A Menina Que Falava Com Deus

De Renata Cagnin

Quando Victória escutava: “Tudo tem seu tempo”, “Deus sabe o que faz”, “você encontrará alguém quando estiver preparada”, “tenha paciência”, “Deus sabe o que é melhor para você”, e tantas outras frases motivacionais, ela simplesmente ignorava. Ela, uma mulher de trinta e cinco anos, não acreditava mais no amor e se sentia esquecida por Deus. Vick, como gostava de ser chamada, não entendia o porquê da repetição de tantas decepções em sua vida, e incansavelmente questionava o que Deus queria dela. Até que um dia, Victória foi desafiada por Deus a entender o verdadeiro amor e, se concordasse, todas as suas perguntas seriam respondidas. Porém, para que isso acontecesse Victória teria que confiar naquele que, segundo ela, a havia esquecido. Ela não tinha nada a perder, e assim que aceitou, seus caminhos foram guiados ao encontro de Khalid, um árabe que ela conhece em uma viagem à Buenos Aires. A teoria vira prática quando Victória se apaixona e, sob a orientação de Deus, começa a entender o significado das frases que antes ignorava. Um romance improvável, mas que inegavelmente surgiu de uma força maior que a atraía para ele. Quanto mais se envolvia com Khalid, mais se aprofundava em si mesma e, surpreendentemente, começou a conhecer o amor que Deus tanto lhe falava. É uma jornada para entender o verdadeiro amor, o que Deus espera de nós, e de como os caminhos Dele estão sempre certos, mesmo quando nos parecem errados. Um amor diferente do amor que estamos acostumados, que nos eleva à vibração do amor, à parceria, à amizade, à doação e a questionarmos nosso medos, anseios e prioridades. Um romance transformador.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 10 de dez. de 2018

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A MENINA QUE

FALAVA COM DEUS

Um romance que acolherá até os corações

mais desacreditados

RENATA CAGNIN

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SUMÁRIO

A força contrária............................................................... 15

A cegueira...... .................................................................. 24

O sinal............................................................................... 28

Materializando.................................................................. 32

O quebra cabeça Universal............................................... 37

A entrega........................................................................... 45

O menino do oriente......................................................... 53

Imã. .................................................................................. 64

Mais forte do que eu......................................................... 78

Improvável combinação....................................................89

O agora..............................................................................103

A tempestade.....................................................................112

Um lugar seguro................................................................117

O retorno...... .....................................................................124

Revolta................................................................................128

Um olhar realista................................................................132

Luz e sombra......................................................................139

Desafiando o ego................................................................146

3

O inesperado ....................................................................152

O desejo de coração .........................................................158

Medo .................................................................................169

Reencontro.........................................................................174

Sem máscaras ................................................................... 184

Nada de planos .................................................................194

Incerteza ...........................................................................202

Vulnerabilidade .................................................................208

Prova de fogo ....................................................................211

Um sopro ...........................................................................219

Zona de conforto ...............................................................224

O desejo pela verdade ........................................................233

Que seja o melhor ..............................................................239

A desconstrução .................................................................242

A sua verdade....... ..............................................................251

Colapso ...............................................................................258

A marca ..............................................................................264

Um grande presente ..........................................................274

Abre-te Sésamo ..................................................................283

Desconforto .......................................................................291

Reação ...............................................................................297

O fim não desmerece o meio ............................................306

O cubo ...............................................................................311

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A morte ..............................................................................322

Confirmação ......................................................................325

Uma nova história .............................................................329

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AGRADEÇO inicialmente a Deus e a todos

aqueles que me guiam na espiritualidade e acolhem meu coração nos momentos

difíceis. AGRADEÇO, também a todos que

cruzaram a minha vida e me ajudaram a realizar esse sonho chamado A MENINA

QUE FALAVA COM DEUS.

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PRÓLOGO

EU NÃO SABIA ONDE ESTAVA. Meus olhos não cansavam de olhar aquela magnifica construção, era absolutamente hipnotizante. Colunas gigantes feitas com pedras com tonalidade rosada, que cercavam ruínas do que parecia ter sido um templo de dimensões gigantescas. Que lugar era aquele?

