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A Ocultista Improvável
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A Ocultista Improvável
E-book409 páginas6 horas

A Ocultista Improvável

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Sobre este e-book

A bibliotecária Heather Brown descobre a vida fascinante de Alice Bailey - uma ocultista há muito esquecida.


Em 1931, Alice se prepara para fazer um discurso em uma escola de verão suíça. Mas como ela poderia impedir a onda de ódio e ganância que colocaria o mundo de joelhos?


Logo depois, ela é colocada na lista negra de Hitler. O que Alice não se dá conta, é a dimensão de sua influência ao mundo e que os inimigos reais estão muito mais perto do que ela imagina.


Uma figura dinâmica e complexa, o alcance de Alice Bailey foi extremamente importante. Ela era influente entre pessoas e organizações de poder global, incluindo as Nações Unidas.


No entanto, hoje ela é difamada por cristãos fundamentalistas, teosofistas, judeus, acadêmicos e, acima de todos, pelos defensores da teoria da conspiração.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de out. de 2022
A Ocultista Improvável
Autor

Isobel Blackthorn

Isobel Blackthorn holds a PhD for her ground breaking study of the texts of Theosophist Alice Bailey. She is the author of Alice a. Bailey: Life and Legacy and The Unlikely Occultist: a biographical novel of Alice A. Bailey. Isobel is also an award-winning novelist.

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    A Ocultista Improvável - Isobel Blackthorn

    A Ocultista Improvável

    A OCULTISTA IMPROVÁVEL

    ISOBEL BLACKTHORN

    Traduzido por

    MARCIA BRANDO

    Copyright (C) 2018 Isobel Blackthorn

    Design de layout e copyright (C) 2022 por Next Chapter

    Publicado em 2022 por Next Chapter

    Capa de CoverMint

    Editado por Ana Beatriz Fernandes Meneguetti

    Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são o produto da imaginação do autor ou são usados ficticiamente. Qualquer semelhança com eventos reais, locais, ou pessoas, vivas ou mortas, é pura coincidência.

    Todos os direitos são reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio, eletrónico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou por qualquer sistema de armazenamento e recuperação de informações, sem a permissão do autor.

    Contents

    Prefácio

    Nota da Autora

    Parte Um

    Nova Iorque

    Biblioteca Estadual de Victoria

    Castramont

    Auburn

    Irlanda e Índia

    A herança

    De Cincinnati a Monterey

    A descoberta da teosofia

    Krotona

    Desentendimento organizacional

    Biblioteca Estadual de Victoria

    Parte Dois

    Ascona

    Entre amigos

    Stamford

    Manhattan

    A carta de Olga

    A Confissão

    Terceira Escola de Verão

    Faversham

    Algumas Correspondências Desagradáveis

    Manhattan

    Parte Três

    Akaroa

    Negócios Inacabados

    Teorias Conspiratórias

    Biblioteca Pública de Nova Iorque

    Epilogue

    Bibliografia selecionada

    Agradecimentos

    Sobre a Autora

    Prefácio

    "O perspicaz romance biográfico de Isobel Blackthorn, A Ocultista Improvável, evoca um rico imediatismo para a vida de Alice A. Bailey e seus contemporâneos, enquanto eles forjavam o pensamento da ‘Nova Era’, tendo em conta que notaram estar em uma nova época, onde os humanos enfrentavam desafios sem precedentes. O romance oferece ao leitor um vislumbre do mundo pouco conhecido e secreto de Alice. A. Bailey e de outros colaboradores do Esoterismo Ocidental, à medida que lutavam por poder e influência. Ao fazer isso, é disponibilizada uma contribuição importante para contar relatos recebidos e aceitos de figuras e eventos históricos. Isobel Blackthorn habilmente leva em consideração uma interpretação histórica alternativa da linhagem esotérica.

    Ao escrever este romance biográfico, é maravilhoso ver como Isobel trouxe a profundidade dos estudos aplicados à sua tese de doutorado, The Texts of Alice A. Bailey: An Inquiry into the Role of Esotericism in Transforming Consciousness [Os Textos de Alice A. Bailey: Uma investigação sobre o papel do esoterismo na transformação da consciência, em tradução livre] para a criação imaginativa deste romance."

