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Dependência Química
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E-book245 páginas2 horas

Dependência Química

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Sobre este e-book

Quando o assunto é dependência química, enfrentamos diversos tabus na sociedade e também entre os próprios usuários. Muitos mitos foram consolidados em relação a esse tema e também concepções equivocadas de que, quem usa drogas é uma pessoa que não presta, um mau caráter, e por aí vai. Dependência química não é um assunto tão novo como pensamos, registros da antiguidade nos mostram que as substâncias psicoativas vêm sendo usadas ao longo dos tempos, por diversas razões e por diferentes raças e culturas. O ser humano sempre teve uma necessidade inerente a sua existência em alterar o humor, independentemente de ser portador de doença ou não. O fato é que, essa doença necessita ser compreendida, para que dessa forma, possamos fazer alguma coisa. No livro são abordados todos os aspectos da doença e suas consequências.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de mar. de 2018
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    Dependência Química - Flavio L. Barbosa

    INTRODUÇÃO

    Quando o assunto é dependência química, enfrentamos diversos tabus na sociedade e também entre os próprios usuários. Muitos mitos foram consolidados em relação a esse tema e também concepções equivocadas de que, quem usa drogas é uma pessoa que não presta, um mau caráter, e por aí vai. Dependência química não é um assunto tão novo como pensamos, registros da antiguidade nos mostram que as substâncias psicoativas vêm sendo usadas ao longo dos tempos, por diversas razões e por diferentes raças e culturas. O ser humano sempre teve uma necessidade inerente a sua existência em alterar o humor, independentemente de ser portador de doença ou não. As reflexões que sempre estabeleceu com relação à vida e a morte, o prazer e a dor, o sofrimento e o alivio, estiveram associados ao uso de substâncias psicoativas.

    Algumas tribos de nativos espalhadas pelo mundo, sempre usaram as drogas como via de acesso para entrar em contato com deuses e dessa forma, acharem respostas para a origem da existência. Várias tribos indígenas acreditam na cura através de rituais sagrados, regados a substâncias naturais alteradoras de humor. Este livro não tem a intenção de esgotar o assunto sobre dependência química, porém nele serão abordados temas inerentes à doença, bem como suas consequências. A visão que a sociedade tem hoje da dependência química é muito distorcida. Algumas pessoas não conseguem entender a doença em todas as suas dimensões. O que presenciamos são, os noticiários nos mostrando famílias inteiras sendo consumidas pelo problema. Pais que matam filhos, filhos que agridem pais, mães que abandonam bebês, mulheres e homens que se prostituem, para manter o uso das drogas. Através desses vinte anos de trabalho nessa área, já presenciei diversos casos, que assustariam até os mais familiarizados com o assunto.

    A ideia de escrever este livro surgiu também, com a demanda cada vez maior de famílias que me procuram todos os dias querendo ajuda. Pessoas completamente perdidas na vida, sendo destruídas por essa doença mal compreendida por todos. Procurei abordar todos os aspectos, a questão física, mental e emocional, o papel da religião, a fé, a codependência e outras informações importantes. Os estudos de casos que utilizei, têm como base histórias reais, contudo, a pedido das pessoas, os nomes e lugares foram trocados e algumas situações precisaram ser modificadas, para não causar constrangimento, e dessa forma não prejudicar a vida de ninguém, pois, como já foi citada, dependência química é uma doença que sofre muitos preconceitos. Tendo em vista que a doença possui características semelhantes entre as pessoas, qualquer identificação do leitor com os casos, é mera coincidência.

    De todos os problemas que o dependente químico enfrenta hoje em dia, a loucura sem sombra de dúvidas é o pior. Até poucos anos atrás, era muito comum encontrarmos adictos andando pelos corredores dos hospitais psiquiátricos, juntamente com os doentes mentais graves. Desde o surgimento das grandes civilizações até os dias de hoje, tudo o que é contra os interesses da sociedade é deixado de lado pela própria sociedade. Ignoramos o fato de sermos responsáveis por muitas das coisas que acontecem em nosso país. Quando nos deparamos com um usuário de drogas nas ruas ou em qualquer lugar, fazemos de conta que aquilo não é nosso problema, procuramos não olhar e desviamos o caminho com medo, não medo da pessoa em si, mas medo de nós mesmos, de nos tornarmos iguais.

    Qualquer dependente químico largado na vida, mostra o nosso fracasso como membros da sociedade. Vivemos uma hipocrisia em acharmos que somente os adictos usam drogas. O que falar das indústrias de bebidas, que utilizam a mídia para venderem seus produtos de forma lícita? O álcool é a droga que mais mata no mundo e é a pior de ser tratada, presenciamos pessoas se drogando a todo o momento e em todos os cantos, com drogas permitidas pelas autoridades.

    Desde que a OMS (Organização Mundial da Saúde), catalogou a dependência química como doença, uma luta vem sendo travada a fim de que, o olhar que a sociedade tem sobre o assunto mude e possamos realmente fazer algo a respeito. Uma coisa é fato, dependência química é uma doença e não escolhe status social, cor, raça ou religião, qualquer um pode desenvolvê-la.

