A Literatura para crianças e jovens no Brasil de ontem e de hoje: Caminhos de ensino
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A Literatura para crianças e jovens no Brasil de ontem e de hoje - Maria Alexandre Oliveira
Maria Alexandre de Oliveira
A literatura para
crianças e jovens
no Brasil de ontem e de hoje:
caminhos de ensino
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Oliveira, Maria Alexandre de
A literatura para crianças e jovens no Brasil de ontem e de hoje [livro eletrônico] : caminhos de ensino / Maria Alexandre de Oliveira. — São Paulo : Paulinas, 2012. — (Coleção literatura & ensino)
2624 Kb ; ePUB
Bibliografia.
ISBN 978-85-356-3332-0
1. Literatura infanto-juvenil – História e crítica 2. Literatura infanto-juvenil brasileira – História e crítica 3. Livros e leitura para crianças 4. Pedagogia I. Título. II. Série.
12-11329
CDD-809-89282
Índice para catálogo sistemático:
1. Literatura infantil : História e crítica 809.89282
Originalmente apresentado como tese de doutorado na Faculdade de Educação
(área de Didática) da Universidade de São Paulo, 2007
Revisado conforme a nova ortografia.
1ª edição – 2008
Direção-geral: Flávia Reginatto
Assistente de edição: Rosane Aparecida da Silva
Copidesque: Mônica Elaine G. S. da Costa
Coordenação de revisão: Marina Mendonça
Revisão: Ana Cecilia Mari
Jaci Dantas
Direção de arte: Irma Cipriani
Gerente de produção: Felício Calegaro Neto
Capa e editoração eletrônica: Wilson Teodoro Garcia
Foto da autora: Irma Cipriani
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Direitos reservados.
Paulinas
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© Pia Sociedade Filhas de São Paulo – São Paulo, 2008
A meu pai Joaquim (in memoriam),
pelo carinho com que me acompanhou
neste trabalho.
Agradecimentos
À profa. dra. Heloísa Dupas de O. Penteado, que, nos anos de estudo e orientação, muito me ensinou com sua dedicação e paciência.
À profa. dra. Nelly Novaes Coelho, pelo apoio, incentivo e colaboração neste trabalho e pelo que ela representa para a Literatura Infantil brasileira.
À minha professora do curso primário, dona Nelma, que me encantava com as histórias lidas ou contadas em sala de aula, tornando-as sementes fecundas dentro de mim.
Às Irmãs de minha Congregação que me apoiaram, especialmente à Irmã Maria Antonieta Bruscatto, que compreendeu a importância deste estudo.
Às pessoas amigas que me incentivaram e colaboraram nesta pesquisa.
À Feusp, pela qualidade do serviço prestado ao longo deste período de estudo, através da coordenação, dos professores e da secretaria.
Até quando as estratégias de formação de professores
em serviço e as políticas públicas de acesso à língua
escrita continuarão a desconsiderar o fato de que
é preciso que os professores se tornem narradores, autores
de suas práticas, leitores e escritores de suas histórias,
para que possam ajudar as crianças a também se tornarem
leitores e escritores reais, retirando prazer do falado
e do lido e gostando de escrever?
Sonia Kramer
Prefácio I
Contar histórias pode ser algo mais que uma mera
diversão... Algo primordial, algo do qual depende
a própria existência de um povo.
Vargas Llosa
Nesta afirmação do escritor peruano, há uma grande verdade que, em nossos tempos cibernéticos
, anda esquecida: as histórias ou estórias (a literatura em qualquer de suas formas) têm, como matéria-prima, a própria vida humana, transformada em palavras. Nesse sentido, entende-se por que as histórias autênticas (as que trazem uma lição de vida em suas raízes) atravessam séculos, sendo sempre lidas e amadas por povos das mais diferentes culturas. A verdade é que mudam as circunstâncias do mundo, mas a natureza humana não muda nunca. Só vai adaptando-se às transformações da sociedade, que se vem modificando desde a origem dos tempos. Literatura é experiência de vida, que se expressa pela palavra.
É essa noção do valor da linguagem como expressão da aventura humana que fundamenta/energiza as pesquisas e experiências didáticas que Maria Alexandre vem realizando há anos, no âmbito do ensino da literatura para crianças. Experiências que culminam no amplo estudo aqui publicado, A literatura para crianças e jovens no Brasil de ontem e de hoje: caminhos de ensino, o qual foi apresentado como tese de doutorado.
A abrangência de problemas interligados neste trabalho reflete o longo percurso realizado pela autora como pesquisadora e docente, sempre empenhada em criar soluções práticas e dinâmicas para o ensino da literatura para crianças.
Para quem tem acompanhado de perto a sua carreira, este livro vai revelar-se como uma espécie de síntese dos estudos e experiências que Maria Alexandre vem desenvolvendo há anos, desafiada pela crise do ensino que, faz tempo, se instalou entre nós (e no mundo em geral...). Crise que se torna mais grave no âmbito do ensino da língua e da literatura, uma vez que, num mundo como o nosso (dominado pela imagem e transformado em espetáculo caótico), há muito se perdeu a consciência de que é pelo verbo, pela palavra, que as realidades existem. Ou que o mundo real existe, nomeado/recoberto pelo mundo da linguagem. É urgente que o ensino, desde as primeiras séries, redescubra a leitura de mundo que a literatura oferece. Ao ser lido contra o pano de fundo dessa crise cultural, este texto apresenta sua verdadeira dimensão: a de articulador da história do sistema de ensino no Brasil (dos tempos do Império – séc. XIX – aos dias de hoje, limiar do séc. XXI), com o lugar ocupado, nesse sistema, pela literatura para crianças. Para avaliarmos essa articulação e o novo papel que a literatura deve ter em nosso tempo (tal como o demonstra a autora), voltemos à epígrafe de abertura.
