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Morro do Pai Inácio
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E-book355 páginas3 horas

Morro do Pai Inácio

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Sobre este e-book

Após desencarnar, Bartolomeu, que cometeu diversos crimes em vida, vagou por regiões trevosas durante várias décadas. Ambientada no sertão baiano, acompanharemos os reparos necessários por suas escolhas desequilibradas praticadas contra a Lei Divina.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de ago. de 2023
ISBN9786588535578
Morro do Pai Inácio

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    Pré-visualização do livro

    Morro do Pai Inácio - Isadino José dos Santos

    Introdução


    1 EMMANUEL/CHICO XAVIER. Caminho, verdade e vida, Federação Espírita Brasileira, 1º Vol. Coleção Fonte Viva, 2008, pag. 69.

    Aquele domingo deveria ser um dia normal como outro qualquer para todos os moradores do pequeno município denominado Palmeiras, localizado no sertão do estado da Bahia, menos para mim, porque finalmente iria conhecer a fazenda Serra Negra, no pequeno vilarejo conhecido como Lavrinha.

    Naquela época, eu era apenas uma criança, por isso pode parecer estranho que depois de mais de seis décadas passadas ainda me recorde de fatos acontecidos na infância. Porém, analisando uma matéria no livro Evolução para o terceiro milênio, de autoria de Carlos Toledo Rizzini, verifiquei que nele são narrados alguns estudos feitos pelo professor e neurocirurgião Wilder Penfield, da Universidade Mcgill, de Montreal no Canadá, sobre regressão da memória, onde explica que após vários anos de pesquisas sobre o assunto, em 1958, descobriu que nosso cérebro funciona à maneira de um gravador de máxima fidelidade, que registra e arquiva experiências já vividas desde o nascimento e possivelmente até mesmo antes. Com essa capacidade de armazenar ocorrências do passado, quando o cérebro é submetido ao toque de um eletrodo, sofre um forte estímulo, fazendo com que a memória regrida a épocas longínquas, de lá trazendo episódios remotos, devolvendo recordações conservadas no córtex e exteriorizando lembranças do pretérito.

    Depois de confrontar aqueles esclarecimentos com as explicações dadas por Allan Kardec em seu livro Obras Póstumas, sobre o tema A fotografia e a telegrafia do pensamento, nas quais ele define a memória como sendo uma espécie de álbum que se pode folhear para recordar algumas ideias apagadas da mente, ou de reavivar acontecimentos passados, concluí que nada existe de surpreendente em minhas lembranças.

    Recordo-me, portanto, da figura de meu pai, com o chapéu dobrado na testa, calçado com suas botas longas e cavalgando por aquela estrada poeirenta, levando-me no colo rumo à fazenda Serra Negra, até que finalmente chegamos e, de pronto fomos recebidos pelo homem que tomava conta da fazenda.

    Depois de cumprimentar meu pai, ambos entraram e, enquanto conversavam, eu aproveitei o momento para me retirar e dar uma olhada no ambiente. A situação era deveras desoladora, o desleixo estava tão evidente que a impressão que se tinha era de que ali não morava ninguém há muito tempo.

    Decepcionado, saí dali e fui dar umas voltas para apreciar a paisagem, foi quando notei que o aspecto se apresentava ainda mais desolador. A maior parte do terreno, que parecia tão fértil, por não ter sido devidamente cuidada, já tinha sido coberta pelo mato; também não havia nenhuma cabeça de gado no pasto, demonstrando o total abandono a que a fazenda fora submetida.

    Sem saber como fazer para sufocar aquela enorme decepção, só me restou sentar-me no tronco de uma árvore caída, na expectativa de substituir aquela imagem deprimente por algo que me desse um novo ânimo. Naquele momento a desoladora paisagem desapareceu repentinamente, surgindo em seu lugar um belo panorama, a Chapada Diamantina, maravilha que a natureza havia esculpido com tanto desvelo e carinho.

