Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Maranguiola - Da Coroa Ao Caldeirão
Maranguiola - Da Coroa Ao Caldeirão
Maranguiola - Da Coroa Ao Caldeirão
E-book382 páginas5 horas

Maranguiola - Da Coroa Ao Caldeirão

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Maranguiola é uma menina que nunca quis ser princesa, viver num castelo, cumprir o protocolo e usar roupa desconfortável nunca esteve nos seus planos. Sempre considerou ser bruxa muito mais interessante, e para ter o poder de decidir seus passos e construir seu próprio caminho chegou até a brigar com o Sr. Destino. Apaixonada por café, por si mesma e por dançar ballet, ela e sua amiga Ana Amélia vão descobrir a emoção de viver em Aleirbag, uma cidade pequena que serviu de cenário para todas as suas primeiras vezes. Como uma adolescente normal sonha em ter um namorado, mas terá que escolher somente um para fazer moradia no seu coração.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de set. de 2020
Maranguiola - Da Coroa Ao Caldeirão

Relacionado a Maranguiola - Da Coroa Ao Caldeirão

Ebooks relacionados

Religião e Espiritualidade para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Maranguiola - Da Coroa Ao Caldeirão

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Maranguiola - Da Coroa Ao Caldeirão - Glaucia Zanicotti

    Todos os personagens neste livro são fictícios, e qualquer semelhança com pessoas reais é mera coincidência

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Zanicotti, Glaucia

    Maranguiola : da coroa ao caldeirão / Glaucia Zanicotti. -- Brasília, DF : Ed. da Autora, 2020.

    ISBN 978-65-00-09927-0

    Ficção - Literatura infantojuvenil I. Título.

    20-45631                              CDD-028.5

    Índices para catálogo sistemático:

    1. Ficção : Literatura infantojuvenil 028.5

    2. Ficção : Literatura juvenil 028.5

    Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

    DEDICATÓRIA

    Para todas as meninas de cabelo bagunçado, para as bisbilhoteiras, para as bailarinas e para as amantes de café.

    Para todas que brigam com o destino e escrevem a história de acordo com seus sonhos.

    Para as princesas, que acreditam que podem transformar o mundo num lugar melhor, também para as bruxas que admitem que a liberdade de escolha é essencial.

    Para as bonequinhas, que escondem uma super mulher, para as pequenas que realizam coisas grandes e para as sensuais que escolhem em qual cama vão estar.

    Para todas as meninas que sabem do seu potencial. E para os meninos que entendem que o amor faz a vida valer a pena.

    Para srta. Gabi e para srta. Juli, que juntas tornaram esse livro possível, e fazem, com certeza, o mundo ser um lugar inesquecível

    AGRADECIMENTOS

    Ao meu marido, Wilson, pela paciência, pelo apoio, e por dizer que estava orgulhoso com isso tudo.

    À minha primogênita, Gabriela, por ser tão incrível e tão interessante a ponto de servir de inspiração para essa história.

    À minha caçula, Juliana, que dedicou parte do seu tempo lendo cada capítulo, elogiando, criticando, até me convenceu a mudar parte da história. Deu várias ideias, me obrigou a sentar e escrever porque estava ansiosa para saber o próximo capítulo. Tanto fez, tanto se meteu que a considero coautora deste livro.

    CAPÍTULO I

    NÃO HÁ SEGREDO NENHUM

    Apaga a dor, já passou. Abre a janela feliz. Olha que o vento soprou bem mais cor do que você quis

    (música Não há Segredo Nenhum, Oswaldo Montenegro)

    Era o primeiro sábado do inverno, estava bem frio e garoando um pouco. Estranhei porque a mamãe me acordou cedo, vestiu em mim uma roupa preta, botas e casaco com capuz. Ela tinha muita tristeza no olhar, mas não me disse nada, só murmurou um vamos.

