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Psicotomia
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E-book159 páginas2 horas

Psicotomia

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Sobre este e-book

Embora já houvesse escrito alguma prosa, como as narrativas curtas constantes do “Jardim de Dentro”, este é o meu primeiro livro apenas de contos. A obra faz parte de uma “trilogia da loucura”, juntamente com Verbotomia, de poemas e o Altos e Baixos da Afetividade, autobiográfico. que está aqui inserido como uma long short story bastante biográfica no final deste livro de contares. Ao todo são 12 narrativas que abordam o universo das psicopatologias vividas não apenas por mim, mas por personagens fictícios, porém prováveis de passarem por essas agruras, posto que se pode generalizar os males da humanidade, o que afeta um pode afetar outros e escrever sobre isso é uma forma de superar os problemas anímicos e espirituais quando se mergulha fundo no oceano da psique humana. Relacionamentos interpessoais, o ultra-romantismo, o amor também são temas abordados, pois creio que os relacionamentos mal vivenciados e mal resolvidos são fonte de obsessões e transtornos graves da alma e que precisam ser resolvidos. Lutos precisam ser vivenciados porque se não o forem, quem morre somos nós. Temos o direito de morrer? Penso que sim, mas também penso que a vida pode ser melhor vivida se aprendermos (e por que não através da catarse literária?) a viver em paz com nossos sentimentos e livres de nossos demônios? Cuidado também com este livro, escrevi-o para pessoas experientes, leitores já formados. A estrutura narratológica segue o que de melhor depreendi dos estudos teóricos da literatura dos grandes mestres universais do gênero conto.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de jan. de 2021
Psicotomia

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    Psicotomia - Cristiano Balla

    0

    Ficha catalográfica elaborada na Biblioteca Municipal de Bandeirantes/PR Jamil Fares Midauar

    __________________________________

    869.9301 Balla, Cristiano Júnior B188p Psicotomia: contos.

    Bandeirantes, PR. Edição do autor,

    2010

    138 pgs.

    1. Contos brasileiros. I. Título

    __________________________________________

    ISBN 978 85 910512 2 9

    Capa: Lápis - -Mário Fernando Zanchin

    Arte final, revisão, editoração: Fruir Editoração.

    Todos os direitos reservados ao autor.

    1

    PREFÁCIO PARA UM LIVRO DE CONTARES

    Caro leitor, só se pode iniciar bem uma boa, longa e duradoura amizade de duas maneiras distintas e singulares, embora me pareçam muito contrárias à boa moral e aos costumes cordiais, mas é assim: a primeira delas é com uma agressão física ou verbal, um insulto, um xingamento, um maldizer, etc. A outra maneira é como acontece no amor: começa-se com uma grande mentira que fica encoberta por longo tempo, meses, anos, até que a consciência a traga à tona para alívio dos já amigos

    – e talvez a amizade risque-se, enfim.

    Contos são a forma de literatura que mais se tem prestado na atualidade, pois são de leitura rápida e não cansam o leitor, hoje tão desprovido de tempo para dedicar-se à leitura de longos romances, em que pese, ainda sejam lidos. Comparo os contos a poemas, até mesmo quando os vou escrever: escrever um conto é como escrever um soneto, pois deve-se saber o desfecho final do conto para se ter algo que surpreenda o leitor e isso compara-se à uma chave de ouro dos bons e escritos da arte de Petrarca. Enfim, tem-se que escrever o início de um conto com os olhos no seu fim e saber recheá-lo com a literariedade própria e nisso cada autor tem a sua. É uma questão de experiência, de vivência e de cultura.

    Contos são historinhas de mentira, mas com os dois pezinhos fincados na mais pura lama da verdade. Paradoxal, não? Mas é assim.

    Diz-se por metáforas e alegorias narrativas o que não se pode dizer rasgadamente, e assim nasceram esses contos que lhes apresento. Quanto mais inverídicos, mais reais; quanto mais pessoais, mais universais; quanto mais metafóricos, mais pungentes; são essas historinhas que lhes apresento a seguir, esses contares, pois.

    Desta forma, como não lhes posso bater fisicamente, por medo de revide, nem me cabe ofendê-los verbalmente, começaremos nossa amizade com as grandes mentiras que lhes vou contar a seguir.

    Então... Amigos?

    Bandeirantes, 15/11/2005 - Cristiano Júnior Balla.

    2

    SUMÁRIO

    Troca de bagagens/04

    Direito de morrer/13

    Martelo de vidro/22

    Angústia/31

    Museu de óvnis/38

    O troco/55

    Vagabundo ocupado/64

    Preconceito/72

    Vida em pedaços/78

    Esperanças semanais/86

    Mais uma vez, o amor/96

    Psicotomia/102

    3

    TROCA DE BAGAGENS

    "Estudar algo historicamente significa estudá-lo em movimento.

