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Da Torre De Babel À Sociedade Tecnológica
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E-book400 páginas4 horas

Da Torre De Babel À Sociedade Tecnológica

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Sobre este e-book

Da Torre de Babel à Sociedade Tecnológica: Tradução e Multidisciplinaridade é uma obra que traz textos extraídos de trabalhos de pesquisa, realizados por acadêmicos da graduação e da pós-graduação sobre tradução em seus aspectos mais amplos. Os trabalhos foram motivados, em sua grande maioria, por participantes do projeto de pesquisa Tradução e Multidisciplinaridade: Da Torre de Babel à Sociedade Tecnológica, criado pela profa. Dra. Rosa Maria Olher e hoje coordenado e orientado pela professora Dra. Liliam Cristina Marins, Departamento de Letras Modernas do Centro de Ciências Humanas da Universidade Estadual de Maringá, estado do Paraná.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento17 de abr. de 2018
Da Torre De Babel À Sociedade Tecnológica

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    Da Torre De Babel À Sociedade Tecnológica - Liliam Cristina Marins & Rosa Maria Olher (orgs)

                      Liliam Cristina Marins

    Rosa Maria Olher

    (Organizadoras)

    Da Torre de Babel à Sociedade Tecnológica – tradução e multidisciplinaridade

    A tradução, além de desestabilizar a verdade absoluta do sentido depositado na palavra, traz à tona o conceito da diferença, da instabilidade e da transformação de um texto

    (OLHER, 2015, p.176).

    Liliam Cristina Marins

    Rosa Maria Olher

    (Orgs.)

    Da Torre de Babel à Sociedade Tecnológica – tradução e multidisciplinaridade

    1ª. edição

    Maringá, Pr.

    Edição Administra Serviços Administrativos Ltda.

    2018

    ficha

    SUMÁRIO

    Prefácio

    Aline Cantarotti & Paula T. Pinto

    Angélica Tomiello

    Carla C. G. dos Santos

    Davi S. Gonçalves

    Gabriela Burgardt

    Giuliane M. Gonçalves, Jháred B. Santos, Liliam C. Marins, Fernanda S. Boito

    Mariane Oliveira Caetano

    Mariana C. Gonçalles & Liliam C. Marins

    Mayara S.B. dos Santos & Liliam C. Marins

    Nara Elvira R. da Silva e Liliam C. Marins

    Taynara C. de S. Silva

    Veronica B. Birello & Roselene de F. Coito

    Viviane C. P. Lugli....208

    Prefácio

    Esta coletânea teve como pano de fundo alguns estudos atrelados ao projeto de pesquisa Tradução e Multidisciplinaridade: da Torre de Babel à Sociedade Tecnológica, criado e desenvolvido por professores pesquisadores de tradução do Departamento de Letras Modernas da Universidade Estadual de Maringá, estado do Paraná, a citar as professoras organizadoras deste livro ora publicado, bem como aborda as demais pesquisas desenvolvidas por acadêmicos dos programas de graduação e pós-graduação envolvidos com o campo tradutório das línguas: inglesa, espanhola e portuguesa.

    As reflexões aqui apresentadas trazem insights valiosíssimos a todos os pesquisadores do campo da tradução, aos tradutores e aos demais interessados, tendo em vista a perspectiva multidisciplinar presente em todos os textos. Da Torre de Babel à Sociedade Tecnológica – tradução e multidisciplinaridade – título deste livro -  sinaliza para a pluralidade de temas e tópicos relevantes  quando se trata de discutir problemas de tradução na contemporaneidade. Embasados em sua grande maioria pela perspectiva teórico-filosófica da Desconstrução e/ou por conceitos discutidos  por diversos estudiosos pós-estruturalistas, os autores dos textos aqui publicados discutem questões que envolvem a ampla relação da tradução com: o ensino; a dramaturgia; o cinema; a reescritura de textos para contextos específicos; os diferentes gêneros literários; a hipertextualidade e, ainda, tratam de questões linguísticas sempre presentes na tradução, a exemplo da gramática ou dos diferentes aspectos léxico-gramaticas do par linguístico envolvido em todo processo tradutório, seja ele intralinguístico,  interlinguístico ou intersemiótico.