    Meu quarto fica no segundo andar, então descemos as escadas de mãos dadas, na cozinha ela me deu um pão com queijo que já estava pronto e entramos no carro. Papai não quis dirigir, aparentava muito mais tristeza que a mamãe, eu não conseguia entender, mas conhecia aquele caminho, era da casa do vovô, fiquei um pouco animada.

    Mesmo com pouca idade sabia que alguma coisa ruim pairava no ar, mas não tive coragem para perguntar.

    Quando chegamos na casa amarela, era assim que a gente se referia à casa da vovó, mamãe disse:

    – Esperem no carro, vou buscá-lo e já volto.

    Ela vestia capa de chuva, colocou o capuz, bateu a porta do carro e saiu correndo na esperança de se molhar menos.

    Aproveitei a pausa para perguntar:

    – Pai...

    E antes que eu completasse a frase ele respondeu:

    – Vovó não resistiu.

    Eu já sabia da doença, ela já morava no hospital fazia um tempo, mas nunca me disseram que era tão grave, que ela poderia morrer, poderiam ter me avisado. Como eu era criança não me deixavam ir ao hospital visitá-la, e eu não pude me despedir, pensei em como papai estava triste, pois eu ficaria muito se minha mãe morresse.

    Eu tentei processar toda aquela informação. Perder alguém é muito triste, e eu recebi a notícia tão de repente, não fui preparada para esse momento.

    Vovô entrou no carro, sentou-se ao meu lado e perguntou, tentando fazer um ar animado:

    – Bom dia srta. Maranguiola! Como você está?

    – Não sei, um pouco triste por causa da vovó e um pouco feliz porque você está aqui.

    Ele me abraçou e ninguém falou mais nada até chegarmos ao cemitério.

    A chuva parou, mas o frio continuava forte, eram tantas pessoas encolhidas e amontoadas que nem consegui contar, todos muito bem vestidos e com roupas pretas.

    Era meu primeiro enterro e tudo me pareceu muito interessante. O lugar era grande e bonito, da porta da capela era possível ver um gramado bem verdinho e flores plantadas em filas, com espaçamento padrão entre elas, tinha cheiro de terra molhada.

    Vovó foi médica oncologista no hospital da cidade, com muitos pacientes, então havia muita gente ali para uma última homenagem, até o prefeito saiu lá do setor 3 e veio marcar presença.

    Nossa cidade era dividida em 8 setores, o centro, onde fica a igreja, a praça, a parte mais antiga é o setor 1, e o setor 3 é onde moram os muito, muito ricos, recentemente os moradores construíram uma estrada nova para ficar mais fácil o acesso à Fajopper, cidade vizinha, que fica na região das montanhas.

    E vinha muita gente para abraçar o vovô, ele era um funcionário aposentado dos correios que veio da cidade de Vitória, capital do Espírito Santo, para se casar e fazer amigos aqui na nossa cidade, ele conhecia quase todo mundo.

    Papai trabalhava no ramo imobiliário, e quando a gente saía de casa ele gostava de me contar o nome das casas e quem eram os moradores, a mais interessante era a casa de girafa, porque possuía uma porta muito grande, lá residia o Sr. e a Sra. Golias, e seus 5 gatinhos.

    Existia uma casa meio sombria, da dona Carmelita, ela morava sozinha e eu gostava de pensar que ela era uma bruxa má, a nossa casa era chamada de Castelo, não era grande nem luxuosa, mas papai sempre disse que era um castelo porque lá morava uma princesa.

    A que eu mais gostava de ir era a casa amarela, era uma casa grande e muito linda, amarela, lógico. Ficava no setor 5, numa rua alta e com um gramado na frente, algumas árvores, flores, um balanço feito de pneu e tinha um quarto só pra mim, porque às vezes papai e mamãe estavam ocupados demais e eu dormia lá com o vovô e a vovó.

    Passaram muitas pessoas por nós, mas a primeira que me chamou atenção foi uma criança linda, com cabelo loiro sol e um olho tão azul que brilhava até no escuro.

    Ela chegou em mim, apertou minha mão e disse meio embaraçada:

    – Meus pêsames!