    Lesley Kuhn

    Autora de Adventures in Complexity for Organisations Near the Edge of Chaos [Aventuras na Complexidade para Organizações à Beira do Caos, em tradução livre], membro adjunto da Universidade Western Sydney.

    Nota da Autora

    A Ocultista Improvável é uma dramatização da vida e influência de Alice Bailey, de acordo com o que a autora conhece por meio de registros históricos, quando foi escrita. Alguns dos personagens secundários são criações. Todos os personagens principais são baseados em pessoas reais, mas suas personalidades, atitudes e opiniões foram criadas para os propósitos da narrativa e podem ou não se parecer com as pessoas reais envolvidas.

    Este retrato de Alice A. Bailey é baseado em um estudo profundo e prolongado de sua vida e de seus ensinamentos. Nenhum personagem fictício pode transmitir a plenitude de uma figura histórica real. A Ocultista Improvável é apresentada ao leitor com boa fé.

    Parte Um

    Nova Iorque

    O que há com uma morte, que deixa aqueles que permanecem à mercê do tempo? Um momento único, a liberação de uma vida que envia ondulações pelo universo. Ela não planejou que sua visita coincidisse com o primeiro aniversário do falecimento de sua tia. Mesmo se quisesse, com toda a organização envolvida - o agendamento das férias, a reserva de voos, o itinerário organizado para acomodar os desejos de sua amiga - tal feito de interseção temporal teria sido impossível de se conseguir. Embora uma parte dela não pudesse resistir em pensar se alguma entidade não teria orquestrado toda aquela viagem para servir a alguma programação secreta, de seu próprio interesse. Era a parte dela que se sentia ligada à sua bisavó, Katharine, que havia morrido no dia em que ela nasceu.

    Havia se passado exatamente um ano desde que sua tia Hilary tinha falecido, mas ela só lembrou disso quando entrou no prédio com os outros e uma participante de sua excursão anunciou a data para resolver alguma divergência específica. Dia 24, disse a mulher. E era junho.

    Eles estavam visitando as Nações Unidas em Nova Iorque, e ela finalmente estava chegando ao destino principal de suas férias. Poderia ter vindo sozinha. Desejou que tivesse. O passeio foi para o benefício de Suzanne.

    Heather deu alguns passos para o lado e deixou os outros passarem. Os rostos se levantaram para a grandiosidade, para o concreto cinzento do exterior do prédio dando lugar a curvas amplas e a um teto canelado no alto. Ao virar-se, ela contemplou painéis altos de vidro, uniformemente espaçados entre as colunas de concreto recém-pintadas de amarelo ocre, rosa escuro e preto. Um esquema de cores que lembra Art Déco. As janelas permitiam a entrada de luz natural em abundância. Ao seu lado esquerdo, um lance de escadas levava aos andares superiores. Era tudo tão esplêndido quanto havia imaginado, o prédio exalando uma aura de humanidade séria e iluminada. Pelo menos era assim que ela se sentia.

    Seu deslumbramento foi perturbado por uma comoção nas proximidades, quando um dos membros da sua excursão levantou o punho e gritou: — Abaixo a agenda globalista! — repetidamente. Várias pessoas se viraram. Começaram a se afastar, balançando as cabeças. Algumas correram, assustadas. O homem grande, barbudo e de meia-idade, fez pleno uso do espaço ao seu redor para andar e berrar.

    — Não sejam enganados pela elite no poder! É um complô!

    — Ah, cale a boca —, disse alguém atrás.

    O homem se virou e gritou na cara dele: — Acorda! — apunhalando o ar em direção aos outros.

    — Você, você e você. Acordem! As Nações Unidas é uma conspiração. Quem financiou esse lugar? Os Rockefeller e os Rothschilds! Você — disse ele, com seu olhar selvagem parando em Suzanne. —, você precisa acordar.

    — Estou bem acordada, obrigada.

    Heather se encolheu internamente, esperando que ele não usasse aquela resposta para focar a atenção nela.

    Os seguranças apareceram antes que ele pudesse proferir outra palavra, derrubando-o no chão, prendendo-o e enxotando os espectadores. As pessoas murmuraram e ficaram aborrecidas.

    — Que maluco.

    — Sim, mas ele tem razão.

    — O que foi isso?

