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Você...para Sempre Em Meu Destino
Você...para Sempre Em Meu Destino
Você...para Sempre Em Meu Destino
E-book437 páginas5 horas

Você...para Sempre Em Meu Destino

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Sobre este e-book

ANALI É UMA GAROTA POBRE DO SUBÚRBIO DE SALVADOR. É DEDICADA AOS ESTUDOS E ALMEJA UMA VIDA CONFORTÁVEL NO FUTURO. AMBICIOSA, DECIDE IR EM BUSCA DOS SEUS SONHOS. A MORTE DE SEU IRMÃO MAIS NOVO A FAZ AFUNDAR EM TRISTEZA. O DESTINO A FAZ CONHECER UM CASAL DE VIZINHOS, OS QUAIS TÊM UM FILHO AINDA BEBÊ, CHAMADO ISLAS GABRIEL. FAZENDO COM QUE ANALI E SUA FAMÍLIA SINTAM-SE CONFORTADOS PELA PRESENÇA DE UMA OUTRA CRIANÇA EM SUAS VIDAS. ANALI TRANSFERE O AMOR FRATERNAL QUE TINHA POR SEU IRMÃO PARA ISLAS GABRIEL E AJUDA SUA MÃE A CRIÁ-LO, APÓS A SEPARAÇÃO DO CASAL DE VIZINHOS. ADULTA, ANALI TRAÇA SUAS METAS DE VIDA. JÁ ISLAS, ACABA POR NUTRIR UM AMOR PLATÔNICO POR ANALI E JURA QUE SE CASARÁ COM ELA QUANDO FOR MAIS VELHO. ANALI REALIZA O SONHO DE CASAR-SE COM UM MILIONÁRIO. MAS VERÁ QUE TÊM COISAS NA VIDA QUE TEM UM PREÇO MUITO CARO. O CHOQUE DE REALIDADE A FARÁ VALORIZAR AS COISAS MAIS SIMPLES DA VIDA. ISLAS GABRIEL, JÁ ADULTO, MOSTRARÁ PARA ANALI QUE NÃO EXISTE IDADE PARA O AMOR. E QUE ELE, REALMENTE, ESTARIA PARA SEMPRE EM SEU DESTINO!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de jul. de 2021
Você...para Sempre Em Meu Destino

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    Pré-visualização do livro

    Você...para Sempre Em Meu Destino - Ana Paula Borges

    Dedico essa obra para todo o povo baiano, em especial aos moradores do Subúrbio de Salvador. Povo esse que sofre com a baixa renda, com as dificuldades enfrentadas pela sociedade, que sofre preconceitos sociais, mas que é batalhador. Também dedico as mulheres fortes e decididas, as quais vão em busca dos seus sonhos e não se limitam ao que a burguesia impõe. Todos podemos ser o que bem desejarmos. E dedico essa obra também para todas as pessoas que acreditam no amor!

    Agradeço a Deus por me permitir escrever mais um livro. Por me conceder disposição e habilidade para criar histórias fantásticas, baseadas, por muitas vezes, em fatos reais.

    Agradeço a meu esposo, o Teólogo Ricardo Queiroz Santos, por me incentivar tanto.

    [...] O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal;

    Não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade;

    Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba; [...]

    (I Coríntios 13:4-8) Apóstolo Paulo

    APRESENTAÇÃO

    Anali é uma garota pobre do subúrbio de Salvador. É dedicada aos estudos e almeja uma vida confortável no futuro. Ambiciosa, decide ir em busca dos seus sonhos. A morte de seu irmão mais novo a faz afundar em tristeza.

    O destino a faz conhecer um casal de vizinhos, os quais têm um filho ainda bebê, chamado Islas Gabriel. Fazendo com que Anali e sua família sintam-se confortados pela presença de uma outra criança em suas vidas. Anali transfere o amor fraternal que tinha por seu irmão para Islas Gabriel e ajuda sua mãe a criá-lo, após a separação do casal de vizinhos.

    Adulta, Anali traça suas metas de vida. Já Islas, acaba por nutrir um amor platônico por Anali e jura que se casará com ela quando for mais velho.

