Apolo
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Apolo - Deise Zandoná Flores
APOLO
O NASCIMENTO DO ESPÍRITO
DEISE ZANDONÁ FLORES
Copyright © 2020 Deise Zandoná Flores
Todos os direitos reservados.
ISBN: 978-65-00-02078-6
O homem toma conhecimento do sagrado porque este se manifesta, se mostra como algo absolutamente diferente do profano.
- Mircea Eliade -
INTRODUÇÃO
O nascimento do Espírito no homem segue o mito: o parto lento e doloroso, no qual Leto deu à luz Apolo.
A busca incessante por um local seguro antecede a chegada do filho numinoso e luminoso. O sítio de nascimento não poderia ser outro senão uma ilha. O Espírito nasce na solidão.
Foram nove dias de um tempo imemorial e divino. E a nós, mortais, qual tempo e qual dor nos cabe? O que é a iniciação, senão um batismo de fogo? Onde se encontra a saída do deserto?
Ao encontrar o Lume, as perguntas não mais importam...
POEMAS
ALVORADA
NUME
TRÍVIA
ESPIRAL DE FOGO
AGRIDOCE
COINCIDÊNCIA OPOSITIVA
PAVIMENTAÇÃO
BRINCADEIRA DE HIPOTENUSA
VAGALUMES DE PASSADO
ANACOLUTO
ALQUIMIA REDENTORA
APANHADOR DE SONHOS
ARMADURA RECICLÁVEL
CALDO OCEÂNICO
COMPANHIA
CONTIDA
CORTES DE PAPEL
CREPÚSCULO E AURORA
CRIA DA NOITE
DA FONTE AO TÚMULO, À ORIGEM, À FONTE
DÁDIVAS DA DÚVIDA
ZÉFIRO
DEIXA QUE SE ALASTREM
DESENHOS DE VENTO
ESCULTURA
ETÉREA
FILHA-MÃE DA PRIMAVERA
FLOR DE AGOSTO
FOGO ATRÁS DAS PÁLPEBRAS
FULGOR BRUXULEANTE
GRUMOS
IMPERATIVO
INQUIETUDE 360
LIMIAR
LIVRE DO FARDO
LIVRO MAIOR
MANGUE
MINHA LOUCURA
MÍSTICA
MUNDO FAMINTO, BANQUETE ABUNDANTE
NARCISOS NA ESTRADA
SEMPRE EM MOVIMENTO
NATUREZA
O CETRO
O CISNE
O DESPERTAR DA ALMA
O NAVIO ADÃO
O PERFUME DO OLÍBANO
ONÍRICO
ÓSCULO DO TEMPO
OUTRORA HOJE
PARA LONGE DO MURO, BEM ALÉM DAS CORDAS
PÁSSARO
PONTE FLUTUANTE
RASGO
RESGATE DA PRIMAVERA
RESPOSTA
SÊ TU PRIMAVERA
SUPERNOVA
TERTIUM COMPARATIONIS
TESTAMENTO
TREM-BALA
UM GRAU MAIOR
CANETA SOBRE O TRAVESSEIRO
NADA ALÉM
O PARTO DO ESPÍRITO
ALVORADA
Quando o sol ascende, acende o espírito adormecido
de um sono, a princípio, interminável.
Acorda um pouco insano, um pouco incomunicável, ensimesmado, hipersensível, procurando uma saída
das percepções, dos descompassos dos sentidos.
Vai a muitos lugares que mais parecem ser versões do mesmo, traduções do mesmo texto, diferentes textos do mesmo texto, mas o mesmo, no mito, sempre o mesmo.
Quando o sol ascende, acende o espírito anestesiado
de um silêncio que parecia intransponível.
Desperta um pouco inseguro, um pouco temeroso
e irascível - ignição e alta velocidade em um estalo.
O clique está lá. E o lá é bem aqui, em algum lugar inacessível.
É um clique mais rápido do que um piscar de olhos,
o gatilho que transporta, altera,
alterna matéria e substância. Evento.
E todos os tempos e lugares
estão juntos em um mesmo e único lugar.
Não há mais uma linha cronológica,
nem um eu querendo falar ao eu-futuro ou ao eu-passado.
Todos estão juntos em um mesmo e único lugar.
Estranho diálogo! Diferentes lugares,
diferentes versões de um mesmo lugar,
sempre um mesmo texto-lugar,
diferentes lugares de um mesmo lugar.
O espírito adormecido, infinito e simultâneo,
adormecido e acordado está.
Acordado e adormecido, solitário e acompanhado
por si mesmo e versões de si.
Espírito-semente, espírito-potência,
espírito infinito em sua finitude,
que sabe e alcança, em um clique ou gatilho,
o fim e o início: o seu centro gravitacional.
Todas as suas versões são tão reais quanto a real.
E onde está o real, senão na fronteira-conjunção-separação, onde o sol ascende?
E quando o sol ascende, acende o espírito,
(co)move-o, a si e ao corpo, ao centro, à conjunção:
espírito, início e fim, em si mesmo; espírito circular: como os tempos terrestre e lunar.
NUME
Peã Sublime, Teus ares Te anunciam!
Repousa o arco de prata recurvo,
que já estremecem os ramos do loureiro!
Extrai a melodia da cítara, em divino dedilhar,
que o rebento de Leto está prestes a chegar.
Vens caminhando sobre o tapete de louro,
o mais perfumado, dissipando o nevoeiro,
semeando dentes-de-leão, ó Líder das Musas!
Com Teus divinos olhos, vês tanto raios reluzentes,
como as sementes que jazem sob o solo.
O princípio e o fim de tudo se harmonizam
em Teus cachos de ouro, ó Infinito!
Tocas a melodia única das estações.
São baixos os acordes dos invernos; altos, os dos verões.
Ó Nume Lucífero, profere Teus divinos oráculos,
conhecedor único que és dos desígnios
de Zeus, a Verdade Suprema e Inelutável!
Quando os ventos assoviam, entoam melodias só para Ti!
Ventos silvantes e salamandras de fogo
clamam por Tua flauta selvagem, Tu e Tua contraparte, ó Pã.
Melodias doces e suaves, dos lábios das Musas,
fluem melífluas por Tuas graças.
São elas as flores das Artes e das Revelações.
As flechas dos Teus oráculos são tanto bênçãos como perdição.
O profeta está, então, perdido para o que é pequeno e igual a si, e morto para aquilo que de ordinário há no mundo.
Rei do calafrio, traz as leis pias, que regem o destino dos homens, segundo a Justa e divina Ordem do universo,
Tu, que detens as formas e as fôrmas de tudo,
e reges a cadência dos astros, a arte e ciência dos homens.
Que notável artista, a devotar-se à sua obra-prima,
não terá sido tocado por Tuas mãos, os raios do teu Nume?
Tem sede de perfeição para prestar-Te honras,
e qualquer obra sua se torna uma oração ou prece,
De olhos mareados, entregue a Ti, emocionado,
Tu, que és a residência da Perfeição Divina!
A Guardiã da Sabedoria Te é grata, ó Pai daquele que cura!
Porque são Tuas as pestes, é Tua a cura.
Ó Senhor, que empunhas o Cetro e cantas a Ordem Divina, na voz suave da lira, Fonte de Saúde e de Prosperidade, Teus pés, nos campos, são Fertilidade
e, na companhia das Musas, Tua Beleza é Inspiração!
Teus olhos solares também se abrem para a noite e o lúgubre , e os cisnes cantam os Teus presságios no bater das asas.
Há qual coisa de