Amor Entre Estrelas
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Amor Entre Estrelas - R. G. Bossois
Capítulo 1 - Encontro de amigos
Roberto estacionou o carro no subsolo e seguiu para o elevador com uma mala de tamanho médio na mão esquerda e o paletó cuidadosamente dobrado sobre o braço direito. Seus passos eram firmes e ele andava com elegância, indicando seu estilo altivo e determinado e, à medida em que caminhava, as luzes de LED iam se acendendo, iluminando o seu trajeto na direção almejada, embora o acendimento das lâmpadas não lhe causasse nenhuma estranheza, fazendo pensar que ele já estivesse acostumado com esse funcionamento habitual. O pátio era enorme, com muitos carros estacionados ordeiramente por todos os lados, e o silêncio interior era profundo devido ao horário já bastante adiantado, ouvindo-se somente o som rouco da movimentação natural da grande metrópole que não se permite momento algum ficar de repouso.
Enquanto caminhava, ele deixava seus pensamentos fluírem com liberdade, formando belas imagens de suas últimas horas, antes de colocar seus pés em solo firme, demonstrando satisfação com a sensação reconfortante que os pensamentos lhe causavam. Um leve sorriso se desenhou em seu semblante, assim que se aproximou do elevador e o encontrou já no local esperando-o de prontidão. Entrando, pressionou o botão referente ao último andar, e posicionou-se em frente à porta, que se fechou diante dele, silenciosamente. Seu interior era todo em inox, bastante espaçoso e iluminado, apresentando uma limpeza esmerada, com um leve aroma campestre. Apesar da sua fisionomia tranquila e dos pensamentos prazerosos que navegavam com liberdade em sua mente, ele apresentava certa ansiedade em alcançar o seu destino o mais rapidamente possível, com uma certa inquietação.
Ele acabara de chegar de Nova York em um voo sem escalas pilotando um Boeing 747, ao lado do seu companheiro Jorge Fernandes. Já estava fora há alguns dias e isso justificava a sua impaciência em chegar logo ao seu porto seguro, a fim de matar a saudade que apertava o seu coração apaixonado.
Roberto era piloto há dez anos e, atualmente, fazia a rota Guarulhos x Estados Unidos, alternando entre Nova York ou Miami. Era natural de São Paulo, nascido em Santo André. O pai dele, falecido há cinco anos, havia sido piloto da aeronáutica, enquanto a mãe, falecida dois meses após o óbito do pai, talvez por excesso de saudade, ou, quem sabe, por compromissos assumidos mesmo antes do nascimento, atuava como oficial de justiça em Santo André. Como a família de Roberto pertencia à classe média alta, ele sempre estudou nas melhores escolas. Tinha 36 anos e apresentava um porte atlético bem definido, com quase um metro e noventa de altura. Formou-se piloto na Eagles Academia de Aviação Civil, tendo sempre o pai como instrutor pessoal fora das aulas. Seus primeiros voos foram no CESSNA 210 do pai, que estava sempre ao seu lado orientando-o. Fez especialização na US Aviation Academy, um pouco antes de iniciar a sua carreira de piloto em voos domésticos, até assumir, definitivamente, o seu posto atual em voos internacionais.
A aviação sempre foi sua paixão, tendo seu pai como figura central de seus sonhos infantis. Em todos os momentos possíveis, acompanhava o pai até a Base Aérea de São Paulo (BASP), em Guarulhos, onde passava a maior parte do tempo admirando as aeronaves estacionadas ou em voo. Conhecia de cor e salteado os modelos de todas que avistava. Seu pai se divertia questionando-o sobre algum novo modelo, e ele somente não conseguia identificar aquelas aeronaves cujos modelos eram realmente muito novos e que ainda não tivera oportunidade de encontrar em suas pesquisas. Ele sonhava frequentemente estar pilotando alguma daquelas aeronaves maravilhosas, voando livre como um pássaro, sem um destino definido, sentindo-se como o senhor dos ares. Seus brinquedos preferidos eram os modelos em miniatura que colecionava e os aeromodelos controlados remotamente que ganhara dos pais. Tinha quatro deles, sendo um deles, um helicóptero.
Em seus dez anos como piloto, Roberto já havia se colocado em algumas situações adversas, tendo resolvido todas com a sua calma característica e precisão nas decisões. Seu amigo Jorge, companheiro de viagens nos últimos quatro anos, sempre admirava a sua atitude serena e a sua capacidade de encontrar soluções rápidas e corretas. Ele era muito respeitado na companhia, apesar de alguns o acharem antipático devido ao seu estilo caladão que o fazia senhor de si. Seu senso de responsabilidade era motivo de constantes elogios por parte da direção da empresa e sua forma determinada era evidenciada quando iniciava algum projeto e o conduzia até o fim, sem se importar com as dificuldades que pudessem surgir pelo caminho. Era de poucas palavras, mas eloquente quando falava, e sempre de forma convicta e fundamentada. Detestava discussões sem um objetivo definido. A personalidade altiva e direta herdara do pai, assim como o gosto pela aviação e pela astronomia, embora a paixão pela filosofia fosse absorvida em sua convivência respeitosa com a mãe, responsável direta por sua esmerada educação.
Como era de seu costume, sempre trazia alguma lembrança de suas viagens para a esposa, com quem já estava casado há três anos, quando o apartamento, seu recanto de paz dos seus últimos doze anos, foi iluminado com a presença de Adhara, a estrela que passou a abrilhantar sua vida, dando-lhe novo sentido, abrindo-lhe novos horizontes, e transformando-lhe num homem mais feliz e completo.
