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A Vingança
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E-book268 páginas3 horas

A Vingança

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Sobre este e-book

Acerto de contas. Emília tem contas a acertar com Isabella, seu desafeto do passado, mas não é a única. Uma história envolvente e cheia de intrigas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de out. de 2017
A Vingança

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    A Vingança - Paula Vaz

    A Vingança

    1ª edição – 2017

    São Paulo

    Edição do autor

    2017

    2017

    Copyright by Paula D´Alberton

    Foto: Felipe Aguena

    Identidade visual: Ananda Nogueira Sander

    Todos os direitos reservados à autora.

    All rights reserved – todos os direitos reservados.

    É proibida a cópia por qualquer forma ou meio desta obra, sem a expressa autorização da autora, por escrito.

    Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.

     All rights reserved – Todos os direitos reservados

    1ª edição - 2017

    À minha mãe com toda minha gratidão e meu mais profundo amor.

    Minha referência, meu exemplo, meu apoio, minha companheira de vida. 

    A vingança é um veneno que se toma esperando que outro morra – sabedoria popular

    1- MORTE NO TREM

    No trem que segue para a capital, o bilheteiro bate à porta chamando o passageiro que abre o compartimento com ar distraído. Quando a porta é entreaberta, Nestor rapidamente empurra Rubens que, pego de surpresa, é atingido em cheio por uma lâmina afiada que o corta na lateral esquerda do rosto. Rubens pula para trás, Nestor o agarra e os dois homens caem em um embate acirrado que ambos sabem ser de vida ou morte.

    Apesar da luta implacável, nenhum dos outros passageiros ouve nada, aquela composição fora reservada apenas para um passageiro e do outro vagão não é possível escutar os ruídos que venham dali, principalmente por causa do barulho da movimentação do trem.

    Ninguém interferiria no destino determinado.

    Um dos homens consegue derrubar o outro e feri-lo com o querosene quente de uma das lamparinas da cabine e depois, finalmente, o mata com a faca. O sobrevivente está ferido e esgotado pelo embate, mas ainda lhe resta dinheiro, disposição e algum tempo para descer na próxima estação, uma estação de carga de uma cidade limítrofe.

    Com raiva, o homem toma as providências necessárias para encobrir sua identidade. Retira os valores da bagagem e da vestimenta do morto, levando consigo tudo o que tem valor, exceto um relógio, para finalmente jogar o querosene da outra lamparina no rosto e no corpo sem vida.

    Quando o trem para, o homem salta desajeitado para a estação, descendo pelo lado contrário à plataforma.

    Está apreensivo. A adrenalina pulsa em seu coração e em suas veias com batidas fortes e rápidas. Ele não pode ser visto. Tem consciência de que deve sair dali rapidamente, porque a fumaça do fogo ateado ao corpo começaria a ser percebida dentro em pouco, mas está morbidamente curioso para saber o que vai acontecer e resolve observar a cena por um momento.

    Esconde-se atrás de uma pilha de troncos de madeira aparentemente pronta para ser transportada a algum lugar. Sabe que corre perigo, mas a curiosidade e a satisfação pessoal são maiores.

    Percebe um tumulto. O trem parte, mas no chão da plataforma, bem debaixo de uma placa com o nome da cidade, jaz um corpo rodeado por poucos funcionários devido ao avançado da hora.

    Ali, estirado no chão sujo da estação ferroviária de uma cidade insignificante e velado por desconhecidos, permanece o corpo de um homem no qual se nota os restos de uma vestimenta de luxo; ao lado, uma pequena valise e uma vistosa pasta de documentos em couro marrom, comumente usada por homens importantes.

    Com uma sensação estranha no estômago, vê quando os funcionários leem nos documentos a identificação do cadáver e involuntariamente pensa ser grotesco que um homem representando tão nobre estirpe, tenha por lápide não o seu nome ou uma homenagem, mas apenas uma placa gasta e manchada pelas intempéries onde se lê Nova Colina.

    Mesmo assim, o homem na pilha de troncos respira aliviado. Tudo está acabado, ninguém conseguiria identificar aquela face corroída pelas chamas.

    Maldito!

    Instintivamente coloca a mão no rosto e percebe que a lateral cortada está sangrando muito.

    Com dificuldade rasga uma tira da camisa e a usa para envolver o rosto pela lateral, prendendo-a com um nó no alto da cabeça.

