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Ventos Na Relva Seca
Ventos Na Relva Seca
Ventos Na Relva Seca
E-book117 páginas1 hora

Ventos Na Relva Seca

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Sobre este e-book

O livro “ventos na relva seca” é uma história perturbadora, expõe a natureza humana independente da idade ou fase em que as pessoas se encontram. Ele era só um garoto, alguém que tinha uma vida simples. Mas, um dia, tudo mudou. Depois que conheceu Heitor que o obrigou a viver outra realidade onde o mal se move através das escolhas. Exposto a constantes ameaças e chantagens ele passa a pensar nos meios para conquistar sua vida de volta, chega ao ponto de planejar como mataria seu antagonista. “Mataria para viver? Sim eu mataria, sim, eu vou matar Heitor. Vou trocar sua vida pela minha, não vou ser seu escravo. Ainda que a minha consciência me acuse de ter matado meu semelhante, ainda assim é necessário”.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de fev. de 2018
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    Ventos Na Relva Seca - Chardes Bispo Oliveira

    EXÓRDIO

    Certa tarde de algum dia que, naquele momento, não saberia dizer a data ou a hora, via-me dentro de uma realidade que sufocava minha razão, toda lógica possível das coisas acontecerem havia se desmanchado, toda realidade era apenas um tecido esticado dentro do tempo e eu um mero objeto jogado de um lado para outro pelas circunstâncias. O que aconteceu comigo para que eu chegasse a esse ponto da vida não é algo fácil de expor em uma frase lívida, talvez algumas horas de muitas frases pudessem desenhar os fatos e esclarecer tudo de uma vez por todas. Antecipo que decidi escrever tudo o que emergia da minha memória na esperança de pôr em ordem a confusão que estavam os meus pensamentos. As horas de solidão nesse quarto de hospital são mais longas quando estou sem fazer nada, então, escrever também ajudava acelerar o tempo. Porque estou internado num hospital? Quase morri, digo quase não como força de expressão, essa foi a precisa distância que fiquei da morte, um quase entre a vida e a morte. Portanto, vamos começar do começo.

    CONSEQUÊNCIAS

    Nunca fui uma má pessoa, sempre recebi elogios e através deles meu pai estufava o peito de orgulho. Mas, de uns dias para cá tenho me tornado uma pessoa baixa, abjeta. Virei um ladrão, é isso mesmo, um ladrão. Do pior tipo que existe. Se é que tem algum tipo que é melhor que outro. E porque me sinto assim? O pior dos ladrões? Porque tenho roubando da carteira do meu pai e mentido para minha família. Essa é outra característica de um ladrão, ser mentiroso. Eu não sei mais o que fazer para sair desse mundo e tenho medo sobre até onde posso chegar para manter o demônio que me atormenta satisfeito. Há três dias estava na escola e o calor estava além do normal, muito quente como imagino que seja dentro de uma chaleira no fogo. Não sou de ficar saindo da sala de aula, não gosto de perder as explicações. Mas, nesse dia fiz uma exceção por causa da sede que me castigava, pedi à professora para ir beber água e ela deixou. Enquanto bebia água percebi a presença de outro aluno que, também, tentava saciar a sede. Quando terminei decidi ir ao banheiro para não precisar pedir para sair de sala de novo e perder mais das explicações. Foi na saída do banheiro que conheci Heitor, um menino mais velho que eu. Ele aparenta essa idade por causa do porte físico.

    — Ei, você vai voltar para sala agora? – perguntou como ar bem quisto. Tomei um susto, não com a pergunta. Mas, com a abordagem inesperada.

    — Sim é o que devo fazer. Por quê?

    — Eu achei uma coisa ali atrás. Uma coisa bem estranha. Você já viu uma coisa bem esquisita? Quer ver? Eu quero mostrar para alguém. Vem que vou mostrar. Chamo-me Heitor. Vem comigo – se apressou em sair do banheiro.

    — O que? Que coisa é essa? É melhor deixar para outra hora porque se o inspetor nos pegar fora da sala de aula vai dar problema.

    — Não, acho que ele não vai nos pegar, e outra: não vamos demorar nada. Vamos logo, estamos perdendo tempo.

    Fisgado pela curiosidade fui com ele até a parte mais esquecida do espaço da escola, bem nos fundos onde nunca havia andado antes. No canto do muro, protegidos pela sombra de uma árvore frondosa, ele retirou das suas raízes um objeto branco que parecia um canudo e perguntou se eu sabia o que era aquilo. É claro que parecia um cigarro, do tipo que alguns adultos sempre estão com ele na boca, mas um pouco estranho. Tinha a ponta retorcida, quem retorceu tinha o objetivo de manter o conteúdo do objeto dentro dele. Mas, fingi saber o que era, ainda que não soubesse ao certo.

    — Mais ou menos, mas não, não sei com certeza. Olhando bem parece uma bobagem você me trazer aqui pra isso. Estou voltando para aula. Até logo.

    Mas, não tive forças para sair por minha vontade. Heitor segurou no meu pulso com tanta força que senti o osso do meu braço, o úmero, sendo esmagado.

