Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Quando Florescem Os Flamboyants
Quando Florescem Os Flamboyants
Quando Florescem Os Flamboyants
E-book536 páginas8 horas

Quando Florescem Os Flamboyants

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Após três anos da morte de sua mãe, Coraline juntamente com seu pai e seu irmão Benjamin se mudam da capital para uma cidade do interior. Uma nova chance de recomeço para todos e a expectativa de início de carreira em um hospital referência no país como enfermeira, deixam Lin como é chamada em casa, mais esperançosa. Dedicada e determinada, Coraline encara a nova fase de sua vida com confiança e o apoio da família. Só que no meio do caminho um grande amor nasce e muitos obstáculos surgem. Ela precisa ter coragem para seguir em frente e manter suas convicções e valores.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de mai. de 2017
Quando Florescem Os Flamboyants

Relacionado a Quando Florescem Os Flamboyants

Ebooks relacionados

Relacionamentos para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Quando Florescem Os Flamboyants

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Quando Florescem Os Flamboyants - Carla Peixoto Tanaka

    capa-clube-dos-autores.jpg

    Carla Peixoto Tanaka

    Quando Florescem os Flamboyants

    1ª Edição

    2017

    Quando Florescem os Flamboyants

    2017 © Carla Peixoto Tanaka

    Esta é uma obra de ficção. Todos os direitos reservados

    Diagramação e Capa

    André Koji Tanaka

    andreartedigital@gmail.com

    andrektanaka.blogspot.com.br

    Revisão

    Impresssão e acabamento

    Clube de Autores

    1ª Edição – Maio 2017

    Tanaka, Carla Peixoto

    Quando Florescem os Flamboyants / Carla Peixoto Tanaka - 1ª ed. Vitória/ES, 2017

    463 p.

    Clube de Autores Publicações S/A CNPJ: 16.779.786/0001-27

    Rua Otto Boehm, 48 Sala 08, América - Joinville/SC, CEP 89201-700

    ISBN

    Literatura brasileira

    E-mail: carlafabianat@hotmail.com

    O que vale na vida não é o ponto de partida, e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.

    Cora Coralina

    Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito.

    Colossenses 3:14

    À minha família,

    os amores da minha vida.

    Prólogo

    A vida se resume em ciclos. Alguns ciclos são mais complexos que outros, mas todo ciclo termina. Nas aulas de ciências aprendemos que o ser vivo nasce, cresce, se reproduz e morre. Eu vi um ciclo se fechar. Senti a alegria da companhia, a felicidade de compartilhar as experiências e a tristeza da perda. Isso me faz refletir em quão curta a vida é.

    Está chovendo. Vejo pequenas gotas escorrerem do lado de fora no vidro de minha janela. Uma chuva fina cai e não demorará para parar. Volto meu olhar para o quarto onde passei toda a minha vida. Aqui brinquei, aprendi e cresci. Agora estou arrumando as caixas que usarei na mudança. Meu quarto não sofreu com o desastre de empacotar minhas coisas, estava atrasando este momento. Uma parte de mim não quer ir embora. A casa tem muitas lembranças e eu ainda consigo sentir o cheiro dela. Sempre que estou sozinha, a escuto dizendo:

    - Minha querida, tudo ficará bem. Vocês ficarão bem. Não deixe que a tristeza e a saudade ocupem a maior parte de suas vidas. Sei que a dor será grande... - Ela dá um pausa ofegante e seu olhar transborda amor. - Mas Deus cuidará de vocês e vocês voltarão a sorrir. - Sua voz é calma e suave.

    Minha mãe sempre teve uma palavra de consolo para nós. Ela era cheia de vida, linda, com cabelos castanhos sedosos e ondulados antes de perdê-los nas sessões de quimioterapia. Não era muito atlética mas tinha um corpo em forma. Era alta com 1,75cm em comparação à muitas mulheres, inclusive eu que tenho 1,65cm. Seus olhos eram pretos e sua pele morena clara. Mesmo debilitada na cama do hospital ela continuava bonita. Seus olhos espelhavam esperança, não a esperança da recuperação, mas de algo melhor que ela esperava que viria. Sua fé a manteve de pé e isso a ajudou a enfrentar as dores, os medicamentos, a quimioterapia, as inúmeras idas ao hospital e vários dias internada.

    Meu pai esteve com minha mãe em todos os momentos; a cada consulta, na cirurgia, no leito do hospital, em nossa casa nos poucos dias que ela esteve se recuperando da cirurgia que não a ajudou como desejávamos. Meus pais se amavam muito e um cuidava do outro. A morte já estava anunciada, já que a doença se espalhou e não havia chance de cura. Mamãe ficou debilitada rapidamente.

    Quando descobrimos a doença, levou pouco mais de um ano para tudo terminar. Foi um ano muito difícil para todos nós. Sua partida não nos pegou de surpresa, mas mesmo em momentos como este, a morte nunca é bem-vinda.

    Eu e meu irmão Benjamin estávamos ao lado do leito de minha mãe nesse dia. Eu perto da cabeceira da cama e Ben aos seus pés. Estávamos em um quarto de hospital na área da Oncologia. Meu pai estava sentado ao seu lado. Ele sempre foi muito seguro de si, sereno, espirituoso, nunca o vi carrancudo. Ele e minha mãe faziam um casal bonito. Papai tem 1,80 cm, cabelos lisos e escuros, olhos castanhos claros e pele branca. Um tipão, como mamãe dizia.

