A Vereda Entre Eucaliptos
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A Vereda Entre Eucaliptos - Neuza Costa Leite De Almeida
Neuza Costa Leite de Almeida
A Vereda entre Eucaliptos
Somos capazes de compreender e aceitar as dimensões de existência no vasto Cosmos?
São Paulo
Edição de Autor
2020
A Câmara Brasileira do Livro certifica que esta obra intelectual, encontra-se registrada, nos termos e normas legais da Lei nº 9.610/1998 dos Direitos Autorais do Brasil:
CERTIFICADO DE REGISTRO: DA-2020-003812
Conforme determinação legal, esta obra registrada não pode ser plagiada, utilizada, reproduzida ou divulgada sem a autorização de seu(s) autor(es).
São Paulo, 23 de outubro de 2020
Capa: Detalhe da foto "Forest Floor, The Redwoods, California", fonte Internet, montagem de Neuza C. L. de Almeida e Geraldo Spacassassi
Editoração, Projeto Gráfico: Geraldo Spacassassi
Não há qualquer dúvida de que a ficção faz um trabalho melhor da verdade.
Doris Lessing
Dedicatória
Para meu filho Wilson - meu eterno amor incondicional.
(in memoriam)
Agradecimento
Com muito amor, quero expressar minha profunda gratidão ao Wilson, meu marido, pelas leituras críticas e sábias sugestões, sobre o texto deste romance.
(in memoriam)
SINOPSE
Além, muito além, está a sabedoria. Inidentificada. Situações permanecem soltas do outro lado, até que uma porta seja aberta. Para isso, a vontade consciente não interfere.
Foi o que aconteceu com Laís. Sua existência foi profundamente alterada, impelindo-a a evoluir seu poder de percepção para realcançar a própria vida. Ela viveu uma nova Laís, em um novo lugar. Pôde conhecer a grandiosidade e a beleza de outra vida, guardada algures dentro da amplidão do universo.
Prólogo
"Pois bem, André, eu estava lá! Deslumbrada com a extraordinária percepção do visual, pouco a pouco mais nítida, à semelhança de uma aurora radiante que chega para banir pesadelos. Sabia não estar sonhando porque sentia meu corpo em contato com a relva e a brisa acariciando minha nudez. Mesmo assim, temi que tudo se dissipasse em segundos se eu me movesse muito ou até mesmo se pensasse forte."
Momentos antes dessa agradável situação, Laís viveu instantes de extrema angústia. Em sua inusitada jornada, dificuldades outras a aguardavam, numa alternância desiquilibrada em busca do supremo equilíbrio.
Capítulo I
"André, tenho a impressão forte de que algo vai me acontecer um dia e me ajudará a entender melhor o significado da vida."
Foi o que ouvi de Laís há muitos anos. Éramos bem jovens. Hoje, após os sessenta, sou conduzido a relembrar essa afirmação e a meditar sobre ela.
Laís foi minha amiga de infância. A palavra amiga é pobre para definir o sentimento de bem-querer e a grande afinidade de ideias que compartilhávamos. Havia amor recíproco. Em nossos bate-papos, soltos, falávamos de tudo. Coisas que cresciam em importância no decorrer da conversa e se perdiam. Os pensamentos pousavam distantes, borboleteando no finito, infinito, nos possíveis, impossíveis, prováveis, improváveis, nas nuvens, no nada... Os questionamentos existenciais e sociais acirravam-se em nossas longas divagações. Nessas divagações, a utopia de consertar o mundo. Nenhuma originalidade nisso, claro, mas algumas ideias de Laís sobre a existência e desenvolvimento do ser humano, erros e acertos, concepção de progresso... soavam como inquieto devaneio.
Afinidades à parte, nunca pensei que viria a escrever sobre Laís. Agora, ao documentar a fantástica experiência por ela outrora pressentida, posso constatar a grande diferença entre a realidade e a ficção. Os personagens e enredos de meus livros eram maleáveis, como deviam ser, claro. Neles acrescentei e deles retirei detalhes para adequá-los à estória que criara, conforme minha conveniência. A história de Laís, porém, representa a realidade que envolve não somente a sua como minha própria vida. São fatos que vou narrar. Devo confessar que para mim não é fácil trabalhar com uma realidade tão inusitada.
Foram trinta e cinco anos desde a nossa súbita separação pelo seu desaparecimento. Naquela ocasião, senti muita dor. E por um longo período. Com o tempo, sobraram as reminiscências. Estas também nem sempre são indolores, ainda mais se provocadas por inesperado estímulo. Foi o que ocorreu: o telefone tocou. A identificação de quem estava do outro lado da linha me estremeceu:
— Olá, André, aqui é a Laís.