Olhava ao redor e via mulheres usando lenços na cabeça, turistas tirando fotos, e um guia que tentava explicar, em um espanhol difícil de entender, o que era aquele lugar. As ruínas me lembraram a Roma antiga, será que eu estava na Itália? Não, era muito árido, o ar muito seco, não havia vegetação, sol escaldante.

Imaginei que poderia estar em algum lugar no Oriente Médio.

Estranhamente isso não importava, não estava preocupada com o tempo nem como o local, naquele momento só desejava continuar olhando.

Seguia o grupo liderado pelo guia, mas não estava prestando atenção no que ele dizia e, por vezes ficava para trás. Escutava pessoa falando uma língua que eu desconhecia, nunca meus ouvidos haviam escutado algo como aquilo e estava envolvida em toda aquela atmosfera incomum.

Quem será que havia vivido ali? Como era a vida dessas pessoas? Como era aquele lugar antes de ser destruído? O que havia acontecido?

Meu coração batia forte, emoção talvez? Não percebi quando as pessoas do grupo demonstraram inquietação. Ouvi 9

algumas palavras ditas em tons mais altos, mas estava hipnotizada.

Alguém do grupo tocou meu ombro e apontou para o lado oposto de onde meus olhos estavam fixos e, foi nesse momento que me senti a menor das criaturas.

Uma nuvem de poeira de dimensões enormes e cor de areia aparecera cobrindo todo o horizonte. As nuvens se movimentavam em uma velocidade impressionante, como uma onda gigante, porém seca. Pessoas começaram a correr e escutei gritos de pavor. Era uma tempestade de areia que se aproximava rapidamente. Meu primeiro pensamento foi Deus. Somente Ele poderia fazer algo com tamanha grandeza, poder e violência. Olhar para aquele fenômeno natural ativou uma parte do meu cérebro que eu desconhecia: medo da grandiosidade. Eu nunca havia visto nada parecido. Não há como descrever o que eu senti diante daquele mar de areia infinito.

Digo infinito porque eu não conseguia ver um fim. A nuvem seca encobrira tudo que podia enxergar. Não tinha referência de algo tão poderoso e talvez por isso, não conseguia tirar meus olhos daquela gigantesca cena de terror. Por onde a nuvem passava, apagava a história, a civilização, a paisagem e até o horizonte. Tudo ficava invisível. Não havia mais um começo e um fim, havia somente areia e vento.

Quando senti o vento em meu rosto, me dei conta de que precisava me abrigar. Institivamente fechei os olhos que estavam ressecados e me voltei para o templo a fim de me proteger do vento.

Olhei ao redor e todas as pessoas haviam desaparecido. Estava sozinha em meio à força mais violenta que já tinha presenciado. O

que eu, um ser minúsculo, poderia fazer frente a toda aquela força?

Não havia nada ao redor a não ser ruínas. Uma onda de terror tomou conta de meu corpo e da minha mente e eu só conseguia pensar na morte e no estrago que a tempestade faria assim que atingisse meu corpo.

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Em desespero, meu instinto de sobrevivência me tirou do transe. Avistei ao fundo um vulto, lutando contra o vento, indo em direção à parte mais conservada das ruínas. Corri o mais rápido que pude na mesma direção. O vento, que batia em minhas costas, me empurrava para frente, ajudando a me movimentar e fazendo com que subisse as escadas que levavam às ruínas rapidamente. Olhei ao redor e não vi ninguém.

Minha lógica dizia para que eu ficasse perto das ruínas, afinal se elas ainda estavam em pé, seriam fortes o suficiente para aguentar uma tempestade de areia.

Olhando de frente para o templo, percebi uma pequena porta à esquerda entalhada na pedra. Não pensei duas vezes e fui até lá, porém, não era uma porta, apenas uma moldura nas paredes firmes de pedra.

Precisava pensar rápido, muito rápido e, no desespero de sobreviver, sentei atrás de uma das colunas. Eu não me sentia protegida lá, mas não conseguia pensar em uma outra solução, já estava difícil se movimentar devido à violência com que o vento soprava. Coloquei minha cabeça entre as pernas e comecei a chorar.

