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Dependência E Codependência
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E-book444 páginas8 horas

Dependência E Codependência

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Sobre este e-book

Neste livro, o autor além de conceituar de forma clara e integrada, o que é Dependência Química e Codependência, narra um CASO VERÍDICO ocorrido com uma família, levando o leitor ou a leitora a se identificar, frente ao que possivelmente estaria também enfrentando. Conceitos e narrativa de um caso real relatados de forma simples e até mesmo didática, levam os leitores a refletirem profundamente sobre o assunto, fazendo emergir das profundezas de águas revoltas o “caminho das pedras”, para a busca da aceitação do problema como um todo, possibilitando-lhes a escolha de um novo caminho e por fim, do contínuo processo de manutenção da recuperação.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de jan. de 2022
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    Dependência E Codependência - João Batista Gonçalves

    PREFÁCIO

    Apesar da irmandade dos Alcoólicos Anônimos¹ ter sido fundada por volta de 1.935, o conceito de dependência química veio à tona bem mais recentemente, e somente a partir dos anos 70 foi que se desenvolveram tratamentos médicos psiquiátricos voltados à mesma. Já o entendimento e reconhecimento da codependência² emergiram da teoria do sistema de aproximação das famílias de alcoólicos e droga-adicção. Os membros do Al-Anon já lidavam com essa questão muito antes de se usar esse termo, e se verifica que não era limitado apenas às famílias de dependentes químicos. Parece-nos, porém, que não tinham uma definição formal de codependência, que é um termo que passou a ser usado por volta dos anos 70 na literatura profissional para descrever os vários padrões de comportamento, o trato da personalidade individual e em grupo, psicodinâmica da família, as desordens de personalidade etc. Há ainda incertezas, devido às diferentes orientações profissionais, à falta de um corpo sistemático de pesquisa e à existência de diferentes graus de codependência.

    Os indivíduos diagnosticados como codependentes costumam ser assim identificados quando o seu dependente, entra em tratamento. Em geral, todo programa sério de tratamento para dependência química enfatiza a necessidade do envolvimento dos pais, do cônjuge e ou de outros membros da família. As pessoas codependentes são encorajadas a entender e resolver suas questões individuais além de trabalharem para buscar soluções aos problemas de seus próprios relacionamentos familiares.

    Certamente há um significante número de codependentes que são assistidos por conselheiros ou terapeutas, embora raramente entendam o que há de errado com eles. Os problemas que os levam ao tratamento incluem depressão, fadiga, baixa autoestima, problemas interpessoais, dificuldades de lidar com filhos, com chefes e disfunção conjugal. É provável que para a maioria deles a suspeita de codependência não é considerada por aqueles que não estão familiarizados com este conceito, com essa problemática. Em geral, o tratamento é voltado aos sintomas, apresentando-se uma solução superficial e temporária. A verdadeira solução do problema normalmente envolve a aceitação pelo indivíduo, de que é codependente, seguida de uma escolha pessoal de se buscar a sua própria recuperação, engajando-se em uma profunda busca de mudanças em seus próprios comportamentos, frente à sua própria vida.

    Então, o que é codependência? Nós falamos sobre ela, escrevemos sobre ela, mas não há um critério universal de aceitação de diagnóstico. É interessante, contudo, rever a noção popular sobre essa interessante palavra. Podemos afirmar, que codependência é a resposta complexa à experiência de se ter um relacionamento íntimo, ou compromissado, com alguém que tenha um problema de dependência química ou outro tipo de desordem compulsiva. É muito comum nos filhos de alcoólicos e de usuários de drogas em geral, e provavelmente torna-se mais enraizado na personalidade de pessoas que vieram de famílias disfuncionais. Essas pessoas tendem a sofrer profundos problemas de autoestima. Os codependentes têm muita dificuldade de olharem para si mesmos e, com isso, desenvolvem uma fixação, uma obsessão em tentar controlar, mudar e ou direcionar a vida de outras pessoas. E a situação torna-se mais insatisfatória ainda, quando o indivíduo é um dependente químico. Além disso, apesar de normalmente sentir raiva pelo seu comportamento, ele tende também, a colocar as necessidades dos outros na frente das suas, de tal maneira que poucas das suas necessidades são plenamente satisfeitas. E, quando o são, muitas vezes sentem-se culpados, pois em razão da baixa autoestima, acham que não são merecedores. Tipicamente, a pessoa codependente tem grandes dificuldades de identificar ou reconhecer seus próprios sentimentos e tem uma identidade que é um reflexo do indivíduo com o qual ela está se relacionando. Compreensivelmente isso dificulta o desenvolvimento de uma relação sadia, independente e ou íntima.

