseguiram identificar o tempo exato que o dedo foi amputado. – Diz Cristina fria como uma pedra de gelo.

    - Não! Nenhuma outra informação! – Eu respondo.

    Ela está no modo analista.

    - Precisamos falar com o Dean. – Ela diz – Várias ações precisam ser tomadas!

    - Ele certamente já as tomou! O que temos por hora, é isso! – Eu digo.

    Os demais na sala agem como telespectadores. Bia está soluçando nos braços do Luciano, esse já se recompôs, e está atento ao que dissemos. André parece chocado.

    Cristina inicia sua linha de raciocínio:

    - Então vamos pensar no que foi dito. É uma charada: Um delator e um mentiroso. . O delator é o Landon!

    - Por que diz isso?! – Pergunta André intrigado.

    - Porque recebemos o seu dedo indicador, o dedo que aponta os erros dos outros, no caso, os segredos! – Eu respondo.

    - Então, vocês acham que ele acusa e dá as respostas através da charada?! – Pergunta André tentando entender.

    - O André tem razão! – Luciano finalmente se manifesta – Sei que fez uma pergunta, mas é a nossa resposta. Temos a mensagem completa em mãos, só temos que montar as peças!

    - É uma distração! – Bia diz cansada – Que os jogos comecem... Ele quer nos distrair! Enquanto tentamos entender o que ele quer dizer, ele prepara a próxima jogada!

    - A Bia tem razão! É uma distração! – Diz Cristina.

    - Sim. Mas é verídica! Landon está sem um dedo! – Eu digo com estômago embrulhado.

    - O que pode significar o sapatinho de bebê?! – André pergunta o que estamos ignorando propositalmente.

    - Talvez para mostrar que sabe sobre nós! – Eu digo simplesmente – E os laços?! Será que a escolha da cor tem algum significado?

    - Sabe o que sobre vocês?! – André insiste.

    - Eu perdi o meu bebê há... quinze anos! – Bia responde com voz tremula, e Cristina se encolhe.

    Ouvir isso em alto e bom som é um estalo:

    - Mas isso não é um segredo! – E me volto a Cris: – Você e o Landon sempre conversaram muito. Certamente trocaram confidencias!

    - Então a mentirosa sou eu?! – Ela diz afiada como uma lâmina.

    - Não estou te acusando de nada! Estou tentando chegar a algum lugar com o que temos! – Eu lhe respondo.

    - Não são todos no nosso círculo que sabem sobre a perda do meu bebê. Na verdade, tirando vocês aqui, só o Dean sabe. Agora tem mais o André! Eu nunca comentei com os demais. Não vejo razão para isso...

    - Então não tem como o Landon saber disso. O sapatinho tem outro significado. – Eu digo.

    - Hayden, fale com o Dean! Assim como descobrimos que o dedo pertence ao Landon através de análise e, portanto, ele é o denominado delator, o mentiroso só pode estar relacionado ao sapatinho... talvez se examinarem o sangue encontrado nele, teremos a nossa resposta!

    - Brilhante, Cris! – Eu digo orgulhoso – Vou fazer isso agora mesmo! – Cristina arrasta uma cadeira e senta ao meu lado.

    Enquanto isso, contato Dean através de vídeo conferência:

    - Oi Hay! Cris! Estava aguardo vocês.

    - Oi Dean! É bom ver você! Só a situação que podia ser melhor! – Dispara Cristina com simpatia.

    - Verdade! O que vocês precisam?!

    - A Cris disse algo interessante, vocês já analisaram o sangue do sapatinho? – Eu digo.

    - Sim! É sangue animal, mais precisamente sangue de porco. Percebemos também uma contaminação. Testamos tudo. Nenhuma digital inteira ou parcial foi encontrada.

    - Talvez a resposta esteja aí! – Diz Beatriz – Tentem identificar que contaminação é essa! Talvez nos leve ao cativeiro!

    - Fizemos isso, existem centenas de açougues, frigoríficos e supermercados que vendem carne suína. Estamos tentando afunilar para chegar a algum lugar! Vocês têm alguma teoria?! – Ele pergunta preocupado.

    - Apenas que se trata de uma distração para uma próxima jogada. Esse cara está brincando com a gente. – Eu digo com gosto amargo na boca.

    - E torturando o Landon no processo... Filho da puta! – Diz Dean.

    - Saímos daqui em uma hora. Nos reunimos ainda hoje! – Eu o informo.

    - Certo! Até mais tarde! Se souber de qualquer novidade, eu aviso a vocês.

    - Obrigada, Dean! Se cuide! E até mais tarde! – Cris encerra a transmissão.

