Tankas E Quadras

De Cacildo Marques

-Livro com 52 tankas (uma para cada semana do ano) e 366 quadras (uma para cada dia). Tankas são poemas de tipo japonês, com cinco linhas, formadas por um terceto 5-7-5 e duas linhas 7-7. No formato original não há rimas, mas aqui o autor adaptou, fazendo rimar o terceiro e o quinto versos, em rimas sonoras, irlandesas.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 12 de mar. de 2018

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TANKAS

Uma tanka por semana

Primeiro trimestre

1

Navega nos mares

O barco das ilusões

E das fantasias,

E quanta gente deseja

Embarcar nele algum dia!

2

O corpo carente

Perto do ser desejado

Fica ardendo em chamas,

Clamando pelo momento

Do desfazer-se dos mantos.

3

Que alívio saber

Liberto teu coração

Do jugo da fera.

A fera te mutilava

Por ver-te sempre rebelde.

4

Morrer de saudades

Não é coisa muito rara.

Muitos têm tal fim.

Quem de saudade adoece

Triste emudece e definha.

5

Do mar e das matas

O verde é cor da esperança

Dos frágeis humanos.

Não desvenda dele o enigma

Coração que o ache estranho.

6

Ele quer cair.

Com impaciência espera

Cair nesses braços.

Ou que ela caia nos dele

No dia em que se encontrarem.

7

Dois, mas tão afins

Que parecem ser um só,

Olham para o céu.

Veem na noite as estrelas

Que os iluminam de leve.

8

O canto dos pássaros

Faz das árvores em volta

Fundo musical,

Ao casal que enfeita o verde

Conversando em frente ao lago.

9

Quebrados na sala

Cristais azuis e incolores,

Um caleidoscópio.

Quem guardar esses cristais

Não se sentirá mais só.

10

Molhada de chuva,

Vinhas de vestido branco

Colado no corpo.

Teu sorriso entre os respingos

Parecia ainda mais solto.

11

Quando abres os braços

Ao receber na chegada

Teu maior amigo,

Mostras o quanto diferem

O retorno e a despedida.

12

Corres pela praia

E pela areia teus pés

Deixam frágeis marcas,

Que o mar desmancha em seguida

Para que não mais as achem.

13

Contra a Antiguidade,

Acasalai-vos, ó monges.

É chegado o tempo.

Quer o chefe de outras eras

Que percais fêmea e rebentos.

Segundo trimestre

14

Mais do que te notam

Se te vestes de organdi

Com tons de turquesa.

Ah, que dois olhos gulosos

Não se cansam de te ver!

15

Quem nunca tratou

De buscar o sexo oposto

E formar um par

Não sentiu a dimensão

Da transcendentalidade.

16

A aurora dos sonhos

Pode às vezes ser crepúsculo

Das coisas possíveis.

Mas sempre vale a esperança,

Que é mais dela que se vive.

17

Não olhes nos olhos

Da moreninha fogosa

De faces maçã,

Se queres fugir do risco

De cair numa paixão.

18

Vir e ver de verde

Esse corpo de menina

Que os céus construíram

É não querer ir de volta,

É querer sempre e mais ver.

19

A mulher objeto

Que se dispõe a seguir

O que pagar mais

Vira peça de leilão,

Arrematada e usada.

20

Quando