    O mais peculiar é que existe um apego muito grande e uma enorme dificuldade de se tentar resolver o problema, a despeito das mais miseráveis circunstâncias. E, apesar de todas as dificuldades que enfrenta, promove seu dependente por meio da proteção, isolando-o das conseqüências reais promovidas pela sua doença e comportamento. Em decorrência desses problemas, transforma-se em um ser humano infeliz, mal-humorado, ansioso, raivoso e muitas vezes depressivo. As histórias geralmente revelam um padrão de relacionamento insatisfatório e abusivo, correndo inclusive, sérios riscos de tornar-se também um dependente químico ou vítima de uma outra desordem compulsiva.

    Com relação aos dependentes químicos, seus maiores problemas não são as drogas, mas a obsessão e a compulsão. Vontade de parar até podem ter, mas a doença não o permite. Assim, só resta a aceitação para começar o caminho da recuperação. Os dependentes embora sabendo os malefícios das drogas, relutam em deixar de usá-las por causa da autonegação. Além disto, vivem em constante luta com as suas perdas: perda do profundo e confortável contato com a mãe, na vida intrauterina; perda do colo, com a vinda de outro irmão; consciência da perda do corpo infantil com a mudança da voz na adolescência; perda de seu papel na casa junto aos pais, após casar-se; perda da companheira pelo divórcio ou morte; perda de seu espaço junto à esposa, com o nascimento dos filhos. E assim por diante...

    A natureza da dependência química também implica em várias perdas para o doente: financeira, emocional, sexual, e de outras pessoas. O dependente químico sofre perdas ainda mais acentuadas e mais graves, relacionadas à natureza multifacetada da própria doença, a qual é progressiva, crônica e pode ser fatal. Todavia, apesar dos problemas de toda ordem advindos em decorrência do uso das drogas, o relacionamento ou apego do dependente químico com as substâncias é semelhante ao apego que se tem a um grande amigo, esposa ou namorada. O luto pela perda de um ente querido pode durar até anos, enquanto a dependência química, torna-se uma maneira de vida, num contínuo relacionamento autodestrutivo. A pessoa tem a sua autoestima diminuída, com recursos internos e externos cada vez mais limitados para lidar com a complexidade da vida. A maior parte não consegue conceber um futuro sem as drogas. Porém, apesar das imensas dificuldades, a partir de um processo de rendição diante dos efeitos da droga, podem vir a fazer a escolha do caminho da recuperação. E neste novo caminho, possivelmente escolhido, à medida que a realidade, ou seja, o tratamento e recuperação se tornarem mais e mais reais, surgirão vários sentimentos tais como, vazio e angústia, os quais se transformarão em um enorme desafio -- que é o de aceitar a realidade nua e crua de viver sem drogas! Mas, ainda assim... haverá esperança...