    Ele foi levado embora e a atmosfera logo se acalmou. O resto da excursão se reuniu em torno do guia. Heather ficou atrás de alguns retardatários. Suzanne, que era três a quatro centímetros mais alta que o restante, estava reunida com o grupo. Heather fez com que olhasse para ela.

    — Vou ficar lá —, articulou ela, apontando.

    Suzanne olhou naquela direção e, em seguida, passou pelo grupo para dizer no ouvido de Heather:

    — Achei que você iria participar da excursão.

    — É a sala de meditação que me interessa. Só isso.

    — É parte da excursão.

    — Sei bem disso.

    Suzanne olhou para de forma avaliativa. — Isso tem a ver com aquela mulher, não é?

    — Aquela mulher, como você a chama, é Alice Bailey, e sim, tem a ver.

    — Você está obcecada Heather, se não se importa que eu diga.

    Heather se importou. Ela não era maluca. Também estava bem ciente de que Alice Bailey estava no topo da organização da versão das Nações Unidas da teoria de conspiração sobre a Nova Ordem Mundial, da qual o homem fazia seu discurso inflamado. Eles estavam certos em colocá-la lá? Claro que não. Mas não erraram em colocá-la no topo das Nações Unidas.

    A sala de meditação representava para Heather o culminar de uma missão, um memorial silencioso de uma ativista espiritual, de uma mulher que havia dedicado sua vida para corrigir as injustiças do poder, para apenas ser enganada e devidamente lançada à margem da história. Se Suzanne queria rotular sua gratidão como obsessão, que assim fosse. Ela deixou Suzanne e a excursão e partiu, livrando sua mente de seu desgosto a cada passo que dava.

    A sala de meditação fica depois dos balcões de segurança, no lado leste do saguão, discretamente posicionada à esquerda da Janela da Paz. Era esse mural de vidro que chamava a atenção, uma obra de arte impressionante que a ONU recebeu de presente de Marc Chagall, em memória a Dag Hammarskjöld. Heather não precisava ouvir essas coisas de um guia turístico. Ela sabia mais do que jamais imaginou ser possível saber sobre o segundo secretário-geral da Nações Unidas devido à sua completa falta de interesse antes do ano passado. Nos últimos meses, ela passou a admirar Dag Hammarskjöld não por suas realizações externas, ainda que fossem marcantes, mas por sua espiritualidade, sua dedicação ao estudo dos místicos medievais Meister Eckhart e Jan van Ruysbroeck, e, Heather fortemente suspeitava, de sua ligação, ou pelo menos sua simpatia, pela misteriosa ocultista Alice A. Bailey.

    Foi Donald Keys, redator de discursos do sucessor de Hammarskjöld, U Thant, que alertou Heather sobre a conexão com Bailey. Até então, ela estava há oito meses lidando com a curiosa variedade de livros, revistas, diários e notas associadas ao manuscrito inédito da professora Samantha Foyle, deixado para a Biblioteca Estadual de Victoria após sua morte. Cátedra de Estudos Religiosos em uma universidade de Melbourne, a professora Foyle se especializou em espiritualidades alternativas e o tema de sua última pesquisa foi Alice Bailey.

    Em sua mesa no escritório de manuscritos na parte superior da biblioteca, em meio de desvendar a vida da figura ocultista, Heather esbarrou no discurso de Keys, ativista da Nova Era - escrito na década de 1970 e posteriormente publicado online -, no qual ele se referia à previsão de Bailey de que um discípulo sueco proeminente logo estaria trabalhando no mundo. Bailey havia feito sua previsão na década de 1930, muito antes do nascimento da ONU. Em seu discurso, Keys identificou este indivíduo como Dag Hammarskjöld.

    Keys foi uma das poucas figuras notáveis que admitiu abertamente fazer parte do círculo de Alice Bailey. Ele foi praticamente descarado sobre isso, dado o sigilo da maioria. Até dedicou seu livro Earth At Ômega: Passage to Planetization [A Terra em Ômega: Passagem Para a Evolução, em tradução livre] a Alice Bailey. Quando Heather fez a descoberta, sucumbiu a um êxtase de satisfação. Não era fácil descobrir as identidades dos seguidores e simpatizantes importantes da ocultista. Ao contrário da mística glamorosa que os charlatães desfrutavam, Alice Bailey era a abominação da extravagância. Com um verdadeiro espírito esotérico, ela preferiu a obscuridade, trabalhando nos bastidores para alcançar seus objetivos.