    Olhou para mãe dela, meio tímida e perguntou:

    – Acertei a frase, mãe?

    E uma mãe igualmente loira e linda respondeu:

    – Sim, Ana, você acertou!

    E eu, sem perceber, comemorei junto com a Ana:

    – Você acertou!

    E ela me deu o sorriso mais lindo e mais sincero de todos e saiu.

    Perguntei baixinho:

    – Papai, quem são eles?

    – São os herdeiros do hotel Savóia, aquele que fica lá perto de casa, assim que o sr. Fritz faleceu, o hotel ficou para o filho, reformaram, e agora vão tomar conta, acho que vão morar lá mesmo.

    – Posso ser amiga dela? Eu sei que o nome dela é Ana.

    – Se ela quiser ser sua amiga, por mim tudo bem.

    E assim seguiu o protocolo do enterro, mamãe não me deixou chegar muito perto do caixão, ela queria que eu tivesse a lembrança da vovó ainda viva.

    Quando chegou a hora de tirar o caixão da salinha e colocar na cova, jogar terra por cima, depois grama, depois flores, e todo mundo chora, mamãe virou para mim e disse:

    – Bruna, por que não vai brincar com aquelas crianças um pouco?

    Mais adiante tinhas umas 5 crianças que não estavam nem um pouco interessadas no que estava acontecendo, e mamãe, acho eu, não queria que eu visse essa cena.

    Então eu fui, o bom de ser criança é que a gente chega, se apresenta e tudo dá certo:

    – Oi, eu sou Bruna Maranguiola, tenho 6 anos e é a minha vó que está sendo enterrada.

    Disse isso num tom que parecia que eu era muito importante naquele evento.

    Foi então que um dos meninos se aproximou, era o menino mais lindo do mundo todo, parecia aqueles de comercial de margarina, com família perfeita, e nessa hora profetizei: ainda vou me casar com ele!

    – Oi, eu sou Luigi Sorrentino, tenho 8 anos, sua vó foi quem curou a minha mãe do câncer, minha família sempre vai agradecer por isso.

    E dito isso me deu um abraço.

    – Vem Bruna, vamos espiar o enterro.

    Eu fui, ficamos de longe sentadinhos assistindo, e de meros estranhos passamos a ser cúmplices, comparsas, quase sócios expiadores de enterro.

    Quando acabou a cerimônia, todos foram embora, mamãe me chamou e sem saber que eu já estava contente tentou me alegrar:

    – Bruninha, temos uma notícia que talvez te agrade: o vovô vai morar no nosso castelo!

    Junto com vovô também foi o Bobovisk, o gato bobo, era da raça ragdoll, um gato gigante de olhos azuis e com um apetite insaciável. Foi a vovó Anelise que colocou esse nome, ela não gostava muito de gatos e esse em especial ela achava mais bobo do que os outros.

    Realmente a notícia me deixou muito feliz. Era para ser um dia ruim, mas apesar de tudo, teve muito mais cor do que eu sempre quis!

    CAPÍTULO II

    A PORTA DA ALEGRIA

    Mas eu sei que fiz as coisas do meu jeito. Não há o que consertar. Cada um tem sua história, só quem viveu, é que pode contar. E o passado é diferente na memória. E o certo é o que virá. Abre a porta da alegria e deixa entrar!

    (música A Porta da Alegria, Oswaldo Montenegro)

    O inverno passou, a primavera cobriu nossa cidade de flores, o verão foi muito quente, eu fiz 7 anos. Finalmente eu estava pronta para uma escola de verdade, eu estava indo para o primeiro ano do ensino fundamental. E vou estudar na escola antiga, chama-se assim porque foi a primeira escola da cidade.

    Parecia que eu estava indo para temporada 2 da minha vida, não sei bem quantas temporadas tem a vida de uma pessoa, mas eu não era mais uma bebezinha, já tinha 7 anos, já podia ser considerada uma criança e estava indo conquistar meu mundo.

