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A Progênie Da Noite
A Progênie Da Noite
A Progênie Da Noite
E-book219 páginas41 horas

A Progênie Da Noite

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Sobre este e-book

A melodia da vida muda enquanto o sangue corre. O rio do tempo flui em uma direção apenas, mas a Noite está em toda a parte, atemporal e insondável. No Oceano da Inevitabilidade, o homem navega em sua pequena barca solitária, conhecendo pouco a pouco os filhos da Noite: os gêmeos o Sono e a Morte, o clã dos Sonhos, o Destino implacável, a Amizade e o Amor, a Luta e a Fadiga, o Escárnio, o Dia, as Hespérides, guardiãs do pomo de ouro e do arrebol, o Orgulho e a Prudência, o Engano e o Juramento, as Partes de bem e mal que concernem a cada um, a Miséria, a Velhice, a Nêmesis, retribuição das ações, a Aurora e a Luz Divina... É a jornada da vida humana: o sono dos anos e o despertar da consciência. A Luz mais fulgurante nasce da Noite mais escura. A melodia da Noite impulsiona o homem a seguir rente ao tempo e o acompanha por toda a sua jornada ao longo do rio da vida. Neste livro, estão reunidos poemas de travessia.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de jul. de 2021
A Progênie Da Noite

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    A Progênie Da Noite - Deise Zandoná Flores

    Essência

    No Livro Maior, cantam as vozes dos profetas,

    verdades míticas e arquétipos vivos, sempiternos.

    Falam pouco do efêmero; muito, de outros mundos;

    e mundos de muitos outros: alados ou terrenos.

    Nos livros menores, cantam os pequenos sonhadores,

    as insânias de estarem presos às áridas irrelevâncias,

    enquanto os seus corações irmanam-se, fiéis nas dores,

    às alcovas dos poetas mortos, em si, ainda crianças.

    A beleza de tal áureo canto não nasce ou irrompe,

    senão da cor mais doída e rubra: a tinta do teu sangue,

    que faz parir, entre gritos e gemidos, do ventre eterno,

    a plúmbea névoa do fugaz e a sua nívea e radiante cura.

    Rebento

    Toquem os címbalos, ressoem as trombetas!

    A criança chega, e o caos há de ter um fim!

    Toda dor e toda glória são passado, são história!

    E quem resiste à terra e à simplicidade, senão

    aquele que não viu a estrela, e disse tantos nãos

    que já se esqueceu dos sins?

    Olhem para os azuis cerúleos, que o firmamento fala:

    o Sol, que nasce, brilha mais forte que o sol que veem.

    E se os joelhos não caírem ao chão, e os braços não

    voarem aos céus, que asas terão para voar com seus irmãos?

    Olhem para os azuis cerúleos, que o firmamento fala:

    a Lua, que silencia, enaltece a dúvida mais doída. Em

    silêncio e solidão, quanto custou ouvir a muda voz do tempo?

    É tempo de fazer a criança nascer dentro do coração,

    ofertando ao Sol Nascente a inocência que Ele pede.

    A Criança chega, e a Luz há de nos ofertar o sim.

    Tempo das Vésperas

    Serei feliz no tempo das vésperas.

    Não dependerei do momento esperado.

    Se fui feliz, da calmaria, fiz festas.

    Nas festas, fiz-me quietude e cansaço.

    Do ruído do mundo, eu estou de resguardo.

    Em nada interessa-me o burburinho das ruas.

    Em tantos silêncios, estive lânguida e nua,

    quantos foram os pensamentos de torpor e orvalho.

    Sou estafa, quando muitos celebram a vida;

    celebração, quando todos os outros emudecem.

    Os cheiros do mundo me invadem, tão breves,

    quanto eu me evado do mundo e dos silfos.

    Já fui pessoa de cismas; hoje sou de filtros.

    Cansa-me ver tudo misturado: joio ao trigo.

    Apraz-me ver tudo unido e, então, eu separo.

    Não vejo mais amor no poeta do que no soldado:

    o primeiro, se bem escreve, é profeta;

    o segundo, se bem protege, é amado.

    A eles, eu brindo à luta das tintas e das armas!

    Serei feliz no tempo das vésperas;

    e livre de mim, no dos enfados.

    Se no presente das festas, eu sou cansaço,

    quando todos estiverem exaustos, eu serei festa!

    O Silêncio de Orfeu

    Orfeu, cerra os meus tenros e jovens lábios,

    quando o silêncio for mais loquaz do que as palavras.

    De tua lira multivibrante, ressoam melodias castas,

    incólumes, graças plácidas e melancólicas,

    domadoras das bestas e dadoras de poesias.

    Não te quedes morto mais do que a dor de Eurídice,

    que o meu canto súplice, de tuas bênçãos, emudece.