    O que era mais ou menos como Heather se encontrava ao trabalhar na coleção da professora Foyle; a maneira secreta, quase furtiva que usou para separar o conteúdo de todas aquelas caixas entulhadas em seu escritório, fortalecida pela atitude desdenhosa de sua colega Suzanne sempre que ela colocava a cabeça dentro da sala e passava os olhos ao redor, assimilando o caos sobre a mesa de Heather e o olhar perplexo dela, enquanto olhava para sua colega através de seus óculos de leitura.

    O saguão parecia um zoológico. Ela precisou passar por uma aglomeração de turistas que saíam da Sala de Meditação e caminhavam para outro lugar, com suas vozes se erguendo atrás dela. Ainda não estava certa do que fazer com a afirmação de Keys, embora não a surpreenderia se fosse verdade e isso tinha adicionado uma medida de convicção à sua decisão de vir e ver por si mesma. O que ela sabia era que Dag Hammarskjöld estava obcecado em querer ver a Sala de Meditação reformulada. Ele foi taxativo sobre a ONU precisar de um lugar de tranquilidade e silêncio, que refletisse com toda a humanidade. Ele conseguiu obter a cooperação do Movimento dos Leigos, que estava por trás da criação da sala original e travou uma dura batalha por sua existência. Os Leigos são uma organização cristã e devem ter ficado perplexos, se não indignados, com a proposta nova e claramente não cristã. Heather não tinha ideia de como Hammarskjöld os persuadiu, mas pelo tom das coisas, ele não seria dissuadido. Ele criou uma espécie de petição, obtendo o apoio de vários cristãos, muçulmanos e judeus, seus Amigos da Sala de Meditação da ONU. Com o apoio, ele seguiu em frente e, uma vez o projeto aprovado, supervisionou todos os detalhes da reforma, estando lá com os pintores enquanto revestiam as paredes. Por que tanto zelo, tanta urgência? Seria seu próprio ego que o encorajava ou um propósito espiritual superior, como ele mesmo diria?

    Encontrando-se sozinha, ela ficou diante da Janela da Paz, de Chagall, absorvendo a complexidade da visão do artista e sua homenagem às Nações Unidas. A obra estava cheia de simbolismo religioso dos Antigo e Novo Testamentos, com sua árvore do conhecimento dividida em dois, serpentes subindo no centro, um anjo beijando uma garota em meio a uma dança de flores, tudo renderizado nas mais ricas nuances, predominantemente azuis. O mural era enorme, ocupando a altura e a largura de uma parede inteira, e ficava ali para convidar o amor e a harmonia, denotando o sofrimento da vida sem eles. Ela ficou impressionada com a sensação de peso do vidro e imaginou o esforço e o cuidado tomados durante a instalação. Para Heather, a peça ganhou ainda mais significado ao saber que Chagall era um judeu hassídico.

    Ela deu um passo para trás e expandiu sua visão para abranger o todo, borrando os detalhes, inspirando como se inspirasse a beleza, para a incorporá-la, consumi-la, assim como a beleza a consumiu. Depois piscou, com a presença de outras pessoas se juntando atrás dela opressivamente. As pessoas murmuravam umas com as outras, compartilhando o que descobriam no mural. Querendo silêncio, precisando de tranquilidade, ela entrou na sala de meditação.

    A penumbra recebeu-a à porta. A sala era pequena e em forma de V, com longas paredes esbranquiçadas que culminam no topo, onde outra obra de arte fica pendurada, um afresco iluminado por uma luz difusa. Mais iluminação foi colocada ao longo das paredes, em lugar da moldura de acabamento. O afresco chama a atenção. Centralizado longitudinalmente no piso ladrilhado diante dele, com cerca de 1,20 m de altura, fica um bloco retangular de magnetita, o altar. Heather viu os pequenos bancos alinhados em fileiras sobre um tapete verde escuro para a multidão passageira. Todos vazios. Ela escolheu um à frente, mais perto da parede. Apesar da falta de um encosto, achou o banco confortável o suficiente em seu assento de vime.

