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Encontro De Desalmas
Encontro De Desalmas
Encontro De Desalmas
E-book192 páginas2 horas

Encontro De Desalmas

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Sobre este e-book

Rico é um jovem atrapalhado e romântico que sonha em se casar. Depois de uma decepção amorosa, ele descobre, por uma vidente, que sua alma gêmea é seu melhor amigo, Renato. Só que, ao contrário do melhor amigo, Rico não é homossexual. E agora?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de fev. de 2021
Encontro De Desalmas

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    Encontro De Desalmas - Wagner Jales

    ENCONTRO DE DESALMAS

    Livro escrito por Wagner Jales

    ENCONTRO DE DESALMAS

    Depois de uma desilusão amorosa, Rico descobre que seu melhor amigo, o homossexual Renato, é a sua alma gêmea.

    Só que Rico não é gay, então, como sua metade da laranja

    pode ser outro homem?

    Escrito por Wagner Jales

    Feito em 2021;

    Em homenagem a todos aqueles que deixaram de viver uma verdadeira história de amor por medo. A todos aqueles que se proibiram de viver um verdadeiro amor.

    Com este livro, espero mostrar, a todo mundo que ler, que o amor é a única coisa que pode nos unir. Amor transcende. Independente de cor, raça, gênero, condição social, etc. O amor é a melhor coisa que temos e devemos respeitá-lo acima de qualquer coisa. O amor do próximo é tão puro e maravilhoso quanto o seu ou o meu.

    Ame. Permita-se amar. Permita-se receber amor.

    "Não sei quantas almas tenho.

    Cada momento mudei.

    Continuamente me estranho.

    Nunca me vi nem achei."

    - Fernando Pessoa

    6

    — Eu te traí.

    — Como é?!

    — Desculpa, Rico. De verdade. Você é um cara incrível, o problema sou eu.

    Precisei de alguns instantes para digerir aquilo. As mesas, as pessoas comendo bolo ou tomando café, os garçons, tudo parecia girar ao meu redor. Era como se eu fosse um sol e todos orbitassem em mim. Sensação horrorosa. Quase claustrofóbica.

    Priscila apresentava-se tensa. Olhos atentos, testa franzida.

    Já tinha algumas rugas, mesmo sendo uma jovem de vinte e poucos anos. Não era a mulher mais bonita do mundo, mas eu amava daquele jeito.

    Os cabelos bem escuros da cor da noite, as sobrancelhas grossas, a glabela apertada, os olhos claros, o nariz fino e os lábios res-secados e pouquíssimo volumosos pareciam muito distantes de mim. Pareciam ser de outra pessoa. Traição. Jamais esperei aquilo de Priscila. Ela era tão doce, tão meiga. Ela fez algo que nunca imaginei que ela faria.

    — Você está bem? – perguntou ela.

    — Por que você me traiu?

    — Foi mais forte que eu, Rico. Desculpa, de verdade. Juro como eu não queria, mas... mas aconteceu.

    Completaríamos um ano de namoro em duas semanas, e eu planejava pedi-la em noivado. Achei que Priscila fosse a mulher certa para mim, a mulher com quem eu ficaria até envelhecer para ajudar a dar papinha na boca quando chegássemos a um asilo.

    — Não acredito, Pri – balbuciei, sem saber o que dizer.

    7

    — Sei que o que eu fiz foi horrível, talvez imperdoável, mas eu não podia mentir pra você. Você é muito legal, não merece isso.

    Um calor escalou minha nuca até o início da cabeça. Olhei para os lados em busca de uma ideia de algo que eu pudesse dizer.

    Lembrei-me de um amigo que manteve um relacionamento aberto com sua namorada. Eriberto. Os dois saiam para encontrar outras pessoas, transavam, mas sempre voltavam para os braços um do outro. Viviam felizes assim. Relacionamentos modernos são assim, a gente vai evoluindo disse Carla em algum evento. Não lembro bem qual.

    — Tudo bem.

    — Tudo bem?

    — É. A gente vai evoluindo.

    Priscila apertou as sobrancelhas.

    — Como assim? O que você quer dizer?

    — Quero dizer que a gente é jovem, tem o direito de experimentar outras coisas – tentei repetir uma frase que Carla costumava mencionar. – Foi um choque pra mim, mas tudo certo, eu te entendo.

    Tentei segurar as mãos de Priscila, mas ela recuou. Olhou para mim como se eu fosse algum animal prestes a dar um bote.

    Um garçom passou. Percebi uma rápida troca de olhares entre ele e Priscila, mas dei de ombros. Observei o sujeito com mais atenção. Não era um garçom, mas um cozinheiro. Foi até uma mesa receber cumprimentos de um casal de clientes.

    Veio à minha mente um pensamento: será que ela teria me traído com aquele cozinheiro? Não, não. A troca de olhares durou 8

    menos de um segundo. Deletei o pensamento paranoico da mente.

    Aquilo foi pura coincidência.