    Como seguimento da Chapada, um morro que era cercado por uma imensa floresta; tratava-se do Morro do Pai Inácio, do qual tantas vezes ouvira falar e foi em razão disso que a minha curiosidade ficou ainda mais aguçada. Por que aquele nome? Quem seria esse Pai Inácio, e o que teria feito de tão extraordinário para merecer aquela honraria? Na certa deveria ter sido um homem muito rico e dotado de grande poder, esse era o meu pensamento.

    A partir daquele dia o meu interesse pelo assunto foi aumentando de tal forma que, muito embora mais de seis décadas já tenham se passado, esse lapso de tempo, até então, não tinha sido suficiente para afastar o desejo de conhecer a verdade sobre Pai Inácio e, por mais que a buscasse, nunca tinha vindo à tona. Assim, tanto o nome completo daquela personagem como a sua origem não ficaram devidamente esclarecidos e tudo continuava obscuro, já que mesmo buscando nos livros e conversando com pessoas mais idosas, nada surgiu a não ser uma velha e conhecida lenda.

    Entretanto, fazendo uma nova pesquisa, inesperadamente me veio à mente uma espécie de intuição, revelando-me uma história que parecia já ser minha conhecida e cuja finalidade seria esclarecer todas as dúvidas.

    Na medida em que os acontecimentos eram narrados, as cenas iam aparecendo, o seu enredo e personagens — que também pareciam ser do meu conhecimento — sendo anotados. Assim, em algumas semanas, o trabalho estava concluído. Depois de distribuir metodicamente o material, fazer algumas revisões, correções e adaptações para melhor entendimento, finalmente a obra ficou pronta para ser apresentada.

    O Autor

    Parte I

    I. A FAZENDA SERRA NEGRA

    Era um sábado de verão e, em razão de o sol ter aparecido mais cedo, o clima naquela região estava se tornando insuportável. O dia amanheceu mais quente do que o normal e, na medida em que as horas iam passando, o astro rei parecia aproximar-se mais da Terra, fazendo com que os raios solares que irradiava tornassem o solo mais quente e mais árido. As folhas secas das árvores, cobertas de poeira, nem se mexiam devido à falta de vento, e as águas das cacimbas, assim como as dos riachos, além de escassas já estavam tão aquecidas que não serviam para beber e, consequentemente, matar a sede dos garimpeiros que por ali passavam a caminho das minas de diamantes.

    Esse era o aspecto climático que se apresentava em um pequeno povoado situado na região do sertão baiano, e que alguns anos mais tarde receberia o nome de Lavrinha. Nas fazendas situadas naquele município, assim como nas demais localizadas na cidade de Jequié e em outra que futuramente seria denominada Palmeiras, muito embora todas estivessem circundadas por vários morros, seguimentos da Chapada Diamantina, nelas podiam-se perceber as consequências desastrosas da estiagem causada pela alta temperatura, o que provocava certa apreensão aos fazendeiros, principalmente ao coronel Tertuliano, um homem riquíssimo que morava em uma delas, denominada Serra Negra, na companhia da esposa e de três filhos: um rapaz de vinte e dois anos, outro de dezessete e uma mocinha de quinze.

    Não obstante a fortuna que aquele fazendeiro já possuía, sua ganância era tão grande que o fazia perder noites de sono só em pensar na possibilidade de perder uma de suas safras de café por causa da seca. Ele começara como simples capangueira² mas, na medida em que foi comprando e revendendo diamantes, sua cobiça foi aumentando cada vez mais, tornando-o, desse modo, proprietário de uma enorme quantidade de terras diamantíferas naquela região e, consequentemente, um homem poderoso e dominador. Assim sendo, presunçoso e exibicionista como era, para ele dinheiro não representava nenhum problema, o que interessava era que as marcas e as qualidades de tudo que usasse fossem boas e atraíssem os olhares quando passasse pelas ruas, tornando-o alvo da atenção das pessoas e, disso o coronel não abria mão.