    Anali realiza o sonho de casar-se com um milionário. Mas verá que têm coisas na vida que tem um preço muito caro. O choque de realidade a fará valorizar as coisas mais simples da vida.

    Islas gabriel, já adulto, mostrará para Anali que não existe idade para o amor. E que ele, realmente, estaria para sempre em seu destino!

    PREFÁCIO

    Este livro nasceu como fruto de uma mescla de informações interessantes. O impacto da pandemia do Covid 19 nos roubava a sanidade. A perda de milhões de pessoas em todo o mundo tirava o brilho até das artes. Os números deram lugar a rostos conhecidos e a nomes próximos. Contudo, a arte tentava se reerguer em meio as cinzas e ao cheiro de morte. Precisávamos reagir de alguma forma.

    A obra a seguir, brotou em uma mente fértil, ávida por escrever criações que não cansavam de surgir. Foi então que, após assistir, mais uma vez, o filme O Silêncio dos Inocentes, o qual completava 30 anos no ano de 2021, nasceu mais um de meus livros. A música Goodbye Horses, tocada no filme e dançada pelo vilão da trama, me fez ter a ideia de criar uma história que envolvesse sadismo, loucura, ciúmes, porém, regada a muito amor e erotismo. Jamais teria como criar um romance que não falasse de amor!

    O romance precisava de um enredo e de personagens que fizessem conexão com tudo o que foi surgindo, de forma tão avassaladora em minha mente. Assim, veio a primeira inspiração, o Subúrbio de Salvador, na Bahia. Um local que é socialmente marginalizado, mas que é rico em beleza, em cultura e em pessoas batalhadoras e fortes. Palco de histórias espetaculares. Decidi que o livro nasceria neste local.

    E quanto aos personagens? Que características teriam? Pensei em pessoas tipicamente baianas, portadoras da miscigenação da qual fazemos parte. No entanto, quando assisti ao filme Bad Boys For Life, o ator Jacob Scipio, ainda desconhecido para mim, serviu de inspiração para um dos protagonistas deste livro. Usei suas características físicas para criar o Islas Gabriel.

    Pensei também nos problemas sociais que abatem todo o mundo, na família como base, na valorização da Educação, como fator de crescimento humano e social, dentre outras problemáticas que nos atingem de alguma forma.

    E quanto ao sentimento? O amor é a base dele! Pontos polêmicos como diferença de idade entre os casais, ciúmes doentios, violência contra a mulher, em suas diversas vertentes, uso de drogas, sexo como troca de favores, erotismo de forma bastante explícita, detalhada, discriminação de diversos tipos, permeiam toda a trama. O que a faz rica, divertida, polêmica e que leva o leitor a se questionar em diversos momentos.

    A arte, em especial a música, também se faz presente nesta obra. Procurei homenagear a banda Queen, através da música I Was Born To Love You (Eu Nasci Para Te Amar), eternizada na voz ímpar do cantor Freddie Mercury, o qual nos deixou em 1991. Completando assim, no ano de 2021, 30 anos sem Freddie. E essa música, a qual me apaixonei em 1985, quando tinha apenas seis anos de idade, teve tudo a ver com o enredo principal deste livro e com o título que lhe foi atribuído.

    Foi muito prazeroso para mim escrever este livro. É a minha sétima obra e a terceira a ser publicada. E creio que, todos os leitores, também irão apreciá-la com a mesma empolgação que eu.

    Nesta obra, também decidi não falar da pandemia do Covid 19. Respeito todas as famílias enlutadas. Mas, essa mancha de tristeza, não merecia ser exposta nessa obra.

    Durante a escrita deste livro, perdi uma amiga para o coronavírus. Joseane Copque era professora, amava ler e escrever. Era uma mulher incrível. Alegre, cheia de vida. Excelente mãe, filha, irmã e amiga. Sendo assim, não queria expressar uma dor, dessa magnitude, a qual acometeu famílias por todo o mundo, em um livro, o qual foi criado, para trazer alegria e felicidade. Esse é um livro de esperança de dias melhores. Apenas, pedi à Deus, que me desse vida e saúde, para que, este livro, pudesse sair de minha mente e chegar a se tornar real!