    Este livro, escrito pelo meu amigo João Batista Gonçalves, um dos colaboradores e apoiadores de nosso grupo, baseado em relatos reais do Sr. Juliano³, no processo de recuperação de seu próprio filho e de sua família, preenche algumas lacunas existentes nas obras até então disponíveis sobre o assunto. Despretensiosa, a linguagem desenvolvida no livro pelo autor, o qual possui ampla e intensa experiência em dependência e codependência conduz facilmente o leitor, por menos familiarizado que seja, à compreensão do tema. O autor consegue tratar de forma modular o assunto, integrando Dependência e Codepedência, demonstrando de forma prática, sem teorizar, a natureza biunívoca entre elas. Por meio de depoimentos de familiares e de relatos de casos reais, documenta o processo de ambas as doenças, com suas terríveis conseqüências, se não forem adequadamente tratadas. Da mesma forma prática, leva os familiares a refletirem profundamente sobre o assunto e passa o caminho das pedras, para a busca da aceitação do problema como um todo, possibilitando a escolha de um novo caminho e por fim, do contínuo processo de manutenção da recuperação.

    Os Capítulos estão distribuídos respeitando a seguinte ordem temática, respectivamente: dos Capítulos 1 ao 3 há a transcrição de uma reunião de acolhimento em um grupo de autoajuda a familiares, em que o Sr. Juliano esclarece vários pontos de conflitos sobre as drogas e apresenta aos participantes novatos, o Programa dos Doze Passos para recuperação de dependentes e de codependentes⁴, além disso compartilha seu tempo com eles, ouvindo seus relatos e travando diálogos de extrema valia; o Capítulo 4 concentra os depoimentos do Sr. Juliano e de seus familiares envolvidos com o problema da dependência química de seu filho, por meio dos quais a vida do jovem é descrita antes, durante e após cessar o uso de drogas, iniciando-se assim, o seu processo de recuperação; No Capítulo 5, o Sr. Juliano relata seu próprio processo de recuperação da codependência, com a aplicação do Programa dos Doze Passos; O Capítulo 6 traz ricas reflexões sobre a compensação da aplicação do programa. O livro traz ainda um Apêndice contendo um Roteiro dos Doze Passos, o que facilitará a aplicação dos mesmos por parte dos familiares codependentes; os Doze Princípios professados pelo grupo de autoajuda Amor Exigente, e Leituras recomendadas.

    Além disto, chamou-me muito a atenção, o fato de se ter relatado de forma bastante apropriada a importância dos grupos de autoajuda aos familiares de dependentes químicos, além de demonstrar a complementaridade existente entre o grupo Amor Exigente e outros grupos como: Al-Anon, para familiares de dependentes de álcool e Nar-Non, para familiares de dependentes de drogas em geral.

    Dessa forma, com base em minha experiência pessoal sobre o assunto, recomendo não somente a leitura, mas sim, um estudo profundo do conteúdo e dos relatos reais contidos neste livro. Recomendo-o não somente para os familiares de dependentes químicos, mais também para os profissionais de saúde que militam nessa área. Boa leitura!

    Beatriz Ferreira da Silva


    ¹ Grupo de autoajuda, conhecido como Alcoólicos Anônimos –AA, cujos membros tinham e têm como objetivo abster-se do uso de álcool. Nos anos que se seguiram, baseados nos mesmos princípios e objetivos, se formaram vários outros grupos de autoajuda, cujas pessoas enfrentam os mesmos problemas, não necessariamente com álcool, e se encontram de forma periódica para falarem dos mesmos, para procurarem soluções em conjunto, apoiando-se mutuamente. Veja mais em www.aa.org.br

    ² O termo codependência surgiu no final dos anos 70, simultaneamente em diversos centros de tratamento em Minnesota, EUA, para referir-se a pessoas afetadas pelo relacionamento com dependentes químicos.

    ³ Exceto os nomes do autor e da Beatriz Ferreira da Silva, todos os demais que constam deste livro, inclusive o do Sr. Juliano, são fictícios. Caso algum deles seja igual ao seu, terá sido por pura coincidência.

    ⁴ Programa criado pelos Alcoólicos Anônimos, para apoiá-los no processo de Recuperação, tendo sido adaptado para codependentes, pelo autor deste livro. É um programa espiritual, porém não religioso, e vem sendo utilizado por diversos outros grupos de autoajuda.

    ⁵ Fundadora do grupo Amor Exigente São Luiz – São Paulo, cujo prefácio foi escrito em 2010. Em 2018, antes do combinado, viajou para sempre, deixando-nos totalmente órfãos!...

