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Mistérios E Suspense Em Miriápolis
Mistérios E Suspense Em Miriápolis
Mistérios E Suspense Em Miriápolis
E-book177 páginas2 horas

Mistérios E Suspense Em Miriápolis

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Sobre este e-book

[...] Era possível observar, naquele imenso descampado, um pouco mais acima do rio, as ruínas do que parecia ser uma antiga igreja e, ao lado, um velho cruzeiro de madeira, ainda em pé, com outras cruzes menores ao redor, sinalizando, talvez, o local de um obsoleto cemitério. Percebi, ao longe, que alguém caminhava em minha direção. Senti-me confuso e assustado. [...] Esse é o tom de um dos contos que compõem Mistérios e suspense em Miriápolis, obra impregnada, além destas, de outras imagens enigmáticas como um retrato, pintado a nanquim, de dois jovens da década de 1850; uma criatura emblemática de rosto redondo meio achatado e olhos verdes desbotados; um espelho; uma imagem de Santa Terezinha; uma casa de taipa e uma escada com sete degraus, elementos que instigam os leitores, assim como o delegado Luís Alberto, a querer desvendar os crimes e fatos estranhos, por vezes beirando ao sobrenatural, que acontecem em Miriápolis.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de ago. de 2021
Mistérios E Suspense Em Miriápolis

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    Mistérios E Suspense Em Miriápolis - Nê Sant'anna E Paulo Fernando Zaganin Rosa

    1

    2

    MISTÉRIOS E

    SUSPENSE EM

    MIRIÁPOLIS

    CONTOS

    NÊ SANT’ANNA

    PAULO FERNANDO ZAGANIN ROSA

    Iepê – SP

    2021

    3

    Título

    Mistérios e suspense em Miriápolis

    Autores

    Nê Sant’Anna

    Paulo Fernando Zaganin Rosa

    Revisão

    Paulo Fernando Zaganin Rosa

    Diagramação e capa

    Gabriel Sant’Anna Zakir Campeão

    Projeto Livro nas Nuvens

    Todos os direitos reservados

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (BENITEZ Catalogação Ass. Editorial, MS, Brasil) M664

    Mistérios e suspense em Miriápolis / Nê Sant’Anna, Paulo Fernando 1.ed.

    Zaganin Rosa. – 1.ed. – Iepê, SP : Ed. do Autor, 2021.

    160 p.; 14 x 21 cm.

    ISBN : 978-65-00-28985-5

    1. Contos brasileiros. 2. Ficção brasileira. I. Sant’Anna, Nê.

    II. Rosa, Paulo Fernando Zaganin.

    08-2021/89

    CDD B869.3

    Índice para catálogo sistemático:

    1. Contos : Literatura brasileira B869.3

    2. Ficção : Literatura brasileira B869.3

    Bibliotecária responsável: Aline Graziele Benitez CRB-1/3129

    4

    APRESENTAÇÃO

    Os contos que integram Mistérios e suspense em Miriápolis flertam, ao mesmo tempo, com o imponderável e o supostamente trivial. Seus personagens poderiam ser encontrados em qualquer cidade, mas habitam a fictícia Miriápolis, que condensa nuances e trejeitos dos pequenos e médios municípios do interior paulista formados a partir de 1850, após as investidas rumo ao sertão lideradas por José Theodoro de Souza.

    Em formato aparentemente leve, a estrutura narrativa dos textos instiga a imaginação e a sagacidade. Propondo ao leitor uma espécie de esconde-esconde, também o convida a participar ativamente do jogo, inclusive escolhendo um desfecho para o conto Lugovana.

    Dessa dinâmica e desse flerte resultaram temas e tramas recheadas de sutilezas, algum sangue, fantasias, obsessões e paranoias, pois mistério e suspense são importantes elementos míticos da alma humana.

    Os autores

    5

    Seres humanos

    Seres estranhos...

    Tudo vasculhamos

    Com o desconhecido

    Cirandamos

    Com mistérios

    Nos deparamos

    Às muitas perguntas

    Poucas respostas encontramos

    (Nê Sant’Anna)

    6

    SUMÁRIO

    O caso da Gruta de Santa Terezinha

    09

    6 Letras

    33

    A casa de taipa

    37

    O outro

    59

    Lugovana

    73

    O regresso

    141

    7

    8

    O CASO DA GRUTA DE SANTA

    TEREZINHA

    Prólogo (do delegado Luís Alberto)

    Tomei posse como delegado de polícia em Miriápolis ano passado.

    Quando estava na faculdade de Direito conheci Paulo Fernando e ficamos amigos. Por uma dessas coincidências da vida, assumi a delegacia de sua cidade natal.

    Esse ano, após muito tempo só visitando duas vezes por ano a cidade, meu amigo resolveu recolher-se aqui para finalizar o texto de sua tese de pós-doutorado, na qual analisa romances policiais.