    — Não imaginei que você fosse tão moderno assim. Você vivia falando de casamento, ter filhos, de ir para um asilo.

    — É supernormal haver umas escapadas durante um casamento duradouro.

    — Rico, isso não dá pra mim.

    — Você acha que os casais que completam bodas de ouro nunca pularam a cerca pelo menos uma vez?

    — Fui sincera porque não quero mentir pra você. Foi muito errado o que eu fiz, e não dá pra continuarmos.

    Priscila tirou a aliança, que eu dei, do dedo anelar e colocou-a em cima da mesa. Permaneci estático. Ela ainda arrastou a joia pelo tampo, deixando-a mais próxima de mim.

    — Não dá pra continuar nesse namoro. Não dá mais pra mim.

    Você tem que me perdoar.

    Continuei parado, sem reação.

    — Sinto muito. Fique bem.

    Priscila pegou sua bolsa pendurada nas costas da cadeira, levantou e saiu. Nem mesmo pagou o café que ela pediu quando chegamos ao local. Na verdade, ela nem deu um gole sequer na bebida.

    Ainda sem reação, completamente congelado, observei Priscila sair da cafeteria. Os quadris largos balançavam, apertados numa calça jeans surrada que evidenciava bem as curvas do seu corpo magro.

    E fiquei ali, perplexo, boquiaberto, refletindo sobre o papel de otário que acabei de fazer, tentando forçar a situação para que o 9

    namoro não acabasse. Encarei a aliança deixada em cima da mesa, lembrei a nova que eu havia comprado para presentear Priscila quando pedisse-a em noivado. Tive vontade de chorar.

    Era uma tarde ensolarada e radiante quando cheguei em casa, mas parecia um dia feio, cinzento e sem graça.

    Assim que entrei, deparei com catorze encomendas em cima da mesa. Eram da minha loja virtual. Deixei-as sobre a mesa para entregar depois que retornasse do encontro de última hora que Priscila marcou comigo. Tirei o celular do bolso da bermuda e acionei Vini, meu entregador.

    Oi Vini. Tem algumas entregas pra fazer hj e estou indisposto.

    Vem aqui em casa buscar. Pago hora extra se precisar.

    A mensagem foi enviada e recebida quase instantaneamente.

    Como minha loja virtual tinha muitos seguidores e vendia muito bem, contratei Vini como entregador. Às vezes, eu mesmo fazia as entregas, já que Vini trabalhava como motoboy também. Além de competente, ele sempre foi esforçado e gente boa. Dava para contar com ele para tudo.

    Fechei a porta e as janelas, deixei a casa toda escura e fui para o quarto. Tirei as roupas para deitar nu na minha cama. Finalmente pude chorar, externar a frustração da traição e do término do meu quase noivado. Permaneci ali deitado sem a menor perspectiva de tempo.

    10

    Acho que acabei cochilando. Acordei com a campainha tocando. Tive vontade de enfiar-me debaixo do edredom, mas sabia que era Vini. Levantei e cacei uma roupa para vestir. Meu celular começou a tocar, o que me atrapalhou. Levei um tombo quando tentei correr até o aparelho enquanto vestia a mesma bermuda que usei no encontro com Priscila. Quando finalmente cheguei ao celular, era Vini.

    Corri até a porta, sem camisa, e abri para Vini. Ele encerrou a ligação que tentava fazer.

    — Finalmente – disse pressionando o display do celular para cancelar a chamada.

    — Eu tava deitado.

    — Desculpa se te incomodei, mas as entregas...

    — Tudo bem, relaxa. Só tô meio indisposto. Entra, pode levar tudo.

    — Onde tá o papel dos endereços?

    Merda! Esqueci completamente o relatório com os endereços onde as camisetas seriam entregues. Dei um tapa na testa.

    — Droga!

    — Esqueceu?

    — Completamente.

    Vini passou por mim e começou a colocar as encomendas no seu bagageiro, antes preso às suas costas.

    — Se você deixar eu usar o celular da loja, olho quem fez cada pedido.

    Sem hesitar, peguei o celular exclusivo da loja para entregar a Vini. No aparelho, todos os perfis oficiais do meu negócio estavam 11

    logados, facilitando a comunicação. Aquele celular era usado exclusivamente para a loja virtual. Vini pegou o aparelho e colocou no bolso da calça jeans velha.

    — Não tenho mais nenhuma entrega, acho que dá pra fazer até o fim do expediente.

    — Eu pago hora extra se precisar. Só quero ficar deitado e não sair da cama para nada.

    — Você já tomou algum remédio? Tá sentindo febre? Pode ser uma virose ou até gripe.

    — Não se preocupe, amanhã vou me acordar novo em folha.

    Agora vai, vai entregar.

    Ajudei a colocar os últimos pacotes dentro do bagageiro de Vini, depois fechei o zíper. Ele foi logo embora sem demorar.