    À tardinha, quando o sol já estava se pondo e a noite se aproximando, uma brisa fresca desceu morro abaixo e parte dela foi se instalar na fazenda Serra Negra tornando o clima mais ameno. Nessa ocasião, o coronel Tertuliano desceu as escadas do seu confortável casarão, foi até a cozinha, bebeu um copo de água e, chamando um dos seus empregados, mandou que fosse buscar suas botas. O rapaz foi imediatamente até o quarto, logo em seguida voltou trazendo o calçado e os entregou ao patrão que, em vez de calçar, depois de examiná-lo minuciosamente, esbravejou:

    — Eu não determinei que você limpasse as minhas botas e as deixasse brilhando? Olha só que porcaria elas estão! Pode levá-las de volta e tratar de fazer como mandei. Não admito que empregado nenhum deixe de cumprir as minhas ordens; portanto, quero-as brilhando como um espelho. Ora essa, onde já se viu uma coisa dessas? Eu, Tertuliano Quintanilha de Azevedo, que sou visto como um dos homens mais alinhados das redondezas, usando botas imundas desse jeito e justamente num dia especial como hoje?

    Para o coronel, aquela data seria realmente muito especial, pois era o dia do casamento do seu primogênito e, em pouco tempo a fazenda deveria estar bastante movimentada, já que todos os fazendeiros vizinhos, bem como as famílias abastadas das cidades mais próximas haviam sido convidados e logo estariam chegando para assistirem ao enlace matrimonial e, numa ocasião tão significativa como aquela, ele não poderia mostrar nenhum sinal de desleixo. Diante disso, não restou alternativa ao empregado senão apanhar as botas e levá-las de volta para refazer o trabalho.

    Bartolomeu, esse era o nome do filho mais velho do coronel Tertuliano, e que naquele dia iria realizar o grande sonho de sua vida casando-se com a jovem e bonita Mariana. Ele era um belo rapaz, bastante saudável, de estatura mediana, corpo atlético, cabelos lisos e arruivados, tinha um sorriso atraente e delicado que o tornava ainda mais bonito. Nascido de uma família nobre, crescido em meio à fortuna e sendo herdeiro de tanta riqueza, mesmo assim não podia ser considerado um modelo a ser seguido pelos outros jovens em razão das constantes arruaças que promovia, das péssimas companhias, enfim, da má fama que carregava consigo. Desde menino, se alguém, fosse quem fosse, o ofendesse ou praticasse um ato que o desagradasse, ele se queixava com o pai que logo mandava castigar severamente o ofensor, por isso era visto como uma pessoa soberba, orgulhosa, mau caráter e, o pior de tudo, quando se embriagava tornava-se muito violento.

    Sua maneira de proceder, não era das mais recomendáveis e sua personalidade muito polêmica, visto que, enquanto para alguns não era totalmente mau, mas sim gentil e cavalheiro, para outros, pelo fato de ter sido tratado desde criança como se fosse um verdadeiro príncipe, em que todos os seus desejos eram realizados pelos pais, que não mediam esforços para satisfazer as suas vontades, acostumara-se com aquela vida nababesca que a fortuna da família proporcionava-lhe, achando que tudo podia e que todos lhe deviam obediência, tornando-se assim um verdadeiro opressor dos menos favorecidos.

    De maneira geral, todo pai fica bastante satisfeito quando vê o seu filho frequentando a escola, o que não era o caso de Tertuliano, pois Bartolomeu nunca quis saber de dar continuidade aos estudos, que apenas iniciara quando ainda era criança, mas mesmo assim, se algum parente ou um amigo mais próximo se atrevesse a comentar sobre esse assunto, o coronel logo retrucava dizendo que, com o dinheiro que possuía, um diploma ou um título de doutor se tornava coisa insignificante e que, portanto, saber ler e escrever já era suficiente. Com isso, o rapaz ia levando a sua vida de boêmio em farras noturnas, nas quais era sempre acompanhado de amigos irresponsáveis, cuja insensibilidade e falta de bom senso o incitou a seguir os passos incertos da embriaguez, da violência e da desordem. No entanto, mesmo com todos esses predicados, era o tipo de homem que toda donzela sonhava em ter um dia como esposo.