    Mamãe partiu segurando as mãos de meu pai. Quando entendi a cena, fiquei em choque, sem acreditar, esperando que ela respirasse a qualquer momento. Lembro-me de meu pai beijando sua testa e dizendo suas últimas palavras para ela - Nos veremos em breve meu amor! - Sua fala estava presa entre sussurro e lágrimas. Meu irmão se enrolou em si mesmo com a mão em sua boca tentando abafar o choro que tentou conter, mas não conseguiu. Na ocasião Ben tinha 22 anos e estava muito abatido com tudo que estávamos vivendo naquele ano.

    Eu só queria sair dali, ir para bem longe, fugir ou buscar uma solução para todos os sofrimentos de minha mãe, uma cura, um alívio, uma salvação. Mas eu sabia que isso não era possível. Saí do quarto e corri o longo corredor da ala hospitalar, peguei as escadas e desci o mais rápido que pude e quase não enxergava o caminho pois as lágrimas desceram como torrentes de águas e eu não conseguia controlar as emoções. Quase derrubei uma senhora pelas escadas que me olhou furiosa, mas depois ficou penalizada com a dor visível em meus olhos. Me desculpei e continuei meu caminho o mais rápido.

    Quando alcancei o portão principal do hospital, não sabia para onde ir. Vi as árvores de flamboyant em flor e me lembrei de um parquinho infantil ao lado do hospital. Corri para lá e desabei em um banco e chorei copiosamente, pois sabia que nunca mais ouviria as palavras de minha mãe ou receberia seu carinho e conselhos. O dia estava ensolarado, mas ele se tornou cinzento para mim. O ciclo de minha mãe se fechou.

    Capítulo I

    Há momentos que velhas lembranças que te trazem dor abrandam com o passar do tempo, mas a dor nunca desaparece totalmente.

    Uma lágrima escorre em meu rosto e eu volto para a realidade. Preciso terminar a tarefa adiada. Guardo primeiro os livros de enfermagem em uma caixa. Eu tinha um turbilhão de expectativas quanto ao curso que faria na faculdade. Muitos sonhos e nenhuma certeza. Minha mãe descobriu o câncer de pâncreas quando eu tinha dezessete anos quase dezoito. Quando ela morreu eu tinha completado dezenove anos.

    A primeira vez que mamãe foi internada, conheci uma enfermeira chamada Marta. Ela cuidou de minha mãe com muito carinho, nos dando ânimo, orientando sobre a doença e etc. Toda a equipe que assistiu minha mãe foi incrível, mesmo Dr. Martins que é muito competente e atencioso, não nos dava tanta confiança e segurança como a enfermeira Marta. Ela foi o meu modelo na profissão e eu nunca contei isto à ela. Marta foi um anjo enviado por Deus para cuidar de minha mãe. Ela era assim com todos os pacientes que cuidava.

    Ainda tenho viva os conselhos de mamãe sobre minhas inseguranças e medos. Ela ficou feliz com a minha escolha na profissão, dizendo-me que seria uma excelente enfermeira. Estudava no hospital nos momentos que ficava com ela. Minha mãe era muito rigorosa quando se tratava dos estudos.

    Tento guardar minhas memórias e prosseguir com a tarefa. É difícil recomeçar. Meu pai tomou a decisão de mudarmos de casa, de cidade, para um alívio em sua dor. Mesmo depois de três anos, ele ainda sofre com a ausência de mamãe. Ele é um homem bonito, poderia ser feliz novamente com outra pessoa, mas acho que isso ainda está distante para ele. Às vezes o pego olhando introspectivo para uma foto dela sob a mesa do escritório em nossa casa.

    Meu irmão Benjamin parece estar lidando melhor com ausência de nossa mãe. Ele é uma cópia de meu pai, somente seu cabelo é mais claro. Ben é arquiteto e contou os seus planos de abrir um escritório em sociedade com um amigo que mora em uma cidade do interior. Papai gostou dos planos de meu irmão e pensou na possibilidade de uma mudança também. Meu irmão está muito animado em investir em seu próprio negócio, contudo papai viu uma oportunidade de recomeçar. Como terminei minha graduação, concordei em ir com eles caso tudo desse certo.

    No começo não queria me afastar das lembranças nesta casa. Cada canto tem uma história e eu nasci e cresci aqui, mas sei que essa mudança fará bem à todos nós.

    - Coraline, você está aí? - Ouço a voz de meu irmão me chamando para a realidade.

    - Aqui no quarto Ben.

    - Ah não! Você não fez nada Lin! Seu quarto está do mesmo jeito. - Diz meu gracioso irmão ao entrar.

    - Eu estava arrumando a cozinha e antes disso a sala com a tia Joana. O que você fez? Eu não tive sua ajuda. - Falo séria.

    - Estava ajudando papai no escritório e além do mais já empacotei minhas coisas e as da garagem. - Ben fala como se fosse grande coisa.

    - Da garagem não vale, pois a maioria das coisas já estavam embaladas e papai já tinha feito a maior parte no escritório.

    Ben não liga para o que falo e anda pelo quarto olhando meu painel de fotos. Ele já foi para a cidade de Monte Belo organizar o escritório com Marcus, seu sócio e amigo. Papai foi junto aproveitando para conhecer a cidade e procurar uma casa para nós. Eu não fui com eles pois precisava organizar os detalhes da formatura e documentação na faculdade.