    Traduzir a escritura que se esconde em uma produção escrita, ou seja, transportar um texto de um contexto a outro, de uma cultura a outra, não é tarefa fácil; pelo contrário, traduzir significa transpor os possíveis e, por vezes, intransponíveis limites de um texto de uma língua e cultura, lembrando incessantemente ao tradutor de sua árdua e sempre endividada tarefa de traduzir.  A multiplicidade de sentidos e de associações possíveis que envolvem o ato de traduzir é apenas uma amostra da angústia e, ao mesmo tempo, da esperança cultivada pelo tradutor na sua tentativa de garantir, ou ainda, de permitir  a sobrevida de um texto, seja ele impresso, falado, dramatizado, localizado, nacionalizado, porém, sempre interpretado. Uma tradução nada mais é do que um texto que acolhe outra tradução e que traduz a tradução e, discutir o leque imenso de temas que se vislumbra nesse maravilhoso campo é, sempre e felizmente, dialogar com outros possíveis campos, com inúmeras outras disciplinas, além de problematizar aspectos fundamentais relacionados às línguas, às literaturas e às artes.

    Iniciando com uma parceria da tradução com o ensino, Aline Cantarotti e Paula Tavares Pinto discutem a necessidade de se repensar o ensino de tradução nos bacharelados Secretariado Executivo no Brasil. Com base no Ensino de Inglês para fins específicos, as autoras propõem uma nova abordagem de ensino de tradução para os cursos de Secretariado à qual denominam Tradução para fins Específicos.

    Embrenhando na pós existência de 400 anos de história dos textos já tidos como canônicos do bardo inglês William Shakespeare, Angélica Tomiello problematiza a árdua tarefa dos tradutores na empreitada das novas produções de obras de arte com forte carga social, a citar, a qualidade e a riqueza da reinterpretação e reescritura de Sua incelença Ricardo III do grupo nordestino Clowns de Shakespeare. A autora discute conceitos que tratam do processo de adaptação de um texto para o palco.

    Já em Tradução que recria-ação; recontando contos populares a partir da cultura surda, Carla Cristina Gaia dos Santos leva o leitor a refletir sobre a importância da tradução como recriação para um propósito definido e contexto específico. Dos Santos discute de forma brilhante todo processo de reconstrução das narrativas de contos populares  a partir da cultura surda, neste caso, a partir da cultura e identidade surda e da escrita de sinais.

    O autor e tradutor Davi da Silva Gonçalves  analisa a crônica Edgar Allan Poe, bem como sua própria tradução para o português, com base na perspectiva da  hipertextualidade do autor acerca de sua experiência literária. O entre-lugar (realidade e fantasia) do cronista, chamado por Gonçalves de narrador, leva o leitor a refletir sobre o palpável e o impalpável gerado pelo conflito da reconstrução do texto pelo tradutor, levando à criação inevitável de novos sentidos, sentidos manifestos, uma interdependência entre literatura e interpretação.

    Partindo da relação entre os estudos da tradução e da adaptação, Gabriela Burgardt propõe de um ponto de vista feminista uma leitura de Little Women (1994), texto adaptado segundo o vetor literatura-cinema, com foco no processo de ressignificação que necessariamente o permeia. Como desdobramento desta discussão, Burgardt também coloca na berlinda a ideia do produto final da adaptação enquanto obra de igual valor ao texto que foi precedente.

    A equipe Gonçales, Santos, Boito e Marins tem como objetivo analisar a tradução do texto da antropóloga Laura Bohannan – Shakespeare no meio do mato, realizada por Esteves e Aubert (2008), e propor escolhas tradutórias diferentes para algumas expressões presentes no texto de partida Shakespeare in the bush (1960). Um trabalho que caminhou pelos arbustos em busca de possibilidades e trajetórias diferentes, ao encontro de Shakespeare.

    Olhar para o texto de Mariane Caetano significa, inevitavelmente, adentrar no universo ainda minado da tradução cultural, de forma específica, que envolve o humor. Ao analisar legendas de alguns trechos da sitcom The Big Bang Theory, Caetano, pautando-se na ideia de inexistência de equivalência cultural e linguística, chega à conclusão de que o humor precisa de uma localização cultural para que cumpra seu objetivo e funcione no seu contexto de chegada.