    Hammarskjöld convidou seu amigo, Bo Beskow, para criar o afresco. Era uma obra abstrata, com retângulos entrelaçados formando triângulos em tons suaves de amarelo, azul, cinza e marrom. Ela notou outros elementos: uma meia-lua e um círculo, meio preto, meio branco. Pensou que pudesse ser o Sol. Um retângulo azul, alinhado na horizontal e centralizado na obra, desvaneceu embaixo de seu olhar. Subindo no primeiro plano há uma linha longa e torcida, que se estende levemente angulada pelo meio.

    Ela deixou seu olhar vagar, aproveitando o silêncio da sala. Atrás dela, aqueles que entravam ficavam por um breve período.

    Sua atenção desviou-se para o altar. Ela não contava com a enormidade e o peso da pedra. Para Hammarskjöld, o altar refletia atemporalidade e força. Ela pensou que poucos, se é que alguém, entenderiam o significado além das propriedades magnéticas do minério de ferro. Como se o que Heather viu pudesse ser descrito como significativo, e não apenas uma associação feita por sua mente receptiva.

    Pois a colocação do altar no topo do V abalou a memória de Heather e, de repente, o afresco de Beskow se tornou uma representação de uma cordilheira, e ela já não estava mais na sala de meditação do prédio da Nações Unidas em Nova Iorque. Em vez disso, se viu sentada em um vale, em algum lugar no alto do Himalaia, reimaginando uma visão que Alice Bailey teve em duas ocasiões quando tinha cerca de 15 anos de idade, visão que descreveu na íntegra em sua autobiografia inacabada.

    Ela participava de uma cerimônia em um grande vale oval. O mês era maio e a lua estava cheia. Ela fazia parte de uma multidão. Sentiu que sua posição na multidão indicava seu status espiritual. Havia montanhas altas ao redor e o terreno era rochoso. Ela percebeu que estava de frente para o leste, onde o vale se estreitava formando um gargalo. Antes do gargalo estava uma imensa rocha…

    As semelhanças eram impressionantes. Heather meio que esperava que Buda surgisse por trás do afresco e recebesse o Cristo em pé diante do altar, líderes de uma hierarquia espiritual de mestres, centro do esquema ocultista de Alice Bailey.

    Em sua autobiografia, Alice Bailey relembrou sua visão vividamente em detalhes. Para ela, a cerimônia representou a unidade de todas as coisas. Embora quando isso ocorreu, ela não soubesse o que fazer. Tudo o que sabia aos 15 anos era que tinha tido uma visão estranha e que só se tornou significativa quando aconteceu novamente, como seria com qualquer criança impressionável. Passariam mais 20 anos até encontrar uma explicação satisfatória do que tinha visto, que iria formar a essência de sua visão esotérica do mundo. Retrospectivamente, ela encheu a visão de significado, decidindo aquilo representava o reino espiritual interior, o que se tornou sua vida.

    Seria possível que a pedra, o afresco e o formato inteiro da sala de meditação tivessem sido projetados para ecoar não só a visão de Hammarskjöld, mas a de Alice Bailey, orquestrado por ele como uma espécie de homenagem secreta? Ou a sala e o sonho eram semelhantes pois ambos apontavam para a mesma verdade superior, compartilhada por várias outras pessoas? Se Hammarskjöld tivesse planejado a sala de meditação de acordo com a visão de Alice Bailey, o que isso dizia sobre uma mulher de quem ninguém na sociedade contemporânea tinha ouvido falar?

    Ou estaria interpretando a semelhança em demasia, somando dois mais dois e chegando a cinco? Desde que aquelas caixas de parafernália esotérica chegaram em sua mesa, ela se encontrou aberta para ver correspondências entre isso e aquilo, conexões as quais uma parte dela se agarrava mesmo quando seu eu racional as rejeitava como invenções.

    As coisas simplesmente aconteceram.

    Um pequeno ponto de penugem preta na coxa de sua calça Capri bege, chamou sua atenção. Ela prendeu a penugem entre os dedos, hesitou, depois a colocou em seu bolso. Então tirou algumas fotos com seu telefone e fez algumas anotações.