    Examina o resto de seu corpo, percebendo aqui e ali marcas de queimadura do querosene que espirrara na luta, ferimentos diversos e um corte profundo no joelho direito, o qual batera contra uma superfície sólida quando pulara do trem, possivelmente um dormente de madeira esquecido por ali.

    Sente-se péssimo, física e psicologicamente, mas deve ir, não pode mais adiar sua fuga.

    Como para obter apoio, aperta o envelope perfumado e cheio de dinheiro que traz no bolso do uniforme de bilheteiro e, com enorme esforço físico, parte a passos incertos, deixando o local por detrás da estação em direção a um campo aberto.

    Naquele momento, aquele homem, ou o que restara dele, deixava para trás toda sua história para começar uma nova vida.

    Ele, Rubens Ledier Vidar Aliseda, era um sobrevivente e, tão certo como o amanhecer de cada dia, descobriria o que acontecera e se vingaria daqueles que planejaram acabar com sua vida perfeita ao lado da família.

    Somente uma força o  moveria a partir daquele dia: 

    A Vingança.

    2- EMÍLIA

    No fogão a lenha, os pensamentos perdidos entre o cheiro dos temperos, Emília prepara o jantar enquanto espera a chegada dos irmãos Sofia e Tobias; o olhar parado contrasta com a colher de pau que mexe insistentemente o cozido de fubá.

    Emília é uma mulher de 25 anos, seios fartos, cabelos castanhos na altura dos ombros, lisos e minguados. Olhos escuros, curvas expandidas e estatura atarracada. Não era bela, mas também não era feia. Uma mulher como tantas, daquelas de aparência comum que não se destacam na multidão; podia se dizer que era uma mulher ajeitada.

    Uma mulher que ainda não era velha, mas que não conhecera a juventude, a qual gastara cuidando de uma mãe áspera, de um pai bêbado e dois irmãos mais novos: a ‘princesinha’ da casa e o herdeiro homem que levaria à frente o sobrenome da família (apesar de ninguém desejar naquela cidade ligar-se àquele sobrenome).

    Chegara à cidade de Nova Colina com pouco menos de 11 anos e na época não compreendera bem a mudança. Lembrava-se de que antes moravam numa casa simples na propriedade de uma família muito rica e que, apesar da casa pequena, a propriedade (na sua visão de criança), parecia ter quase o tamanho do mundo (do que imaginava ser o mundo). 

    Para ela, aquele era um lugar mágico onde nada de mau lhe aconteceria.

    Emília ajudara a mãe Teresa nos afazeres de casa desde muito menina, mas ainda que houvesse sempre trabalho por fazer, sua (então) carinhosa mãe dava um jeito para que lhe sobrasse algum tempo para brincar com Joana, a filha de uma das empregadas da casa grande e com a filha mais nova do patrão, Isabella.

    A mãe incentivava esse contato com a filha da patroa, pois desejava para os filhos uma colocação melhor na vida e a amizade de gente rica era muito bem vinda para atrair boas oportunidades e era esse o ensinamento que tentava repassar para a mais velha sempre que possível.

    Emília, no entanto, ficava incomodada por Isabella comandar as brincadeiras. Conscientemente sabia que devia considerar isso normal, afinal ela seria sua futura patroa, mas apesar de ter essa noção clara, Emília competia com Isabella inúmeras vezes, ambas tinham gênio forte e pareciam  se desgostar de longa data, dir-se-ia que eram rivais naturais mas, apesar disso, em geral, Joana conseguia acomodar a situação. 

    Para Emília Joana era ingênua e inocente. Achava que Isabella gostava dela como se gosta de um animalzinho, dando-lhe a mesma atenção que dispensava a um gato vira-latas que apareceu sem rumo na propriedade, mas isso não era problema seu e Joana afinal não a incomodava por ser fraca de vontade. Quanto a Isabella, Emília achava-se melhor do que ela. A garota era esquisita. 

    Já era estranho ela gostar de brincar com as filhas dos empregados, mas era ainda mais bizarro não se vestir de forma tão luxuosa quanto as filhas dos outros senhores. 