    - Ben, o quê papai vai fazer com as coisas da mamãe? - Pergunto com preocupação.

    - Não sei, ele não falou se irá levar ou doar. Espero que ele doe. - Ben fala com tristeza sem olhar para mim. Dou um suspiro e volto ao que estava fazendo. - Lin, preciso sair para resolver algumas coisas e quando voltar eu te ajudo a terminar, ok? Queremos sair amanhã cedo e chegar em Monte Belo antes do anoitecer.

    - Tudo bem. Terminarei a tempo. - Me concentro nas tarefas e não vejo a saída de Ben.

    Depois de três horas finalmente termino de empacotar tudo. Vou para a cozinha e passo em frente ao escritório de papai e o vejo sentado ouvindo uma música familiar. Em seu MP3 está tocando Nella Fantasia de Ennio Morricone, música preferida de mamãe. Seus olhos estão fechados e ele balança em sua cadeira lentamente. Não entro pois sei em quem está pensando.

    Sigo para cozinha e preparo dois sanduíches e coloco em uma bandeja com dois copos de suco de laranja e os levo para o escritório.

    - Papai, está com fome? - Pergunto entrando em sua sala. Ele para o seu balanço na cadeira e olha para mim. A música não é mais a mesma, ele mudou para The Prayer com Andrea Bocelli.

    - Claro Lin! Venha. - Papai se levanta e puxa uma cadeira para mim.

    - Tudo bem pai? - Pergunto entregando seu sanduíche.

    - Tudo ótimo filha! E você, já terminou o seu quarto?

    - Já terminei. Só deixei algumas coisas que ainda irei usar, mas amanhã estará tudo pronto. Que horas o caminhão da mudança irá chegar?

    - Chegará às 9:00h. - Papai fala sem entusiasmo, mesmo sendo o primeiro a sugerir a mudança.

    - Pai, tem certeza disso? Podemos mudar de ideia se quiser...

    - Não! Eu quero isto. Quero uma nova vida para nós. Leila ficaria triste... - Papai não termina a frase. - Vai ser bom para a carreira de seu irmão e para você também. Acredito que tudo está dentro dos planos de Deus para nós. Não é em Monte Belo que fica o melhor hospital infantil do estado, não é?

    - É sim pai, eu já dei uma olhada e mandei meu curriculum para o RH. Meu professor da faculdade me indicou. Meu estágio no centro cirúrgico foi elogiado. Minha experiência não é muita e não sei se conseguirei algo.

    - Não pense assim filha. Sua mãe e eu sabemos de sua dedicação e amor à sua profissão. O que é seu ninguém irá tirar. Estarei orando por isso. E se não for neste hospital, Deus abrirá outras portas.

    - Obrigada pai! Você sempre dando um jeito para animar meu dia. - Eu seguro uma de suas mãos sobre a mesa.

    - É o meu papel de pai.

    Papai é carinhoso como sempre. Ainda me trata como uma menininha. Às vezes acho que ele esqueceu que eu acabei de completar 22 anos.

    - Depois de terminar de comer vamos ver um filme? - Ele sugere mais animado comendo o seu sanduíche.

    - Mas eu escolho. - Digo antes dele com um sorriso.

    *****

    A chuva parou no início da noite de ontem. Logo que aparecem os primeiros raios de sol, me levanto para preparar o café da manhã. Antes dou uma rápida olhada no espelho. Ainda estou muito magra e meus cabelos estão muito compridos. Meus olhos castanhos claros estão envoltos em uma olheira devido ao cansaço. Esses últimos quatro anos foram muito penosos para mim. Quando mamãe morreu, estava no primeiro ano do curso de enfermagem e pensei em parar com tudo. Meu pai me aconselhou a não desistir. Ele e Ben me ajudaram com seus incentivos e apoio.

    Ao sair do banheiro verifico os pacotes e armários do meu quarto, depois dou uma longa olhada pela casa. Meu pai e Ben ainda estão em seus quartos. Me dou conta que este será o último café da manhã aqui. Flashes de minha mãe vem em minha mente. Ela e tia Joana estão preparando o almoço, as festas de aniversário, ceias de Natal... minha mãe não era boa em cozinhar, ao contrário de tia Joana, uma senhora baixinha e descendente de italianos que trabalha conosco à tanto tempo que faz parte da família.

    Depois de preparar o nosso desjejum, vou ao escritório de papai e vejo os livros de minha mãe em algumas caixas. Ele levará todos. De certa forma estou feliz que ele não doou nenhum livro dela.

    Mamãe era professora do ensino fundamental e adorava literatura. Sua poetisa favorita era Cora Coralina e a história de vida dessa mulher sempre a motivou. A admiração foi tanta que recebi o nome dela. Papai pediu para que fosse Coraline e não Coralina para soar melhor.

    Volto para a cozinha quando escuto um som familiar.

    - Bom dia flor do dia! - Benjamin se aproxima e desaba um beijo em minha testa, já que sou mais baixa que ele.

    - Bom dia. Pensei que demoraria mais. Ainda temos tempo. - Digo olhando o relógio.

    - Eu quero terminar logo com isso. Estou ansioso para começar a trabalhar e de certa forma quero dizer adeus a esta casa. Parece que estou deixando a mamãe para trás e isso está cortando meu coração. - Ben fala com profunda tristeza.

