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Diário Lunático
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E-book274 páginas4 horas

Diário Lunático

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Sobre este e-book

Seu sonho era se tornar escritora, mas sua vida cheia de afazeres, empecilhos, dilemas, emoções e contratempos, fazem com que a autora relate de uma forma divertida, sentimental e romântica, entre trabalho, filhos, marido e casa, a vida de uma brasileira de meia idade em uma sociedade competitiva, meritocrática e eficiente que é a da Alemanha. A autora com seu temperamento latino e emotivo se confronta em várias situações com o lado prático do seu esposo alemão, gerando muitas lágrimas e risadas proveniente desse caos diário que os dois compartilham com os filhos adolescentes aos extremos. „Depois desse desabafo, resolvi desabafar com o meu marido, já que tinha começado iria continuar, ainda mais que percebi que nem pão pra janta ele tinha comprado. Mais fome, era a forma dele de dizer no meu aniversário que eu tinha que fazer uma dieta? Eu lhe disse que nunca me levava pra lugar nenhum e que se eu convidasse alguém pra vir aqui em casa, ainda tinha que cozinhar, limpar e servir, e que já estava de saco cheio disso tudo. Ele me respondeu, que era porque estava doente, mas e os outros 15 anos de casados, ele estava sempre doente? Ano passado foi porque era justo no meio da semana, esse ano é a gripe fatal, e assim continua. Eu não queria uma festa, só sair para jantar com minha família, fazer algo diferente nesse dia. E não assistir tv a noite como sempre e comer o que eu cozinho.“ „Estava olhando os vídeos de carnavais passados, quando uma lágrima nostálgica caiu dos meus olhos, o meu marido me perguntou se eu estava bem, eu lhe expliquei que essa época do ano me deixa assim, afinal em Salvador era verão, carnaval e música. Aqui era inverno, frio e a música, nem comento. Ele me consolou como todo alemão consolaria, prático, sensato e racional. Me disse que eu deveria estar feliz por ter podido vivenciar isto, e que tinha sorte que aqui também tinha carnaval, que eu tenho saúde e talvez um dia possa de novo passar o carnaval em Salvador quando as crianças estejam mais velhas (já imagino a cena, eu caquética pulando de bengalas atrás do trio, só rindo no meio de lágrimas).“
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de set. de 2021
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    Diário Lunático - Sheila Stiller

    Sumário

    AGRADECIMENTOS

    PREFÁCIO

    Capítulo 1: Diário de uma pseudo-escritora

    Capítulo 2: Presentes da alma

    Capítulo 3: Quando a vida nos ensina a gritar

    Capítulo 4: Bagagens que só a vida leva...

    Capítulo 5: Carnaval interior

    Capítulo 6: Carnaval alemão

    Capítulo 7: Por fora tudo brilha mais...

    Capítulo 8: Quantas páginas tem o seu livro de vida

    Capítulo 9: Um mundo só em cada coração

    Capítulo 10: Ficar no caminho

    Capítulo 11: Férias para sempre

    Capítulo 12 Como vai você?

    Capítulo 13: Inspirada pela vida

    Capítulo 14: Jardim colorido

    Capítulo 15: Dias de alegria

    Capítulo 16: O caminho que a vida faz

    Capítulo 17: Anjos ocultos

    Capítulo 18: Amigos sem amigos

    Capítulo 19: Desejar o que não preciso ter

    Capítulo 20 Caminhos perdidos

    Capítulo 21: Conquistadores de sonhos

    Capítulo 22:É no balanço das ondas que o nosso amor sobrevive…

    Capítulo 23: O Natal de todos os dias

    Capítulo 24: Feliz ano velho

    Capítulo 25: Até o último adeus

    Capítulo 26: Trem sem paradas

    Capítulo 27: Nunca mais

    Capítulo 28: Sozinho no meio da multidão

    Capítulo 29: O dia só termina quando deixamos de acreditar nele

    Capítulo 30: Cadê a brecha para o meu sol brilhar

    Capítulo 31: Estrelas na escuridão

    Capítulo 32: Prefiro as estrelas do chão às estrelas no universo

    Capítulo 33: Parado no caminho

    Capítulo 34: Viajando no tempo

    Capítulo 35: Colecionando vida

    Capítulo 36: Milagre de pequenas coisas

    Capítulo 37: Reencontro

    Capítulo 38: Ouro de tolo

    Capítulo 39 Caixa de bombons

    Esse livro é dedicado ao meu falecido Avô João Augusto Ferreira, do qual herdei a paixão pela escrita.  Ele foi meu maior motivo de inspiração nas caladas da noite, frente a uma tela vazia.