Adhara era de origem humilde e viera do interior para São Paulo a fim de estudar o curso de psicologia na Universidade Federal de São Paulo. Era morena de olhos castanhos claros, com um metro e setenta de altura e corpo bem delineado. Sua forma elegante de andar, apesar da sua simplicidade natural, associado a sua maneira delicada de ser, transmitiam-lhe uma beleza fora dos padrões normais. Sua educação era impecável e sempre demonstrava sua natureza positiva de ser, com uma fé inabalável na capacidade de superação das pessoas. Trabalhava na CARSED-SP (Centro de Assistência e Relocação Social de Ex-Detentos de São Paulo), uma ONG financiada por uma organização europeia ligada aos direitos humanos, onde atuava como responsável pelo atendimento psicológico aos detentos já em processo de liberdade da penitenciária ASP - Joaquim Fonseca Lopes. Trabalho que exercia com total devoção, como se fosse um daqueles compromissos que transcendesse a própria existência.
Roberto sempre repetia que Adhara era sua estrela guia e que eles, certamente, já estavam juntos há muitas gerações, em outras vidas, apesar de somente tê-la conhecido há pouco mais de quatro anos.
Quando Roberto entrou no apartamento, deparou-se com a esposa levantando-se do sofá e dirigindo-se ao encontro dele. Ele depositou a mala no chão, colocando o paletó sobre ela, e fechou a porta com o calcanhar, recebendo-a com um beijo apaixonado. Ele não via a hora de apertá-la em seus braços e deixar-se levar pelos sentimentos mais sublimes que um homem poderia sentir na vida. Seu amor por ela transcendia à normalidade e, portanto, ele não conseguia compreender o sentido de sua vida sem a existência dela, ao seu lado. Instantes depois, ambos seguiram abraçados para o quarto, parando ao lado da cama, onde Roberto depositou a mala e pegou o presente entregando-o à esposa. Era o livro A História da Psicologia Moderna
, de Duane P. Schultz & Sydney Ellen Schultz. Adhara, sem perda de tempo, abriu o livro à procura da dedicatória com a certeza de que a encontraria, pois ele nunca deixava de escrever algo declarando o seu amor.
Ao amor da minha vida, a estrela celestial que me guia pelos caminhos tortuosos da existência, com muito amor e admiração.
— leu Adhara, silenciosamente, abrindo um sorriso de felicidade.
— Obrigada, amor! Como você sempre diz: O conhecimento é o melhor alimento para a alma
— ela o beijou, agradecida.
Ao sentarem-se na cama, abraçados, Adhara o questionou sobre a viagem, e Roberto relatou, em detalhes, os dias que estivera fora. Ela se acomodou nos braços do marido e colocou a cabeça em seu ombro, enquanto o ouvia com atenção. Ao terminar os relatos, ele também quis saber sobre os dias da esposa e Adhara descreveu, prazerosamente, como havia sido a sua semana.
-:-
O domingo amanheceu com um vento fraco soprando do leste, trazendo o frescor da madrugada que se espalhava pela grande metrópole, reduzindo a temperatura para um teor agradável. Tudo indicava que seria um domingo ensolarado, pois o céu estava azulado e com poucas nuvens navegando ao sabor do vento, pelo grande oceano atmosférico que circunda o globo, abrigando a vida planetária.
Roberto sentou-se na sacada, observando a paisagem através da proteção envidraçada, com uma xícara de café em uma das mãos. Seus olhos se perdiam no horizonte, observando o manto civilizatório se estendendo até onde a vista alcançava, com seus padrões simétricos, substituindo aos naturais do passado histórico da maior cidade do país. A sacada estava posicionada diante de uma região com prédios mais baixos e, por isso, ele conseguia contemplar toda aquela extensão. Ele havia escolhido aquele apartamento com cuidado, exatamente pela sua localização privilegiada, e a posição estratégica daquela sacada, ela era o seu observatório particular. Próximo da cadeira onde havia sentado, tinha um telescópio refletor com objetiva de 406 mm, devidamente coberto com uma capa protetora, pronto para ser utilizado a qualquer momento. Esse era o seu hobby e ele, adorava curtir suas noites livres, observando as estrelas na escuridão do infinito.
Alguns minutos depois, Adhara se aproximou, vestindo um robe cinza que lhe caía com perfeição, mostrando seu corpo esguio e bem delineado. Roberto ficou admirando-a até quando ela se sentou ao lado dele.
— Você fica linda vestida com esse robe, amor — disse Roberto, lisonjeiro. Seus olhos brilhavam como duas estrelas em noite sem nuvens.
Adhara balançou a cabeça fazendo uma expressão agradecida, enquanto se inclinava para o lado, beijando-o com carinho.
— O que vamos fazer hoje? — perguntou, puxando uma cadeira para sentar-se ao lado do marido.
— Que tal chamarmos Loraine, Jorge e Sílvia para um dia no clube?
— Legal! — Ela concordou, levantando-se imediatamente para pegar o celular.
Todos aceitaram prontamente, combinando para saírem às 9 horas e, um pouco antes das dez, o grupo de amigos se acomodou em uma mesa diante da piscina do clube Sírio. Assim que uma atendente se aproximou da mesa, Roberto pediu chope para todos e porções de tira-gostos variados.
O clube estava movimentado naquela hora do dia, com várias mesas nas proximidades ocupadas por pequenos grupos de pessoas. Um pouco mais afastado do lugar onde eles ficaram, algumas crianças corriam das mesas até a piscina infantil, enquanto outras retornavam com as suas alegrias contagiantes,