Rubores
()
Sobre este e-book
Leia mais títulos de Leandro Jardim
Perdidas: Histórias para crianças que não têm vez Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPeomas Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a Rubores
Ebooks relacionados
Como tratar loucuras crônicas com poesia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPérola Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Perfume E A Promessa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPlural: Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEu me amo (Eu acho) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Que Me Trouxe Até Aqui Nota: 0 de 5 estrelas0 notasConsequências Prazerosas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDomingo Eu Vou Pra Praia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Conspiração dos Felizes: E outras histórias de febre e esperança Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPassagem Para As Estrelas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDestino, acaso ou algo mais forte Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTe amo demais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCinza Como Da Cor Inverno Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEi Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSensations Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPreto no Branco Nota: 0 de 5 estrelas0 notasI love New York Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSanta Sede 6: Crônicas de Botequim Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuasi Di Verdadi Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA mulher incrível Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuerubins: A Rebelião da Luz Nota: 0 de 5 estrelas0 notasManual do coração partido Nota: 4 de 5 estrelas4/5Trechos de um inconsciente poético Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm Livro Sobre A Falta Que Você Faz Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEntre ossos agora Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm Minuto, Por Favor! Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDialogando com as gavetas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEstilhaços Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTempos Verbais Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Ficção Literária para você
Livro do desassossego Nota: 4 de 5 estrelas4/5O vendedor de sonhos: O chamado Nota: 5 de 5 estrelas5/5Memórias Póstumas de Brás Cubas Nota: 4 de 5 estrelas4/5Dom Casmurro Nota: 4 de 5 estrelas4/5Primeiro eu tive que morrer Nota: 5 de 5 estrelas5/5Declínio de um homem Nota: 4 de 5 estrelas4/5O vendedor de sonhos 3: O semeador de ideias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBox - Nórdicos Os melhores contos e lendas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEu, Tituba: Bruxa negra de Salem Nota: 5 de 5 estrelas5/5O que eu tô fazendo da minha vida? Nota: 5 de 5 estrelas5/5Rua sem Saída Nota: 4 de 5 estrelas4/5Eu que nunca conheci os homens Nota: 4 de 5 estrelas4/5O vendedor de sonhos 2: A revolução dos anônimos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAprender a falar com as plantas Nota: 4 de 5 estrelas4/5O amor vem depois Nota: 4 de 5 estrelas4/5
Avaliações de Rubores
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Rubores - Leandro Jardim
Borges)
Dosar-te
Não é o que dizem? O que nos faz viver é o coração batendo. Ou seja, o sangue que corre, pulsando quente, irrigador. Motor e combustível, embora não sejamos máquina. Daí a importância da bebida e da alimentação, definem o que conterá nesse vermelho líquido, e com efeito rápido. Esse vital sumo por tantos tão esquecido, ainda que rubro. Mas eu não me esqueço nunca, por isso conduzo-o, instrumento-o como ao tempo. Ela, porém, não sei se entendeu. E agora, enquanto me lembro, bebo. E pela transparência do fundo do copo revejo tudo.
Artistas são menos do que pensam. Menos ainda do que o tanto que se espera deles, numa óbvia inversão proporcional. Importam-se demais com o metafísico, e perdem-se. Não por um caminho errado, mas pelo próprio chão que lhes parece faltar. Pretendem o voo, exibem o salto, escondem a queda. Ou tentam, mas já estão no palco. Nesse caso, literalmente. Engolem seco.
E pode muito um dia. Mesmo que muito pouco quando se esperava tudo. Vejamos desde um começo. Ela acordou ao meu lado. Aceitou tudo sóbria na véspera. O que quer dizer que já começou errando desde o passado. Ofereci um sanduíche como o meu. É pão, carboidrato engorda, obrigado, mas não.
Quase impossível desviar o olhar dos seios desnudos de uma mulher bonita, tenham eles o formato que tiverem. Um pouco deste café, então?
Mas o nervosismo dos últimos dias já tinha reascendido nela uma gastrite, disse.
Havíamos estreado de forma brilhante no dia anterior, ontem. Amigos, familiares, imprensa já de longa data conhecida, aplausos, muitas mãos de pé a espalmar-se com força. Noutras, os dedos à boca para assobios agudos. Do palco, vimos tudo exatamente como fora escrito por nós. E coroei, portanto, como na corrida de Fórmula 1: estourei champanhe, joguei na plateia, bebi de escorrer pelo pescoço. A ela ofereci o que restou. Depois de sua recusa, aos outros. E já entendia mais confortavelmente o mundo antes da descida.
Já o espectador de arte, mesmo o habitual, gosta de se identificar. Se não a si, a um desejo seu. Sempre seu, mesmo que não o tenha formulado antes. Sempre desejo. Funciona assim, no início ele mais ou menos pensa ah, queria ter vivido isso
. E no meio já sente como se o vivendo. Daí basta que o autor não estrague a ilusão no final. Por isso tantos términos antes que a história chegue ao fim. É a covardia de quem escreve, não quer errar. Ou, então, seu tino comercial. Pelo menos foi por ambos os motivos que optei também eu pelo corte seco. Não posso ser bobo, pensei. E bobo fui, diria minha autoconsciência crítica. Mas, bobos eles, não pensarão assim, projetei indecente ao público. E, claro, bebia sempre pra escrever; ou pra lubrificar vãs restrições ético-estéticas.
Além disso, boas ideias não vêm assim, de mão beijada. É preciso beijar a musa. Quando não são fruto de uma boa e casual epifania bem trabalhada, há que se ir buscá-las. E já conheço o interruptor criativo de acender luz no meu cérebro. Uma cerveja, ou chope, às vezes dois, e um café expresso depois, é como um clique. Feito isso, parti do meu projeto motivador, em que queria escrever e protagonizar minha invenção. Fosse qual fosse, dado que eu não tinha tema ainda estabelecido. Meu único alvo era ela, a musa como principal estrela; a que eu beijaria, antes e depois do fim. Embora ainda não o soubesse, já a desejava assim, inteira. E trabalhei metódico, e prossegui sabiamente boêmio pra construí-lo. O encantamento artístico geralmente nasce daí, quando os desejos pulsantes de autor e público coincidem.
Fácil. Isso mesmo, fui pela metaficção. A história de um escritor boêmio com pretensões dramáticas, dramatúrgicas; e que escreve para se aproximar da musa inspiradora, ambíguo. E a vantagem do teatro é que ele se presta à experimentação, especialmente se nomeada de pesquisa criativa, oficina de composição, vivência ficcional. Sendo que prefiro, claro, esta última. Afinal, de que serve a ficção se não para vivê-la?
Desse jeito, alternando tais expressões conforme variava o argumento, eu a convenci, e em pouco tempo demos início a um período de dois meses em que nos encontrávamos três vezes por semana. Às segundas, uma cervejinha pra acompanhar, quartas, íamos de vinho e nas sextas, whisky. Whisky não, Bourbon. Com gelo de água de coco e alguma programação gastronômica em seguida. Exauridos de intensidade, celebrávamos às sextas, sempre. E funcionou, o desencadear dos dias e encontros correspondeu. Cada bebida trabalhou a seu jeito a nos inspirar situações. Reescrevemos muito, conseguimos ser inventivos na peça, sair um pouco