    SUMÁRIO

    I – NO INÍCIO19

    II – TENHO VOCÊ50

    III – TRAÇANDO NOVAS ROTAS112

    IV – LONGE DEMAIS156

    V – DUAS CARAS189

    VI – LÁGRIMAS NO ESCURO223

    VII – APRENDENDO A VIVER SEM VOCÊ257

    VIII – DO FIM PARA O RECOMEÇO303

    IX – OS NOSSOS DESTINOS356

    X – LILI E GABI NOVAMENTE433

    XI – SEM DEFESA497

    XII – PARA SEMPRE EM MEU DESTINO545

    I – NO INÍCIO

    Um choro forte de criança ecoa pela casa. Anali, uma adolescente de doze anos, acorda ainda preguiçosa.

    Liete, sua mãe, vai até o seu quarto e a chama:

    - Aninha? Filha, sei que hoje é sábado, mas preciso que você levante.

    - O que foi, mainha? – Preocupa-se Anali.

    - Anderson está chorando com dor de cabeça e disse que o pescoço está doendo.

    - E ele ainda está tendo febre?

    - Está! – Responde Liete agoniada. – Vou com seu pai no posto de saúde. Já tenho dado remédio e essa dor não passa!

    Anali se levanta rápido e desce as escadas com a mãe. Seu irmão Anderson, um garoto de apenas cinco anos, chora de dar dó.

    - Vai passar, Dan! Você vai ver! – Diz Anali, tentando acalmar o irmão.

    Ananias, pai das crianças, pega a chave do seu velho Fusca.

    - Se cuide filha! Segure as pontas aí!

    - Tá, painho! Podem ir tranquilos!

    Anali então se dirige à mãe:

    - Mainha, quer que eu coloque a comida no fogo?

    - Não precisa não, filha! Tire a vasilha do congelador para o feijão descongelar.

    - Certo! – Diz Anali, seguindo em direção ao banheiro para escovar os dentes e tomar um banho.

    A garota começa a escovar os dentes. Então ouve seu pai estacionar o carro e sua mãe abrir a porta de saída.

    - Ai meu Deus! – Reclama Liete. – Dan vomitou aqui na entrada da sala!

    Anali corre até a sala e vê o irmão vomitar repetidamente. Faz cara de nojo, mas tenta ser o mais solidária possível.

    - Não se preocupe não, mainha! Deixe que eu lavo isso e passo água sanitária.

    - Depois lave bem as mãos, viu Aninha? A gente não sabe se isso é uma virose ou o quê.

    - Certo, mãe!

    Liete põe Anderson no carro e Ananias segue em direção ao posto de saúde.

    Anali enche um balde com sabão em pó, água sanitária e desinfetante. Tira o carpete de entrada da casa para não sujar de vômito. Joga um pouco da mistura do balde e varre para fora da casa. Vai jogando a água com sabão e varrendo a sujeira até um bueiro próximo da sua casa.

    Quando Anali consegue se livrar da sujeira causada pelo vômito do irmão, ela volta para dentro da casa e pega mais água e desinfetante. Joga novamente a água para tirar o excesso de sabão e evitar que alguém caia. Em seguida, pega o detergente e limpa toda a sala com um pano molhado.

    - Pronto! Agora está tudo limpinho. Quando mainha e painho chegarem, a casa estará cheirosa.

    Rapidamente, Anali vai até o banheiro, lava bem as mãos com sabão e vai tomar um banho.

    Saindo do banheiro, ainda enrolada na toalha, Anali se lembra de retirar o feijão do congelador.

    - Eita! Quase esqueci!

    Se enxuga, põe uma roupa velhinha, a qual usa dentro de casa e ajeita o seu café da manhã. Põe duas fatias bem grossas de fruta-pão, bastante manteiga e um copo de café com leite.

    Anali sabe que, na região do Subúrbio da cidade de Salvador, atendimento médico não é algo tão rápido. Então pega seu walkman, põe uma fita com as músicas do Olodum e se anima para limpar toda a casa. Começa pelo quarto do irmão, o qual, assim como o dela, ficavam no primeiro andar da casa. Troca os lençóis, o que era costume de sua mãe fazer todo sábado e varre o pequeno quarto. Passa pano com um rodo. Se requebra ao som das músicas que tanto gosta.