Senti toda a insignificância do meu ser perante o poder de Deus representado por aquela tempestade. O quão mágica e rápida era a vida e o quanto eu a havia desperdiçado ficando longe do que realmente importava.

Outro pensamento veio à minha cabeça. Por algum motivo, sempre achei que morreria cedo, mais precisamente aos 35 anos, exatamente a idade que completaria no final do ano seguinte e, senti um aperto no peito. Será que algo aconteceria naquele dia que motivaria a minha morte dali um ano?

Desfrutei dos sentimentos que antecedem a morte e tinha consciência que somente Deus poderia me salvar. Eu não havia convivido muito com Deus durante a minha breve vida e me 11

arrependi profundamente. Lágrimas ainda escorriam quando milagrosamente, senti paz. Independente da minha ausência, eu sabia que Deus estava bem perto de mim, sentado ao meu lado, passando por todo o meu desespero junto comigo e, podia sentir sua compaixão dentro do meu coração, apesar de não merecer.

Talvez Ele não pudesse me salvar, ou mesmo aliviar uma situação que eu precisava passar, mas ali, no meio do nada, eu não estava sozinha, porque Ele estava comigo e isso me fez chorar ainda mais.

Eu nunca o havia sentido tão perto e, mesmo sem ser digna de pedir nada, rezei: "Deus, me perdoe por não perceber sua presença durante minha vida. Não sei se sou digna de seu acolhimento, mas agradeço de coração a sua presença agora. Eu realmente não sei o que fazer, coloco minha vida em suas mãos e ficarei aqui confiando que, se eu for merecedora, você me protegerá".

Não conseguir conter minhas lágrimas. Tinha muito amor em meu coração, um amor que eu nunca sentira, um amor por ter me rendido à vontade Dele e, com isso, conhecer todo o Seu acolhimento. Não estava com medo, Ele estava ao meu lado e, nada mais importava.

As partículas de areia já batiam em meu corpo desprotegido por causa das roupas de verão que pouco cobriam minha pele. Podia ouvir o barulho de coisas maiores do que grãos de areia batendo na parede de pedra na qual me abrigava e, não demoraria para a tempestade atingir aquele lugar.

Senti uma mão tocando minha pele e abri os olhos assustada.

Um homem, com o corpo todo coberto por uma túnica branca puxava meu braço para que eu me levantasse. O rosto dele estava todo coberto por um lenço também branco que deixava somente seus olhos castanhos à mostra. Assim que me levantei, ele segurou meu braço e corremos para mais perto do templo. Meu corpo doía com o impacto da areia e eu só queria me proteger daquela agressão.

Um pouco mais à frente de onde eu estava, havia uma entrada, pouco visível, para o que parecia ter sido uma pequena sala. A 12

parede da frente, parecia oculta aos meus olhos uma vez que, sem a sombra da luz do sol, não era possível perceber que ali havia um abrigo melhor, era exatamente da mesma cor do restante do templo e, construída com as mesmas pedras.

O lugar não tinha teto, mas as paredes da frente eram altas e nos protegiam do vento. Ele fez um gesto para que eu me sentasse no canto da sala, de costas para a tempestade, encostada da parede que receberia de frente o impacto, dando assim, mais proteção. Em seguida tirou o lenço que cobria seu rosto e o colocou em mim. O

lenço dele estava úmido, e senti um alívio imediato no meu nariz ressecado pelo vento e por respirar tanto tempo um ar cheio de areia.

Então, por poucos segundos, pude ver seu rosto, o tempo que demorou para que ele puxasse sua túnica até cobrir a cabeça.

Eram traços típicos de homens do Oriente Médio.

O barulho de coisas batendo na pedra e do vento me fizeram perceber que havia chegado o momento. Ele colocou meus braços ao redor dos meus joelhos, pegou minha mochila e colocou perto do meu rosto, para que eu a segurasse visando proteger minha cabeça e, depois disso, eu só senti o ar ficando pesado, a força impiedosa do vento e o barulho ensurdecedor da areia batendo em tudo que entrasse em seu caminho.

No auge da tempestade, acordei ofegante em meu quarto.