    INTRODUÇÃO

    Para que se fique profundamente alarmado com os problemas causados pelas drogas, basta que se faça a leitura de algumas revistas e ou jornais; que se assista em noticiários de rádio e ou televisão; que se acompanhe em mídias sociais, cujos meios de comunicação, cotidianamente tratam do assunto. Podemos constatar facilmente que no tocante à violência, que é apenas um dos reflexos da droga, a mesma deixou de ser exclusividade dos redutos de uso e do tráfico, e passou a abranger todas as camadas sociais. Como um rio de destruição, corrente e caudaloso nas periferias e também nas localidades ditas de classes médias e altas, esta correnteza sem controle vem passando e arrastando a muitos, destruindo valores e desestruturando diversas famílias. São roubos de toda ordem e acidentes com carros, motos, muitas vezes fatais. E o mais preocupante, que nos choca cada vez mais, é o fato de que algumas manchetes alarmantes, porém reais, anteriormente esporádicas, passaram a ser cada vez mais freqüentes – filho mata pai; neto mata sua avó; namorado e filha se unem para matar pai e mãe; pai mata filho usuário de drogas e poucos dias depois, morre de desgosto!...

    Evidentemente, uma coisa é simplesmente tomarmos conhecimento desses problemas, os quais, aparentemente ficam distantes de nossas famílias, outra é ter convivido ou ainda estar convivendo com um ente querido usuário de drogas. E mesmo que não tenha chegado ou não venha a chegar a um final catastrófico, semelhante ao que temos vistos nas manchetes de jornais e assistido nos noticiários, será ainda assim, uma experiência profundamente desafiadora.

    Eu, felizmente, não tive essa experiência pessoal. Porém, o Caso Real relatado pelo senhor Juliano, documenta e retrata essa experiência com o seu próprio filho, o qual pode experimentar os dissabores, as preocupações e as perdas de toda ordem, que esse problema inexoravelmente traz aos usuários e também aos seus familiares. Felizmente, no seu caso, ele, sua família e seu filho com o apoio de grupos de autoajuda e de terapeutas especializados em drogadição⁶, encontraram o caminho e depois de um enorme e sistemático esforço durante um razoável período, tiveram os problemas resolvidos.

    O senhor Juliano relatou-me, que em razão da ajuda que recebeu e da experiência que acumulou sobre o assunto, há vários anos vem trabalhando como voluntário desse mesmo grupo que lhe ajudou, cuja missão que lhe foi delegada, tem sido a de receber os familiares que ali chegam pela primeira vez. Todos eles desesperados e perdidos, sem saber o que fazer.

    Segundo ele, no cumprimento dessa missão, o seu objetivo tem sido passar para esses familiares, informações sobre toda essa problemática, como funciona o grupo e sobretudo convencê-los de que há esperança. Pois, segundo ele, a exemplo de sua própria família e de centenas de outras que também alcançaram sucesso na recuperação de seus entes queridos, também eles que aqui chegam pela primeira vez, poderão obter êxito.

    Várias pessoas de famílias codependentes às quais acompanhei e apoiei seus processos de recuperação, e também outras que assistiram minhas palestras sobre o assunto, sugeriram-me a colocar no papel, o conhecimento e experiência que eu havia e tenho adquirido sobre o assunto. A solicitação mais forte à qual acabei por obedecer, foi a da amiga Beatriz, Fundadora do grupo Amor Exigente São Luiz –São Paulo, a qual aliás, gentilmente prefaciou esse livro. E, para não deixar nenhuma dúvida sobre sua ordem, sugeriu-me que a exemplo de minhas falas, que eu escrevesse de forma simples, direta, para que fosse facilmente compreendido pelas pessoas leigas no assunto, ajudando-as a compreender o problema, além de motivá-las a iniciar e manter seus próprios processos de recuperação. E assim foi, que não tive outra alternativa, se não a de seguir em frente. Confesso que foi trabalhoso, mas ao mesmo tempo compensador, pois sinto que este livro será mais um dos meios pelos quais posso me servir, para, de forma prática e real, dizer às pessoas que estiverem enfrentando tais problemas que há esperanças.