    - Pronto! O quarto do Dan está limpo!

    Seguindo para o seu quarto, tira o pó da penteadeira e sacode alguns ursos de pelúcia que têm desde pequenininha. Troca os lençóis da cama e põe novos. Varre o seu quarto, o qual é o dobro do tamanho do quarto do seu irmão. Após passar pano com bastante água sanitária e desinfetante, abre a janela para ventilar um pouco.

    A garota varre o pequeno corredor entre um quarto e o outro e segue em direção ao quarto dos pais.

    - Vixe! Painho está precisando de meias novas! – Diz Anali, percebendo que as meias de seu pai, jogadas pelo chão, estavam cheias de furos.

    Pegando as meias do pai, ela as põem no cesto de roupas sujas. Troca os lençóis da cama dos pais, passa um pano no guarda-roupas grande, na penteadeira da mãe, varre o quarto dos pais e passa pano molhado.

    Ao sair do quarto dos pais, Anali varre as escadas e passa pano. Em seguida, começa a tirar a poeira dos móveis da sala. Arrasta o sofá para um lado, mesa para o outro e sai varrendo tudo.

    O banheiro já começava a despontar um pouco de limo. Ela então joga uma mistura de sabão e água sanitária, para ir amolecendo a sujeira.

    Olhando para as paredes do banheiro, fala:

    - Daqui a pouco pego vocês!

    O som termina e Anali muda o lado da fita. Contudo, baixa mais o volume para ouvir o telefone, caso sua mãe viesse a ligar.

    Na cozinha, lava os pratos, limpa o fogão, põe as cadeiras emborcadas na mesa da cozinha e joga água e sabão em tudo. Esfrega o chão todo. Depois tira o excesso da espuma com um rodo. Joga água e varre em direção a um pequeno ralo. Enxuga tudo. Repõe as cadeiras no lugar.

    O suor escorre por sua testa. Os seus cabelos castanhos, até a altura dos ombros, estão presos em um coque rápido, preso com uma caneta. Anali limpa o suor e diz para si mesma:

    - Não adiantou tomar banho! Depois que lavar o banheiro, vou ter que tomar outro!

    Ela lava todo o banheiro, de forma minuciosa. Após terminar de lavar o banheiro, toma um banho e sente os pelos de suas axilas. Ri consigo mesma e sabe que já é uma adolescente. Só lhe faltava mesmo menstruar.

    A garota joga as roupas de faxinar no balde de roupas sujas e pega um vestido de algodão para vestir-se. De repente, ouve baterem palmas na soleira da porta.

    - Ô de casa?

    Anali mantém a porta fechada e aparece na janela, a qual tem grade. Então pergunta:

    - Quem é?

    - Seu Ananias vai abrir a mercearia hoje?

    Anali vê que se trata do vizinho da rua de trás. Relaxada, responde:

    - Ô seu Zezinho, painho saiu para levar meu irmão no médico. Deve chegar daqui a pouco!

    O rapaz coça a cabeça e diz:

    - Certo! Mais tarde passo aí!

    Assim que o rapaz vai embora, Anali resolve fechar a janela também. O local em que moravam não era tão violento. No entanto, ela, com apenas doze anos, estava sozinha em casa e vulnerável.

    Olhou para o relógio da sala e já passavam das 11:00h da manhã. Decide subir para seu quarto e terminar as atividades escolares. Ela era uma garota aplicada e bastante estudiosa. Não aceitava notas menores que 8,0. Não importava se estudava em uma escola pública. Tinha sede de conhecimento e sabia que o seu futuro dependia disso.

    Morar no Subúrbio era aconchegante para Anali. Ela não se envergonhava de morar numa região distante do centro da cidade e humilde. Ela olhava o local onde morava como muitos não conseguiam enxergar. Era um local cheio de árvores frutíferas, praias tranquilas, povo acolhedor. Contudo, ela sonhava em ter uma vida requintada. Morar numa casa grande, em um bairro nobre, ter um carro potente, casar com alguém que ela amasse e que a amasse também. Queria ter dois filhos, um cachorro da raça collie, o qual ela gostava por causa da "Lassie" e viajar o mundo. Pensava que, se Deus tinha lhe dado tanta inteligência, era porque tinha grandes planos para ela.