    Ela era pequena e preferia suas roupas justas e sem estampas. Achava que aquele estilo combinava com seus cabelos castanhos lisos, que sempre mantinha curtos. Seu tipo de rosto que não era bonito nem simples, com uma boca atrevida e uma curiosidade de esquilo nos olhos. Alguns poderiam tê-la rotulado de desinteressante, uma mulher tímida e desprovida de charme, mas mesmo uma tímida merece um olhar mais de perto e ser valorizada. Introvertida, tinha tendência a atrair o mundo para si mesma, uma qualidade que atordoava e enfurecia Suzanne.

    Um grupo de excursão entrou na sala. Muitos ficaram em pé ou sentaram-se silenciosamente, exceto pelo casal circulando o altar de pedra. Uma irritação se agitou dentro Heather. O que tinha dado a este casal a ideia de que passar as mãos ao longo da superfície do altar e comentar um com o outro que a pedra era fria e dura, constituía um comportamento aceitável? Além disso, o que esperavam? Algodão doce? O salto do sapato do homem fazia barulho no piso ladrilhado. A mulher, vestida com uma jaqueta de couro falso, falava alto com sua voz aguda enquanto caminhava. Não havia ninguém para dizer a eles para se afastarem. Ela ficou pensando se a sala deveria mesmo ser um lugar turístico. Havia lugares como igrejas, sinagogas e mesquitas, lugares que deveriam ser sacrossantos, com restrição aos passeios turísticos.

    Ela esperou que os outros seguissem em frente, o que logo fizeram. Sozinha novamente, sentiu-se uma intrusa, uma impostora, quase uma espiã, mesmo sabendo que isso era ridículo. Ela havia se tornado um tipo de especialista no meio metafísico, e estava determinada a expressar suas descobertas. Publicar. Só esperava que as pessoas tivessem um interesse além dos detalhes genealógicos. Embora esse público não se encontrava entre seus colegas. Especialmente Suzanne, que tinha tolerância zero para o não racional. Nem em sua casa. Durante o arquivamento, o pai de Heather só fingia um interesse educado em qualquer nova fofoca que estivesse na mente dela, respondendo com alguns resmungos. Ela nunca abordou nada sobre o ocultismo com sua mãe, que deixaria tudo de lado com desdém. Ela era forçada a deixar seu novo conhecimento na entrada da porta, assim como os sapatos sujos, sempre que chegava em casa do trabalho.

    Heather tinha pouco em comum com a mãe. A única vez que refletiu sobre o fato da sua bisavó, Katharine, ter morrido no dia em que nasceu, insinuando que como resultado se sentia ligada à sua ancestral, quase como se tivesse em si o seu espírito, Joan riu sarcasticamente. Ela disse que Heather chegou ao mundo às duas da manhã e Katharine somente faleceu às dez da noite naquele dia. Disse que nunca iria esquecer sua própria mãe, a avó de Heather, Agnes, acordando-a no meio da noite com a notícia.

    Heather tentou defender sua posição, mencionando o fato de sua mãe ter escolhido Katharine para seu nome do meio, mas Joan não dava ouvidos a nada disso. Heather tinha 14 anos na época e sentiu-se incomodada. A rejeição dos seus sentimentos formou uma cunha entre elas, uma cunha que se manteve firme desde então, e que foi reforçada com a morte de sua tia.

    Nunca houve ninguém com quem Heather pudesse conversar sobre assuntos profundos e relevantes além de Hilary, que já não estava mais lá. Ao reconhecer isso, um vazio muito familiar se abriu nela. Ela estava completamente sozinha.

    Reunindo suas forças, rejeitou a saudade e dirigiu sua mente para a revelação que a conduziu para aquele prédio, que involuntariamente conseguira marcar aquela visita coincidindo com o primeiro aniversário da morte de Hilary. Um ano inteiro, um ciclo completo do sol, parecia se refletir naquele afresco, embora ela não pudesse entender como.