    AGRADECIMENTOS

                Agradeço a minha irmã Isabella por ter me incentivado a publicar os meus textos, mesmo me faltando coragem para isso.

    Ao meu pai por ser tão sonhador e ter me ensinado a acreditar nos meus sonhos.

    A minha mãe que desde do começo leu e aplaudiu a cada texto postado.

    Aos leitores dos meus textos, que acompanharam minha trajetória no Facebook.

    E finalmente agradeço ao meu marido e filhos que me forneceram tanta história louca e emotive para escrever.

    PREFÁCIO

    A minha maior paixão sempre foi escrever, desde criança que contava histórias, muitas vezes para fazer pessoas sorrirem, outras vezes para eu mesma sorrir.

    Na escola passava mais tempo na biblioteca que nos pátios com os colegas, fugia assim em meu mundo, fantasiando minha própria história com vidas escritas nos livros.

    Sempre soube que o meu caminho me levaria para longe, e com vinte e dois anos vim morar na Alemanha, país que adotei como meu, aprendi o idioma, estudei, conheci o meu esposo, casei e tive dessa relação dois filhos maravilhosos, apesar de tão adolescentes.

    Em 2016 comecei a postar os meus textos, muita poesia, prosa e uma biografia dinâmica do meu dia a dia, porém o sonho guardado na alma, de publicar um livro, me acompanhava como um grito surdo.

    Quando a pandemia começou aqui na Alemanha, os aviões da Companhia aérea em que trabalho, deixaram de voar, com isso todos os funcionários pararam de trabalhar, apesar de ainda seguirmos presos a um contrato de trabalho.

    Acostumada a trabalhar e com filhos que já não precisam de uma mãe que os papariquem, depois de ter colocado na quarentena toda a casa em ordem, só me restava escrever para não entrar em um ócio forçado por um vírus arrebatador e implavável.

    Assim, escrever se tornou o foco principal da minha vida, a forma que encontrei para me comunicar com o mundo, para não estar sozinha e poder mostrar aos meus leitores que estamos juntos nesse barco.

    Quando surgiu a proposta para publicar os meus textos, o meu maior sonho se tornara devagar realidade. Já tinha plantado uma árvore e tido filhos, só me restava escrever esse livro.

    Entre dia a dia, relação, família, cachorro e querentena, resolvi publicar o começo dessa jornada, os meus primeiros textos escritos em 2016.

    Esses textos são um misto de ação, comédia e uma vida cheia de sentimentos, lágrimas e muitoriso.

    Capítulo 1: Diário de uma pseudo-escritora

    15 fevereiro 2017

    Fico imaginando o que é ser um escritor de verdade. Ele acordando, tomando um café quase escaldando de quente, enquanto lê o jornal do dia. Ainda vestido com um roupão de banho, por baixo o pijama de camurça, senta-se na escrivaninha ao lado da janela, observando a natureza vibrando lá fora, na sua frente a máquina de escrever. Não sei por que sempre vejo uma máquina de escrever nessa situação. Nos tempos de hoje, os escritores de renome devem usar um potente computador ou laptop, mas na minha imaginação é sempre máquina, com passarinhos lá fora cantando canções dóceis em tons amenos.

    O escritor coloca os seus óculos redondos e antiquados e em sua cabeça a história já está construida, basta passar para o papel.