    Esse período entre o enterro e a nova escola foi marcado por muitos sentimentos misturados, eu sentia falta da vovó Anelise, das comidas que ela fazia, das histórias que me contava, ela era um exemplo para mim. Normalmente vestida de branco e muito bem penteada, apesar da idade, ela ainda trabalhava muito. O que eu não conseguia aceitar muito bem era o fato de ela ter salvado a vida de tanta gente, tantos pacientes curados, e ela não conseguiu curar a si mesma.

    Perguntei para o vovô:

    – Por que as pessoas morrem?

    – Srta. Maranguiola, as pessoas vêm para este mundo com uma missão, e quando a missão é concluída a gente passa de fase. As pessoas não morrem elas só mudam de fase, a gente não pode mais ver nem falar com elas, mas não devemos ficar triste, elas estão bem, com outros objetivos...

    – E qual é a minha missão? Quando vou passar de fase?

    – Ninguém sabe, mas você vai descobrir um dia.

    – A missão da vovó era salvar a vida da mãe do sr. B?

    – Talvez, acho que a missão dela era salvar muitas vidas, mas quem é sr. B?

    – É um menino muito bonito, por isso chamo ele de sr. B.

    – Bonito como?

    – Ele se parece comigo, pele clarinha, cabelo nessa cor marrom que não se define muito bem, e olhos cor de mel, e nem é um menino muito alto.

    – E tem nome esse menino bonito?

    – Sr. B.! – respondi num tom petulante. – Brincadeira vovô, ele se chama Luigi Sorrentino, e a mãe dele foi paciente da vovó, e é tudo o que eu sei sobre ele.

    – Até que você sabe bastante.

    – Ah! Sei mais, sei que ele tem cheiro de xampu, senti quando ele me abraçou, e sei que ele é fã de Harry Potter, vi no casaco dele o símbolo de Hogwarts.

    – Nossa! – ele falou num tom de espanto – você já pode trabalhar como assistente do Sherlock Holmes.

    – Eu sei mais uma coisa: sei que ele gosta de espiar enterro e de desobedecer às regras, a mãe dele com certeza também falou para ele ficar brincando, mas nós ficamos escondido olhando, mas a ideia foi dele.

    – É normal que vocês tenham curiosidade, não tem problema, só o que não foi legal é que você deixou um menino que você acabou de conhecer, te convencer a desobedecer a sua mãe.

    – Na verdade eu queria muito espiar, ele só deu a ideia primeiro.

    – Sendo assim está tudo bem, srta. Maranguiola!

    – Vovô, será que a minha missão é me casar com o sr. B.?

    – Isso não é missão de ninguém, mas pode ser que vocês se casem sim. Agora vá pegar sua mochila que eu vou levá-la para sua super escola nova. É assim que você a chama, não é?

    – Isso mesmo vovô, vou pegar minhas coisas e já estamos saindo.

    A escola era perto do castelo, assim a gente podia ir andando e comentando sobre as outras casas da rua, vi uma casa que gostei muito, era a casa perolada, pintada num tom marfim, tinha janelas grandes que ficavam bem pertinho da rua e eu já me imaginei entrando e saindo por aquelas janelas, pelo guarda sol que ficava nos fundos dava pra imaginar que tinha uma piscina, e na minha cabeça também tinha um parquinho. Essa casa ficava no meio do caminho, igualmente distante da minha casa e da escola.

    Enfim chegamos! Era muito melhor do que eu tinha imaginado, aquelas crianças todas com o mesmo uniforme, a calça era azul com listras brancas e a camiseta era branca com o símbolo da escola. Tinha um mural com todos os nomes e a sala de aula correspondente, vovô leu para mim e me levou até o meu lugar.

    Já estava tudo tão perfeito que não acreditei que pudesse ficar melhor, mas ficou, na minha sala estava Ana, aquela menina linda e loira como o sol, fiquei muito feliz, ela também me reconheceu e levou uns dois minutos para que a gente se tornasse melhores amigas pra sempre.