    Capítulo 1-O que é dependência química

    1.1 Conceito:

    A organização Mundial da Saúde conceitua a fármaco dependência como, um estado psíquico e algumas vezes também físico, resultante da interação entre um organismo vivo e uma substância, caracterizado por um comportamento e outras reações, que incluem sempre compulsão para ingerir a droga, de forma contínua ou periódica, com a finalidade de experimentar seus efeitos psíquicos e, às vezes, para evitar o desconforto de sua abstinência. A tolerância pode existir ou faltar e o indivíduo pode ser dependente de mais de uma droga. O CID-10 (Classificação Internacional de Doenças) em sua décima edição traz o seguinte conceito: Um conjunto de fenômenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos nos quais o uso de uma substância, ou de uma classe de substâncias, torna-se prioritário para o indivíduo, em substituição a outros comportamentos que antes eram prioritários. A característica nuclear desta síndrome é o desejo (frequentemente forte, algumas vezes irresistível) para usar drogas (que podem ou não terem sido prescritas), álcool ou tabaco.

    Esta definição da OMS (Organização Mundial da Saúde), conceitua a doença visando o lado físico, o uso e suas consequências. Através dos anos de experiência nessa área, das observações que fiz, e nos lugares que conheci e trabalhei, observei que o dependente químico chega ao fundo de poço não somente pelo uso que faz das drogas, mas, através do seu comportamento, salientando que o uso também é um dos indicadores, todavia, não o mais importante. Dessa forma, tomo a liberdade de trabalhar com uma definição que me parece um pouco mais completa sobre o assunto: Dependência química é uma predisposição mórbida ao uso de qualquer substância, situação e comportamento, que altere o humor. É uma doença física, mental e emocional, crônica, que progride mesmo se a pessoa não usar o químico e cuja sua determinação é fatal. Dessa forma percebe-se que mesmo sem usar, a doença continua crescendo e se desenvolvendo se não for estacionada de maneira adequada. Em comparação a definição da OMU (Organização Mundial da Saúde) somente foram acrescentados Situação e Comportamento, ou melhor, a avaliação que se faz de um dependente químico deve ser pautada muito mais no comportamento e em situações que ele se expõe e submete sua família, do que no uso.

    Podemos citar um exemplo disso que estou falando; suponhamos que uma pessoa qualquer perca um ente querido, um filho por exemplo, ficará arrasada e provavelmente entrará em qualquer bar e tomará todas as bebidas que lhe aprouver, salientando que poderá fazer isso por semanas ou até meses, contudo chegará determinado dia em que ela não beberá mais e seguirá normalmente com sua vida, trabalhando, assumindo suas responsabilidades. O dependente químico não tem esse controle, se colocarmos como exemplo um adicto, que por ventura venha a perder um ente querido, um filho, dificilmente conseguirá lidar com essa situação. A forma desordenada do uso, pautada na alteração do humor, fará que com que use cada vez mais até chegar a um ponto de total impotência e frustração.

    Muito se tem estudado com relação à dependência química, as definições sobre o que é e como se processa, é alvo especulativo por parte de pessoas interessadas no assunto, porém temos que considerar que a doença deva ser observada de uma forma mais abrangente, ou seja, como uma questão social e também emocional. Fazendo isso, percebemos o ser humano de forma completa, afinal não somos somente corpo, temos sentimentos, desejos e ilusões. O modo como reagimos na vida, depende das relações sociais que estabelecemos com tudo e com todos e começa no momento em que somos concebidos.

    1.2 Implicações

    Falar sobre as implicações que o uso das drogas traz na vida de um adicto, da sua família e da sociedade é coisa muito complexa. Esse assunto será abordado em quase todos os capítulos desse livro, contudo é possível fazer uma síntese procurando abordar de forma direta os prejuízos sofridos tanto para quem usa, como para quem participa do ciclo de vida de um dependente.  A vida de um adicto é permeada por prejuízos, tanto na área mental, física e a mais importante a emocional. Reservei três capítulos para abordar somente esses aspectos que são fundamentais, para que possamos entender a dimensão do que estamos lidando quando falamos dessa doença.

    Quando o dependente está sobre efeito do químico, a mente é afetada diretamente. Distúrbios psicóticos como; crises acentuadas de ciúmes, normalmente entre os alcoólatras, paranoia em achar que tem alguém seguindo e que a polícia vai invadir a casa a qualquer momento, ouvir vozes e ver coisas, são alguns dos sintomas experienciados pelo adicto. Esses sintomas tendem a permanecer, até mesmo quando o dependente fica sem usar por algum tempo. O prejuízo mental causado pelo uso das substâncias psicoativas é imensurável. Sua implicação acarreta em filhos que acabam matando mães e pais, confundindo-os com alguém que representa alguma ameaça, maridos que assassinam mulheres achando que elas o estão traindo, entre outros. Dentre todos os sintomas mentais que acomete o adicto, o ciúme é o pior de todos. Esse sentimento continua agindo mesmo depois que ele para de usar e procura uma nova maneira de viver. Isso se dá devido à autoestima baixa, causada pela construção de uma personalidade fragmentada, regada a sentimentos de ódio, frustração e solidão.