    No pronto socorro, Ananias e Liete ficam desesperados com o diagnóstico do médico:

    - Infelizmente, tudo indica que essa criança está com meningite!

    - Meningite? – Pergunta Liete desesperada.

    - Sim! É uma doença infecciosa muito grave!

    Ananias e Liete se olham aterrorizados. O médico continua:

    - Vocês podem levá-lo ao Instituto Couto Maia, ali no Monte Serrat, para fazer um exame, o qual vai confirmar ou não essa doença.

    - Que exame é esse, doutor? – Pergunta Ananias.

    - Eles vão colher um líquido da coluna dele...

    - Ai meu Deus! – Diz Liete aos prantos.

    - A depender do resultado, a criança deve ficar internada por lá! Pois lá é o local especializado em doenças infectocontagiosas. Vamos torcer para não ser a meningite bacteriana.

    Anali termina as atividades. Olha para o relógio em seu quarto e vê que já passam das treze horas.

    - Oxe! Mainha e painho não voltaram até agora?

    Ela desce as escadas, esquenta a comida, prepara um suco de pacote sabor morango e almoça sozinha. Logo depois, lava os pratos, escova os dentes e liga a TV para ver se assiste algum filme.

    Na casa em frente da dela, uma placa de VENDE-SE ficou dependurada por anos. Quando Anali pegava o jornal do domingo, para ver o seu horóscopo e ler o resumo das novelas, sempre via o anúncio da tal casa nos classificados de vendas de imóveis. Ria ao ler o exagero do anúncio em exaltar a casa. Falavam de uma casa ampla, mas tratava-se de uma casa de dois quartos, uma sala, uma cozinha e um banheiro. Tinha uma pequena área no fundo, a qual possuía uma lavanderia e um espaço para estender roupas.

    Já passavam das dezesseis horas quando Anali ouviu o telefone tocar. Levantou-se rápido:

    - Alô?

    - Oi filha! – Era Ananias. – Segure as pontas aí. Eu e sua mãe vamos demorar um pouco.

    - Aconteceu alguma coisa, painho?

    Tentando disfarçar o desespero, Ananias responde:

    - Filha, seu irmão está muito doente!

    - O que é que ele tem, pai? – Pergunta Anali já ameaçando chorar.

    - Não sabemos ainda, minha filha! Sua mãe está com ele para fazer um exame e vamos esperar o resultado.

    - Está bem, painho!

    Ao desligar, Anali chora. Temia pelo irmão.

    No Instituto Couto Maia, a infectologista conversa com os pais de Anderson.

    - Bem, tudo indica ser uma meningite bacteriana. Anderson vai ficar internado em isolamento. Devido ao horário, o resultado deverá sair amanhã ou na segunda-feira!

    - Doutora, quais são os riscos dessa doença? – Pergunta Ananias, tentando disfarçar o nervoso.

    - Se for a meningite bacteriana, é uma doença grave e altamente contagiosa. Não sabemos o grau da infecção da criança. Vamos esperar para ver como iremos tratar. Inicialmente, ele já estará tomando antibióticos.

    - E pode deixar com algum problema depois?

    - Mãe, eu não gosto de falar disso tão cedo, até para não assustar os pais. Mas é uma doença que pode deixar muitas sequelas: cegueira, problemas na fala, perda da audição, comprometimento em diversas partes do cérebro.

    Liete chora desesperada. Ananias limpa as lágrimas.

    A médica então pergunta:

    - Vocês deram as vacinas direitinho?

    - Demos sim! Todas as dos postos de saúde e da caderneta de vacinação.

    A médica faz uma cara um tanto preocupada.

    - Infelizmente, para meningite desse tipo, o SUS não fornece vacinas. Essa vacina só é fornecida na rede particular. E é um pouco cara!

    - Amanhã eu posso vim ver meu filho?

    - Olha, não é permitido visitas! As internações aqui são por doenças altamente contagiosas. Mas vocês podem vim, para saber sobre a evolução do quadro clínico dele.