    Ana nasceu Ana Amélia Becker Fishfritz, era de descendência alemã, do signo de escorpião com ascendente em touro, pois fazia aniversário no dia 31 de outubro, só não era uma bruxa perfeita porque tinha cabelo claro, e para mim todas as bruxas tinham cabelos escuros. E eu Bruna Olívia de Castanho Maranguiola, de descendência espanhola, olhos cor de mel e cabelo comprido e meio ondulado da cor de Coca-Cola, do signo de capricórnio com ascendente em aquário, meu aniversário era dia 06 de janeiro.

    Eu cresci ouvindo que era uma princesa, que um dia me casaria com um príncipe e depois me tornaria rainha, gostava dessa fantasia toda, mas eu queria mesmo era ser uma bruxa.

    Lembro de uma conversa que eu tive uma vez com a vovó Anelise, eu dizia bem isso, que queria ser uma bruxa, que queria ter poderes. Ela primeiro riu e depois me olhou bem séria e disse:

    Bruna, presta atenção: você pode ser o que você quiser, se quer ser uma bruxa, seja! Mas lembre-se que toda ação tem uma reação e toda atitude tem uma consequência. Sempre pense bem antes de fazer qualquer coisa, quais são as consequências disso, e se você está preparada para aguentar. A vida é como um jogo, quanto mais risadas, mais pontos, lágrimas diminuem essa contagem. Também tenha cuidado com os que estão na sua vida, se você vai deixar os outros contentes ou não. Você também é responsável pelo mundo ao seu redor, fazer os outros chorarem também diminui os seus pontos. Agora use todos os seus poderes de bruxa e vá fazer o bem, e lembre de sempre ser muito feliz!

    Eu nunca contei sobre essa conversa para ninguém, era como se fosse um segredo nosso, mas agora que ela não estava mais aqui, quem iria me dar aval para ser uma bruxa?

    Perguntei para minha mais nova melhor amiga, se ela queria ser uma bruxa comigo em segredo, e ela respondeu com toda segurança do mundo:

    – Está bem, você será a bruxa e eu a fada, porque quero muitos namorados, elfos, duendes, todos aos meus pés, e as bruxas não têm muitos namorados.

    Do alto dos meus sete anos pensei: quem é que falou em namorados? Eu quero ter poderes para não precisar obedecer a ordens a vida toda, para fazer minhas escolhas, para determinar como vai ser minha estrada, também, para fazer o sr. B. gostar de mim. Afinal os poderes eram para me deixar feliz. Fadas também tem seus poderes, então ficou assim combinado, eu uma bruxa e ela uma fada.

    O sobrenome da Ana era muito complicado Fishfritz era uma palavra difícil, então a batizei de Ana Peixe Frito, já que fish em inglês é peixe e fritz parecia frito, ela adorou e assim ficou sendo Ana Peixe Frito, a melhor amiga, alma gêmea, confidente, cumplice, quase irmã!

    Quando acabou a aula vovô veio me buscar, contei as minhas novidades, e ele, as dele:

    A primeira era que a casa perolada estava à venda, a gente não pretendia comprar, mas poderíamos agendar uma visita e descobrir se realmente tem um parquinho ao lado da piscina.

    A segunda era que a casa amarela estava novamente habitada, pelo tio Rodolfo, Tia Beatriz, irmã da mamãe, e Bibiane Carolina que é filha só da tia Beatriz, do primeiro casamento. Eles acabaram de voltar da Espanha, e vão morar lá por um tempo. Bibiane Carolina é 1 ano mais nova do que eu, e ela sim sonha em ser uma princesa, se veste como tal e acha que o mundo todo existe para servir aos seus caprichos. Até fisicamente parece uma princesa, com traços delicados, sobrancelha bem feita e um sorriso que quase nunca parece verdadeiro.