    Mariana Gonçales e Liliam Marins, como resultado de uma intervenção escolar realizada em 2017 em uma turma de Ensino Médio, relatam uma abordagem de leitura desenvolvida nas aulas de língua inglesa. Chamamos a proposta de intervenção, com todos os sentidos possíveis que a palavra pode remeter, pelo fato de envolver a tradução do best-seller The boy in the striped pajamas (2011), de John Boyne, ou seja, uma dupla marginalização – por ser tradução e por não se tratar de literatura canônica.

    Seguindo a tríade tradução/cultura/literatura, Mayara Barbieri e Liliam Marins voltam seus olhares para as escolhas tradutórias e efeitos de sentidos produzidos na tradução de O Pistoleiro, de Stephen King, traduzido por Mário Molina (2004). Ao partir do pressuposto de que todo tradutor é um leitor, a tradução passa a ser defendida como uma (re)criação, o que provoca um alívio libertador em relação à tradução como uma eterna endividada de um suposto original.

    Em parceria, Nara Ribeiro e Liliam Marins abordam a adaptação cinematográfica de texto literário como uma forma de tradução de um meio semiótico para outro, com o objetivo de aproximar os Estudos da Adaptação da Tradução. Ao analisar a construção do espaço e dos personagens nas animações Extraordinary Tales (2015) e The Tell-Tale Heart (2005), que têm como texto de partida os contos de Poe, caminham em direção a uma valorização da imagem como uma prática de leitura.

    A discussão proposta por Taynara Silva nos faz refletir que tradução e resistência sempre caminharam lado a lado. Ao analisar a linguagem cinematográfica da tradução intersemiótica Histórias Cruzadas, que parte do texto literário The help, somos levados a observar como os recursos do meio cinematográfico cumprem a função de representar a relação entre negros e brancos nos Estados Unidos na década de 60, em um trabalho colaborativo que envolve diretor, produtor e autora do livro.

    As autoras Verônica Braga Birello e Roselene de Fátima Coito buscam as possíveis regularidades encontradas no gênero fantástico em sua passagem do papel para a tela, do literário ao cinematográfico. Através de uma análise teórica, baseada em renomados estudiosos do gênero, Birello e Coito investigam e problematizam as definições desse gênero via tradução do conto The tell-tale heart de Edgar Alan Poe para as telas do cinema com animação dirigida por Ted Parmalee.

    Concluindo esse amplo cenário característico dos estudos de tradução, Da Torre de Babel à Sociedade Tecnológica – tradução e multidisciplinaridade, apresenta  a rica contribuição da colega  Viviane Cristina Poletto Lugli: O Estudo da tradução do gênero regulamento em Português-Espanhol: uma análise dos verbos modais.  Ao partir do princípio teórico de que os gêneros textuais funcionam como instrumento para o trabalho com a interpretação e produção de textos na tradução, o texto revela dados sobre as manifestações dos verbos modais na tradução do par linguístico português-espanhol.

    Como é possível observar, este livro congrega diferentes textos sob as lentes da multidisciplinaridade, uma vez que as reflexões sobre o fenômeno tradutório dialogam com vários campos do saber e com os mais diversos gêneros discursivos. Ao possibilitar esse diálogo pós-moderno, questões discursivas, pedagógicas, culturais, políticas, mercadológicas e sociais que envolvem o processo tradutório emergem como pontos cruciais para firmar os Estudos da Tradução como uma importante área de conhecimentos. Ao contrário do que possam julgar os mais tradicionalistas, que defendem a invalidade da postura multidisciplinar na ciência por relacioná-la à superficialidade, a materialização deste livro como resultado de discussões multidisciplinares apenas reforça o que Pierry Lévy chama de inteligência coletiva, na qual associamos nossas competências às competências do outro, de tal modo que atuemos melhor juntos do que separados. É isso que este livro e as relações acadêmicas estabelecidas a partir dele representam para todos nós que habitamos os entre-lugares dos Estudos da Tradução.