    Assim, para que o conteúdo do livro apresentasse toda a problemática de forma prática e direta, decidi desenvolvê-lo, não unicamente com base em meu próprio conhecimento, mas principalmente a partir de relatos de experiências reais. Seguindo essa idéia, falei com um veterano voluntário de grupos de autoajuda, o senhor Juliano, o qual havia enfrentado com êxito a problemática da dependência química em sua própria família. Ele concordou de pronto e ainda agradeceu-me por poder contribuir com a divulgação de suas experiências, além do ambiente do próprio do grupo. Disse-me também, que seria mais uma forma de ser grato e retribuir toda a ajuda que recebeu.

    Assim, com a concordância do senhor Juliano, coloquei minhas mãos à obra, ou melhor, na caneta, e documentei diversos depoimentos de familiares que participaram da reunião da primeira vez, do senhor Juliano e também de algumas outras pessoas de sua própria família.

    A partir do próximo capítulo, utilizando sempre, de nomes fictícios, para manter o importante princípio do sigilo e do anonimato, há relatos reais sobre a problemática enfrentada pelos usuários e pelas suas famílias. Logo que comecei a ouvi-los, e levando em conta a recomendação da Beatriz, de que o livro fosse escrito de forma direta e simples, tomei uma importante decisão; ou seja, decidi relatar o que eu estava ouvindo e que viria a ouvir, exatamente como aquelas pessoas falavam e viriam a falar, não me preocupando nem um pouco com formalismos, mas sim evitando uma escrita rebuscada com vocabulário refinado e excesso de termos técnicos.

    Desse modo, além de fazer alguns comentários e pequenas explicações quando da passagem de um assunto para outro, na verdade, no que se refere ao conteúdo dos depoimentos, minha contribuição foi bastante modesta.

    O livro está estruturado e escrito de uma forma bastante objetiva, simples e direta, e embora constituir-se em um todo integrado, permite a cada leitor ir primeira e diretamente a um determinado capítulo ou assunto que venha a atender as suas necessidades mais prementes, deixando para um segundo momento uma leitura mais completa. Fundamentalmente o livro é composto por depoimentos, os quais passam toda a realidade dos problemas que o senhor Juliano e sua família enfrentaram, assim como o caminho das pedras, sobre o qual caminharam para recuperar o filho, a ele mesmo e a sua família. Boa leitura!

    João Batista Gonçalves


    ⁶ Significa dependência física e psicológica de drogas; vício. Consumo excessivo e insistente de drogas, de substâncias entorpecentes e alucinógenas, que causa dependência. Etimologia (origem da palavra drogadição). Droga + adição, do inglês addiction consumo excessivo.

    ⁷ Estamos agora no final de 2021, momento em que estou preparando a reedição deste livro; e, em relação à Introdução escrita no início de 2010, tenho duas informações. Uma ruim e outra boa. A ruim é que em relação ao cenário descrito, decorrente das drogas, se ocorreram mudanças, infelizmente foram para pior. A boa é que há pouco tempo falei com o Sr. Juliano, o qual me informou que sua família continua em seu processo de recuperação, sendo que seu filho dependente químico está há cerca de 23 anos limpo, sem uso de drogas, tocando sua vida e lhe deu dois lindos netos!