    Comparo com o meu jeito de escrever, acordo todos os dias às seis da manhã, desmaiando de sono, vou ao banheiro, quase sempre o rolo de papel higiênico está sem folhas, e quase nunca há papel no armário do banheiro. Normalmente fica guardado no porão. Nem adianta gritar para alguém buscar, porque nesse horário todos ainda dormem, só a eu quero ser escritora é que está de pé.

    Depois vou para a cozinha, onde tenho que cortar frutas, colocar o cereal na mesa e preparar o lanche da escola. Preciso fazer tudo, porque aqui na Alemanha quase ninguém tem empregada, a única empregada é a quero ser escritora.

    Alguns dias são mais críticos e outros cômicos, porque essa é minha vida, a de mãe-escritora, fazendo o papel principal de empregada, motorista, médica, equilibrista, psicóloga, amiga, amante, guarda-costa, lavadeira, passadeira (o que eu odeio), conselheira, consumista, cozinheira, etc. Ainda trabalho em uma firma que produz redes colombianas.

    Eu venho do Brasil, para viver na Alemanha e acabo trabalhando em uma firma produtora de redes, como uma grande ironia do destino. Depois de levar o meu filho para escola, sigo para o trabalho (os das redes), no caminho me deparo na estrada com um sol divino, apesar do frio que doía na alma. Esse sol maravilhoso estava voltado para a lua, que ainda se encontrava no céu frio. No meio desse espetáculo de beleza, dois postes com fios cheios de pássaros, decoravam a minha visão. Parecia uma nota musical, uma sonata de amor.

    Nesse momento os meus pensamentos já viajam, e se pudesse estaria sentada Nessa escrivaninha imaginária escrevendo a minha história. Porém a única escrivaninha que teria logo à minha frente, era a do meu trabalho. E aí eu não teria tempo de escrever historinhas, precisaria trabalhar.

    Às 10h liga a minha filha, que encontrava-se com a turma da escola em excursão. Ela estava com febre e me pedia para buscá-la, o meu marido também estava gripado em casa. Como não poderia deixar o trabalho, porque justo nesse dia o meu chefe disse que teríamos que auxiliar uma outra colega que estava cheia de trabalho, e eu fui a primeira a dizer que faria tudo para ajudá-la.  Tive que dizer a minha filha que a buscaria somente às três da tarde, depois do trabalho. Ainda com a história na mente e a preocupação com minha filha, vi que o meu recente Blog de textos já tinha mais de 700 acessos. Que alegria!! Comentei com minha colega de Marketing, que falou para o meu chefe, e a reação dele quase me matou de tristeza. Ele me perguntou se era eu que clicava toda noite.  A vontade era de jogar o computador na cabeça dele, mas como sou bem educada, só dei uma respostinha, que era a capacidade de acreditar em sonhos que me fazia escrever, e que seu pai, havia largado o seu emprego de engenheiro para vender redes na Alemanha, o que todos haviam considerado uma loucura, e agora essa firma havia prosperado tanto que até uma filial em Miami tinha aberto. Por que eu não poderia me tornar escritora em Português aqui na Alemanha?

    Saí do trabalho voando para buscar minha filha e claro que havia muito tráfego, se não houvesse a vida seria muito fácil. Estava parada dentro do carro pensando na desenvoltura da minha história quando toca o celular. Nada mais que o meu filho me pedindo para comprar bolas de gudes e eu não entendi nada. Como assim? Ele nem brincava com gudes. Ele me explicou de má vontade, que era para um trabalho de química e ele teria que terminar até aquela noite. Como a ligação estava uma droga e o meu marido, por detrás, discutindo com o meu filho por alguma outra coisa, a ligação caiu. Cheguei no albergue onde estava a minha menina, botei as coisas no carro e o meu filho ligou novamente fazendo o maior drama para eu comprar o diabo das gudes. Mais engarrafamento e eu com uma fome mortal.

    A minha filha queria comer comida chinesa, então fui para um supermercado que tem um restaurante chinês ao lado. Primeiro entrei no mercado para procurar as gudes. Cadê gude? Minha filha ao lado dizendo que não estava bem, meu filho ligando perguntando se eu já tinha comprado as benditas gudes. Eu procurando e nada de encontrá-las.