    Sozinho novamente, eu poderia continuar chorando e deitado pelado na cama o quanto eu quisesse – ou pelo menos até minha irmã chegar em casa de noite e ir me ver. Entrei no quarto, me despi novamente e tranquei a porta para não ser incomodado.

    No momento em que fui colocar meu celular em modo avião para me isolar do resto do mundo, recebi uma notificação de Cauã.

    Era uma mensagem. Achei melhor visualizar antes de negar minha existência para o restante do universo.

    Tudo certo pro ensaio de hoje, né amigo?

    Já tô pronto, quase saindo de casa pra ir 12

    Lembrei que ainda tinha coisa para fazer nesse dia. Ainda cogitei desisti, mas era em prol da minha loja.

    Pode vir, amigo

    Vou preparar o cenário agora pra te fotografar Preparei o cenário para fotografar. Cauã chegou sob a golden hour, horário em que a luz do sol fica bem propensa a tirar fotos com excelente iluminação. Eu costumava fotografar no pequeno quintal de casa, perto das plantas que não agonizavam na gestão de Leandra. Ela raramente as regava, mesmo assim as plantas resistiam como cactos.

    Cauã era um dos meus amigos mais próximos. Além de divertido, ele era muito popular, tinha milhares de seguidores por causa de sua beleza e extroversão. Eu costumava acioná-lo para ser foto-grafado para minha marca de roupas, justamente por causa da po-pularidade nas redes sociais. Ele adorava, tanto que sempre topava, já tinha vários modelos de camisetas em casa.

    Coloquei a arara de camisas no quintal e deixei Cauã escolher qual queria usar. Depois que tudo estava pronto, acoplei a lente, que comprei na internet, no meu celular. Ela melhorava consideravel-mente a qualidade das fotografias. Depois das primeiras fotos, Cauã deixou a posição.

    — Espera, Rico.

    — O que foi?

    13

    — Você esqueceu de ligar o refletor para as fotos, amigo –

    apontou.

    Encarei o refletor. Realmente estava desligado. Aproximei-me para ligar, só que chutei o aparelho, sem querer. Cauã riu. Por pouco o refletor não caiu no chão, certamente quebraria. Liguei-o antes de recomeçar a fotografar.

    A história com Priscila não deixava minha cabeça, martelava incessantemente a minha mente. Distraído, deixei minha câmera escorregar entre meus dedos. Por sorte, o fio pendurado no meu pescoço evitou que ela caísse no chão.

    Fiquei tão distraído que fotografei Cauã em diversos momentos em que ele se mexia, deixei algumas imagens tremidas e errei a iluminação. Quando mostrei as fotos ao modelo, ele logo percebeu os equívocos. Alguns, bem nítidos.

    — Amigo, você tá bem?

    — Eu? Estou.

    — Não, não está. Você não é profissional, mas é um ótimo fo-tógrafo. Só que essas fotos não ficaram legais, apenas algumas ficaram realmente boas.

    Mesmo Cauã sendo um amigo bem próximo, eu não queria falar sobre esse assunto. Pelo menos, não ainda.

    — É com sua namorada? – deduziu. – Você não disse que ia encontrá-la hoje?

    — É...

    Suspirei.

    — Não foi muito legal, sabe? Mas acho que não quero falar sobre esse assunto.

    14

    — Tem certeza? Pode desabafar.

    — Valeu. Acho que ainda preciso digerir direito a história antes de saber o que fazer.

    — Tá certo. Se quiser, sabe que pode contar comigo, né?

    — Sei. Você é um grande amigo.

    Ele tirou a camisa da minha loja. Deixou desnudo seu físico magro e atlético. A barriga definida, o peitoral pouco estufado, os bíceps bem salientes, os ossos quase todos à mostra. Ele parecia não ter nenhuma gordura por todo o corpo.

    — Acho melhor pararmos o ensaio por hoje. Você não tá com cabeça.

    — A gente continua outro dia.

    — Não quero aparecer feio nas fotos – sorriu. – Vai que dá azar pra sua loja.

    — Ah, claro. Mais fácil dar azar pra sua imagem, né? – entrei na brincadeira.

    Cauã riu um pouco. Caçou sua camisa no meio das coisas e a vestiu de volta.

    Ele me ajudou a desmontar as coisas, levar tudo para dentro de casa de volta, mas eu só pensava no meu encontro com Priscila.

    Era como se eu ainda não tivesse acreditado no que tinha ocorrido.

    A frustração era imensa.

    Depois que meu amigo foi embora, me tranquei no quarto para ficar isolado. Deixei o celular em modo avião para não ser perturbado e fiquei curtindo minha própria tristeza. Era o que eu queria fazer.

    15

    Acordei com o som incessante da campainha de casa. Abri os olhos, encontrando meu celular sobre a mesa de cabeceira. Passava da nove da manhã, a temperatura era de 26 graus celsius. A minha campainha continuava sendo pressionada repetidamente. Senti-me obrigado a levantar da cama para ver o que acontecia.

    Botei um roupão por cima da

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