Vargas Llosa, no texto do qual destacamos a frase em epígrafe, se refere aos mitos e lendas, que guardam/eternizam os valores fundadores de um povo. São histórias que (ao serem contadas e recontadas pelos antigos às novas gerações) confirmam a identidade do povo e legitimam sua existência no universo. Quando os mitos fundadores de um povo são esquecidos, ou não têm mais quem os conte aos novos, em pouco tempo esse povo desaparece (foi o que aconteceu com a maioria dos nossos povos indígenas). Octavio Paz, em um de seus textos, comenta esse fenômeno: Quando uma civilização entra em decadência, a primeira coisa que apodrece é a língua
. Daí a importância que o ensino da língua assume nas escolas deste nosso tempo em mutação, quando o verbo vem sendo substituído pela imagem (a qual, sem texto, se torna alienadora) e a língua está ameaçada de ser substituída pelo internetês
.
Diante desse fenômeno cultural, é urgente que os contadores de histórias
se multipliquem e que, no ensino, a leitura literária se torne fundamental. É pela palavra, pela literatura, que cada indivíduo pode se descobrir como parte essencial do todo que é a humanidade. Sintonizada
com as linhas de força que dinamizam este nosso mundo em mutação, Maria Alexandre, desde os anos 1980, entregou-se à tarefa de criar caminhos prazerosos para o ensino da literatura para crianças. O momento (anos 1970/1980) era de grande efervescência cultural: acontecia o boom da Nova Literatura Infantil, que trazia uma maneira original de ver e de pensar o mundo. Tornava-se cada vez mais evidente a crise de valores que se alastrava por todos os setores da sociedade e abalava sua própria base: a escola.
Instalava-se a crise do ensino (até hoje em processo). Os métodos tradicionais já não correspondiam às novas necessidades do saber. Multiplicavam-se as teorias, as reflexões e as experiências metodológicas. É dentro dessa atmosfera que Maria Alexandre inicia sua carreira de pesquisadora e docente, empenhada em participar do processo de renovação das práticas de ensino, na difícil área da leitura verbal (a que exige tempo e concentração), num mundo dinamizado pela leitura visual dos multimeios de comunicação (os que exigem rapidez e levam à dispersão).
Fundamentada em significativa bagagem teórica (Piaget, Vygotsky, Paulo Freire, Emilia Ferreiro e outros), Maria Alexandre criou as primeiras dinâmicas de leitura; dinâmicas
que combinavam a leitura do texto e a exploração de seus sentidos, através de práticas visuais (uso do flanelógrafo, quadro de pregas
, álbum seriado, cineminha...). Tais recursos foram intensamente testados em salas de aula, com professoras do ciclo básico e em escolas de várias cidades. Essas primeiras e bem-sucedidas experiências foram publicadas em livro: Dinâmicas em Literatura Infantil (1980 e, em tradução espanhola, 1993), e tiveram boa acolhida nas escolas.
Preocupada em levar a criança, através da leitura, a interagir com as histórias e desenvolver seu pensamento criativo
, Maria Alexandre prossegue com suas pesquisas, em âmbito universitário. Sua dissertação de mestrado, defendida pela USP em 1995, concentrou-se nas análises de livros infantis cuja leitura dirigida
pudesse levar o pequeno leitor a interagir de maneira prazerosa e criativa com as situações do texto. Publicadas em livro, Leitura prazer: interação participativa da criança com a Literatura Infantil na escola (1996), essas novas propostas de leitura interativa tornam-se um dinâmico guia prático
que, com facilidade, leva os novos professores (formados
pelo atual caos de imagens) a se tornarem habitantes do mundo do verbo – o da literatura, descoberta como eixo do conhecimento-de-mundo. Professores que, por sua vez, formarão novos leitores conscientes...
Sempre sintonizada com as linhas de força de nosso tempo, neste livro, Maria Alexandre aprofunda as pesquisas e análises, no sentido de religar os saberes
, de detectar as invisíveis ligações que existem entre os valores consagrados pela sociedade, o sistema de educação/ensino por ela criado e a natureza da literatura que a expressa.
Nesse sentido, registra o percurso histórico do nosso sistema de ensino e a correspondente natureza e evolução da literatura para crianças, desde o Brasil Colônia, passando por Monteiro Lobato e chegando aos nossos dias, quando se torna evidente a defasagem entre a esfera literária e a educacional.
Completa a obra uma reflexão objetiva sobre os procedimentos metodológicos a serem adotados para o ensino da Literatura Infantil clássica, tradicional e contemporânea
. E na série de análises literárias, que se oferecem como guias práticos
ao professor, se torna evidente a idéia nuclear que orientou as pesquisas: a literatura vista como expressão da vida humana e agente de formação da mente infantil. Os quadros analíticos, que se seguem, apontam em cada história não só suas peculiaridades estilísticas, mas também o seu tema nuclear ou a sua lição de vida, aquilo que, de maneira subliminar (através do prazer ou da brincadeira), vai formando a visão de mundo ou a consciência crítica do pequeno leitor.
Como diz a epígrafe de abertura: Contar histórias pode ser algo mais que uma mera diversão...
.
É o que este livro demonstra.
Nelly Novaes Coelho
São Paulo, 2007.
Prefácio II
Maria Alexandre percorre, em sua vida e obra, caminhos de ensino de Literatura Infantil. Tive o prazer de caminhar com ela trechos de seus caminhos, acompanhando-a na elaboração de seu mestrado e doutorado. Caminhos também palmilhados pelos inúmeros professores por este Brasil afora, e fora do Brasil, que a seguiram em seus mais de 590 cursos de formação contínua de professores de Literatura Infantil.
Mas, afinal, o que é Literatura Infantil? O que é