    Aproveito a deixa para me redimir com a equipe:

    - Pessoal, eu quero mais uma vez me desculpar com todos! É o nosso amigo! E eu deixei que isso me desestabilizasse. Isso não ajuda ninguém! Muito menos a ele!!! Eu sinto muito! Mas eu garanto que vamos encontrá-lo! Vamos resgatá-lo! Eu juro!

    - Hayden, todos nós perdemos a linha! Desculpe pôr ver o e-mail antes de você chegar a biblioteca.

    - Não tem que se desculpar, Bia! Eu não fui capaz de transmitir calma a vocês. Por isso o início da nossa reunião foi esse caos! Foi o reflexo da minha falha! Isso não vai se repetir. Eu garanto a vocês!

    - Nós entendemos você! É muita coisa pesando nos seus ombros! Não precisa carregar tudo sozinho! Estamos nessa juntos. Sempre! – Luciano se aproxima e me abraça.

    Percebo André observando as nossas interações. – Ele se sente excluído. – Preciso contornar o nosso desentendimento, ele é bom para a Cristina, e também uma boa pessoa. Estou vivo graças a ele!

    - Gostaria de conversar a sós com o André. Pode ser, pessoal?!

    Cristina olha de mim ao André, assente e se retira. Bia e Luke também se olham e parecem vacilar.

    - Vamos apenas conversar! – Eu digo com sorriso forçado, pois não estou nenhum pouco afim de ter essa conversa.

    - Relaxem! Está tudo bem! – André diz olhando de Luke a Bia. – Não a razão para se preocuparem. A Cristina não está preocupada! – Ele diz a última frase de modo irônico.

    - Leigo engano, André! – Responde Bia saindo da sala.

    - Você não vai sair?! – Eu pergunto ao Luke.

    - Gostaria de ficar! Gostaria de entender o que está rolando! Papo de homens. Se vocês não se incomodarem!! – Luke diz do seu jeito manso.

    - Por mim não há problemas! – Diz André.

    - Nem por mim! – Eu digo – André, o que exatamente está te incomodando?! Quando nos encontramos no corredor, você já estava estranho!

    - É só se pôr no meu lugar, e vai entender facilmente!

    - Ciúmes?! Ela te ama! Ela está com você! Olha, não dá para ficarmos batendo nessa tecla diariamente! Você ouviu o e-mail que eu li! Temos um lunático na nossa cola, e está claro que ele vai tentar fazer jogos psicológicos para nos desestabilizar! O cara é bom! Eu nunca perdi o controle como agora há pouco! Nunca!

    - André, você sabe que a Cris te ama, certo?! – Pergunta Luke calmamente, e ele assente – Então, o problema não é ela. Somos nós!

    Eu complemento suas palavras:

    - Você se sente excluído! É isso?! – Ele fica desconcertado, e quando se recupera, resolve falar:

    - Existe um zilhão de coisas me incomodando! Sim, eu me sinto excluído da cumplicidade existente entre vocês quatro! E não sou o único! A Amanda também sentiu no momento em que vocês entraram no modo superagentes!

    - O que mais te incomoda?! – Eu pergunto – Você ficou muito bravo quando falei sobre o caso!

    - Não foi o caso que me irritou! Foi o que você disse sobre a Cristina!

    - Mas... eu apenas te disse como o caso iria afetá-la!

    - Exato! Você sempre sabe como a Cristina vai reagir! Ou como ela pensa! Ou do que ela precisa! Você está sempre esfregando na minha cara que a conhece melhor do que eu! Que tem uma ligação mais forte e mais profunda com ela do que eu!

    - André... eu sinto muito! Eu... nunca quis me intrometer entre vocês! Eu juro que acreditei que você havia entendido e aceitado que somos melhores amigos! É por isso que sei como ela pensa e age!

    - Melhores amigos que transavam, não é mesmo?! E por anos! Eu nem sei por quantos anos!

    - Puta que pariu! – Diz Luke – É o passado que te incomoda! A história deles! – Conclui com pesar.

    - Você não se incomodaria?! – Ele se dirige ao Luke – Se tivesse que conviver com o cara que costumava comer a sua namorada?!

    - Olha como fala! – Digo aumentando meu tom de voz – Não vou aceitar que você fale dela, ou da nossa história desse modo! Ela merece respeito! Amor! E cuidado! – Enfatizo cada uma das palavras – Se você não puder dar essas três coisas a ela, a deixe em paz! Você salvou a minha vida e vou ser eternamente grato, mas isso não significa que eu vou aceitar que você ofereça menos do que ela merece!

    - Você não tem que aceitar, ou não aceitar nada! Você queria que eu dissesse qual o meu problema, eu disse! Você tem alguma solução?! – Ele pergunta com ironia.