Demorou um tempo para que eu me localizasse e entendesse o que tinha acontecido. Sair de uma tempestade de areia e acordar em sua cama é bem confuso, mentalmente falando. Aquele tinha sido um sonho muito estranho, estranho por ser muito real.

Normalmente quando acordo, não me lembro do que sonhei, mas naquela manhã, eu lembrava de cada detalhe.

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Levantei porque não resisti à curiosidade. Abri o computador e digitei: ruínas romanas no Oriente Médio. Vários resultados apareceram. Cliquei em várias imagens e uma delas me chamou a atenção: Jerash, Jordânia. A cor das pedras da ruína era bem parecida com aquela que eu havia visto. Procurei outras fotos daquele lugar e uma foto fez com que eu literalmente pulasse da cadeira: Nymphaeum. Em minha mente, era nesse lugar que eu estava.

As colunas, a lateral onde me escondi, tudo fazia sentido. O lugar que eu estive no meu sonho realmente existia. O

que será que isso significava? Inicialmente pensei que talvez fosse fazer uma viagem para esse lugar ou algo superficial como isso. O

que eu não sabia, era que esse sonho previa uma transformação completa em minha vida, transformação esta que só entendi muito tempo depois.

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CAPÍTULO I – A FORÇA CONTRÁRIA

- JORDÂNIA? Nossa que sonho estranho amiga. – Disse a Bia assim que liguei para ela contando o que havia acontecido.

- Eu também achei muito estranho. Parecia que eu realmente estava lá. O lugar que me escondi da tempestade de areia, as colunas, as escadas, tudo! O que será que isso quer dizer?

- Eu não sei mas aposto que você quer ir para a Jordânia, não quer?

- Claro que pensei nisso, aliás foi a primeira coisa que pensei.

- Vick, se você for para a Jordânia eu também vou!

- É impossível amiga, minhas finanças não permitem...

- Eu também não tenho dinheiro agora. – Disse a Bia lamentando. - Pode ser que você tenha experimentado uma projeção astral.

- Pensei nisso também. Será que quer dizer alguma coisa?

- Você recebeu alguma mensagem? Deus, quando estava ao seu lado, antes da tempestade chegar, te falou alguma coisa?

- Não. Só ficou ali comigo.

- E o tal homem que te tirou de lá?

- Também não.

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- Estranho esse homem aparecer e te tirar da tempestade.

Será que você vai conhecer alguém? Será que algo vai acontecer para te tirar da tempestade em que você está? Porque você sabe que sua vida está parada, você não se envolve com ninguém de verdade, vive escolhendo caras errados, nunca desapega dos caras que você gostou, vive no passado, se preocupa muito com sua imagem e não percebe as coisas que você tem que mudar. De uma coisa eu não tenho dúvida, você definitivamente está passando por uma tempestade.

- Nossa amiga, obrigada por me lembrar da minha deliciosa e agradável experiência atual!

- Você sabe que eu falo a verdade.

- Tem razão. Mas você acha que eu estou nessa porque eu quero? O que eu posso fazer? Eu tento me envolver, mas eu tenho dedo podre. Todo cara que eu escolho me troca por outra. Você sabe disso.

- Já te disse, você não percebe como é seca com as pessoas.

Não fala dos seus sentimentos, finge que está bem quando na verdade está morrendo por dentro, sempre está com esse sorriso falso por fora. O cara pode te humilhar que você está sorrindo. O

cara pode te fazer de idiota que você vai falar com ele como se nada tivesse acontecido, como se você não gostasse dele, como se nada te abalasse, isso não é saudável e nem verdadeiro. As pessoas sentem toda essa mentira. Você nem consegue ser você quando você conhece um cara. É muito medo de ser quem você é.

- Tá, já posso me matar agora?

- Está levando chibatada e sorrindo. É perfeito para ser serva. Não reclama, não se importa com nada, está sempre bem.

- Aff Bia, quanta compaixão!