    - Eu sei. Às vezes penso assim também. Mas sabemos que não é verdade Ben. Ela estará sempre aqui. - Coloco minha mão em seu peito e Ben dá um suspiro.

    - Bom, vamos ao o que interessa. O café está pronto? Senti o cheiro lá do quarto. - Seu olhar brincalhão está de volta.

    - Bom dia molecada! Vocês estão de segredinhos a esta hora? - Entra papai na cozinha com um semblante mais descansado.

    - Pai, você precisa de ajuda em alguma coisa? - Pergunto.

    Minha pergunta é uma sondagem sobre as coisas de mamãe.

    - Sim querida, preciso de um café.

    Pouco depois, ouvimos a campainha e meu pai vai verificar. É tia Joana que veio nos ajudar com os últimos preparativos. Tia Joana, como sempre a chamei, trabalhou para nós por muitos anos. Além de ser uma excelente cozinheira, costura muito bem. Tenho vários vestidos que ela fez para mim. Foi com ela que aprendi a cozinhar, o básico é claro. Tia Joana já tinha se despedido de nós, mas não resistiu e veio nos dar o último abraço.

    - Desculpe chegar tão cedo, mas precisava vir. Irei sentir muitas saudades de vocês. - Fala tia Joana com sua voz suave.

    - Obrigada tia. Vou sentir muito a sua falta. - A abraço com carinho e Ben também a abraça.

    Não perdemos tempo e verificamos cada cômodo da casa. Meu pai e meu irmão foram ao jardim da frente e quintal e vasculharam cada canto. Quando estamos na sala, tia Joana me entrega uma cesta cheia de petiscos deliciosos.

    - Preparei para a viagem de vocês.

    - A senhora sabe que pode nos visitar quando quiser, né tia?

    - Quando puder irei visitar vocês.

    - Obrigada pela cesta e obrigada por tudo. - Nos abraçamos mais uma vez.

    A campainha soa e é a equipe de mudança. Meu pai os atende e rapidamente caixas, cadeiras, armários, camas vão sendo levados para o caminhão. Em pouco tempo a casa fica vazia.

    - Então, vamos? - Diz papai para nós.

    - Desejo à vocês uma boa viagem. - Diz tia Joana dando as mãos para meu pai.

    - Obrigado por tudo Joana.

    - Quando puder irei visitar vocês Sr. Otávio.

    - Será um prazer recebê-la. - Papai fala com sinceridade.

    Saímos um por um em silêncio. Nossa agora antiga casa já foi de várias cores; hoje é amarela com portas e janelas brancas. Desejo felicidades para as pessoas que viverão aqui.

    Depois de darmos o último abraço em tia Joana, entro no carro de meu pai e Ben nos segue com o seu. Seguimos em direção à saída da rua juntamente com o caminhão da mudança. Olho pelo retrovisor e vejo pela última vez a rua e tia Joana acenando para nós do portão. Parece um adeus para a minha antiga vida.

    Capítulo II

    Monte Belo é uma cidade com status de cidade média e fica à seis horas de viagem de carro da capital. É movimentada, arborizada e acolhedora. A cidade foi fundada por descendentes de italianos. Possui um centro industrial em crescimento e a economia da cidade está à pleno vapor. No início a produção de café era o seu principal produto, mais tarde veio o gado. Na cidade existem muitas formas de lazer com parques, teatro, cinemas e shoppings. Possui aeroporto, escolas e faculdades de qualidade e um hospital infantil referência no país. Uma cidade linda e limpa. Quando chegamos, dei um suspiro de alívio. Somente fotos e filmagem não são suficientes para mostrar a beleza do lugar.

    Passamos por várias ruas e tentei memorizar cada lugar que via. O novo bairro é calmo e bonito não muito afastado do centro. A rua da nova casa é mais larga que a anterior. As casas são alegres em suas cores, todas com portões e calçadas planas bem cuidadas e com árvores dos dois lados parecendo uma alameda. Minha casa é a quarta da rua. Ela está pintada de azul claro com portas e janelas de madeira em tom escuro. Há um pequeno gramado na frente que precisa de cuidados e uma varanda que convida para sentar e conversar. O muro é de pedra com portões de ferro e a garagem tem espaço para três carros. Fiquei animada, pois na antiga casa só cabiam dois; assim que puder terei o meu carro.

    Chegamos primeiro que o caminhão de mudança. Entramos na casa e nos deparamos com uma grande sala conjugada, além dos quartos, sala de jantar, cozinha espaçosa e nos fundos um quintal que também precisa de reforma.

    - Eu já tenho o projeto para este quintal. - Diz Ben animado. Vejo pelos seus olhos sua mente trabalhando.

    - Contando que não se esqueça da minha churrasqueira, pode fazer o que quiser. - Diz Papai sorridente.

    - Claro que terá sua churrasqueira. E um lago com peixes e um pequeno jardim.

    - Que você irá cuidar, não é Ben? - Falo lembrando que não tenho inclinação para jardinagem ou cuidado com peixes.

    - Pode deixar Lin. Farei com muito gosto. - Ben fala sorridente.

    Conversamos mais sobre o projeto quando o caminhão com a mudança chega. Os homens carregam os móveis e as caixas e eu ajudo no que posso. Papai e Ben não me deixam pegar peso e eu não fico triste por isso.