    CAPÍTULO I

    REUNIÃO DE ACOLHIMENTO NO GRUPO DE AUTOAJUDA

    Aos de primeira vez

    Ao chegar ao salão de reunião geral do grupo de autoajuda freqüentado pelo senhor Juliano, surpreendi-me com a quantidade de pessoas que lá se encontravam, creio que havia pelo menos umas setenta. Até que se iniciasse a reunião fiquei observando-as e pude ver e concluir que haviam pessoas de todas as classe sociais, de várias raças, e certamente de diferentes religiões. Pude observar também, que várias delas aparentavam uma aparência de preocupação, ansiedade e de expectativa, enquanto outras conversavam de forma descontraída, deixando transparecer uma certa tranqüilidade, um ar de segurança, de serenidade. Passei então, a analisá-las e classificá-las mentalmente, em função da aparência de seus semblantes, de suas posturas corporais, gestos e da forma com que falavam, umas tímidas outras animadamente. De modo que pude agrupar pessoas que estavam possivelmente vindo pela primeira vez, pessoas que estavam freqüentando o grupo já por algum tempo e possivelmente já teriam encontrado o caminho para buscar uma solução, e finalmente aquelas pessoas que tudo indicava, já teriam obtido êxito em suas empreitadas. Possivelmente seu ente querido já havia entrado em recuperação e elas mesmas também já se encontravam no mesmo processo. E agora, estavam ali, não mais para pedir ajuda, mas por gratidão ao grupo, ajudar aos que estavam chegando...

    Às vinte horas em ponto, uma senhora que se apresentou como Berenice, aparentando ter cerca de 60 anos, deu início à reunião, dizendo ser uma codependente em recuperação, cujo marido já estava limpo, sem uso de nenhuma droga, há 25 anos. Através de seus gestos e modo de falar, passava para as pessoas ali presentes, inclusive para mim, uma enorme tranqüilidade e ao mesmo tempo, esperança. Na verdade, uma grande paz de espírito. Falou por volta de uns 15 minutos, tempo que aproveitou para dar as boas vindas para os iniciantes e motivar não só a eles, mas também aos demais presentes, inclusive os veteranos.

    Após essa rápida fala, apresentou os demais coordenadores, inclusive o senhor Juliano, e dividiu toda aquela gente em diferentes grupos. Os de familiares que estavam ali pela primeira vez; os de familiares, cujos dependentes estavam ainda na ativa; os de familiares, cujos dependentes já se encontravam em tratamento e os de familiares, cujos dependentes já tinham retornado do tratamento.

    Eu, em razão de meu objetivo, acompanhei o senhor Juliano para a sala, na qual se realizaria a reunião de acolhimento aos de primeira vez, coordenada por ele. E assim se seguiu...

    Quebrando o gelo

    Sejam bem vindos! Meu nome é Juliano, sou um codependente em recuperação, pai de um dependente, e freqüento este grupo de autoajuda há mais de doze anos. Cheguei aqui acometido de profunda dor e desespero, depois de várias tentativas, sem sucesso. Continuo vindo por amor; primeiramente a mim, à minha família e a meu filho que é dependente químico em recuperação. Continuo vindo, também, por gratidão e com o objetivo de retornar ao grupo, principalmente a vocês que estão aqui pela primeira vez, a ajuda que recebi e continuo recebendo.

    Hoje, para nós, vocês são as pessoas mais importantes; e por vários motivos. Primeiro, porque tiveram a coragem de dar um passo adiante para encontrar uma solução para seus problemas. Segundo, porque demonstram coragem semelhante à que tivemos. Terceiro, porque os seus depoimentos não nos deixam esquecer de como estava a nossa situação quando aqui também chegamos, nos permitindo uma autoavaliação e a percepção do quanto já caminhamos. Além disto, nos serve de incentivo para continuarmos trabalhando, para não entrarmos em recaída e voltarmos ao ponto zero novamente...

    Hoje, primeira vez de vocês, vou passar informações básicas sobre contra o que exatamente estamos lutando, o que é a doença da dependência química, a problemática que envolve a família e como funciona este grupo de autoajuda. Não se trata de passar nenhuma fórmula mágica ou receita de bolo, porque não há. O que existe é um processo, que uma vez entendido, trabalha-se e depois de um certo tempo colhe-se os bons resultados. Desde o início vem dando certo para mim e para minha família, e também para inúmeras outras pessoas que conheço. Poderá ser também assim com vocês. Dependerá apenas de boa vontade, persistência e permanente esperança. O que não puderam fazer e resolver sozinhos, com ajuda do grupo, assim como eu e minha família, vocês também conseguirão. Eu tenho plena certeza disto.