    Mariana, ao contrário, era uma moça simples, porém muito bonita, um exemplo de ternura e, apesar de ser uma das garotas mais belas da região, cuja beleza servia como um verdadeiro colírio para os olhos da rapaziada, sua meiguice e delicadeza, assim como a esmerada educação que recebera, principalmente do pai, não permitiam que menosprezasse nem maltratasse ninguém. Com apenas dezenove anos de idade, órfã de mãe, que havia desencarnado de impaludismo³ — moléstia que naquela época ainda era um mistério para a medicina e considerada como uma peste, em razão do grande número de pessoas que havia vitimado — e cuja doença a Providência Divina já estava preparando um espírito para reencarnar com a missão de erradicar de todo o país, desde os cinco anos de idade fora criada apenas pelo pai, o senhor Eustáquio, que sempre procurou dar continuidade aos poucos, mas corretos ensinamentos que a mãe havia iniciado e cuja desencarnação prematura não permitira a concretização.

    E foi assim que Mariana, sob a orientação do pai, aprendeu a ser uma verdadeira cristã; era muito obediente às leis divinas, estudiosa dos Evangelhos e, toda noite, antes de dormir, fazia suas preces pedindo a Deus que lhe dirigisse os passos nos caminhos tortuosos da vida e orientasse as pessoas no sentido de haver mais amor e maior compreensão entre elas, para que a humanidade pudesse viver melhor. Por esse motivo, mesmo pertencendo a uma família de classe média, já que os bens que seu pai possuía não chegavam nem perto da fortuna do coronel Tertuliano, mesmo assim, pelo seu bom humor, pela espontaneidade e franqueza demonstradas em suas palavras, e pelo espírito caridoso que possuía, era querida e admirada por todos. Fossem jovens, velhos ou crianças, todos a respeitavam, por onde passava era cumprimentada e, em qualquer lugar que estivesse, estava sempre rodeada de amigos conversando e sorrindo.

    Por razões inversas, o casamento de Bartolomeu e Mariana não era do gosto do pai dele, que sonhava para o filho uma esposa que possuísse dotes à sua altura e que pertencesse a uma das famílias ricas e nobres da Bahia, cuja união iria aumentar ainda mais o seu já incalculável patrimônio; nem do pai dela, que temia pela infelicidade da filha, já que seu escolhido, além dos defeitos já mencionados, não demonstrava nenhuma reciprocidade no sentimento amoroso que ela por ele nutria. Desse modo, enquanto para o coronel Tertuliano o que importava era a posição social e financeira do filho, para Eustáquio, a riqueza nada significava e o seu maior desejo era aquele que todo pai carinhoso almeja para sua filha: que o homem que a desposasse fosse uma pessoa de bem, de caráter nobre e que fizesse dela uma mulher feliz, qualidades que não via no futuro genro.

    Por várias vezes, Eustáquio tentou dissuadi-la daquele casamento, pois previa que Bartolomeu jamais iria realizar o seu sonho. No entanto, toda vez que fazia qualquer tipo de comentário ou até mesmo censura às atitudes e ao comportamento dele, a moça saía em defesa do noivo, dizendo que ele era daquele jeito em virtude de ser ainda muito jovem, mas que, com o casamento, certamente assumiria sua condição de chefe de família e mudaria seu estilo de vida. Diante daquela demonstração de amor pelo futuro marido, o pai não via outra saída a não ser aceitar o casamento da filha, para não contrariá-la.

    Dentre as pessoas mais próximas dela estava Pedro, um jovem da mesma idade, que trabalhava com a mãe, Josefina, em uma fazenda nas proximidades da casa onde Mariana morava. Por isso se conheciam desde crianças e sempre se consideraram como verdadeiros irmãos. Ela sem a mãe e ele sem o pai — que havia desencarnado durante o desabamento de uma das minas de diamantes —, por serem vizinhos e terem estudado na mesma escola, cresceram praticamente juntos e, ainda na infância, tornaram-se confidentes um do outro; se por qualquer motivo um estivesse triste ou preocupado com algum problema, o outro logo aparecia com uma palavra de consolo e otimismo, fato que causava muito ciúme em Bartolomeu que, inconformado com aquela amizade, e achando aquilo um exagero, passou a enxergar Pedro como seu rival, um verdadeiro e implacável inimigo, não perdendo nenhuma oportunidade que surgisse para humilhar, provocar e até agredi-lo.