    Antes de Liete e Ananias saírem da sala, a médica orienta:

    - Antes de saírem daqui, peguem álcool nos recipientes para desinfectarem as mãos. Tirem os sapatos antes de entrarem em casa. Ao chegarem, vão logo para o banheiro. Ponham as roupas para lavar imediatamente e limpem os sapatos, de preferência, com água sanitária. E, se a criança frequentava creches ou escolas, avisem aos professores. Possa ser que a infecção tenha se alastrado para outras crianças. Ou talvez, já tinha uma criança doente e que tenha passado para o seu filho!

    Ao saírem da sala, Liete olha assustada para o marido e fala:

    - Nego, temos que falar com a Aninha!

    - Deixe para quando chegarmos em casa!

    - Mas ela deve ter limpado o vômito!

    Ananias passa as mãos no rosto, demonstrando preocupação. Então diz:

    - Meu Deus do céu!

    Ananias liga para casa e Anali atende:

    - Alô?

    - Filha? Você limpou o vômito de seu irmão?

    - Limpei, painho! Por que?

    - Ô filha! Tome um banho com bastante sabão e passe álcool nas mãos! – Avisa Ananias desesperado.

    - Calma, painho! Eu joguei água com sabão e água sanitária. Depois lavei com desinfetante. Aí limpei a casa toda e passei pano com água sanitária e desinfetante.

    - Você limpou o quarto de seu irmão? – Pergunta Ananias assustado.

    - Limpei, painho! Depois de limpar o vômito, eu tomei banho. Aí fui limpar a casa toda e tomei banho de novo. O que está acontecendo?

    - Quando nós chegarmos aí, vamos conversar!

    Ao desligar, Ananias vira para Liete e diz:

    - A coitada saiu limpando tudo!

    - Meu Jesus! – Diz Liete preocupada.

    - A sorte foi que ela lavou bem a sujeira com água sanitária e sabão. Disse que depois foi tomar banho. Aí foi limpar a casa toda. Depois tomou outro banho.

    - Deus há de proteger minha filha! E que Deus ponha os anjos dele para proteger Anderson.

    Em casa, Anali prepara café para os pais. Ajeita um cuscuz e espera os pais chegarem com o irmão para tomarem café juntos.

    Já passavam das vinte horas quando Liete e Ananias chegaram em casa. Ao ouvir o som do fusquinha do pai, Anali pulou do sofá e abriu a porta. Então ouviu o pai pedir:

    - Filha, pega um saco para mim, a garrafa de álcool e a flanela velha que eu limpo o carro.

    Quando Anali vira-se para entrar novamente na casa, ouve sua mãe pedir:

    - Filha, traz um pano de chão e a água sanitária também.

    Assustada, Anali corre para pegar tudo o que foi solicitado pelos pais.

    Ela entrega tudo o que os pais pediram. Contudo, observa que o irmão não estava com eles.

    - Cadê o Anderson? – Pergunta Anali assustada.

    - Deixe a gente se higienizar e, assim que a gente entrar, te contaremos tudo!

    Anali percebe que tem algo errado. Uma angústia enorme toma conta dela. Porém, ela continua calada, esperando os pais lhe falarem o que houve.

    Do lado de fora da casa, Liete limpa as sandálias com água sanitária. Logo após, enche o pano de chão com água sanitária e deixa para que Ananias, assim que terminar de higienizar o interior do carro, possa limpar os sapatos.

    - Filha, saia da frente que eu vou passar rápido para o banheiro.

    Anali não pergunta mais nada. Apenas obedece a ordem dos pais. Vê que a mãe entra descalça e, já no banheiro, tira as roupas e põe dentro de um saco plástico, entrando para o box para tomar banho. Em seguida, era a vez do seu pai fazer o mesmo processo.

    Ao sair de toalha, Liete pega o saco com as roupas dela e de Ananias e as leva para a área de serviço. Enche uma bacia com bastante sabão em pó, desinfetante, água sanitária e álcool. Deixando-as de molho.

    Liete lava as mãos novamente, passa álcool e segue para o seu quarto para vestir-se.

    Ananias também sai do banheiro enrolado na toalha e segue para pôr uma roupa.

    Anali espera os pais sentada no sofá. Aguardava ansiosamente para saber o que tinha acontecido com o seu irmão.

