Bênção, Meu Pai: Leia-me Alto, Chore Baixinho

De Malvim

A vida passa pelo vidro sujo do ônibus, pessoas, coisas, imagens se misturam com aquilo que deixou para trás. Por mais que ela esteja ansiosa pelo futuro a sua frente, ainda se sente amarrada aos segundos passados em cada lembrança do que ela passou. Mulher negra, pobre, nordestina, saindo de casa e indo pela vida a fora, buscando seu sonho. Imaginando quantas e quantas pessoas são iguais a ela, e estão por ai, tentando todos os dias alcançar seus sonhos. E esperando poder encontra-los nessa aventura. Nessa história o amor impera, e como dizem, "As coisas boas tem que ser vividas no coração". Leia me alto, chore baixinho!

• Idioma: Português
• Editora: Viseu
• Data de lançamento: 6 de out. de 2023
• ISBN: 9786525459677

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus e a todos que fazem parte do melhor em mim, que são alguns poucos amigos que restaram ao meu lado e minha família linda, que tanto amo.

Claro que tenho a obrigação de colocar aqui o nome das minhas sobrinhas e sobrinho, que ameaçaram a minha pessoa, se eu não o fizer! Então com muito amor, e claro, pura espontaneidade quero dizer que amo mais que Coca-Cola meu sobrinho Murilo, minha sobrinha mais que especial Yasmin, e minhas terroristas preferidas, Lívia e Belinha... meus eternos xodós!!! Não cresce tão rápido não viu!

Meus agradecimentos são diretos e sinceros a todos aqueles que fazem parte do universo mais lindo, triste e corajoso que conheço, que é o universo da partida! Aqueles que se jogam ao destino incerto e voam pra longe de sua terra de origem, que migram pelo mundo atrás de sonhos e melhorias, que fique aqui registrado minha admiração e amor por sua coragem.

Minha família surgiu assim!

Em especial, deixo meu amor ao povo nordestino! Minha origem!

Por fim, quero dedicar esta obra as mulheres negras e nordestinas, que de algum modo, até os dias de hoje, continuam tendo que provar o quanto são incríveis! Peço para que sempre levante com seus sorrisos lindos e cativantes, sotaques maravilhosos e floreiem o mundo!

Lindas Negas Fulôs!

Só pra deixar registrado também, quero deixar meu mais lindo obrigado e meus melhores sentimentos as vozes que surgiram no caminho dessa obra, que amo tanto, estes artistas que floriaram um pequeno momento do meu livro, na voz de Maria Betânia, Clara Nunes. Elsa Soares, Dominguinhos e Patativa do Assaré... entre outros...

Muito Obrigado!

Malvim

Bênção, meu pai:

Leia-me alto, chore baixinho

No cantinho do quarto, um quarto pequeno e incrivelmente limpo, toca a música Coração do mar, de Elza Soares.

Ela tenta pentear seu cabelo, seu enorme cabelo, de uma forma diferente. Passa a escova pra lá, passa a escova pra cá, ela ri. O cabelo não se mexe. O ideal é fazer o de costume. Coloca um lenço de flor, marrom com amarelo, e deixa o cabelo todo para cima. Ela pensa: Deve ser uma dificuldade que toda mulher negra passa com seu cabelo.

Ri.

Sorri.

Se levanta bem devagar da cama, passando o olho por todo o quarto, procurando seu pequeno caderno de capa dura que ela ganhou de seu pai. Ela fica feliz toda vez que olha para o caderno. Te faz lembrar tanta coisa, e quase tudo tirar um sorriso enorme de seus lábios. Acha o caderno na escrivaninha que fica ao lado da porta, entre o guarda- roupa e seu espelho com o cantinho quebrado. A escrivaninha feita de caixote de laranjas, têm uns desenhos bem tortinhos feitos por seus irmãos, porém, ela ama cada rabisco que lá existe. Faz ela lembrar de cada sacrifício que eles fizeram pra desenhar imagens simples, porém, feitas de coração. Foi uma das únicas coisas que ela trouxe consigo.

Ela se levanta da cama, vai até a janela. Observa tudo ao redor. Prédios enormes, que parecem gigantes caixas de sapato. Caixas de sapatos inclusive foram uma, de tantas coisas, que ela conheceu apenas quando chegou à cidade. Ela pega um copo de água, que fica em cima de sua mesinha de cabeceira). Toda noite ela, antes de dormir, vai à pia que fica no único cômodo além de seu quarto, nessa casinha tão pequena, e bebe um copo de água, vai ao banheiro fazer um xixi, pois ela tem