    Apesar de seus melhores esforços, uma onda de tristeza surgiu para encontrar o caminho de seus pensamentos. Sua tia Hilary teria adorado o lugar. Embora adorado não fosse a palavra certa. Nem lugar. Até o nome Sala de Meditação não falava nada sobre seu potencial. Este nome evocava imagens de incenso e tapetes de ioga. Hilary saberia como descrevê-la. Ela era uma perita quando se tratava das nuances da linguagem. Heather ficou conturbada pois em um momento tão crítico, faltavam palavras a ela. Ela não tinha vindo de tão longe para ficar pensando em Hilary, mas ao se dar conta de que era o primeiro aniversário de sua morte a trouxe de volta com força, e ela sentia saudades do rosto elegante e benevolente de Hilary com seu cabelo fino e cor-de-palha, e da maneira como se voltava para ela enquanto ria, como se a diversão fosse só delas. Contudo, a memória se dissipou sem uma lágrima e Heather percebeu que era capaz, apenas capaz, de se lembrar de Hilary sem ceder a ficar para baixo, dando uma guinada para as saudades. A dor em seu coração deu lugar a um apreço pela mulher, e pelo vínculo especial delas. Era como se ela estivesse sentada bem ali ao seu lado, aproveitando o ambiente.

    Hilary nunca foi religiosa. Ela se dizia espiritual. Heather não sabia o que isso significava, não profundamente, não até encontrar Alice Bailey. O que havia começado como uma daquelas coleções de manuscritos questionáveis, evitados por seus colegas por serem completamente desinteressantes, e que por isso foram despejados em seu escritório com um ou outro pretexto, se revelaram, caixa a caixa, a busca por compreensão que a levou primeiro aqui, depois acolá, enquanto a figura que foi Alice Bailey floresceu como uma rosa de vermelho intenso.

    Difícil, intenso e isolado como foi, em retrospecção, Heather não trocaria essa sua imersão nos mundos da professora Foyle e de Alice Bailey, mundos que a trouxeram a Nova Iorque para visitar as Nações Unidas, sentar-se na sala de meditação e experimentar este interlúdio, ao mesmo tempo inefável e baseado em arte e pedra. Ela estava perfeitamente ciente de que arquivar o manuscrito a forçou questionar os fundamentos de suas crenças, lançando-a em uma jornada para a qual não estava preparada, que a deixou um tanto quanto e significativamente diferente.

    Foi somente quando cuidava da última caixa da coleção da professora Foyle, que seu interesse pelas Nações Unidas despertou. Quando Alice Bailey se aproximava do final de sua vida, naqueles anos devastados pela guerra e com o surgimento das Nações Unidas, ela investiu toda sua esperança na organização. As Nações Unidas se tornaram uma espécie de fixação para a debilitada ocultista, quase como se ela própria tivesse criado a organização.

    Para Alice Bailey, as Nações Unidas era um veículo potencial para a expressão de tudo o que ela acreditava e queria transmitir, uma unidade entre todas as nações, juntas em cooperação para resolver os problemas mundiais. Não poderia haver um propósito maior para a humanidade. Ela fez de tudo para persuadir seus seguidores a adotarem seu ponto de vista. Embora Heather se perguntasse se a maneira insistente pela qual Bailey havia instado seus leitores a agir tivesse sido o resultado de sua enfermidade. Ela ficou gravemente doente ao longo da década de 1940, em enorme desconforto e dor, e emocionalmente desgastada pela guerra. Sofreu tanto quanto qualquer um, diante das forças sombrias que flagelavam o planeta. Talvez mais, ela que lutou tão desesperadamente durante a década de 1930 para evitar uma repetição da guerra mundial anterior. Era fácil ver como as Nações Unidas davam esperança a ela. Como muitos na época, ela pensou que seria a salvação da humanidade.

    Heather sabia que para Alice Bailey, as Nações Unidas tinham o potencial de ser muito mais. Através de seus auspícios, a externalização de sua Hierarquia Espiritual, algo que ela se tornou tão comprometida em manifestar, tinha uma chance real de acontecer. Por mais estranho que aquilo parecesse, muitos acreditaram.

    Apesar de sua afeição por uma figura que inicialmente achou repelente, ela não se comprometeria a acreditar na existência de uma Hierarquia Espiritual, em uma coorte de homens sábios - eram todos homens - supervisionando a evolução espiritual da humanidade. Particularmente, Heather achava esta noção absurda, além de uma afronta à sua sensibilidade feminista. Mas a existência deles era a pedra angular do pensamento de Alice Bailey, e durante o tempo que passou vasculhando a coleção, tudo o que podia fazer era suspender a incredulidade. Ela não queria descartar a ideia completamente, não no caso de estar errada, mas porque isso a teria tornado cega e muito parecida com sua mãe.