    Papai deixa uma das suítes para mim. Como sou a única mulher na casa, ele quer que eu tenha privacidade. Meu quarto é amplo e bonito. Decido pintar uma das paredes de roxo e colocar o biombo branco de madeira com pássaros entalhados que herdei de minha mãe como cabeceira da cama. Penduro meu mural de fotos e recoloco as fotos especiais.

    Os dias passam entre arrumação da casa e adaptação ao novo ambiente. Meu pai organizou seu escritório em um dos quartos da casa e Ben anda ocupado com o seu escritório no centro.

    Ainda não visitei o hospital infantil que fica próximo ao centro da cidade. Não sei se terei uma oportunidade de trabalho lá, mas gostaria de conhecer o lugar.

    Aproveito o fim da tarde e dou umas voltas pelas ruas do bairro. Um pequeno comércio e uma charmosa pracinha com playground deixa o bairro mais bonito.

    A cidade possui um grande centro comercial. Além de um shopping que fica próximo à uma bonita praça central em frente de uma igreja Católica e do fórum, encontrei uma rua fechada muito charmosa com boutiques e restaurantes. Um segundo shopping fica mais afastado do centro. O teatro com arquitetura romana fica em outro ponto da cidade. A antiga estação de trem se transformou em um mercado que abre aos domingos para a feira de artesanato.

    A sede da prefeitura é um casarão de dois andares do século XVIII com um grande relógio em sua torre e o calçamento da rua é de pedra sabão. Os moradores não deixaram pavimentar este trecho da cidade para preservar sua identidade. Perto da prefeitura fica o museu que conta a história da fundação de Monte Belo, das famílias, das fazendas e os antigos casarões. Perto do teatro fica o Hospital da Cidade com arquitetura dos anos 50. A biblioteca pública fica perto do Hospital Infantil Guido Salus, HIGS como é chamado e sua arquitetura moderna chama a atenção.

    Um grande rio cruza a cidade. Uma pequena praia com areia branca se formou em um ponto do rio e no final da tarde muitas pessoas aproveitam o espaço do calçadão para a prática de esporte ao simplesmente caminhar.

    Estou encantada com a cidade. Tirei fotos incríveis e têm vários outros lugares lindos que fica até difícil de escolher. Tinha receio sobre o que encontraria aqui, mas estou muito satisfeita com a mudança.

    Papai contratou uma senhora muito simpática que se chama Odete para nos ajudar em casa. Ela virá somente três vezes por semana. Fiz várias perguntas à ela sobre a cidade, já que morou toda a sua vida em Monte Belo.

    Meu pai é advogado tributarista e trabalha boa parte do seu tempo em casa. Com uma longa ficha de trabalho, agora ele pode se dar ao luxo de ser o seu próprio patrão. Graças a isso ele se dedicou à mamãe quando ela adoeceu. Papai fez contato com várias empresas indicadas por Marcus, o amigo de Ben e com isso conseguiu alguns contratos.

    Ben veio almoçar em casa e não para de falar de seu novo escritório, que fica num prédio próximo da antiga estação. Eu ainda não o visitei. Nunca o vi animado assim. Estamos sentados na mesa da cozinha quando ele conta as novidades.

    - Marcus e eu temos muito trabalho pela frente pai. Assinamos um contrato de um conjunto de prédios que será construído na região oeste da cidade. São 10 prédios com amplo espaço social. Isto irá nos dar credibilidade na cidade.

    - Que maravilha filho! Quando vocês irão começar? - Pergunta papai todo orgulhoso.

    - Em breve. Estamos terminando um projeto de uma casa enquanto isso. - Diz Ben com olhos brilhantes.

    - Isso vai ocupar muito o seu tempo Ben. E por falar em tempo, o quê vocês planejaram para este fim de semana?

    - O que você está pensando pai? - Pergunto curiosa com meu prato vazio. Ben fica em silêncio.

    - Pensei em acamparmos neste fim de semana. Ouvi dizer que existem excelentes trilhas nesta região. Vocês topam? - Pergunta papai com um brilho no olhar. Eu e Ben olhamos um para o outro como duas crianças que irão ganhar presentes no Natal.

    - Com certeza! - Exclama Ben e eu concordo.

    - Ótimo! Temos hoje e amanhã para preparar tudo e no sábado madrugaremos.

    Ver papai animado assim é um alívio e uma felicidade. Este é um hobby que temos em comum. Desde crianças ele nos leva para acampar, mesmo quando mamãe não podia ir por algum compromisso escolar. Papai dizia que este era o verdadeiro tempo com a família, crescendo ao ar livre e desfrutando da natureza com respeito. Depois que mamãe morreu, este será o nosso primeiro acampamento.

    Terminamos o almoço conversando sobre os preparativos e como iremos aproveitar o fim de semana. Não vejo a hora de sábado chegar.

    A rotina em minha casa volta ao normal. Quero começar a trabalhar logo, mas sei que não será tão fácil. Enviei meu currículum para os hospitais da cidade e algumas clínicas e estou na expectativa. Em meu quarto pesquiso no computador sobre cursos de Pós-graduação mais próximo de casa quando o telefone fixo toca. Sra. Odete atende e logo a ouço chamar:

    - Coraline é para você.

    - Quem é Sra. Odete? - Pergunto sem tirar os olhos do computador.