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- Sério amiga, você tem que acordar. Tem alguma coisa errada aí. Se você acha que tem que fingir ser outra pessoa para alguém se interessar por você, que não deve demonstrar sentimentos, tem algo de errado na sua visão sobre você. Talvez as pessoas erradas que permitiu em sua vida, tenham deixados marcas profundas em você. Talvez, você tenha acreditado que você é essa pessoa que você finge ser e não sabe quem você é. Você tem que investigar.

- Mas é justamente isso que eu estou tentando fazer todos esses anos no nosso trabalho de autoconhecimento. Estamos juntas há três anos? Eu ainda não sei como fazer isso.

- Eu também não sei amiga. Você sabe que eu também tenho dificuldades. Sou controladora, mandona, acho que sempre estou certa e por mais que eu estude, medite, leia, eu também não sei o que fazer para mudar. Acho que é assim com todo mundo.

Pede para Deus te ajudar. Já que você O viu no seu sonho, já que você sentiu compaixão vindo Dele, talvez Ele queira te mostrar que está ali se você quiser a ajuda Dele.

- Amiga, agora vou ter que desligar, já estou chorando.

- Está percebendo que mesmo comigo você esconde seus sentimentos? Porque tem que desligar para chorar? Você nem consegue chorar na frente dos outros!

- É ... que... já não estou conseguindo mais falar...

- Tudo bem amiga. Pense sobre isso. E fale com Deus, talvez Ele queira te dar um recado. Qualquer coisa me liga. E se tiver uma brecha pergunte de mim também. – Disse ela brincando.

- Tá bom. Te ligo mais tarde.

Eu não podia dizer que descordava da Bia, era justamente isso que eu tinha descoberto durante os últimos anos em que fiz 17

esse trabalho de autoconhecimento, porém descobrir não é entender. Eu percebia que mudava quando havia algo que me interessava, a Bia já havia me mostrado isso várias vezes, no exato momento em que eu estava fazendo, mas para mim, eu era a capa.

Eu observei que a capa me dava orgulho, ninguém sabia quando eu estava triste e assim, ninguém me atingia. Eu me via como uma pessoa boa, prestativa, uma boa amiga e achava que por isso as pessoas se aproximavam de mim. O que era servidão para a Bia, era perdão para mim e, perdoar não é divino? Eu tinha a sensação que não ia gostar do que estava embaixo da capa e muito menos os outros. Então eu, em sã consciência, podia abdicar dessa capa se, para mim, a capa era tudo que eu tinha?

Já a secura era um problema ainda maior, invisível aos meus olhos. Talvez a secura fosse um mecanismo para que eu não visse que a capa não estava funcionando porque se eu percebesse isso, eu teria que entrar em contato com quem eu realmente era. Eu não percebia quando era seca com as pessoas.

Eu estava confusa. Em meu quarto, pensando em tudo que a Bia havia me dito e também naquele sonho estranho, resolvi meditar. Eu precisava de uma orientação. Por toda a minha vida me ensinaram que ser uma pessoa boa agradaria os olhos de Deus e, por outro lado, parecia ser isso que estava me jogando na lama. Como resolver isso?

Eu chorei porque me vi em um beco sem saída.

Tudo parecia muito confuso. Eu não sabia o que fazer, não sabia para onde ir, não achava respostas em lugar nenhum. A única coisa que me vinha à cabeça era meditar. Lembrei do que muitos estudiosos diziam: "Para falar com Deus, ore, para escutá-lo, medite".

Fechei meus olhos e pensei na sensação que tive em meu sonho quando Deus estava sentado ao meu lado. Fora uma sensação majestosa, incomparável com qualquer outra que sentira em minha vida. Não havia medo, não havia rancor e principalmente não 18

haviam dúvidas, eu estava certa de que independentemente do que fosse acontecer comigo, eu estaria em total e absoluta paz. Então imaginei Ele ao meu lado novamente e pedi com todo o meu coração: Deus, eu não sei o que fazer, mas eu não aguento mais. Minha cabeça está muito confusa e eu não consigo ligar os fatos. Deve ter algo de muito errado em mim porque nada funciona, nada dá certo. Porque? Por favor me ajude, por favor me mostre, eu estou perdida.

Tentei me acalmar. Meu peito ainda estava ofegante por causa das lágrimas e iniciei uma respiração profunda e lenta.