    — Você vai ficar e fazer o que eu te mandar fazer. Entendeu ou preciso ser mais convincente?

    Soltou o meu braço e depois pediu desculpa por ter me machucado.

    — Foi mal aí, não queria te machucar – sorriu com certo brilho nos olhos. Então ele retirou um isqueiro do bolso e ascendeu aquela coisa. Tragou bem forte e soprou com violência para o alto.

    — Agora é a sua vez.

    Estendeu a mão entregando o cigarro para mim, meneei a cabeça em sinal de recusa. Mas, não adiantou nada. A democracia de Heitor se fazia pela força. Ele segurou meu maxilar com força e colocou o cigarro entre meus lábios, segurou bem forte minha boca de modo que o cigarro permaneceu preso na minha boca e com a outra mão apertou meu nariz me fazendo perder o ar ao ponto de sufocar, para tentar respirar acabei tragando aquela porcaria. Vendo que conseguiu me fazer inalar uma grande quantidade de fumaça, resolveu me soltar. Eu caí sentado tossindo, olhos lacrimejando e tentando respirar. Ele apenas sorria e dava golfadas generosas daquela fumaça de cheiro adocicado. Quando recuperei o fôlego tentei levantar, foi quando senti tudo rodando. Estava tonto, voltei a sentar. Minha cabeça girava muito e tudo estava ficando longe e distorcido.

    — Eita rapaz! - soltou uma gargalhada. — Agora vou contar para o inspetor que te encontrei no banheiro e você me chamou até aqui e me fez fumar essa coisa asquerosa, depois ameaçou de pagar uns meninos mais velhos para me pegar na hora da saída caso eu abrisse a boca. Ele vai acreditar porque eu vou fingir que estou chorando e vou dizer que sou humilhado por vocês porque sou pobre, filho do açougueiro. Os velhos têm um senso de piedade muito aguçado ao ponto de sobressair ao senso de justiça. Sabe o que vai acontecer depois? Vão chamar teu pai e ele vai ficar muito triste porque o filhinho dele ameaça gente pobre e ainda força eles a fazerem coisas erradas. Sabia que na sala do inspetor tem uns aparelhos que atestam se o aluno está sobre o efeito de alguma coisa errada? Dizem que até três dias depois ainda dá para identificar alguma coisa. Ele vai usar em você. Eu não serei submetido a esse aparelho porque estarei muito humilhado para ser submetido a outras humilhações e todos ficarão do meu lado. O pobre coitado do menino desfavorecido. Mas, você sim, será submetido e atestarão minha inocência e confirmarão sua culpa. Estou até vendo a cara do seu pai, triste, desgostoso, decepcionado com o viciadinho malvado dele.

    Sabia que todo chantagista quer alguma coisa que compre seu silencio. Adiantei-me para resolver logo aquela situação, como não sabia se tinha usado droga de verdade, afinal nunca me falaram a diferença disso para outra coisa, e o argumento dele me meteu medo, perguntei:

    — Quer meu dinheiro do lanche? Dou todo pra você esquecer que nos encontramos alguma vez na vida.

    Nos filmes isso sempre dava certo. Ele sorriu. Entreguei o dinheiro e corri para o banheiro.  Enchi a boca de água, gargarejei de todas as maneiras possíveis até tirar aquele cheiro da minha boca. Mas, tinha a impressão que aquele cheiro adocicado do cigarro, da droga, havia ficado empregando nas minhas roupas. Voltei para a sala e não disse uma só palavra durante o resto do tempo. A hora do recreio chegou e eu me afastei dos outros meninos, fiquei num cantinho observando e só isso. Estava com vergonha e sem dinheiro. Até que Heitor decidiu se aproximar, veio sorrindo até onde eu estava. Estendeu a mão, que segurava um sanduíche de patê de atum.

    — Pega, comprei pra você. Sou uma pessoa boa, tenho um coração amigo, não deixaria você com fome de jeito nenhum – continuava com o braço esticado em minha direção.

    — Não preciso da sua generosidade – disse entre dentes.

    — Você não tem querer seu estrume. Pega logo isso e seja grato por alguém ainda se preocupar contigo.

    — Não quero, estou muito bem sem isso.

    — Ou pega ou te arrebento aqui mesmo. Acha que estou brincando? Onde já se viu um disparate desses? Rejeitar comida. Olha quem vem ali, o inspetor, pega e come ou vou chamar ele e dizer que você estava me subornado com esse sanduíche para eu ficar de boca fechada sobre seu cigarro de droga.

    Peguei o maldito sanduíche enquanto olhava assustado para o inspetor e para o olhar tenso cheio de expectativa do demônio Heitor.

    — Põe na boca e morde como se estivesse muito feliz de comer esse sanduíche ruim. Tentei comer mais era ruim pra burro. Mas, para você é o melhor sanduíche do mundo. Saboreia bem, o inspetor está chegando perto. Dá mais uma mordia nisso aí. Parabéns, amigão. Até logo otário, eu não comprei isso aí, eu achei no chão lá atrás. Espero você depois da aula, não fuja de mim.

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