    Emília chegara a pensar que aquilo podia ser por causa da mãe da garota, D. Inez, uma mulher discreta e simpática com todos, sem ressalvas, mas talvez por excesso de antipatia, recusava-se a acreditar que  Isabella se deixasse influenciar pelas boas atitudes da mãe, pois era visível que a garota a desprezava e que era, em contrapartida, completamente embevecida pelo pai, o Sr. Lúcio Albuquerque Fernandez, um homem pomposo, elegante e que não perdia tempo com a criadagem. Romano, seu pai, trabalhava como capataz na propriedade e contava em casa que o Sr. Fernandez tratava-o respeitosamente quando discutiam sobre a administração ou contratação de empregados, mas sempre de forma a manter uma distância que lhe deixasse bastante claro quem era o patrão. O pai não se importava com isso, pelo contrário, respeitava-o e admirava-o, devotando-lhe, por conseguinte, a correção e a fidelidade esperadas de um bom empregado, zelando inclusive (na medida do permitido) pela família deste em suas muitas ausências por viagem.

    Romano ‘sentia’ que o patrão era um homem justo e a esposa uma boa mulher, mas insistia com Emília para manter-se afastada de Isabella (provavelmente porque  conhecia-lhe o temperamento e não queria correr o risco da filha lhe aprontar alguma;), por isso não ficou nada contente quando sua menina ganhou uma boneca de pano da ‘patroinha’. Ele queria que a devolvesse, mas a filha chorou desesperadamente para salvar seu ‘tesouro’ e a mãe interviu para que ele a deixasse com o presente e, embora bastante contrariado, a boneca ficou ali, nos braços de sua pequena.

    Romano notou que os fios de lã que formavam os cabelos da boneca tinham uma tonalidade similar aos cabelos de Isabella, o que lhe dava arrepios e fazia com que gostasse menos ainda daquela história. O pai dizia-lhe frequentemente que a boneca parecia um feitiço de mau-agouro e durante anos Emília pensara se ele não tinha razão. Pouco depois de ganhar a boneca, seu pai perdera o emprego, a família teve que se mudar para aquela cidade maldita e desde então só conheceram tempos difíceis.

    Como se reagindo àquela lembrança, seus olhos desviaram-se do vazio e recaíram sobre a boneca suja largada a um canto. 

    Com um sorriso dolorido, Emília pensou que não devia estar longe a hora do feitiço virar contra o feiticeiro.  

    Desde que a mãe caíra doente e ficara sob seus cuidados, vinham ambas alimentando o pensamento de dar o troco à patroinha e esse era praticamente o único  assunto entre Teresa e ela.

    Ainda não sabia como o faria, mas agora que sua mãe morrera teria mais tempo para planejar e executar a desforra pelo destino que fora imposto à sua família e esse revide tinha nome e endereço certo: Isabella, moradora da cidade de Vale Verde.

    Ouvindo patas de cavalo que paravam no terreno da casa, Emília voltou ao presente com um sobressalto. Finalmente a irmã chegara com as compras! Sofia e o irmão estavam muito atrasados naquele dia!

    Olhou o cozido de fubá; estava quase pronto.  Gritou de forma grosseira para a irmã vir ajudá-la enquanto tampava a pesada panela de ferro cheia do cozido temperado com lembranças ruins.

    3- ACERTO DE CONTAS

    Emília remoia sua amargura sem imaginar que talvez não tivesse oportunidade de destruir o objeto de seu ódio. Não poderia conceber que, por razões particulares, sua prima Olga se antecipara a ela no desejo de eliminar Isabella, assim como não podia saber que a prima naquele momento estava morta, assassinada há poucas horas e esquecida em um pequeno anexo de empregados na propriedade da família a quem servira fielmente por anos. Seu corpo enrijecido seria encontrado em posição grotesca sobre uma cadeira tosca, a mão direita ‘agarrada’ a um vestido da neta assassinada há quatro anos.  

    Que ironia! Isabella, ainda que por vias tortas (através do tio de seu marido), deixaria mais uma vítima em sua trilha macabra, mesmo se totalmente alheia a esse fato. 

    Assim, enquanto despejava sua amargura nas panelas do jantar, Emília ignorava que naquele exato momento sua inimiga encontrava-se lutando pela própria vida no hospital de Vale Verde, inerte em uma cama de hospital, cheia de medo e arrependimento e que, ao mesmo tempo, o destino lhe providenciaria gentilmente o cobiçado instrumento de sua vingança.

    4- ÚLTIMO PENSAMENTO

    Isabella sabia que o veneno estava cumprindo sua tarefa e que fora dela a culpa. 

    Distraída com o pensamento no trem em que o marido encontraria seu fim, não percebeu no chá servido por Olga o aroma adocicado que lhe era intimamente familiar, até que começa a sentir o coração batendo depressa demais.  