Procurei esvaziar minha mente. Fiquei assim por alguns minutos até que senti que minha respiração havia voltado ao normal e, quando tudo estava mais calmo, uma energia boa invadiu o ambiente. Tentei somente sentir essa energia.

A energia atingia diretamente meu coração e cheguei a esboçar um leve sorriso causado pela sensação boa daquela energia. Fiquei quieta sentindo e impedindo que pensamentos entrassem sem minha autorização. Mas nada vinha em minha mente, um silêncio gostoso e ao mesmo tempo agoniante. Eu continuei ali, tentando escutá-lo, mas nada aconteceu. Esperei, esperei, até que percebi que nada aconteceria então, abri os olhos:

- Eu realmente não sei o que eu fiz para você Deus.

Eu devo ter sido uma pessoa muito ruim em outra vida, só pode ser isso. Você nunca está disponível para me ajudar, sempre tira tudo que eu tenho, e não permite que eu tenha nada. Sempre que gosto de alguém, você o tira da minha vida. Eu nem sei porque resolvi pedir sua ajuda. Desde sempre foi assim. Eu amava tanto aquele menino, eu realmente tinha uma conexão com ele, mas você o tirou de mim, mandou ele para bem longe, para outro país. Mesmo assim eu me esforcei, eu sempre me esforcei para ficar com ele, mas você não deixou e faz isso até hoje. Você tira o que eu mais quero nessa vida que é um companheiro. Mas não é só isso, meu trabalho chega a um certo e ponto e para, nunca vai para frente, você não permite 19

que eu tenha nada que eu quero, sempre está lutando comigo. O que eu fiz para você me odiar tanto? Eu não faço mal a ninguém, eu me dedico a minha família, porque eu nunca posso ter nada? Eu estou perdida agora, tudo está parado ao meu redor, eu não sei o que faço de errado, eu preciso de ajuda, eu não mereço sua ajuda? Quer saber, tudo bem, se você não quer me ajudar, vou descobrir sozinha. Vou dar um jeito, como sempre fiz.

Joguei uma almofada no chão e saí do quarto. Eu não aguentava mais lutar contra essa força que sempre fazia questão de tirar tudo que eu queria. Deus já havia decidido meu destino e Ele queria que eu acabasse sozinha e sem nada. Eu não sabia exatamente porque, mas eu sempre senti que Ele não fazia questão de me ajudar. Então eu tinha que me planejar, o que eu podia fazer para resolver isso? Eu não queria acabar sozinha, eu não queria depender dos outros, eu não queria ter o fim que Ele havia planejado para mim. Se Ele não queria me ajudar, eu podia aprender com outras pessoas. Talvez Ele não me ajudasse porque o meu problema era justamente a perseguição que Ele tinha comigo.

Talvez eu fosse seca porque já sabia que ia perder, que Ele tiraria tudo de mim, e diante disso eu já blindava meu coração para a queda que não tardaria em chegar. Blindar meu coração era uma consequência da falta de amor que Deus tinha por mim, era isso!

- Percebe Deus? O seu descaso, a sua perseguição com a minha pessoa me tornou uma pessoa seca, sem esperança e com o coração de pedra, era isso que Você queria?

Assim que fiz essa acusação, senti uma ordem em minha mente: Sente-se e concentre-se . Era uma ordem muito forte, daquelas que você nem cogita não obedecer, porém eu não senti medo. Apesar de achar aquilo estranho e de estar realmente muito brava, eu obedeci. Retornei ao quarto, sentei, fechei os olhos e concentrei toda a minha atenção na voz que acabara de escutar. Não 20

demorou muito para que eu sentisse aquela mesma energia ao meu redor e, sem demora, minha mente se conectou com a voz:

- Esse caminho fora necessário para que você perceba a revolta que carregas em ti. Eu sofro vendo teu sofrimento, porém a sua revolta me impede de entrar em seu coração. Todos esses anos eu esperei que você se permitisse sentir a revolta, e todo o rancor que carregas quando pensas em Mim. Eu quero te ajudar, mas preciso que você queira isso também. Você nunca escolhe o caminho do coração que é o meu caminho, você sempre escolhe o caminho que lhe parece eficiente para burlar a força que, ao seu ver, sou Eu te castigando. Ou seja, você vive para lutar Comigo.