    E enfim chegou a hora da aula de ballet, era sempre às segundas, quartas e sextas, às 17:00 horas, lá na escola antiga, lá funcionava um centro de esportes e danças aberto à comunidade, então praticamente todos os atletas e dançarinos da cidade estavam lá, como o ballet era mais tarde, dava tempo de almoçar, dormir se eu quisesse, brincar um pouco, fazer as atividades da escola e o meu ritual de espelho.

    Todos os dias eu me olhava no espelho para ver se meus seios estavam crescendo, se já tinha a primeira espinha no rosto, se apareceu alguma estria ou celulite, media meu cabelo para ver se estava crescendo. Depois de todo corpo conferido eu ensaiava algumas coreografias com minhas músicas preferidas.

    Eu e vovô fomos novamente caminhando até a escola, tinha muitas meninas na aula, dentre elas Ana Peixe Frito, e alguns poucos meninos, entre eles, para minha surpresa e felicidade, ele, o menino mais bonito de todos, sr. B! E ele me reconheceu. Eu era a Bruna da vó que morreu. Mas acabou que ele me chamava de Maranguiola, como todo mundo, e eu o chamava de Luigi, demorei muito para contar sobre ele ser o sr. B.

    Fiz muitos pontos no meu jogo da vida naquele dia!!!

    CAPÍTULO III

    DROPS DE HORTELÃ

    Eu achava que faria tudo que não sei. Que amaria, eu não sei...

    (música Drops de Hortelã, Oswaldo Montenegro)

    Aleirbag, 7 de fevereiro, segunda-feira:

    Começa enfim a temporada 3.

    Já fui bebezinha, criança, e agora era uma pré-adolescente que estava indo para o sétimo ano do ensino fundamental! Meus pais e os pais da Ana acharam que era melhor a gente mudar de escola, então saímos da escola antiga e fomos estudar no Apolo.

    Dona Marta, a moça que ajudava lá em casa com as tarefas doméstica, me olhou com uniforme novo, que agora era bordô com marfim, chiquérrimo, cabelo arrumado, perfume e batom, e num tom desdenhoso falou:

    – Tá se achando gente!

    Pera aí, eu sempre fui gente, fui pequena, ainda não era grande, mas era gente. Cada idade, cada fase que a gente passa, de alguma forma define nosso comportamento na fase adulta, esses anos iniciais são muito importantes na formação da nossa personalidade, nossos valores, nosso caráter, e eu já tinha 13 anos, dona Marta!

    Eu era gente sim, meus hormônios estavam agindo, meus seios estavam crescendo e logo eu ficaria menstruada, e eu tinha sentimentos. Já pensava até em beijar o sr. B. Eu era apaixonada por ele desde os meus 6 anos.

    O que me dava insegurança era o fato que eu não fazia ideia dos sentimentos dele por mim. Alguns dias que eu achava que ele também queria ficar comigo, ele me dava alguns sinais, sempre arrumava uma oportunidade de encostar em mim, ficava me olhando muito, e às vezes quando ele me cumprimentava ou se despedia, depois do abraço eu pensava que teria um beijo, mas nunca aconteceu. E tinha dias que me parecia só amizade.

    Teria que descobrir quais as minhas chances com ele, e como faria para a logística do primeiro beijo dar certo.

    Aproveitei que tinha acabado de ganhar um celular novo e mandei mensagem pra Ana:

    – Oi, responde uma coisa: você acha que eu tenho alguma chance com o Luigi?

    – Srta. Maranguiola, eu não acho, eu tenho certeza, se ele não for gay, ele é a fim de você sim, agora se apresse que já estou pronta. Não quero me atrasar no primeiro dia de aula, sétimo ano, baby!

    Deixei esse assunto pra depois, peguei minhas coisas, me despedi da mamãe e dona Marta que estavam na cozinha e chamei o vovô para me levar para escola, ainda era perto, só que agora ficava para o outro lado, não passava mais pela casa perolada, mas passava pela casa da Ana, assim ela sempre me esperava pra irmos juntas.

    Vovô me olhou bem sério e perguntou:

    – Precisa mesmo que eu te leve para escola?