Nos eternos segundos em que aquela voz, familiar aos meus ouvidos, permaneceu ecoando, procurei recompor-me:
— É outra Laís, claro – pensei.
Só após ouvir dela episódios de que só ambos sabíamos, é que me curvei à aceitação de com quem de fato estava falando.
— Onde terá estado? Me perguntei. Fiquei confuso e angustiado. Queria vê-la, de verdade. Mas, como recebê-la? Que situação esquisita! Mesmo sabendo que poderia ser um acontecimento agradável, provocou em mim uma estranha expectativa. E a urgência do encontro que queria ter comigo, qual o significado? Por que a pressa, depois de tantos anos? Por que nunca foi encontrada? Será que ela não quis ser encontrada?
Ao telefone tentei obter dela alguma informação antecipada. Habilmente, porém, inverteu a situação e acabei respondendo sobre seus familiares. Estranhamente, ela nada sabia sobre eles, desde o dia em que desapareceu. Lamentei não ter podido dar-lhe boas notícias. E por sua insistência, tive de dizer-lhe que sua mãe e seu irmão haviam falecido. Isso a fez sofrer. Chorou copiosamente ao telefone. Foi constrangedor. Não pude evitar. Ela não esperava ou não desejava saber sobre seu pai – presumi. E eu nada disse. Falaria num melhor momento. Ela ainda soluçando justificou:
— Não bati direto à sua porta para que não se assustasse. E acrescentou:
— Você é a única pessoa com quem falo neste meu retorno e talvez a única com quem falarei. Estou feliz por tê-lo encontrado em casa.
— Retorno...? Onde você esteve, Laís? Minha curiosidade obrigava-me a antecipar perguntas.
— Não se preocupe, logo estarei aí. Quero narrar a você a experiência extraordinária por que passei durante esse período de ausência.
Desligamos o telefone. Fui até o quarto procurar nos meus guardados as fotos de Laís. Separei algumas e as coloquei na cama. Com o olhar transfixado em uma das fotos, comecei a pensar: esta moça deve hoje estar com sessenta e dois anos... Eu a conheci por muitos anos e não a conheci nos últimos trinta e cinco anos. Como estaria hoje? Gorda? Feia? Magra? Enrugada?... Será que seus cabelos estão grisalhos como os meus? Afinal, sessenta e dois anos não é propriamente a idade de melhor beleza física da mulher. Não consigo construir-lhe nova (ou velha) imagem, pois me desacostumei a pensar nela, certo estava de que há muito não mais pertencia a este mundo. Desses pensamentos, foi inevitável a reflexão: pode ser amargo encarar o que a existência na Terra nos reserva. Na juventude, a beleza de mãos dadas com ambição, dão impulsos em nossa vida, exibindo-nos o que o mundo tem de melhor. A felicidade nos instiga, mostrando-nos todo seu potencial. Afoitos, corremos ao seu encontro e tropeçamos, porque está ausente a sabedoria. Quando a sabedoria começa a nos mostrar sua face, surpresos constatamos terem-nos abandonado alguns atributos da juventude. E, nesse abandono, a felicidade que alcançamos não passa de uma pálida amostra do todo que poderia ter sido.
Por outo lado, conforme envelhecemos constatamos que, neste mundo, não vivemos uma única vida. Vivemos os estágios anteriores dessa mesma vida – da infância, da adolescência, da juventude... Por essa razão, ninguém se vê somente como velho, porque o velho não existe sem todas os estágios anteriores combinados. E Laís, qual dádiva a vida lhe reservou? Que teria conseguido armazenar? Sabedoria? Felicidade? Ao telefone, ela se referiu a uma experiência extraordinária
. O que queria dizer com isso?
Essa reflexão trouxe-me à lembrança o jeitinho de Laís. Irradiava beleza e vivacidade. A introspecção não lhe retirava a capacidade de expor seus pensamentos. De fala calma, envolvia em terna cadência o interlocutor, suscitava ideias, descortinava, sem querer, alguns de seus dotes: pensativa e pensadora, forte e sensível, analítica, atual e graciosa, não contagiada de extravagâncias e modismos. A forma levemente triangular de seu rosto, em perfeita harmonia com sua cabeça bem desenhada – sempre exibida num corte de cabelo bem curto – conferia-lhe um ar futurista. Seu íntimo, muitas vezes se revelava através do azul quase violeta de seus olhos.
Mergulhado nessas recordações, sem me aperceber, comecei ler um texto que encontrei no meio das fotos, esboçado por Laís:
(...) O progresso humano – intimamente ligado à tecnologia – representa a desesperada tentativa do ser humano em se adaptar a um meio que a ele rejeita, agride,