    Se o ornato da noite, a auriga Selene te anuncia,

    a onividente e fértil Aurora desnuda as tuas penas.

    O Sol sempiterno, lira áurea, é-te propício:

    mesmo quando a noite imarcescível te obnublia,

    Ele recria, incansável, o dia, impelindo a sua quadriga.

    O caminho até ti não é senão escalonado,

    demandando não pouco afinco, zelo e abismo.

    Tua paixão silente é a árdua tocheira do teu iniciado,

    que vê tua luz suprema ornada em mistério,

    e não a pode expressar, porque não se queda expresso

    aquilo que por palavras só pode ser profanado.

    Nuvens de Orvalho

    Verte-se sobre os mortais e deles se apossa

    o Sono, soberano, arqueando os espíritos.

    As nuvens de orvalho selam os olhos já cerrados,

    mantendo-os cativos dos festins dos vultos.

    A Aurora afoita engole os luzeiros da noite,

    e os navegantes perdem-se dos destinos.

    Quando as lágrimas de orvalho evaporam,

    as portas dos Sonhos em paredes se ocultam,

    e os ardentes carros do Sol são atrelados.

    Alguns perdem-se nos mistérios do silêncio,

    outros conhecem o silêncio dos mistérios.

    Enquanto da fantasia poucos se lembram,

    cingidos pelos raios fúlgidos das armas solares,

    outros tantos dela nunca regressaram.

    ‘Inda bebem da fonte de Orfeu que, eterna, transborda.

    E, se usam o canto para multiplicar o silêncio,

    fazem dele testemunha de futuro e de outrora.

    Famoso pelo silêncio profícuo de suas palavras,

    que muito dizem sem pronunciar uma única,

    quando abrem-se as cortinas das névoas e das nebulosas,

    põe nos espaços entre os nadas, mistérios reveladores.

    A poética se inscreve na carne desse poderoso silêncio.

    Nas lembranças dos fantasmas e dos luzeiros da noite,

    dos tantos que éramos naquele barco, nem homem,

    nem barco restaram: só as nuvens de orvalho e os cornos da lua.

    Estulto Alarido

    No infinito alarido das ruas, já não se contempla,

    dos homens, nas cãs e nas têmporas, o estado de espírito,

    senão o alto ruído de colecionados alheamentos e distrações.

    Sedentos, cada um ao seu tempo, sem fugir, fogem

    maridos e filhos, do tempo, como se lhe pudessem

    atrasar os passos. Em cansaço, não o vencem, são vencidos;

    nem erguem os olhos para ver, no espelho da abóbada celeste,

    as imagens dos templos erguidos em honra às ilusões.

    Seus corações, há muito, perderam o silêncio da verdade.

    E de tanto fugir da morte, com a morte em mãos,

    esperam afugentar o temor da morte, convidando-a

    a comparecer prontamente ao banquete em honra

    ao suspiro último que os aguarda uns poucos passos à frente.

    Ilusões forjadas no desespero...

    Jazem insepultos os vultos dos estultos homens,

    que muito temem o sepulcro, enquanto os estutos

    rendem-se aos feitiços do destino.

    Estes hoje são vistos dançarem no véu da lua cheia,

    que se derrama, nua, sobre o espelho das águas oceânicas.

    Saia das Nuvens

    Quando o sol borda em fios de ouro a saia das nuvens,

    do claro e reluzente azul, a orla da praia se despede

    e o verde-claro da copa das árvores escurece.

    Na velocidade dos amados passos que adentram o pátio,

    o coração imberbe brinca de saltar segundos e batidas.

    Conta os minutos, contemplando o arrastar das horas:

    as mesmas horas infinitas que brincam, ansiosas

    benditas, de correr noite adentro e porta afora.

    Toda saudade tem um quê de dependência e colo.

    O mundo não seria orbe sem o cinturão e os polos.

    Porém, é no momento em que as nuvens

    trocam os fios de ouro pelos fios de cobre,

    que a Noite atrela os cavalos e sela a sorte

    do meu coração.

    Presença

    Por que, do cemitério, observam-me os vivos e os mortos?

    Por que, nos sepulcros, jazem os mortos insepultos, caídos

    como estátuas, cabeças postas à terra, sem decomposição?

    Por que as sandálias urgem serem trocadas,

    se os vãos caminhos habituais estão obstruídos?

    Por que à linha reta do meu pensamento opõe-se a marginália?

    Por que olham-me gravemente acordando velados tormentos?

    O que querem dizer, se é que algo, de fato, dizem?

    Por que calam, se falar sem limites eu lhes peço?

    Se nada mais, por mim, eu meço, por que sigo

    sem arreios, nem medidas?

    Meus cavalos disparam perto da noite finda.

    E eu acordo, como se nem dormido

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