    Então, um crime ocorrido há vinte e três anos e não solucionado, que vez ou outra ainda é motivo de comentários na cidade, reacendeu nas lembranças de Paulo Fernando, pois de certa forma, ele foi a única testemunha ocular do fato, embora só percebesse vinte e três anos depois a importância do que viu.

    Paulo Fernando pediu minha ajuda e, quem sabe agora, novas luzes possam clarear o Misterioso caso da Gruta de Santa Terezinha, nome com o qual o crime foi batizado pelo jornal da cidade na época.

    9

    PARTE I – 24 de Agosto de 1988: um corpo sob a escada lateral da Igreja Católica Matriz (uma tentativa de reconstrução pelo delegado Luís Alberto)

    A Igreja Católica Matriz da cidade paulista de Miriápolis fica localizada no meio de uma praça. Foi construída na década de 1940

    e sofreu poucas alterações. Como a Igreja está cravada na parte mais alta da praça, há uma grande escada frontal e duas escadas laterais menores, porém, todas possuem pequenos jardins que embelezam seus degraus vazados.

    Ao lado direito da igreja estão a casa paroquial e uma gruta de pedra erguida para Santa Terezinha em 1953. A imagem de um metro e sessenta e cinco centímetros foi doada por um devoto, e as beatas, desde 1958, encarregam-se de vesti-la com esmero, providenciando todos os meses um manto novo para a santa.

    A gruta, cercada por um gradil baixo, não oferece obstáculos visuais para a contemplação da imagem centralizada em meio a muitos vasos de flores. Também há um pequeno local, no lado direito do gradil, destinado a oferendas de flores e velas.

    Por essa praça, que muitos utilizam para abreviar o caminho que conduz a duas ruas de comércio, de segunda a sábado, impreterivelmente às quatro e quarenta e cinco da manhã, Paulo Fernando passava, cortando o caminho para chegar ao serviço na padaria Pão Quente.

    Paulo Fernando estuda para o vestibular e sonha em não precisar acordar tão cedo. Àquela hora, ainda madrugada, raríssimas vezes ele encontra alguém na praça ou nas ruas.

    Rotineiramente, ao passar pela gruta de Santa Terezinha, automaticamente faz o sinal da cruz e segue sonolento seu caminho.

    Sua cabeça é povoada por muitos números, pois além de trabalhar 10

    como ajudante de padeiro pesando farinha, açúcar, fermento, e medindo outros ingredientes que entram na fabricação de pães, roscas, bolos e salgados, ainda precisa decorar datas e fórmulas na escola.

    Naquela fria madrugada de vinte e quatro de agosto de 1988, mesma data do suicídio de Getúlio Vargas ocorrido em 1954, Paulo Fernando, como sempre, cruza a Praça da Igreja Matriz e, ao passar pela gruta, vê uma pessoa vestida com um casaco preto comprido atravessar a praça e subir por uma rua paralela. Quanto movimento!, ele ironicamente pensa, e já com a mão direita a caminho do sinal da cruz de todos os dias, acha que está mais sonolento que o habitual, pois por uma fração de segundos tem a impressão de que a santa está diferente. Não sabe precisar o que está fora de ordem, mas, assim como o pensamento chegou, rapidamente também o deixou, porque o relógio da matriz dava cinco badaladas e Paulo Fernando apressou o passo para não se atrasar.

    Às nove horas da manhã uma notícia sacudiu a pacata cidade: um corpo fora encontrado sob a escada lateral direita da igreja matriz. A praça fervilhava de gente e a polícia cercara o local, mas o tumulto era grande. O corpo de um homem foi encontrado pela empregada doméstica da casa paroquial, D. Ernestina, por volta das oito horas da manhã, quando ela voltava da gruta. Nos meses de agosto era responsabilidade da senhora de sessenta anos vestir a imagem de Santa Terezinha com um novo manto e também limpar e ornamentar o interior da gruta.

    Após encontrar o corpo sob as escadas, D. Ernestina entrou em pânico. A secretária da paróquia chegou ao local atraída por seus gritos e, depois de acalmá-la, chamou a polícia.

    Era o plantão do Paulo Soldado, que atendeu prontamente ao chamado da secretária paroquial, Diane, uma mocinha de dezoito anos que estava mais excitada do que nervosa. Quando "Paulo 11

    Soldado" olhou o corpo, que se encontrava posicionado de bruços e com o rosto enfiado na terra, percebeu estar diante de um possível assassinato e rapidamente tratou de notificar o delegado da cidade vizinha e a perícia.

    Assim que removeram o corpo, Paulo Soldado e os curiosos o identificaram imediatamente: era o Nélson, um solteirão de sessenta e cinco anos, um homem magro, baixo, calado e solitário, cujas grandes diversões eram a bebida e andar sem rumo pelas ruas da cidade, muitas vezes perseguido pelos cachorros vira-latas.