    Esta é a exigência fundamental do método dialético." – Vygotsky Era manhãzinha e os alunos foram entrando um por um na sala de aula, cada qual trazendo em seus jovens ombros uma mochila apoiada nas costas heróicas.

    Entravam e sentavam-se em suas respectivas carteiras; logo, logo, iam se entreolhando e uns tiravam algo novo ou velho, mas sempre interessante, de suas mochilas e mostravam aos seus colegas de classe; estes pegavam os objetos, apalpavam, cheiravam, lambiam, analisavam, pois quase sempre se tratava de algo inusitado e, como eram jovens, queriam descobrir o mundo com seus cinco sentidos.

    Chegada as 8 horas, entrou na sala a professora, um pouco arquejada pelo tempo, andava devagar, pesadamente, também com uma mochila nas costas, uma pequena bolsa de couro na mão direita e uma grande bolsa na mão esquerda.

    Sabe, ela possuía a mochila desde muito pequena, quando ainda era criança como seus alunos; e, como havia-se acostumado com ela, levava-a sempre por onde ia. Continha coisas de mulher, objetos necessários ao dia-a-dia, etc. Mas houve tempo em que conteve coisas de criança, adolescente ou jovem, conforme sua idade. O conteúdo mudava a cada dia, mas a mochila era a mesma.

    A pequena bolsa de couro, muito bonita e requintada, segurava-a na mão direita, havia ganhado de presente dos pais quando terminou a faculdade para ser professora; seu conteúdo era sintetizado, guardado em disquetes, cds, transparências e fichas que elaborara durante seu curso superior; também havia pequenas anotações colhidas durante os longos anos de estudo nos colégios por que passara e alguns livros pesados. Não era uma 4

    bolsa grande, mas pesava uns 5 quilos, pois conhecimento ocupa espaço, ao contrário do que dizem muitos por aí. Sabe, trazia-a na mão direita, que simboliza a razão, a justiça, a sabedoria computadorizada pelo cérebro que resume, sintetiza e organiza dados imprescindíveis à instrução própria e à dos outros, já que era professora e esse era seu trabalho.

    Já a grande bolsa que trazia na mão esquerda continha uma vasta bagagem, tinha de tudo um pouco, coisas novas e velhas, tudo o que ela supunha interessante para si ou para seus alunos; até famosos poemas de amor, romances, pente-fino para piolho e roupas de frio, caso algum aluno estivesse precisando de roupas, ou de amor, tanto faz. O importante é que nessa grande bolsa havia muita coisa, inclusive memórias boas ou ruins, e muita experiência emocionante e trazia-a na mão esquerda, este lado da gente que simboliza o coração, onde cabe de tudo e onde tudo é tão cheio de incertezas, pois o coração tem cada uma, não é mesmo?

    Chegou na sala com suas bagagens e depositou a bolsa de couro em cima de sua mesa; a grande bolsa da mão esquerda pôs no chão frio da sala e a pequena mochila deixou ali onde estava mesmo, nas suas costas, pois já se havia acostumado com ela, nem a sentia mais.

    Olhou a turma toda sentada, conversando uns com os outros, cada aluno mostrando algo novo para o colega, que analisava a novidade, cheirava, lambia, chacoalhava, media, pesava, depois o devolvia, junto com um de seus próprios objetos novos ou velhos, mas sempre interessantes e assim a conversa não tinha como parar. Era um zum-zum-zum, e cada risada estridente de espanto ou de achar graça que não queria acabar...

    De repente a professora pediu silêncio energicamente e foram todos guardando seus objetos em suas respectivas mochilas. Era a hora de ela abrir sua bagagem e mostrar aos alunos os seus objetos novos e velhos, mas que julgava serem 5

    interessantes, desconhecidos, e necessários ao ensino da classe de jovens.

    Abriu primeiro a pequena bolsa de couro e tirou algumas transparências e as projetou no quadro aos alunos. Um deles logo abriu sua mochila e mostrou um objeto antigo, fazendo uma pergunta inusitada; a professora achou muito boa a pergunta e também abriu sua grande bolsa que estava no chão e tirou algo relacionado ao assunto e presenteou o aluno com um objeto. Este pegou o objeto novo para ele, mas antigo para a professora; e, após uma análise, guardou-o na mochila, sorridente por ter ganhado um presente.

    Os presentes dados por professores quase sempre encerram conhecimento e o aluno ficou feliz, ganhara o dia com aquilo. De tão feliz, achou por bem também dar algo à professora e pegou uma maçã de dentro da mochila, mas como a professora não gostasse de maçãs, ordenou que o aluno fizesse uma redação, além do mais, ela considerava que o maior presente que um aluno poderia lhe dar era justamente uma boa pergunta, isso era interatividade, o melhor jeito de se aprender, ou como dizia o

    velho guerreiro: Quem não se comunica, se trumbica. Gostava de repetir essa frase porque os alunos insistiam em dizer quem não se cumunica, si istrumbica, assassinando a gramática chacrinhesca tão cara a ela.