    Sentada ereta em seu lugar, com os joelhos unidos e as mãos abertas apoiadas em seu colo, Heather desfrutou do altar e do afresco uma última vez. Se Alice Bailey estivesse viva para ver, teria ficado encantada.

    Ela estava prestes a sair quando outra excursão entrou na sala e Suzanne logo se sentou ao seu lado.

    — Aproveitou o passeio?

    — Ainda não acabou.

    — Encontro você no saguão.

    — Melhor ainda, há um memorial de Eleanor Roosevelt no jardim. Vejo você lá.

    Heather não precisou ser persuadida. Enquanto voltava pelo saguão, imaginava o quanto Eleanor Roosevelt conhecia Alice Bailey. Bem o suficiente, imaginou. Bem o suficiente.

    Não havia dúvida de que Alice Bailey foi influente nos altos círculos. Eleanor Roosevelt tinha lido sua prece especial, A Grande Invocação, no prédio das Nações Unidas. Leu na inauguração do Dia Mundial da Invocação em maio de 1952, não havia passado três anos da morte de Bailey, um dia inventado pelos seguidores de Bailey para apelar pela liderança espiritual da humanidade. Em seu preâmbulo, Eleanor Roosevelt anunciou que alguém enviou a prece para ela. Quem era esse alguém? E mais: o que havia em Alice Bailey que conquistou o respeito e o apoio de figuras tão eminentes? Heather investiu na vida e obra de Alice Bailey por um ano inteiro e sentiu-se longe de entender completamente a atração, mas a sentiu. Ela mais do que sentiu. Alice Bailey conseguiu tocar um centro de benevolência entre as mulheres e os homens mais poderosos do mundo. Na opinião de Heather, isso praticamente a tornava uma santa.

    Biblioteca Estadual de Victoria

    Heather não erguia os olhos da confusão de pastas de papel pardo, e-mails impressos, papel rascunho e notas adesivas em sua mesa, enquanto o homem com jaleco esfarrapado de trabalho levava a última das caixas.

    Seu jeito emburrado deixou o homem incomodado. Ele empilhou as caixas no chão ao lado das outras, em um silêncio forçado.

    — Tudo seu —, disse ele ao sair.

    Só então ela levantou o olhar. Sentada, esticando o pescoço e dando punhaladas no ar, contou 100 caixas. Elas ocuparam metade do espaço de seu escritório já lotado, se espalhando em frente à sua mesa, esmagadas contra a parede abaixo da janela e empilhadas desordenadamente ao lado da parede mais longa, que sustentava um banco baixo ao longo de seu comprimento.

    Ela não era dada à indelicadeza. Seus olhos estavam inchados e vermelhos por causa das lágrimas na noite anterior, e ainda queimavam com aquelas que chorou naquela manhã. O funeral de sua tia, um pequeno evento familiar realizado na Igreja Anglicana em Hawthorn, foi tão doloroso quanto ela previu. Enquanto sua mãe ficou ao lado do túmulo, seu rosto sem expressão combinando com a roupa cinza que usava, Heather era o oposto, tremendo de tristeza e com o olhar fixo naquele profundo abismo de terra entre elas.

    O velório na casa de seus pais foi igualmente extenuante. Vários primos amontoados em volta de um pequeno aparador, bebendo xerez. Heather optou em ficar ao lado de uma janela com vista para o jardim, evitando o contato com os outros e enfrentando a provação com o grande copo de uísque que roubou do armário de bebidas na outra sala.

    Com toda a cerimônia atrás dela, adiante ficava apenas a saudade.

    Ela sabia que seu luto a desestabilizaria, mas não podia prever o quanto seus sentimentos seriam desmedidos, como pareciam mudar todo o seu ponto de vista. Olhando para aquelas caixas, se sentiu instantaneamente irracional. Quando a Sra. Emily Prime, que assumiu a avaliação e aquisição, perguntou se alguém estava interessado em crenças religiosas, ela expressou um vago interesse no budismo. Esse interesse era graças à sua tia, e ela também não era religiosa. Hilary teve um interesse secular em religiões de todos os tipos, da mesma forma que um espectador segue o xadrez, fazendo todas as análises e sem nenhuma participação.

    Desejava ter ficado de

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