    Liliam C. MARINS & Rosa M. OLHER

    1 - ENSINO DE TRADUÇÃO PARA SECRETARIADO EXECUTIVO NO BRASIL: PROPOSTA DE ABORDAGEM DE TRADUÇÃO PARA FINS ESPECÍFICOS

    Aline CANTAROTTI (UEM/UNESP/CAPES)

    Paula Tavares PINTO (UNESP)

    Introdução

    O ensino de tradução para profissionais que também desempenham esta atividade em determinados momentos de sua atuação profissional, como é o caso do secretariado executivo, ainda é pouco discutido. Especificamente no contexto secretarial, há alguns estudos que começam a ser registrados em 2016, e dos poucos registrados, cada um deles caracteriza abordagens e estudos empíricos bastante diferenciados (GYSEL, 2016; ROCHA, 2016). Assim, percebemos que não há ainda nenhum consenso sobre o ensino de tradução no contexto secretarial, haja vista serem estudos muito recentes. Cabe ressaltar que no contexto de atuação profissional, muitas vezes são designadas tarefas tradutórias, conforme estabelecido na lei de regulamentação da profissão de secretário (BRASIL, 1985).

    Dessa forma, nos questionamos, primeiramente, se há na formação secretarial (nível bacharelado) alguma abordagem de ensino de tradução, para posterior execução da atividade tradutória na atuação profissional nos currículos de cursos e, ainda, se houver, como tal ensino é caracterizado. Pensando em um panorama nacional, se torna pertinente também verificar se há similaridades ou diferenças nesse ensino.

    Uma de nossas hipóteses é que o ensino de tradução na formação secretarial é negligenciado em âmbito nacional, ou seja, poucas instituições teriam em sua grade curricular disciplinas que abordem os Estudos da Tradução sob qualquer aspecto.

    Além disso, considerando o perfil da atividade profissional secretarial com vistas à atividade tradutória, sugerimos contribuições dos Estudos da Tradução em conjunto com a abordagem do Ensino de Inglês para fins específicos, resultando no que chamamos de tradução para fins específicos, abordagem a qual acreditamos ir ao encontro das necessidades do secretariado executivo para atividades tradutórias, conforme demonstraremos a seguir.

    O Secretariado Executivo no Brasil e a atividade tradutória

    Os cursos de graduação em Secretariado Executivo no Brasil, em suas disciplinas de línguas estrangeiras, comumente não tratam sobre tradução em seus diferentes aspectos, considerando o profissional secretário. As disciplinas que abordam o assunto são tangenciais e distantes das necessidades do profissional em formação, ou consideram aspectos de caráter prático, com um viés bastante simplificado, sem qualquer embasamento teórico. É muito provável que tal panorama esteja constituído dessa forma, dada a falta de encaminhamentos e de construção de uma formação em tradução na área secretarial.

    As atividades que envolvem tradução e/ou interpretação oral podem ser mais ou menos intensas, dependendo do segmento de atuação e dos parceiros da organização, podendo ser internacionais ou não, ou dependendo do contexto em que a organização se insere (filiais cuja matriz é internacional, comércio exterior, entre outros). Dessa forma, não é possível falar em tradução na formação do secretariado, partindo de uma visão apenas prática e generalista. Há, então, a necessidade da inserção dos Estudos da Tradução na formação em Secretariado Executivo, em seu âmbito tanto teórico quanto prático, que dê conta da atuação profissional do secretário executivo para uma formação crítica sobre a atividade tradutória, em momentos muito específicos de sua rotina diária de trabalho.

              Tendo em vista o exposto, nos questionamos: o que significa traduzir para o profissional de Secretariado? Como encaminhar uma concepção, embasando o futuro profissional para que o mesmo considere e seja capaz de refletir sobre as questões teóricas de tradução, como parte constitutiva de sua tarefa (prática) tradutória? Qual seria o papel do currículo e da universidade e dos sujeitos envolvidos nesta formação (coordenação de curso, professores, alunos)?