    - Falaram que é do hospital infantil.

    Pulo da cadeira de estudos e saio em disparada. Pego o fone das mãos da Sra. Odete e a agradeço. Fecho meus olhos por dois segundos em uma breve oração e tomo coragem para dizer:

    - Alô! É Coraline falando. - Digo de forma tranquila.

    - Olá Coraline. Me chamo Adriana Moraes e sou do departamento pessoal do HIGS. Estou ligando para marcar uma entrevista nesta segunda-feira. É possível?

    - Claro! É possível sim. - Falo tentando ser o mais natural, mas pulando de emoção.

    Combinamos o horário, desligo o telefone e corro para contar a novidade ao meu pai. Definitivamente é uma notícia maravilhosa.

    *****

    Acampar para nós é recarregar as baterias e sábado finalmente chega. Coloquei o relógio para tocar às 5:00h da manhã. Vou para a cozinha e encontro meu pai e Ben preparando o café. Todos nós estamos ansiosos em começar o dia.

    - Bom dia florzinha! - Fala Ben com um sorriso estampado no rosto.

    - Bom dia meus queridos. Vocês dormiram bem? - Respondo dando um beijo em cada um.

    - Dormi feito um anjo. - Diz papai me entregando uma caneca com café. Vê-lo assim é muito bom. - Suas coisas estão prontas?

    - Estão sim. Só preciso pegar minha barraca na garagem. - Respondo.

    - Já peguei e estão todas no carro. - Informa meu irmão. Dou um sorriso em agradecimento.

    - Então comam logo e vamos. - Fala meu pai saindo da cozinha. Espero ele se afastar para comentar com Ben.

    - O aniversário de morte da mamãe está chegando.

    - Eu sei. Parece que foi ontem e ao mesmo tempo uma eternidade. Acho que este acampamento fará bem ao pai.

    - Para todos nós. - Respondo.

    Depois de tudo pronto, saímos no carro de meu pai; um Chevrolet vermelho bem espaçoso. A viagem é curta e não demoramos em encontrar a entrada da reserva. Entramos no amplo estacionamento e encontramos um lindo parque onde várias famílias levam seus filhos para brincar e fazer piqueniques.

    Tanto o parque quanto a reserva são iniciativas da prefeitura e todos da cidade de Monte Belo têm muito orgulho deste patrimônio. Ao lado do estacionamento fica o escritório da reserva e um grande painel com o mapa da região nos mostra nossa localização. Vejo várias árvores de flamboyant ao redor. Uma grande árvore faz sombra ao lado do escritório e todas estão em flor. Uma lembrança surge em minha mente, mas eu a mando para longe.

    Meu pai vai ao escritório para fazer o check-in e Ben e eu descarregamos nossas coisas do carro. Quando retorna, papai nos entrega panfletos com informações do lugar. Depois de analisarmos o material, pegamos a trilha dois. Algo me diz que papai não demorará para conhecer todas as cinco trilhas oficiais da reserva e fazer as suas próprias.

    Pegamos nossas mochilas e começamos a caminhada. Aproveito e tiro várias fotos pelo caminho. Vamos ficar só o fim de semana, então levamos só o necessário, mas acho que papai tem uma mochila grande demais.

    - Nesta reserva fica o Monte Belo. Foi por causa dele que a cidade tem este nome. - Diz Ben enquanto caminhamos e já familiarizado com a história da cidade.

    - Pelo mapa a reserva é grande. - Falo enquanto andamos.

    - É sim. E a reserva tem muito da mata nativa. Alguns donos de terras doaram uma parte de suas propriedades para a realização do projeto. - Completa Ben.

    - É uma bela iniciativa. - Diz meu pai liderando a fila.

    Andamos por uma hora até chegarmos a uma clareira perto do rio Açu, que de acordo com o panfleto está na língua Tupi e quer dizer longo, comprido. O sol está alto e concordamos que o lugar é ótimo para armar as barracas. Meu pai não quis ficar nas estações demarcadas para campistas, pois ele e Ben querem se aventurar.

    - Este rio passa em toda a reserva e vai além da cidade e tem algumas quedas d’água. - Diz papai. - Ótimo para fazer rapel.

    - Vários grupos vem aqui por isso pai, inclusive para a prática de arvorismo. As plataformas não estão muito longe daqui. - Fala Ben enquanto retira seu equipamento da mochila.

    - Eu já prefiro usar as plataformas para observar a natureza. As competições deixo para vocês dois. - Falo apontando para meu pai e irmão. Eles se olham em cumplicidade.

    - Vamos ter muito tempo para conhecer tudo. Uma coisa de cada vez. - Papai fala brincalhão desfazendo sua mochila.

    Depois que montamos as barracas, papai e Ben vão explorar os arredores e dar um mergulho no rio e eu fico no acampamento para preparar nosso almoço. Quando retornam, falamos sobre a beleza do lugar, os trabalhos de cada um e minha entrevista de segunda-feira. Depois do almoço, papai e Ben decidem cochilar e mais tarde irão pescar. Eu aproveito para fazer uma caminhada.

    Verifico em minha mochila os itens de segurança, minha câmera e minha garrafa de água. Aqui o sinal de celular é muito fraco. Estou de tênis, calça de tactel azul e blusa de malha branca. Prendi meus cabelos em um rabo de cavalo baixo e uso óculos escuros. Combino em voltar antes do anoitecer. Verifico mais uma vez o mapa antes de descer o rio em sua margem direita.