    O Poder do negócio das drogas

    Por toda a minha vida, desde que me conheço por gente, até antes de entrar em contato com esta problemática, meu conceito sobre quem usava qualquer tipo de droga era altamente preconceituoso. Foi-me ensinado e eu concordava, que era coisa de pessoas de fraco caráter, vagabundas e de sem vergonhas. Eu, apesar de me ter como uma pessoa privilegiada educacional, social e culturalmente falando, era totalmente ignorante sobre o assunto drogas; quer sobre suas causas e conseqüências nos usuários e em suas famílias, quer quanto ao poder econômico que está por detrás desse grande negócio.

    Isto mesmo. Vim saber que o que está envolvido, e que fomenta a droga é na verdade uma atividade empresarial altamente organizada, lucrativa e poderosa. Os três maiores negócios do mundo, os quais movimentam o maior volume de dinheiro, por ordem decrescente são: o Petróleo, o Armamento e as Drogas.

    Na verdade, são empresas altamente organizadas, que investem em pesquisas e desenvolvem constantemente novas drogas sintéticas. Além disto, potencializam drogas já existentes. A maconha, por exemplo, atualmente é muito mais potente do que era nos anos 60 do paz e amor dos Beatles.

    Essas empresas, além de seus departamentos de pesquisas, têm também, como qualquer outra organização, seus Departamentos de Marketing, Comerciais etc., com o objetivo de criar estratégias de divulgação, distribuição e venda das drogas. Na verdade, o negócio drogas tem uma logística de distribuição invejável a qualquer outro produto. Ela é distribuída e pode ser encontrada em todos condomínios, em todas as escolas, em todas as boates, em vários pontos de nossas ruas; em todos os bairros; em todas as cidades; em todos os Estados; em todos os Países. Ela pode ser encontrada até mesmo no campo, na roça. E, além de todas essas possibilidades, há inclusive serviços de delivery.

    Essa perfeita logística de distribuição da droga nos leva a concluir que não adiantaria em nada fazermos o que chamo de fugas geográficas... Não teríamos resultados positivos, se mudássemos de condomínio, de rua, de bairro, de cidade, de estado ou até mesmo de país. Se tivermos um problema com droga, para qualquer lugar que eventualmente formos, vamos encontrá-la ou ela virá ao nosso encontro muito mais rápido do que poderíamos imaginar. Assim, a única coisa que podemos fazer é enfrentar o problema onde estivermos.

    O negócio droga, em razão do grande volume de dinheiro envolvido, acaba corrompendo e colocando a seu serviço, pessoas que nem poderíamos imaginar. No Brasil, tivemos a CPI do narcotráfico, pela qual puderam ser identificadas várias personalidades envolvidas, inclusive alguns empresários, policiais e políticos.

    Com relação a esse grande poder, não há muito que possamos fazer, principalmente de modo individual. A única arma que nos resta é lutar no âmbito de nossas famílias, com os objetivos de prevenir quanto aos que ainda não usam, para que não venham a usar e de recuperar os que já são dependentes. Se cada família vier a fazer a sua parte, haverá esperanças. Até porque, enquanto houver usuários de drogas, teremos fabricantes e traficantes... No fundo, a meu ver, quem alimenta o narcotráfico são os próprios usuários...

    Além disto, há uma propaganda diuturna e permanente para usarmos alguma coisa. Quem já não ouviu e viu: Deu um duro, tome um... ; Não dá para tomar uma.... antes?; Experimente, experimente...; Beba com moderação"...

    Somos permanentemente incentivados a usar alguma coisa, além de sermos uma geração que foi criada e treinada para não sentir nenhum tipo de dor. Nem física e muito menos emocional, psicológica. Para tudo há um comprimido; com receita ou não, temos acesso fácil. É tão marcante esta prática, que apesar da Organização Mundial da Saúde indicar cerca de 450 tipos de medicamentos essenciais, certamente temos um número muito maior disponível nas farmácias. Basta olharmos para as prateleira⁸.