    Perguntei a um funcionário que estava ocupado com um casal que queria comprar uma bicicleta, e haja papo. Só faltaram perguntar se a bicicleta tinha para-raios. Eu não podia interromper a venda de uma bicicleta para perguntar sobre gudes. Finalmente consegui perguntar onde estavam as gudes. O funcionário me disse que eu as encontraria no corredor 48, abaixo dos brinquedos Happyland. Eu nem sabia que os corredores eram numerados. Agora já sei. Procurei no 48, 49, 50, embaixo de Happyland, Happytime, happyhappy, sei lá mais o quê. E nada de gudes, de happy eu não tinha mais nada. E a fome atacando nesse momento o estômago já deveria ter comido a metade do fígado. Adoro fígado acebolado! Voltei até onde o funcionário estava. E nada de funcionário e nada de gudes. Agora eu tinha que achar um funcionário para achar as gudes. Finalmente encontrei uma senhora que sabia onde estavam as gudes, mas não havia mais gudes, tinham sido todas vendidas. Quem compra gudes no inverno? É uma epidemia de trabalhos de química? Ou algum campeonato de gudes? Saí sem gudes e com fome. Quando já me dirigia para o restaurante liga o meu marido. A tosse ao telefone era irreconhecível. Ele me perguntara se eu poderia comprar papel higiênico, o qual já havia faltado no banheiro pela manhã. Volto para a seção de papel higiênico. A minha filha já reclamava horrores. Haviam milhões de tipos de papel higiênico, com cheiro de camomila, pinhos silvestres, capim, com três folhas, quatro, cinco, com folhas recicladas. Tenho que prestar atenção nesses detalhes, pois uma vez comprei um papel higiênico natalino e tanto o meu filho como o meu marido tiveram uma alergia profunda.

    Peguei um que parecia bom, pelo menos era sem aroma. Quase chegando no caixa, vi que as folhas eram azuis, imagina se meu marido e o meu filho tivessem alergia novamente? Bunda de Avatar? Voltei para a seção de papel higiênico. Depois de quase uma hora procurando gudes e papéis higiênicos normais, consegui chegar ao restaurante para pedir a comida. O meu marido e filho já ligando mais uma vez perguntando por que eu estava demorando tanto, pois eles estavam com fome. Sem comentários!  Ainda passei em uma lojinha perto de minha casa para procurar as gudes. A lojinha tinha tudo o que era de bagulho, mas nada de gudes. Chegando em casa mais morta que viva, sentei finalmente para comer. Na mesa o meu filho começa a discutir com o meu marido sobre as gudes, a minha filha tem dor de cabeça e eu só quero desaparecer. Socorroooooo!

    Eu obriguei o meu filho a perguntar, para o filho da vizinha, se ele tinha gudes. E o menino tinha. Darei um prêmio pra esse menino e um cascudo no meu.

    Depois do almoço às cinco da tarde e de arrumar a cozinha, resolvi, finalmente, colocar a minha ideia no papel, ou melhor, na tela do laptop. Fiz um chá, o tempo lá fora parecia uma sopa de hospital, cinza e sem graça. Sentei-me no sofá e resolvi começar a escrever.

    O meu marido rodava no meio da sala dizendo que tinha dores no corpo todo e quando tossia, um terremoto no Japão ficaria com inveja dessa atuação. Cada tosse ou espirro eram três letras tremidas no laptop. Eu perguntei se ele não queria descansar um pouco, pois deveria estar cansado de não fazer nada. Ele foi dormir e eu feliz, pois começaria a escrever. Não demorou cinco minutos e duas frase e eu já dormia por cima do laptop e da minha imaginação. Quando acordei já era noite. Levantei imediatamente para botar a mesa da janta.  Nesse caso, só pão mesmo, pois comemos às cinco. Com a mesa feita, chamei as crianças e o meu marido para jantar. Jantamos, mandei as crianças para a cama e tentei escrever. O meu marido começou um discurso na sala de que eu só passava o tempo todo escrevendo, que tudo que era demais não era bom, que eu deveria fazer uma pausa e bla bla bla…