    Outro aluno aproximou-se da professora com um pequeno pedaço de papel amassado, mas que continha um pequeno poema de pés quebrados que ele havia feito com todo o coração para sua musa, a professora que o tratava carinhosamente, chegou perto de sua mesa e declamou baixinho os versos e lhe deu o papel meio amassado. A professora, sem cerimônias, leu o poema em voz alta e disse que havia um poeta na turma, ao que o menino corou e não sabia onde enfiar a cara vermelha. Então ela lhe disse:

    - Não tenha vergonha de seus sentimentos, é assim que nasce um poeta. Abriu a sua grande bolsa que estava no chão frio e dali 6

    tirou um livro de poemas de Castro Alves e receitou que o aluno o lesse nos momentos de folga, assim poderia aprender melhor a profissão de poeta, se é que poesia é profissão; parece coisa de vagabundo boêmio.

    Ela já tinha alunos que se formaram médicos, advogados, engenheiros, etc. Mas nenhum deles tinha dado um poeta. Seu sonho era ter um aluno que falasse bem com os dedos, um escritor reconhecido, que fosse indicado para a Academia, ou quem sabe ganhasse prêmios; sonhava alto, sonhava até com um Nobel para um aluno seu. E assim incentivava o pequeno poeta da sala.

    Professor tem essa mania, não é mesmo? Não a de sonhar alto como era o caso, mas a de dar mais que receber: recebeu um papelzinho amassado e dera um livro. E assim sua bagagem ia diminuindo pouco a pouco conforme atendia aos alunos.

    Como as meninas nessa idade se desenvolvem mais que os meninos, eram frequentes as perguntas sobre sexo; e ela as respondia com muita cautela, pois há muita gente doente neste mundo, não digo portadores de doenças sexualmente transmissíveis, mas doentes da sexualidade, da cabeça mesmo. É

    preciso muito cuidado com o que se diz sobre sexo para as meninas; também o que se mostra. Mas a professora era liberal e mostrava tanto os órgãos saudáveis como as doenças que os afetavam; todos ficavam pasmados com aquelas imagens; assim eram instruídos a cuidarem melhores do seu corpo, além de aprenderem conceitos morais, casamento, gravidez, etc.

    Costumava dizer que o sexo era a brincadeira mais gostosa que os adultos faziam e que Deus criara o sexo seguro e o chamara de casamento. Nesses momentos sentia-se meio mãe dos alunos.

    Mas, no íntimo, dava-lhe tristeza abordar o assunto, pois era solteira e já passara da idade de ter filhos. Mas a educação sexual, às vezes, é como diz um ditado muito cafajeste: Quem sabe, faz; quem não sabe, ensina e, quem sabe menos ainda, escreve sobre o assunto.

    7

    E desta forma a professora ia esvaziando suas bagagens, ora dando um livro a um, ora um artigo a outro, mostrando camisinhas aos meninos e informativos às meninas que já haviam tido sua menarca; aliás, ela sempre trazia um pacote de absorventes íntimos na sua bagagem, pois as meninas costumam andar desprevenidas quanto às suas novas condições biológicas. E

    sua bagagem só fazia diminuir, pouco a pouco. Pois dava mais que recebia, embora o que recebesse fossem verdadeiras jóias para a sua coleção de perguntas. Através das perguntas feitas é que avaliava o conhecimento de mundo dos seus alunos. Enfim, as mochilas dos alunos iam-se esvaziando de perguntas e ficando cada vez mais cheias de respostas, e as bolsas da professora tinham menos respostas antigas e enchiam-se de novas perguntas.

    Após algumas horas de aula, ela já ia planejando suas férias, aonde iria e o que levaria; com certeza não levaria sua pequena e pesada bolsa de couro, apenas a bolsa que carregava na mão esquerda, cheia de presentes para os amigos e familiares distantes. E trocaria presentes com eles, voltando revigorada para mais um semestre de aulas. Também pensava em descansar um pouco naquele mesmo dia, pois estava muito cansada e sentia-se um pouco vazia, precisava recompor as energias. Pensava na hora do almoço, e no descanso breve após ele. Poderia ler algum livro ou jornal e conseguir algum artigo interessante para suas aulas, preenchendo as lacunas de suas bagagens; mas faltavam ainda duas horas para o almoço. Era hora do recreio, então saiu da sala levando apenas sua mochila nas costas, deixara as outras na sala, pois voltaria em questão de minutos. Além do mais, onde está o seu coração, está o seu tesouro e o dela estava na sala de aula.

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