    Ananias e Liete descem, sentam-se e tentam conversar com a filha:

    - Filha, Dan está com uma doença muito grave. Por isso teve que ficar internado. – Diz Ananias.

    Anali olha para os pais assustada e pergunta:

    - E o que é que ele tem?

    - Meningite! – Diz Liete trêmula.

    - Meningite? – Reforça Anali. – Mas pai, mãe, eu estudei sobre essa doença. Ela é muito perigosa!

    Anali começa a chorar. O pai a abraça.

    - Calma, filha! Não podemos nos desesperar!

    - É, filha! – Diz Liete, tentando se convencer.

    - Amanhã, eu e sua mãe, iremos para o Couto Maia. Precisamos que você fique em casa...

    - Eu quero ir! – Protesta Anali.

    - Filha, não pode! – Diz Liete. – Lá recebe pessoas com doenças muito graves. Não vamos te expor!

    Anali pára um pouco. Pensa por alguns instantes e depois lança uma pergunta difícil aos pais:

    - Ele vai voltar para casa, não vai?

    - Eu tenho fé em Deus! – Diz Liete.

    Liete, Ananias e Anali sentam-se à mesa para fazerem a refeição. O silêncio chega a ser agonizante. Para tentar descontrair a filha, Ananias brinca:

    - Que delícia, filha! Já dá para casar!

    Anali força um breve sorriso.

    - Amanhã vou deixar você de novo aí. Não abra a porta para ninguém. E, se vierem procurar saber se eu vou abrir a mercearia, diga que, essa semana, ficará fechada.

    - Seu Zezinho esteve aí, querendo saber!

    Liete faz um chá de folhas de maracujá para os três. Em seguida, vai esfregar as roupas que usaram no hospital, lavar e pôr no varal.

    As cinco horas da manhã, Liete e Ananias já estavam de pé.

    Liete preparou o almoço para a semana inteira. Pois sabia que não era justo sobrecarregar a filha de apenas doze anos. Para garantir que Anali não ficaria recebendo visitas enquanto eles estivessem fora, fez um cartaz à mão e grudou na porta de ferro da mercearia.

    NÃO ABRIREMOS ESSA SEMANA

    As 06:30h da manhã, Liete foi chamar Anali em seu quarto.

    - Filha, sei que é domingo, mas precisaremos sair. Se você quiser dormir um pouco mais, pode dormir!

    Ainda zonza, Anali responde:

    - Vou dormir um pouco mais. Aquele chá, que a senhora me deu, me deixou dopada.

    Liete e Ananias saem para visitarem o filho. Já Anali, acorda as 08:00h. Vai escovar os dentes, varrer a casa e tomar um banho. Em seguida, toma o café da manhã. Estava tão angustiada, que a fome fugiu. Ficava se perguntando, até quando essa situação triste duraria.

    Ao meio dia, mesmo sem sentir vontade de comer, sentiu o estômago doer por estar vazio. Esquentou o feijão, o arroz, o purê de batatas e o frango ensopado que sua mãe havia feito. Tirou umas garfadas e tentou forçar para alimentar-se.

    Já passavam das 14:00h quando seus pais chegaram. Anali pegou todos os produtos utilizados na noite anterior, para ajudar os pais a se desinfectarem. Pensou em perguntar notícias do irmão, mas, ao olhar para os olhos inchados da mãe, desistiu.

    Liete e Ananias fizeram o mesmo processo que na noite anterior. A garota permaneceu sentada no sofá, esperando os pais se pronunciarem.

    Quando Liete e Ananias desceram do quarto, Anali percebeu o quanto o pai estava sério. Ela apenas encarava os dois, em busca de respostas, para as perguntas que ela não se atreveu a fazer.

    Ananias olha para Anali e fala:

    - Seu irmão está com a meningite bacteriana. É a mais grave!

    Anali quase engasga com a dor da vontade de chorar. Então olha para o pai e pergunta:

    - Mas ele vai ficar bem, não vai?

    Ananias respira fundo, tentando controlar o choro. Depois fala:

    - Não sei, minha filha! Vamos esperar em Deus!

    Liete não suporta a aflição e se descontrola a chorar. Anali vai até a mãe e a abraça. Sente-se impotente por não conseguir fazer aquela dor cessar.