    A atuação secretarial, no que tange às atividades tradutórias, está prevista na regulamentação da profissão (BRASIL, 1985), na qual dentre suas atribuições, constam no artigo 4° dois itens: redação de textos profissionais especializados, inclusive em idioma estrangeiro; e versão e tradução em idioma estrangeiro, para atender às necessidades de comunicação da empresa. Assim, desde 1985, o profissional deve exercer também suas funções, tanto em língua materna quanto em língua estrangeira.

    Discutir e problematizar a atividade tradutória para o profissional de Secretariado é necessário, pois o secretário executivo não é tradutor, mas é, em alguns momentos de sua atividade profissional, requerido a traduzir de diferentes maneiras e considerando, em especial, diferentes elementos dependendo da demanda da situação. Além de não ser tradutor profissional, também não tem um caminho de escolha para sua atividade, uma vez que não escolhe traduzir, por exemplo, somente o texto literário, ou o técnico, ou apenas um determinado assunto, por assim dizer.

    Sendo assim, nossa proposta preconiza uma formação para atuação no espaço das atividades tradutórias, embasada nos Estudos da Tradução, de maneira interdisciplinar e dialógica com o Secretariado Executivo.

    Os Estudos da Tradução e o ensino de tradução para a formação do secretariado executivo

    Sob uma perspectiva histórico-diacrônica, a tradução foi considerada durante muito tempo uma versão que deveria seguir os padrões de fidelidade e equivalência em relação ao texto de partida. Rodrigues (2000) afirma que a noção de equivalência, por exemplo, pressupõe intercâmbios linguísticos realizados em perfeito equilíbrio e que, nesse sentido, povos, culturas e as línguas usadas estariam em perfeita simetria. Porém, de acordo com Rodrigues, pensar a multiplicidade das línguas já seria romper com essa noção de equilíbrio, pois as escolhas do tradutor apontam para a construção de valores que, inclusive, nunca estão em simetria. Hermans (1996) reforça que a tradução é uma força cultural, o que contrasta, inclusive, com a ideia de tradução como algo derivativo e de menor qualidade.

    Considerando o panorama mais prático e aplicado, no ensino da tradução especialmente em contexto universitário, o aluno de fato acredita que a prática é que o formará tradutor e que as teorias de tradução não contribuirão para sua formação. Acredita ainda que há manuais, formas, técnicas, modelos, regras e métodos de tradução (STUPIELLO, 2006). Essa seria o que Stupiello chama de a falsa segurança dos aprendizes da atividade tradutória. A desconstrução desta falsa segurança se estabelece quando as teorias de tradução fazem parte desta formação, com vistas a um ensino mais crítico e desmistificado de uma necessidade que se instaura, normalmente pautada apenas na prática, de construção de um modelo para um produto (a tradução) que deve ser réplica de um original.

    No que tange ao ensino de tradução, Frota (2007, p. 153) afirma que não há como tratar da tradução, em qualquer de suas esferas, sem que se esteja informado por algum paradigma ou mesmo por uma série deles. Tal fato sem dúvida decorre da consolidação dos Estudos da Tradução. Sendo assim, alguns pesquisadores já haviam dado início, mesmo que em número reduzido, a reflexões sobre as relações entre teoria e prática no ensino e formação de tradutores. Martins (1992), em estudos anteriores aos de Frota, trata da importância da teoria e como ela deve ser contemplada no ensino de tradução. Para ela, a teoria deve estar presente em todos os momentos da formação, e não desvinculada da prática, quer seja nas discussões mais amplas, de cunho filosófico (questões de fidelidade, limites da tradução, equivalência etc.) quer seja nas discussões mais restritas (a escolha de um termo dado um contexto, por exemplo). Além disso, para Martins, na maioria dos cursos há apenas a prática comentada da tradução, na qual o que importa é avaliar seu produto final e não o processo em si. Como sugestão, ela propõe então uma estruturação baseada em um tripé: maior integração entre teoria e prática de tradução; maior ênfase no caráter interdisciplinar da tradução; e uma abordagem pedagógica que privilegie o processo da tradução, e não seu produto final. Acreditamos que o terceiro ponto do tripé proposto por Martins (1992) é uma consequência do primeiro (a maior integração entre teoria e prática da tradução). O produto final (a tradução) será o resultado dessas conjunções e relações. Porém, focar no processo e não no produto, de acordo com Martins (1992), trará impacto também na forma de se avaliar traduções, no contexto da formação. Nesse caso, seria necessário considerar: os objetivos do tradutor para cada tarefa – sendo que a tarefa será avaliada em relação a esses objetivos; as decisões do tradutor ao longo do processo e suas motivações; procedimentos usados e adequações dos mesmos para situações específicas.