    Recentemente eu ouvi uma pessoa dizer, que além dos filmes, novelas, revistas, jornais, rádio, televisão, outdoors etc., nos incentivarem a usar alguma coisa, a própria Literatura Infantil, certamente não intencionalmente, nos incentiva desde muito cedo a fazer uso de algo... A tia Anastácia, usava o pó de perlimpimpim⁹ para fazer uma viagem; a Alice, para se transportar para o país das maravilhas toma uma poção mágica; o Peter Pan, para viajar à terra do Nunca, também faz uso de algo; e o caso mais clássico é o do Popeye. Ele é fraco, apanha do Brutos a todo momento e é tão feio a ponto de não conseguir conquistar uma namorada. Mas, quando ingere uma dose de espinafre tudo muda, e para melhor... Seus músculos crescem, ficam fortes, poderosos, dá uma surra e derrota totalmente o seu rival Brutos. Ainda de quebra, fica bonito, sedutor, extrovertido e conquista a namorada Olívia Palito...

    Na verdade, nos é vendido cotidianamente, desde a nossa tenra idade que para sermos vencedores, bonitos, sedutores e poderosos, temos que usar alguma coisa, alguma substância. E que aqueles que não usam, não estariam com nada!...

    Mas a final, o que é droga? Do ponto de vista psicológico, podemos entender as drogas como uma grande muleta, a qual podemos usar, na tentativa de fugirmos e não enfrentarmos o verdadeiro problema. No que se refere às substâncias, pode ser considerado como droga, tudo aquilo que podemos estar usando, mesmo sem o saber conscientemente falando, mas que podem vir a nos causar uma dependência psicológica e/ou química. Estou falando da maconha; da cocaína; do craque; do êxtase; do ice; da heroína, da morfina, etc., e do álcool¹⁰, que, por ser aceito socialmente torna-se a pior das drogas. Também estou falando dos comprimidos que podemos comprar com grande facilidade e licitamente nas farmácias. Há comprimidos para emagrecer, para engordar, para dormir, para ficar desperto, para ficar sarado, para todas as dores etc. Falo também das doses de whisky, das cervejas etc., que muitas vezes diariamente o executivo no final de um exaustivo dia, ingere buscando superar o stress, e que à medida que o tempo passa, vai se aumentando as doses e a freqüência, até que se transforma também em uma dependência... Dentre essa grande relação de drogas, compreendidas como veneno e que portanto, matam, não podemos esquecer o cigarro, o qual é responsável por grande parte das mortes evitáveis, decorrentes de câncer no pulmão, garganta etc.. Na verdade, apesar de todos nós em geral nos preocuparmos primariamente com as drogas ilícitas, temos que prestar muita atenção com o álcool e o cigarro, uma autêntica dupla mortífera!

    A pergunta que fica e que não se cala é: se as drogas fazem tanto mau para as pessoas em todos os aspectos de suas vidas – físico, emocional, espiritual, social e econômico, porque então continuam sendo usadas? Seriam as pessoas usuárias, fracas de caráter? Vagabundas? Sem vergonhas?

    Dependência Química – uma doença

    Soube também no grupo que existe uma doença chamada dependência química¹¹, a qual afeta cerca de dez por cento da população mundial. Essas pessoas têm o organismo diferente do meu e possivelmente do seu. Elas nascem com a predisposição orgânica, e, assim que experimentam uma certa substância, a doença acorda e se desenvolve. É uma doença totalmente democrática, pois não escolhe, raça, religião, estado social, e ou região do mundo. Ocorre nos palácios, e em todas as classes sociais –A, B, C, D..., assim como ocorreu na minha própria família e possivelmente nas suas.

    Até então posso afirmar que não sabia quase nada sobre esse assunto e me encontrava razoavelmente despreocupado. Não tive essa experiência na minha família próxima – pai, mãe e irmãos, e achava

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