    Com dificuldade conseguiu chegar aos trancos no corredor e usar o livro de poemas que carregava na mão para fazer barulho, batendo com ele nas grades de madeira que ladeavam o acesso para a escada. 

    Pela graça de Deus Leno a ouviu e subiu correndo, mas ela desmaiou antes que ele a alcançasse. 

    Seu último pensamento foi para Olga, numa admiração involuntária à inimiga que a havia vencido momentaneamente.  Admiração pela única pessoa que talvez houvesse desvendado sua alma.

    5- LENO

    Leno, um dos serviçais da casa, fora rápido, subindo os degraus de dois em dois tão logo ouvira o som inusitado de alguma coisa (que depois descobriu ser um livro) batendo nas grades da escada da ala dos quartos. 

    Subira assustado, imaginando que a pequena Leila tivesse conseguido burlar as grades da cama e estivesse brincando perigosamente sozinha no corredor.

    Qual não foi a sua surpresa quando, chegando ao último degrau, encontrou a patroa desmaiada de bruços, caída em meio ao próprio vômito!

    Gritou aos outros empregados que acorreram prontamente, pedindo a dois deles  que o ajudassem a descer a Senhora em segurança pela escada enquanto o terceiro providenciava uma carroça de carga (normalmente utilizada para transportar madeira) para levar a patroa ao hospital de Vale Verde. A outro, solicitou selar um cavalo e antecipar os acontecimentos ao Dr. Viegas, informando-lhe sobre a emergência na casa dos Ledier e do transporte imediato de D.Isabella ao hospital.

    Leno não sabia o que havia de errado com a patroa, mas percebia que era sério e não podia perder tempo. 

    Ainda se lembrou do carro de ‘Seu’ Otávio, mas o motorista não estava e, francamente, nas estradas judiadas pela chuva intermitente da última semana, ele confiava mais nos cavalos do que naquelas máquinas modernas.

    Com espírito inusitadamente prático, tirou o lençol da cama de casal e com a ajuda dos colegas ‘rolou’ sobre ele a jovem senhora, improvisando assim uma maca para transporte. No chão da carroça que já os aguardava, jogou um grosso acolchoado e ajeitou a patroa de lado (receava que ela vomitasse de novo e sufocasse se ficasse deitada de costas) instruindo a serviçal que os acompanhava a apoiar-lhe a cabeça sobre o colo e segurá-la pela testa e ombros.

    Ele e outro empregado manteriam o corpo de Isabella o mais equilibrado possível até chegarem ao hospital, onde o Dr. Viegas já deveria estar aguardando. Leno  considerou chamar o médico ao Solar dos Ledier, mas achou que no hospital o médico teria os recursos necessários para resolver qualquer situação. Estava apavorado e suava frio sob a chuva que caía chicoteando seu rosto.

    Os patrões Otávio e Rubens estavam viajando e, no afã de salvar Isabella, nem lhe ocorrera chamar a governanta, D. Olga, que havia se recolhido logo após servir o lanche da noite para a patroa. Agiu por instinto, por sua conta e risco, agora era torcer para dar tudo certo. 

    Olhou para a jovem mulher ainda desacordada; sua aparência não era nada boa.

    Começou a rezar. Sua fé voltada para as patas dos cavalos que corriam velozes e para o médico que em breve receberia uma importante paciente em suas mãos.

    Quando a carroça sacudiu ao passar sobre um buraco fundo e Isabella gemeu baixinho sob a lona que protegia seu corpo da chuva, Leno suspirou um pouco mais aliviado, pelo menos a patroa continuava viva.

    6- TOBIAS

    Tobias está cansado. Trabalha como peão de gado numa fazenda próxima a sua casa e a lida havia sido dura naquele dia.

    Não que nos outros dias o trabalho fosse fácil, mas no período de seca era sempre pior porque os peões precisavam ficar trocando o gado de pasto atrás de um lugar com um pouco mais de verde para os animais. A seca castigava a região por 3-4 longos meses. 

    Todos os anos aquele lugar já triste ganhava ares ainda mais funestos com pastos secos e árvores sem folhas que, com seus galhos semelhantes a braços secos e disformes, imitavam os velhos moradores do lugar como uma caricatura malfeita da morte.

    Se ele não tivesse duas irmãs para olhar, a lida seria menos

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