    - Tome cuidado filha. Não vá muito longe. Estaremos pescando nesta mesma margem mais acima, caso você voltar e não nos encontrar.

    - Pode deixar Sr. Otávio. Até daqui à pouco. - Dou um beijo em sua bochecha em despedida.

    *****

    Durante a caminhada tiro algumas fotos de plantas e flores que encontro pelo caminho. Cada árvore e canto de pássaro me encantam. A floresta é muito exuberante. Estamos na primavera e o verde e as árvores coloridas deixam a floresta mais atrativa. Sair da cidade é muito bom. Quando morávamos na capital, era um alívio ter estes momentos. Nossos locais preferidos de acampamento eram longe, não era possível fazer com tanta frequência como gostaríamos. Era preciso planejamento e paciência. Agora moramos em uma cidade menor que a capital, mas não perdemos muito o que uma cidade grande tem para oferecer, pelo contrário! Monte Belo é uma cidade moderna e bucólica ao mesmo tempo. Foi um achado encontrar este lugar.

    Enquanto contemplo tudo ao meu redor, tiro mais fotos. Minha câmera foi um presente de meus pais no ano que entrei na faculdade e eu gostei muito. Aprendi a usá-la estudando tutoriais pela internet.

    Depois de um tempo de caminhada, ouço risadas ao longe e quanto mais perto me aproximo, mais claro os sons ficam. Verifico minha localização no mapa e estou próxima de uma estação de campista. Pelas vozes o grupo parece animado. Ouço o dedilhar de um violão, algumas pessoas cantam e outras conversam. Minha curiosidade me leva em direção ao som e logo vejo o acampamento. Uma moça que estava mais afastada do grupo percebe minha presença.

    - Olá, boa tarde. Aproveitando o dia? - Me cumprimenta a moça com um sorriso no rosto.

    Ela é alta, jovem, olhos escuros, usa uma blusa azul marinho de manga comprida e calça jeans. Seu cabelo é escuro e cacheado e está em um comprimento médio, um pouco abaixo dos ombros. Ela é mulata e tem o sorriso mais branco que já vi. Uma mulher muito bonita.

    - Olá! - Digo sem jeito. - Desculpe só estou de passagem.

    - Sem problemas, não se preocupe. Fique um pouco. Me chamo Laura. - Ela se aproxima e estende sua mão para mim. Um gesto típico de pessoas acolhedoras e receptivas e muito utilizado pelos moradores desta cidade, como já presenciei em outras ocasiões.

    - Muito prazer. Sou Coraline. - Falo me sentindo uma intrusa.

    - O prazer é todo meu Coraline. Você está acampando ou só caminhando?

    - Estou acampando com meu pai e irmão. Estamos rio acima. - Tento parecer confortável.

    - Fique um pouco conosco. Somos um grupo que sempre se reúne, chegamos ontem à noite. Este encontro estava marcado há semanas, mas sempre alguém tinha algo importante e desmarcava, só agora conseguimos nos reunir. Venha, vamos beber alguma coisa. Vou te apresentar ao pessoal.

    Laura me puxa pelo braço, parecendo que nos conhecemos à anos. Ela fala com entusiasmo. Nos aproximamos do grupo e ela chama a atenção para aqueles que ainda não nos viram. Vejo duas moças e três rapazes.

    - Pessoal, esta é a Carolina. - E um grande sorriso é dirigido a mim.

    - Não, é Coraline. - A corrijo com um sorriso.

    - Isso, Coraline. Desculpe - Laura pede desculpas e se dirige ao grupo. - Coraline está acampando nos arredores próximo do rio com seu pai e irmão.

    - Olá Coraline. - Várias vozes e sorrisos são dirigidos a mim.

    - Está gostando da aventura? - Pergunta o rapaz que segura um violão, ele se parece com Laura.

    - Estou sim. A reserva é linda e o rio convidativo para um mergulho. Aqui é lindo! - Falo com reservas.

    - É a sua primeira vez? - Pergunta a moça loira sentada ao lado do violeiro.

    - Você fala aqui? - Giro meu dedo e ela confirma. - É sim. E estou encantada com a organização da reserva e do parque.

    - Este é o orgulho dos montebelenses. - Diz outro rapaz que está em pé e abraçado com uma moça ruiva. Ele é moreno e tem uma covinha no queixo.

    - Você é de onde Coraline? - Laura pergunta me entregando uma lata de refrigerante.

    - Obrigada Laura. Acabei de me mudar para Monte Belo.

    - E você vem de onde? - Pergunta o terceiro rapaz que está sentado em uma cadeira de praia. Ele lembra um indiano e tem uma barba bem cuidada.

    - Venho da capital.

    - Nossa! Você fez o caminho contrário. Têm pessoas aqui querendo ir para a capital. - Fala a moça ruiva olhando para o seu companheiro que faz uma careta em resposta.

    - Cada um com seus motivos. - Respondo e dou um sorriso para a moça ruiva que retribui. - E vocês, são amigos há muito tempo? - Pergunto sentando em uma cadeira que o violeiro puxou para mim.