    A personalidade se acostuma a suprimir os sentimentos com o uso das drogas. Tudo o que promove dor ou satisfação é eliminado com o uso do químico. Quando morre alguém o dependente químico usa por que está triste demais, quando alguém nasce, faz o uso porque se sente muito feliz, ao discutir com alguém e passar raiva, usa para esquecer, usa quando tem que enfrentar alguém. Precisa do químico para criar coragem quando tem que encarar alguma situação, tudo é motivo para o uso. Em consequência disso, a personalidade fica habituada a substituir os sentimentos por um efeito ilusório, ele não resolve as dificuldades da vida como se deve. Isso acaba gerando um grau moderado de imaturidade emocional, que leva o dependente químico a tornar-se uma eterna criança.

    Outro fator importante a ser analisado como implicação, é a predisposição mórbida como foi conceituada no início desse capítulo. Os problemas causados por uma pessoa que faz o uso do químico de forma descontrolada, geram prejuízos incalculáveis. Em virtude da obsessão e compulsão, o dependente se torna uma pessoa que não controla seu uso. Ele sente um desejo irresistível de se drogar e é capaz de fazer qualquer coisa para realizar esse desejo, depois que usa a primeira dose, não consegue mais parar. Trata-se de uma doença primária (Causa de todas as doenças futuras). Problemas como, cirrose hepática, hipertensão, problemas renais, problemas mentais graves e diabetes, são algumas das implicações da doença.

    De todos os prejuízos causado pela dependência química, os mais difíceis são os problemas emocionais. Os danos emocionais causados pelo modo de vida do adicto no decorrer dos anos são incalculáveis, vão desde o embotamento afetivo simples, passando pelo transtorno de personalidade de ordem social (Antissocial¹, borderline²) até chegar ao humor, transtorno bipolar (Experiência entre depressão e euforia, não consegue manter equilíbrio). Tudo é motivo de uso quando está em sua ativa, a vida passa como se não representasse nada. O adicto é uma pessoa que não aprendeu a viver, ele precisa fazer uma verdadeira reformulação em seu modo de vida e adquirir valores da qual nunca experimentou.

    Dependência química não é uma doença contagiosa, não é transmitida através do contato físico, todavia é contagiante, todos os que fazem parte, direta ou indiretamente são contagiados. A família acaba experimentando todos os sentimentos e sensações negativas que o dependente passa. Várias vezes em meu trabalho na clínica, quando realizava atividades em grupo que ocorriam aos domingos com os familiares, me deparei com situações em que os pais estavam fazendo os mesmos rituais que os filhos. Familiares que entram nas favelas e compram drogas para os filhos, a fim de evitar que eles levem um tiro. Mães que vão ao encontro de traficantes pagarem dívidas deixadas pelos filhos e dessa forma, acabam se colocando em risco. Pais que se envolvem em brigas com bandidos para proteger o dependente. Famílias que liberam o uso do químico em suas casas, criando a ilusão que, fazendo isso, nada de mau vai acontecer.

    Tem aqueles que começam a usar drogas com seus filhos, para ganharem a confiança deles e impedir que se droguem nas ruas ou nas favelas. Verdadeiras loucuras cometidas pelos familiares, sempre com a intenção de proteger seus entes queridos. A falta de conhecimento da doença e o instinto de preservação, faz com que as pessoas ajam de forma insana. Elas se iludem achando que vão conseguir resolver o problema. A questão da família será discutida com mais detalhes no capítulo VI, mas é importante frisar que a doença não é somente do dependente como a maioria das pessoas acha, a família também fica adoecida e precisa de ajuda.

    1.3 Dependência química e sociedade

    Desde a Pré-história, período denominado de Paleolítico³, onde surgiram os primeiros hominídeos⁴, os valores sociais já começaram a se consolidar. As pessoas começaram a viver em grupos e as comunidades, sentiram a necessidade de criar regras sociais de convivência. Nesse período se iniciou a imposição de alguns procedimentos, as pessoas deveriam seguir o grupo, para fazer parte do todo. Os grupos foram se desenvolvendo e aumentando suas comunidades, até se dividirem em culturas diferenciadas, etnias distintas. À medida que a civilização foi evoluindo socialmente, regras mais elaboradas foram sendo criadas. Viver em sociedade sempre foi uma necessidade do ser humano. Para que essa convivência seja harmoniosa, é necessário que se faça valer direitos e deveres para todos, mas o que dizer quando o assunto é dependência química?  Todos os dias acompanhamos nos noticiários, roubos, assaltos, mortes,

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