    Paulo Soldado acertara em cheio, a perícia concluiu que Nelsão, como era conhecido, tinha sido morto por asfixia. Em seu corpo também havia um grande hematoma no alto da cabeça e escoriações nos braços. Além disso, minúsculos pedaços de um tecido vermelho encontravam-se sob as unhas dos dedos indicadores. A hora provável do assassinato ficou delimitada entre uma e sete da manhã, mas todos apostavam entre uma e quatro e meia, pois o assassino, provavelmente, se aproveitara da escuridão.

    Alguns depoimentos foram tomados, mas nenhum culpado ou motivo que possibilitasse esclarecer o assassinato do Nelsão apareceram.

    Paulo Fernando, porém, mudou seu caminho e deixou de passar pela praça às cinco da manhã. No ano seguinte ingressou na universidade cursando Letras e raramente se lembrava do

    assassinato do Nelsão, mas como a memória é associativa, nunca se esqueceu da data: vinte e quatro de agosto!

    12

    Parte II – Vinte e três anos depois na mesma Praça (do diário de Paulo Fernando)

    Quando um homem sente-se entediado e encontra uma raposa, seu mundo torna-se colorido novamente. Foi com esse estado de espírito, observado por Paulo Mendes Campos em uma crônica, que retornei a Miriápolis. Precisava urgentemente avistar uma raposa, pois estava profundamente cansado e desmotivado para escrever minha tese de pós-doutorado. Resolvi, então, recolher-me em minha cidade natal e passar uns meses na casa de meus pais. Fiquei feliz em saber que o Luís Alberto, meu amigo de muitos anos, era agora delegado de Miriápolis.

    Dia vinte e quatro de agosto retornei a Miriápolis, mas não fui direto para a casa de meus pais, estacionei o carro em frente à Praça da Igreja Católica Matriz e, com uma ponta de nostalgia, refiz o percurso que o adolescente Paulo Fernando fazia todas as madrugadas. Quando parei em frente à gruta de Santa Terezinha, avistei minha raposa!

    Eram três horas da tarde e duas mulheres, que conhecia de vista, trocavam o manto da santa. Sentei num banco e observei o ritual: com cuidado retiravam um manto bordado de cetim. Pude, então, ver pela primeira vez que a imagem fora esculpida com um manto pintado de azul, agora muito desbotado. Para que os mantos de tecido, trocados mensalmente, pudessem ter um caimento perfeito, as mulheres colocavam primeiro uma espécie de cabide, feito de uma longa barra de ferro, que se encaixava entre os ombros da imagem e descia até seus pés. Depois de retirarem o manto de cor púrpura e ajeitarem a armação de ferro atrás da santa, vestiram o novo manto, dessa vez de um cetim verde fosco salpicado de vidrilhos prata.

    13

    Curioso, levantei-me e caminhei para mais perto da gruta.

    Nesse momento, lembranças arquivadas há muitos anos dançaram em minha cabeça. A estranheza que senti na santa, naquele vinte e quatro de agosto de 1988, explicava-se agora: a imagem estava sem a armação de sustentação do manto, por isso a santa me pareceu fora de lugar ou meio murcha.

    Cumprimentei as duas mulheres e, puxando conversa, elas me disseram que a tradição de trocar os mantos da santa mensalmente começara por um motivo prático: o azul original da pintura tinha desbotado e, para disfarçar, alguém teve a ideia de vestir a imagem; como os mantos de tecidos também perdiam a cor era necessário trocá-los periodicamente e isso acabou virando um ritual e uma atração turística para a cidade, além de uma fonte de disputa entre as beatas responsáveis pelo guarda-roupa da santa.

    Uma dessas beatas, D. Lurdinha, arquitetou a armação de ferro para que o manto ficasse majestoso e, desde então, há mais de meio século ela era utilizada.

    – E agora – perguntei-lhes com um sorriso – ainda existe disputa para vestir a santa?

    – Não, nós somos as responsáveis, ninguém tem muito tempo hoje em dia, não é?

    Concordei e me despedi, tinha encontrado minha raposa, agora precisava ir para casa.

    *****

    Minha mãe, Martinha, e meu pai, Paulo, me aguardavam com tudo impecavelmente preparado. Instalei-me no meu antigo quarto e, mal começara a tirar um cochilo, minha mãe me chamou agitada: 14

    – Paulo Fernando, Paulo Fernando, a Fátima acabou de morrer! Tenho que ir até sua casa, vem comigo?

    Fátima foi uma antiga amiga de minha avó, deveria estar beirando os oitenta anos, era viúva há muito tempo e nunca teve filhos. Acompanhei minha mãe e, de repente, me encontrei no quarto da defunta, ajudando várias pessoas a escolher uma roupa adequada para enterrá-la.

    Nessas ocasiões, há a desculpa de um motivo digno para vasculhar a intimidade alheia que objetos pessoais desvendam.

    Assim, moralmente justificados, abrimos o guarda-roupa de D.

    Fátima e bisbilhotamos suas roupas. Eram poucas: alguns vestidos, uns em bom estado e outros muito puídos, saias, blusas de lã,

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