    - André, eu juro que entendo você! – Diz Luciano do seu jeito calmo e pacificador – Mas percebe que essa sua crise apareceu no momento mais inconveniente possível?! Temos um amigo sendo torturado!

    - Entende porra nenhuma! E mesmo que entenda, e daí?! Eles são seus melhores amigos, eu sou apenas o cara que ela está saindo no momento!

    - Apenas o cara que ela está saindo no momento?! Você só está falando merda! Eu vou sair daqui! – Eu digo caminhando em direção a porta, já no limite da minha paciência – Se continuar aqui com você, eu juro que vou quebrar a sua cara! Você está extrapolando e sendo muito injusto! A Cris arriscou muito quando permitiu que você entrasse na vida dela, e você parece não dar o menor valor a isso... – E saio da biblioteca deixando André e Luciano para trás.

    3.TENSÃO NO AR

    3.1. CRISTINA

    O tempo que fiquei no quarto relembrando o passado certamente foi um mau agouro! Além de recordar momentos triste, quando alcancei o tempo presente, encontrei uma realidade muito diferente ao dia anterior. Na verdade, a parte da manhã ainda teve o seu encanto. Nunca imaginei presenciar o Hayden mais uma vez fazendo um pedido de casamento. Foi... desconcertante e surreal!

    Senti algo que não soube dizer o que é! Talvez uma saudade daquilo que abri mão. Estou feliz e triste ao mesmo tempo. Sei que eles serão felizes, e torço muito por isso, de coração! Sei também como ele sabe fazer uma mulher se sentir feliz e especial. Talvez seja aí que entre a minha tristeza. Me sinto excluída da sua felicidade, não faço parte dela, e isso me incomoda, chega a doer! Qual o meu problema?!

    Esses sentimentos, essas ideias, tudo isso é uma surpresa para mim! Nossos dias vem sendo perfeitos! O André é incrível! Nunca pensei que pudesse me apaixonar por um homem tão diferente do Hayden. E ele é completamente diferente. O André é menos intenso, mais brando, e totalmente meigo. Eu me sinto acolhida, cuidada, amada, e isso é muito bom! Principalmente após descobrir que o meu pai era um pobre diabo! Um homem brilhante que deixou seus demônios conduzirem e destruírem a sua vida, levando quem podia junto no processo.

    Nossa reunião foi um desastre. Presenciei coisas que nunca vi. O Hayden nunca perdeu o controle, nem a Bia agiu daquele modo. Ela é a nossa rocha! Não entendi nada até ele ler aquele maldito e-mail. É nossa responsabilidade o que o Landon está passando, e eu sei o significado do sapatinho, eu entendi no momento em que o Hayden disse o que havia dentro da caixinha. Não sei como ninguém mais entendeu. Aguardei que alguém me encostasse contra parede, e o Hayden chegou bem perto de fazê-lo, mas vi em seus olhos que essa ideia nunca se passou pela sua cabeça. Esse é o tipo de segredo que pode destruir uma relação para sempre. E esse é o meu maior medo. Sai da biblioteca assim que tive a chance, tenho medo de tudo que está acontecendo, do passado vir à tona, e o quanto isso vai custar ao Landon e a mim.

     - Você está bem?! – Pergunta Bia se aproximando.

    - Não. E você?! – Olho para ela, e percebo seu belo rosto inchado com olhos muito vermelhos – Vem cá, amiga! É você que está precisando de colo hoje!

    Bia me abraça e volta a chorar baixinho. Quando se acalma, tenta falar:

    - Eu não sei o que está havendo comigo! Eu não sou assim! Mas... eu tenho medo que a carnificina recomece! Da última vez perdemos o Daniel e o Taylor! Não quero passar por isso de novo!

    - Não vamos! Não somos mais jovens inocentes, tentando sobreviver. Somos adultos experientes, e bem perigosos quando queremos! Seja quem for, vai se dar mal! A pessoa que fez isso com o Landon... eu vou achá-la, nem que seja no inferno, e vou garantir que ela fique por lá mesmo! – Bia para abruptamente de soluçar, como se levasse um susto.

    - Não gosto quando você fala assim! Sei que está levando para o lado pessoal!

    - É pessoal! O Landon na melhor das hipóteses está sendo mutilado, é muito pessoal!

    - Eu nem sei o que te dizer, e isso é inédito! O que está havendo comigo?! – Ela diz fazendo biquinho e eu lhe dou meu primeiro sorriso sincero.

    - Quem é você? E o que fez com Beatriz Mendes?! Minha amiga sempre sabe o que dizer!

    - Você também não está no seu estado normal. Sair sem ao menos saber por que o Hayden queria conversar com o André a sós?! Até parece que você queria fugir de lá!

    - Agora sim a

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