    Ele coleciona aviões, passa mais tempo no porão com a coleção, do que em qualquer outro lugar da casa, trabalha no aeroporto e tem prazer de estar ali, se pudesse casaria com um avião, o que definitivamente já não sou mais. Acho que se apaixonou por mim, porque, quando nos conhecemos, eu estava com o uniforme da Vasp. O nosso filho foi batizado na capela do aeroporto de Frankfurt. O padrinho trabalha no aeroporto e a madrinha na Emirates. Ou seja, o seu hobby é sua vida. E o meu? Até hoje tive que abrir mão de quase tudo para criar os meus filhos, pois como aqui quase não há empregadas domésticas, então eu fui tudo. Foram anos que coloquei os meus hobbies em segundo, terceiro ou quarto plano. Agora as crianças cresceram, já não são bebês, apesar de se comportarem muitas vezes como tais, inclusive o meu marido. Chegou a minha hora de fazer o que sempre quis fazer…escrever. Pode ser que o mundo todo deteste o que escrevo, pode ser que seja somente uma ilusão, mas é a minha ilusão. Amo os meus filhos e o meu marido, mas o meu tempo chegou. E se não posso ter o luxo de sentar pela manhã com um café na mão para começar a escrever como uma escritora de verdade, ou como imagino que seria uma, pelo menos quero ter a liberdade de sentar no meu sofá, com um chá na mão, sendo interrompida trezentas vezes por toda família, até pelo cachorro. Mas ter pelo menos a chance de me sentir uma escritora, ainda que seja uma pseudo-escritora. De madrugada terminei finalmente o texto que queria escrever desde a manhã, tendo que depois dormir ao lado de minha filha, que veio parar na minha cama, e do meu marido que tossiram sem parar, e depois ele foi para outra cama, para poder dormir em paz.

    No outro dia de manhã, eu estava de pé, como sempre começando uma outra jornada e na cabeça uma outra inspiração: escrever sobre o meu dia de todo dia. Estou agora rindo de minha piada diária, lágrimas não existem no meu rosto, pois acredito na vida, acredito nos sonhos e no destino de cada um. E o meu destino agora é escrever, até o fim…

    Capítulo 2: Presentes da alma

    18 fevereiro 2017

    Eu odeio aniversários, e isso é fato. Não por estar envelhecendo, esse não é o problema. Talvez algum trauma de infância, em que eu sempre esperava uma festa surpresa e a surpresa é que não haveria uma festa surpresa.

    Se os meus pais pudessem, teriam me oferecido com certeza a cada aniversário uma festinha, mas nem sempre as condições eram favoráveis. Houveram algumas festas, mas só lembro de três. Uma foi bem marcante, existia há 100 anos uma novela chamada Dancing Days, nessa novela, a qual eu nem lembro mais do que se trata, todo mundo andava com uma meia brilhante até o meio da perna combinando com sandálias plásticas, mais uma bolsinha pendurada nos ombros. Como o meu pai nessa época não podia comprar essa meia brilhante, muito menos a sandália de plástico, provavelmente fabricada na China por centavos a dúzia, a minha mãe quis ao menos me presentear com a bolsinha. Ela tirou os dois bolsos de trás de sua calça bege, arranjou dois laços de fitas vermelhas, costurou juntos os bolsos e fez a alça com as fitas. Essa bolsa foi feita com tanto amor e carinho; e eu a ganhei de presente de aniversário.

    Foi o melhor presente que ganhei em toda minha vida. Já ganhei muitas bolsas de verdade depois dessa, mas essa foi a mais sincera, pois foi feita só de amor e capricho.  Até hoje tenho lágrimas nos olhos quando lembro dessa bolsa. Pena que a perdi no meio de tantas mudanças. Ela sumiu de minha vida, mas ficou até hoje no meu coração.

    Nos dias de hoje, quando vejo a alegria fria das crianças quando recebem um playstation, um celular, uma bicicleta, etc, tenho vontade é de dar umas cacetadas com minha bolsinha de alças vermelhas, se eu ainda a tivesse.