    Inglês para fins específicos e a tradução para fins específicos

    A língua inglesa para fins específicos – ou inglês para fins específicos (IFE) tem seu foco no alunado: é o perfil do alunado que norteará o ensino. O ponto inicial é identificar o que precisam aprender, já que no ensino de línguas geral, o ensino é abrangente e considera que para o aprendiz tudo é importante. Nos fins específicos, há foco sobre o que se quer aprender, e o principal norteador deste foco está na consciência sobre o perfil do público que se quer ensinar (HUTCHINSON; WATERS, 1991).

    Dessa forma, podemos considerar que o professor e a escolha de materiais a serem trabalhados também são pontos importantes deste contexto de ensino. Assim, Dudley-Evans (1988) descreveu o que seria o IFE de acordo com o que chamou de características absolutas e características variáveis. Para as características absolutas, entende-as como eixos principais e norteadores do IFE. Então, temos que: IFE deve suprir as necessidades dos alunos; IFE faz uso de metodologias e atividades subjacentes à disciplina a qual se relaciona; IFE tem como foco a linguagem apropriada para essas atividades em relação à gramática, léxico, registro, habilidade de estudo, discurso e gênero. Já para as características variáveis, o IFE: pode estar relacionado ou ser formatado para disciplinas específicas; pode usar, em situações de ensino específicas, metodologia diferente da do Inglês Geral; muito provavelmente será formatado para aprendizes adultos, ou em nível de terceiro grau ou em contexto profissional, podendo ser ainda para aprendizes em nível escolar secundário; é geralmente formatado para alunos em nível avançado ou intermediário; a maioria dos cursos de IFE ensinam algum tipo de conhecimento básico dos sistemas da linguagem, ou seja, de estrutura da língua.

    Nos estudos mais recentes relacionados ao IFE, a identificação das necessidades dos aprendizes se tornou ponto essencial para o desenho curricular - escolha de materiais a serem usados. Assim, houve o advento da análise de necessidades.

    Em termos gerais, a análise de necessidades refere-se aos parâmetros para que seja feita uma coleta de dados que servirão como base para desenvolver a proposta curricular de um curso e/ou material didático (SOUZA, 2012). Ou seja, é um processo de sistematização e avaliação do que se quer alcançar com o que se pretende ensinar.

    Tendo como base o IFE, sugerimos que os parâmetros traçados por essa abordagem de ensino podem contribuir para uma possível abordagem de ensino de tradução para fins específicos, tendo como contexto específico o curso de Secretariado Executivo. Pelo fato de os Estudos da Tradução, em seus aspectos amplos e gerais, não poderem ser discutidos por completo no curso de secretariado, em especial pelo fator carga horária nas disciplinas relacionadas, consideramos uma abordagem de tradução para fins específicos como pertinente ao perfil do alunado de secretariado executivo.

    O contexto do secretariado executivo tem, então, as características elencadas pelos estudos já citados no IFE: em linhas gerais, apropriado para o nível de terceiro grau educacional, com alunos com conhecimentos linguísticos gerais sobre a língua estrangeira estudada, em nível intermediário ou avançado, ou seja, com certo conhecimento linguístico em âmbito mais amplo.

    Outro aspecto que deve ser também considerado nesse contexto é o perfil do professor que atuará no Secretariado. Um estudo de Esqueda (2016) sobre a formação dos professores que atuam em cursos de bacharelado em tradução no país constatou que sua grande maioria são professores com formação em língua estrangeira e literatura, e não em tradução. Tendo em vista tal cenário, os docentes de língua estrangeira no secretariado executivo comumente são professores com formação em língua estrangeira ou relacionadas ao tema (com raras exceções de professores com alguma formação em tradução). Ou seja, provavelmente este docente terá como base a proposta de tradução para

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