Era Ele, eu podia sentir. Mas eu não sentia medo, eu queria respostas e essa era minha oportunidade.

- Então Você está dizendo que tudo que sofri foi para que eu percebesse o quão revoltada eu sou?

- E nxergas apenas uma pequena parte do todo. Percebas, porém, que por não aguentar mais sofrer, e somente por esse motivo, foi capaz de abrir seu coração a Mim.

- Então isso é uma ditadura? Ou eu faço o que Você quer ou Você me castiga?

- Sua dor não é causada por Mim. Sua dor é consequência da crença frustrante de que podes resolver tudo sozinha, de que você é seu Deus.

Aquela frase pegou no fundo da minha alma e me impossibilitou de continuar o interrogatório.

- Não posso ajudar-te enquanto crer que não mereço sua confiança, de que você é seu Deus. Esse é o papel do ego e fui Eu que o coloquei em todos os filhos da Terra. A vida é uma eterna briga entre o ego e a fé e, enquanto o ego for seu escolhido, Eu não tenho espaço.

- Mas porque você colocou o ego em nós se isso nos distancia de Você? Eu não entendo. E como eu poderia confiar 21

emVocê, se Você me tirou todas as esperanças de ter uma vida como a das outras pessoas? Você mesmo disse que todos têm ego, porque eu sou pior que os outros?

- Você não é pior nem melhor que ninguém, todos têm problemas. Você deixou de confiar em Mim porque não te dei o que você queria.

Isso é o seu ego se manifestando, lhe dizendo que nada que você queira pode ser negado. Como Eu disse, Eu vejo o todo e, se você não teve o que queria era porque tinha que ser assim. Se vives acreditando que nada pode dar errado em seus planos, é porque acreditas ser Deus. Se Me exclui da sua vida porque não lhe dei o que queria, você não está preparada para a vida. Percebas que há muito tempo sua vida está parada, não por minha causa, mas porque você tem tanto medo de perder, de fracassar que prefere não viver. Fracassar lhe traz a realidade de que não é Deus. Porém, essa é uma ideia utópica, recheada de ilusões. Em algum momento da sua vida, perceberás que é insuportável viver estando morta e, quando isso acontecer, verás que tudo que você achava que sabia, era uma ilusão. Talvez esteja se aproximando tal momento, pois me pediu ajuda com o coração aberto e, isso somente foi possível porque percebeste que não conseguiria fazer sozinha. Quando pediu minha ajuda verdadeiramente, assumiu por um momento que não era seu Deus e assim, abriu a brecha para que Eu entrasse e a atendi prontamente, porque o seu coração revela um desejo verdadeiro de se encontrar.

- Você não me atendeu prontamente, você me atendeu depois que eu briguei com você. – Disse percebendo ao final o quão infantil tinha sido aquela resposta.

- Melhor uma verdade dita, à uma mentira silenciosa. Antes de responder-te, queria que percebeste a revolta e o rancor que carregas em seu peito por Mim. O fato de não atender-te imediatamente após sua súplica, trouxe todo o rancor à tona e, observar isso era de suma importância. Essa é uma característica do ego – que é o oposto de Mim e habita dentro de você -, respostas rápidas, instantâneas, sem muito esforço e no seu tempo, caso contrário surge a revolta. O ego é mimado e pretensioso. Essa força que emerge do rancor e da revolta impede que você siga o caminho que Eu quero para você, porque assim 22

não há confiança. Não confias porque achas que eu não lhe dou o que você mais quer, que é um amor. Saibas que não posso lhe dar isso, porque isso que você quer não é amor, é fuga. Você não compreende o que é amor e desejas algo que lhe será destrutivo. Se queres saber o que é o verdadeiro amor, terás de confiar em mim.

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CAPÍTULO II – A CEGUEIRA

AQUELE FOI O DIA em que falei com Deus pela

primeira vez. O impacto com que suas palavras atingiram meu coração foi arrasador. Em poucas palavras Ele destruiu tudo o que eu