    Voltando ao passado, nesse mesmo dia, chegou a minha tia linda e abafando como sempre, nas mãos um bolo confeitado, a desejada sandália de plástico e a tal das meias brilhantes. Como fiquei feliz nesse dia.  Nunca me esqueci desse aniversário improvisado.

    Outro aniversário marcante foi o de 15 anos, no qual o meu pai fez de tudo para realizar essa festa. Esse dia foi uma comédia e uma tragédia ao mesmo tempo. Juntar a família toda, só acontece em duas ocasiões, ou festa ou funeral, ou as duas coisas juntas caso a família brigue.

    Nessa festa estavam os meus tios e primos que viviam no Rio de Janeiro e vieram especialmente para meu aniversário. Os meus primos do Rio trouxeram um amigo. Eram garotos altos e bonitos e com um sotaque que a sílaba não acabava nunca.

    No meio da festa surgiu uma confusão danada, eu sem entender nada, todo mundo foi para o lado de fora. Um tio meu de Salvador, gritando, berrando, xingando que o rapaz do Rio estava olhando para a sua esposa, minha tia.

    Só podia ser uma piada, minha tia outrora era lindíssima, mas depois de seis filhos e uma vida do sofá para a cozinha em um apartamento minúsculo, a beleza tinha sido, pouco a pouco, substituída por rugas e quilos. Botaram a minha tia no carro e a levaram para casa, o meu tio de Salvador pôde então curtir a festa sozinho, como ele queria.

    Depois um outro tio resolveu fazer, no palco, uma homenagem para mim. Quase me escondo debaixo da mesa. Ele queria cantar uma música do Chiclete com Banana, e pediu a tal música. Só que a banda começou a tocar uma música e ele a cantar outra. Que vexame! E bem na frente de meus amigos e colegas da escola. O bom de tudo isso, é que essa festa nunca sairá de minha mente, ficará tatuada para sempre na minha história.

    E essa história de surpresa sem surpresas continua. Sou casada com um Alemão e ele é maravilhoso em muitas coisas, mas para planejar aniversários é uma tragédia. Ou melhor, ele não planeja. E o pior é que eu fico sempre esperando aquela surpresa, que claro nunca ocorre, e essa é a surpresa.

    No dia 16 de fevereiro foi o meu aniversário, eu acordei às seis da manhã como sempre, levantei, preparei o café e o lanche da escola para o meu filho. A minha filha e o meu marido continuam gripados, por isso ela não foi para a escola e ele para o trabalho. Homem gripado tem que descansar, caso contrário, morre. Por incrível que pareça o meu marido se levantou antes de mim, quando eu acordei e fui para o banheiro, quem estava lá ocupando o meu banheiro? Claro que o meu marido. Eu poderia subir e usar o banheiro de cima, mas subir escada nessas horas, ainda mais cega como estou quando acordo, é suicídio na certa. E não quero me suicidar bem no meu aniversário. Resolvi fazer então o café da manhã na cozinha. Ele saiu do banheiro, entrou na cozinha e nada de feliz aniversário amor da minha vida, coisa mais linda do mundo, etc e tal. Entrou, saiu e nenhuma informação sobre aniversários que apesar de não gostar, ao menos escutar alguma gracinha nesse dia é importante para o meu ego já meio ancião. Quando fui para a sala, vi que na casinha do cachorro havia uma sacolinha da Pandora com um cartão. Bem, que eu saiba o cachorro não usa pulseiras, então isso tinha alguma coisa haver com o fato do maridão ter despertado tão cedo, apesar dessa gripe fatal. Ele tinha me dito que na casinha do cachorro tinha uma coisa para mim, e eu fingindo surpresa, peguei a sacolinha. Dentro tinha um pingente pra minha Pandora, mais um. Não que eu não goste de Pandoras ou pingentes, mas sei que até o resto de minha vida ganharei esses pingentes. Um dia essa pulseira pesará uns cinquenta quilos, precisarei de uma bengala extra para o braço. O problema é que meu marido no passado me presenteou com algumas coisas que me deram mais raiva do que alegria, um dia ele descobriu que eu

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