    Na adolescência, Pedro tornara-se um rapaz pacato, muito educado, estudioso, trabalhador e dotado de notável inteligência; tanto é que, sozinho e sem o auxílio de um professor, aprendeu uma das matérias mais difíceis daquela época, que era o idioma latim, o qual passou a dominar com muita habilidade e maestria, obviamente, lembranças de outras encarnações. Atraído pelo estudo da ciência médica, em suas conversas com Mariana, sempre dizia que um dia iria ser doutor, pois estava juntando dinheiro e, assim que terminasse o curso secundário, iria morar na capital para estudar e formar-se em Medicina, visto que o seu maior sonho era ser médico para cuidar da saúde das pessoas pobres e carentes daquele município.

    Bartolomeu, por sua vez, uma de suas inúmeras barbaridades praticadas, e que causou revolta em alguns dos moradores da cidade, foi a surra que dera em Pedro juntamente com seus amigos. Alguns dias antes do casamento, ele foi para a cidade e convidou seus companheiros de orgia para promover a despedida de solteiro. Estando reunidos em um bar, passaram a beber e a praticar todo tipo de brincadeira de mau gosto, entre elas a de jogar bebida nas pessoas que por ali passavam. A farra continuava cada vez mais agressiva quando, a certa altura, Pedro, ao passar em frente ao bar, foi avistado por Bartolomeu que, já bastante embriagado e quase fora de controle, aproveitou aquela chance para mais uma vez humilhar aquele que via como seu desafeto. Chamando os amigos para fora, depois de cercarem o jovem, começaram a lhe dar um banho de cachaça. Pedro ainda tentou sair dali, mas foi impedido, sendo derrubado ao chão por Bartolomeu que, sorrindo de maneira sarcástica e zombeteira, passou a lhe aplicar socos e pontapés no que foi imitado pelos demais.

    Vários moradores da cidade assistiam indignados ao massacre, porém, embora não concordando com aquilo, ninguém se atrevia a interferir, pois sabia que qualquer um que se manifestasse em defesa de Pedro, mais tarde iria sofrer as consequências. A covarde agressão continuou até que a vítima, não tendo mais forças para resistir, perdeu os sentidos. Bartolomeu, achando que Pedro já havia recebido um bom e merecido castigo, retornou para o bar juntamente com os demais agressores, deixando-o ali caído.

    Algumas pessoas, vendo que não havia mais perigo, resolveram prestar socorro ao jovem que ainda permanecia desfalecido. Ele foi colocado em uma carroça e levado para casa, onde sua mãe, recebendo-o naquele estado deplorável, assustada, e ao mesmo tempo revoltada por saber que o autor daquela covardia contra seu filho fora Bartolomeu, carinhosamente lavou-lhe os ferimentos e, depois de providenciar os respectivos curativos e cobri-lo com um lençol, ficou sentada ao seu lado, esperando que adormecesse.

    No dia seguinte, Mariana, estranhando a ausência de Pedro, já que ambos não passavam um dia sem se falarem, foi até a casa dele onde o encontrou acamado e com o rosto todo inchado em razão das pancadas que havia recebido. Quando soube da agressão, indignada, quis saber como e porque aquilo acontecera. Sentada na cama e vendo-o naquele estado, enquanto segurava carinhosamente as mãos do amigo, perguntou chorando:

    — Pedro, meu amigo, que coisa horrível! Você está todo machucado. Conte-me, quem foi que teve a coragem de fazer essa maldade com você? Que motivo alguém teria para praticar tamanha crueldade contra uma pessoa tão bondosa?

    Para não decepcioná-la e prevendo que aquele acontecimento poderia servir de desentendimento entre a querida amiga e o seu noivo, ele resolveu omitir a participação de Bartolomeu no

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