    – Vovô, desde que comecei a estudar você me levou para escola todos os dias, e agora que vou para uma escola nova você quer que eu vá sozinha?

    – Mas agora você já é grande, srta. Maranguiola.

    – Sou maior do que eu era, mas grande ainda não, e por maior que eu fosse, eu não desperdiçaria nem um minuto da sua companhia.

    – Você me convenceu! Mas vou só até a casa da Ana.

    – Está bem vovô, então vamos!

    Primeiro dia de aula numa escola nova, quando você é da turma dos mais novos, e a maioria dos estudantes são mais velhos que você, é no mínimo um dia incrível e cheio de novidades.

    Achamos a nossa sala, e fomos dar uma volta para fazer um reconhecimento do território.

    E foi nesse passeio que eu avistei o sorriso mais encantador e mais fascinante do mundo, e sorria pra mim! Talvez tenha sido porque eu tinha acabado de tropeçar e quase caí no meio de toda aquela gente, mas esse detalhe resolvi não explorar. Só guardei a imagem daquele sorriso e eu fiz a única coisa que se é possível fazer nessa situação, virei as costas e saí correndo.

    Ana mal teve forças para me acompanhar de tanto que ria.

    Já perto da nossa sala, recuperadas do acontecido, eu perguntei:

    – Ana, você viu aquilo?

    – E tinha como não ver?

    – Temos que descobrir quem é aquele menino.

    – Sim, e depois vamos matá-lo para que não tenha nenhuma testemunha, assim sua reputação continua ilibada.

    – Não, Ana, ele tem um sorriso muito bonito para morrer.

    – E olhos verdes?

    – E cabelo recém cortado, ele é perfeito Ana!

    – Achei ele muito alto pra você.

    – Eu achei ele muito lindo!

    – Tá bom, e pra sua sorte eu sei quem ele é.

    – Como assim? Você conhece meu príncipe encantado número dois e não me apresentou ele ainda?

    – Eu disse que sei quem ele é, não que conheço, e que eu saiba bruxas não se apaixonam, muito menos por príncipe encantado.

    – Eu sou uma bruxa diferente, mas não muda de assunto, me conta quem é ele.

    – O pai dele é dono da fábrica de cosméticos, e são eles quem fornecem os xampus, sabonetes, e essas coisas lá para o hotel, e às vezes ele vai junto com o pai, eu já o vi por lá.

    – E como ele se chama?

    – Não sei, nunca tive coragem de perguntar, e ele nem é meu tipo.

    – E qual é o seu tipo, Ana Peixe Frito?

    – Gosto dos mais bagunçadinhos, os muito arrumados com cara de problemático deixo para você.

    – Me dá um exemplo prático, nomes.

    – Eu gosto do Fernando Pellegrino!

    – Aquele menino que tá sempre de roupa larga?

    – Sim, aquele menino lindo que está sempre de uniforme de treino, que tem um cabelo maravilhoso, e que é o melhor jogador de basquete dessa cidade!

    – E como você nunca me contou?

    – É porque me apaixonei por ele ontem, a mãe dele teve outro bebê, e veio muita família do Rio de Janeiro pra visitar, então ficou um pouco de gente lá no hotel. Ele chegou lá todo lindo, arrumado, sem roupa de treino e falou pra mim que estava na recepção, Ana Amélia, tem quarto livre pra esse bando de gente? Aí ele se abaixou chegou bem perto e falou no meu ouvido diz que não tem, por favor.

    – E você disse o que?

    – Antes que eu dissesse qualquer coisa a Kelly, que é a recepcionista já estava fazendo o cadastro.

    – E daí?

    – Aí eu olhei para ele com cara de sinto muito não pude te ajudar, mas me apaixonei.

    – E ele?

    – E ele disse, de novo, bem pertinho, acho que era para família não ouvir, Ana Amélia, você fica ainda mais bonita sem uniforme de ballet, me derreti toda. Quem é que me

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1