    - Vixi! - Laura explode em uma risada. - Há muito tempo! Crescemos praticamente juntos. Vizinhos de rua, estudamos na mesma escola. Só nos separamos na faculdade. Mas sempre nos encontramos em alguma programação. - Finaliza Laura sentando ao meu lado.

    - Mas acampar se tornou a nossa principal atividade. – Fala o violeiro.

    - Isso é muito legal. Ter amigos assim é raro, ainda mais um grupo grande. Eu cresci em uma bairro movimentado, não dava para brincar na rua e meus amigos na escola oscilavam muito. Cada um tinha um monte de tarefas para fazer, só firmei amizades no final do ensino médio. Na faculdade não tinha tempo para nada. - Finalizo olhando para a minha plateia.

    - Por isso nos esforçamos para nos encontrar, para não perder o vínculo. - Diz Laura com um sorriso sincero.

    - Você costumava acampar? - Pergunta o violeiro.

    - Desculpe, acho que estou em desvantagem. Eu não sei os seus nomes. - Falo olhando para todos e termino em Laura.

    - Me desculpe Coraline, que falta de educação minha! - Diz Laura. - O violeiro é meu irmão João, sua noiva Beatriz que está ao seu lado, Vinícios e Elisa que estão de pé e Nathan que está sentado. - Todos acenam e sorriem quando são apresentados.

    - Agora sim! - Falo com um sorriso. - Eu e minha família João, acampávamos sempre que podíamos. Esta é uma atividade que gostamos de fazer. Quase uma tradição familiar. Meu pai e meu irmão gostam de atividades ao ar livre, neste momento estão se preparando para pescar. Amanhã eles irão fazer rapel ou arvorismos, não sei...

    - E você? Do que gosta? - Pergunta Beatriz em um estalo.

    - Gosto de caminhar, fotografar o que encontro pelo caminho, aquilo que me chama a atenção.

    - Vocês estão em alguma estação de campista? - Pergunta Vinícius.

    - Meu pai não quis. Ele e meu irmão queriam ficar realmente na natureza, como eles dizem.

    - Deus me livre ficar longe de banheiro e chuveiro! - Fala Elisa e todos caem na risada.

    - Mas é assim que se acampa, Elisa. Vocês meninas têm muitas frescuras. - Diz Nathan.

    Um debate se inicia entre os amigos sobre a forma correta de se acampar, quando escuto o estalar de folhas esmagadas e um assobio agudo. Todos olham em direção ao som e um falatório se inicia.

    - Finalmente! - Falam os amigos quase em uníssono. Quem estava sentado, levantou e quem estava de pé foi em direção ao desconhecido que acabara de chegar.

    - Cara, achei que você tinha se perdido ou desistido. - Fala Vinícius ao receber o amigo. Eles se cumprimentam em um abraço.

    - Ai de você se desse outro bolo na gente! - Diz Elisa dando outro abraço no recém-chegado.

    - Calma gente, já cheguei! - Fala o rapaz abraçando Laura, Beatriz, João e Nathan.

    - Você está bem? Já comeu? - Pergunta Laura.

    - Estou bem e não comi. Saí do plantão e vim direto pra cá. - Ele atira sua mochila em cima de uma mesa próxima e parece cansado.

    Todos falam animadamente com o rapaz. Fico em um canto observando a cena. Esta é a deixa para me despedir e voltar ao meu acampamento. Toco no ombro de Laura e digo baixo:

    - Laura, obrigada pelo refrigerante e foi ótimo conhecer vocês, mas preciso ir. Meu pai ficará preocupado se demorar em retornar.

    - Olá moça! - O recém-chegado se dirige a mim com sua voz forte e gentil ignorando os outros amigos.

    - Olá! - Respondo ao rapaz. Ele me olha fixamente e eu fico desconcertada.

    - Meu nome é Afonso. Muito prazer. - Ele se aproxima e estende sua mão.

    - Me chamo Coraline. O prazer é meu. - Respondo lhe entregando minha mão.

    Sinto uma mão forte e macia, delicada mas firme. O olhar de Afonso é profundo e por alguns segundos ficamos olhando um para o outro, o que me deixa sem graça. Ele é alto, corpo atlético, cabelos curto em um tom loiro escuro, rosto quadrado, pele branca mas bronzeada e olhos verdes escuros. Um rapaz muito bonito. Parece ser mais velho que Ben. Ele veste blusa de manga preta, calça camuflada e tênis. Soltamos nossas mãos e ficamos em silêncio. Laura percebe o clima e me socorre.

    - Coraline está acampando com sua família rio acima, Afonso. Ela estava caminhando e nos achou. - Enquanto fala, Laura coloca sua mão em meu ombro.

    - Você estava caminhando sozinha? E não tem medo de se perder? - Afonso olha para mim e depois sorri para as meninas. Todas lançam caretas para ele. Os outros se divertem com a insinuação.

    - Eu aprendi a me localizar Afonso. Meu pai me ensinou. Obrigada pela preocupação. - Digo dando um sorriso tímido. - Laura, preciso ir. Foi um prazer conhecer todos vocês, mas meu pai ficará preocupado e não demorará a colocar a polícia florestal atrás de mim.

    - Mas você acabou de chegar! - Diz Laura tentando me convencer a ficar.

    - E eu também! - Fala Afonso com sua voz forte.

    - Eu preciso ir mesmo. Obrigada pela hospitalidade. Aproveitem o encontro de vocês. - Me despeço e aceno para o

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1