    - Calma, mainha! Vai dar tudo certo!

    Durante alguns minutos, Anali permaneceu abraçada a mãe. Quando percebeu que a mesma parecia mais calma, disse:

    - Sei que é difícil, mas vocês precisam comer alguma coisa.

    - Não quero comer nada não! – Avisou Liete.

    - Mas a senhora precisa! Se vocês vão ficar indo visitar Dan, não podem ficar fracos e arriscarem pegar alguma doença naquele lugar!

    - Ela tem razão, Liete! – Concorda Ananias. – Vamos empurrar, nem que seja pouca coisa!

    Anali se solidariza e pergunta para sua mãe:

    - Quer que eu te dê na boca?

    Liete dá um sorriso forçado e abraça a filha.

    - Não precisa não, meu anjo! Minha mocinha!

    Enquanto os pais comem, Anali presta atenção no planejamento deles para a logística da semana seguinte.

    - Eu não tenho nem como pegar uns dias de folga lá na fábrica. Meu horário já é bem apertado. Eles já me concederam pegar das 05:30h as 14:30. Só os mais antigos têm esse horário.

    - Não tem nada não! Amanhã saio daqui as 06:00h. Vou até a estação de trem, salto na Calçada e pego um ônibus para lá. Quando você sair do trabalho, me pega.

    - E Aninha? – Pergunta Ananias.

    - Fique tranquilo, meu pai! Eu me ajeito aqui. Depois do almoço vou para a escola. Aí, quando eu voltar, vocês já devem estar em casa.

    A semana foi difícil para a família. Anali percebia a fisionomia de cansaço dos pais. Assim, não esperava a mãe fazer mais nada. Limpava a casa, fazia o almoço e deixava todos os objetos para a desinfecção, bem ao lado da porta, para facilitar a vida deles.

    Na quinta-feira à noite, Anali recebe uma ligação.

    - Alô?

    - Boa noite! Eu gostaria de falar com o senhor Ananias ou a senhora Liete!

    - Quem gostaria? – Pergunta Anali desconfiada.

    - É a Assistente Social do Instituto Couto Maia.

    Anali vai até os pais e avisa:

    - A Assistente Social do Couto Maia está no telefone e quer falar com um de vocês!

    Liete e Ananias se levantam rápido e vão até o telefone.

    - Alô! Aqui é Liete!

    - Senhora, eu sou Luciana, Assistente Social do Instituto Couto Maia. Precisamos que, a senhora e seu esposo, venham até o hospital, amanhã pela manhã.

    - Meu filho morreu? – Pergunta Liete desesperada.

    - Não, senhora! Anderson está vivo. Mas precisamos conversar com urgência.

    Liete suspira fundo ao desligar o telefone.

    - O que foi, Liete? – Grita Ananias.

    Anali olha para a mãe com os olhos esbugalhados e já se enchendo de lágrimas.

    - A Assistente Social quer que a gente vá amanhã, pela manhã, para conversarmos com ela. Mas, Anderson está vivo!

    Ananias suspira fundo e põe a mão na testa. Já Anali, tem uma crise de choro e é amparada pelos pais.

    - Ai, mãe! Me deu tanto medo!

    Liete abraça sua filha com força.

    Naquela noite, Anali só conseguiu dormir após um chá calmante bem forte. Liete e Ananias viraram a noite acordados. Ambos estavam trêmulos, cansados.

    As 04:00h da manhã, Liete e Ananias estavam de pé. Tomaram um café preto para não saírem com o estômago vazio. Decidiram não despertar Anali. Assim, a poupariam.

    Ananias ligou para o trabalho e avisou para um dos gerentes da fábrica, o que estava acontecendo com o seu filho caçula. Em vinte anos de trabalho, nunca havia faltado um dia sequer. E isso fazia com que ele tivesse credibilidade junto à chefia.

    No caminho para o hospital, Ananias ouve a esposa orar baixinho.

    Em casa, Anali acorda, desce as escadas e constata que os pais já haviam saído. Assim, escova os dentes, toma um banho e vai tomar o café da manhã. Logo depois, lava os pratos da pia e varre a casa.

    No hospital, Ananias e Liete conversam

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