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Um Presente de Amor
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E-book182 páginas2 horas

Um Presente de Amor

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Sobre este e-book

É possível o reencontro entre um garoto e aquele que foi seu cachorro de estimação em uma vida passada?
Rick era um menino de comportamento arredio diante dos menores desafios impostos pela vida. Até mesmo o ato de fazer amigos entre os colegas de classe era para ele uma tarefa quase impossível. Outro grande dilema que Rick
enfrentava era a tumultuada relação com o pai, que o tratava com desprezo e aversão.
Porém as coisas começam a mudar no dia de seu aniversário de treze anos, quando a mãe o presenteia com um lindo filhote de beagle que se tornará um divisor de águas em sua vida.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de nov. de 2022
ISBN9786588535424
Um Presente de Amor

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    Um Presente de Amor - Roberto de Carvalho

    Rick

    Não é o pai quem cria o Espírito de seu filho; ele mais não faz do que lhe fornecer o invólucro corpóreo, cumprindo-lhe, no entanto, auxiliar o desenvolvimento intelectual e moral do filho,

    para fazê-lo progredir.²

    Completamente aturdido, Rick tenta entender como chegou àquele lugar selvagem. Há árvores imensas por todos os lados e a algazarra festiva dos pássaros em meio aos ramos, misturada ao zunido das cigarras e aos guinchos estridentes dos saguis, é algo ensurdecedor.

    Ele caminha descalço sobre a relva primitiva entre o labirinto de troncos milenares e, apesar do desejo imenso de seguir adiante, tem os passos contidos por uma força invisível que o arremete para trás. O coração está tomado por um forte sentimento, misto de tristeza e entusiasmo, e não dá para definir qual daquelas sensações é a mais vibrante em sua alma.

    Seu corpo está febril e dolorido, demonstrando que algo grandioso acabou de acontecer e, seja lá o que for, foi ele, sem dúvida, o protagonista daquilo. Dá para ouvir gritos de vitória em alguma parte daquela floresta, mas Rick não está feliz. Pelo contrário, sente-se oprimido e pesaroso.

    Ele sabe que precisa chegar logo ao lugar para onde se encaminha quase em desespero. É lá que encontrará a pessoa que secará suas lágrimas e curará suas feridas. Alguém a quem ama muito o espera de braços abertos para conchegá-lo e amenizar aquele indefinível e sufocante mal-estar.

    Mais alguns passos e Rick vê a rústica cabana em meio a uma clareira. Sente o peito aquecido e aumenta o desejo de caminhar mais rápido. Porém, quanto mais tenta apertar os passos, mais forte se torna a invisível força contrária. Ele precisa ter calma. Um passo de cada vez. Devagar, como se andasse em câmera lenta.

    Rick pressente que a salvação está dentro da cabana que vai ficando cada vez mais perto. Uma vez que a adentre, toda aquela angústia desaparecerá. As trevas abissais que lhe invadem a alma serão substituídas por luz e calor. E ele dirá, entre lágrimas e risos, que é um vencedor e que nunca mais irá se ausentar dali.

    Cinco passos para alcançar a portinhola de taquara trançada... Ah, como é bom estar de volta para o lugar onde nos sentimos em paz!

    Quatro passos... Nada é mais gratificante do que ter à nossa espera alguém que nos ama de verdade.

    Três passos... Lágrimas nostálgicas escorrem-lhe pela face e uma sensação de alívio que é ao mesmo tempo uma grande aflição, confunde-o.

    Dois passos... A portinhola está ao alcance da mão e já pode ser aberta.

    Um passo e... Tudo se desfaz quando a mãe entra no quarto e abre as cortinas, permitindo que a luz do sol invada o cômodo, provocando um leve tremor em suas pálpebras.

    — Acorda, seu dorminhoco! — ela diz, sentando-se na cama. — São oito horas e está um dia lindo lá fora.

    Por alguns segundos, Rick mantém o braço esticado em direção à portinhola da cabana. Ele ainda tenta alimentar a esperança de poder abri-la e deparar-se com a pessoa que lhe inspira tanto amor. Mas a paisagem tropical se desintegra com a luz do sol, assim como a rústica moradia que lhe atraíra os passos. Sem saber por que, uma sensação de perda lhe oprime o peito e faz aumentar ainda mais a sua vontade de permanecer na cama indefinidamente...

    Rick entreabriu os olhos preguiçosos e voltou a fechá-los, como se cada um deles estivesse pesando uma tonelada. Cobriu a cabeça com o edredom e se virou para a parede, dando as costas para a mãe.

    — Sabe que dia é hoje? — ela perguntou sem se importar com a sonolência dele. E, mesmo Rick não tendo respondido nada, prosseguiu: — É um dia muito importante para o rapazinho mais dorminhoco do mundo!

    Ele se encolheu e afastou-se o quanto o espaço da cama permitiu. Mas Alicia era insistente, inclinou-se sobre o colchão e começou a fazer cócegas nas costelas do filho, enquanto cantarolava rindo:

    Parabéns pra você, nesta data querida...

    Percebendo que a mãe não iria desistir de tirá-lo da cama tão cedo, em pleno sábado, Rick protestou, até porque era muito sensível a cócegas. Contorcendo-se, rindo sem querer e falando bravo ao mesmo tempo, implorou:

    — Para com isso, mãe, por favor! Me deixa dormir mais um pouquinho. Hoje não tem aula...

    — De jeito nenhum — ela contestou. Alicia não era do tipo de pessoa que se deixa convencer facilmente. — Se o meu pimpolhinho não estiver pronto em meia hora, eu não vou levá-lo pra receber o presente que vive pedindo à tia Célia.

    Pronto. Aquelas foram as palavras mágicas para que o sono e a preguiça de Rick desaparecessem como por encanto. Assim como desapareceu também a estranha sensação de tristeza com que acordara, proveniente do sonho cujo enredo acabara de cair no esquecimento.

    Ele deu um salto, atirou o edredom para o lado e, ajoelhando-se na cama, perguntou encarando-a:

    — Jura que é de verdade? A senhora vai mesmo realizar o grande sonho da minha vida?

    Ela moveu a cabeça positivamente com os olhos fechados.

    — Hum-hum... Eu e seu pai falamos sobre isso ontem à noite e...

    — E ele concordou mesmo? — Rick indagou arregalando os olhos e escancarando a boca em demonstração de incredulidade. Se havia algo difícil de acreditar era saber que o pai tinha concordado com alguma coisa que pudesse fazê-lo feliz.

    Alicia fez uma careta sutil, exibindo aquela expressão dissimulada de quem não quer alimentar atritos, mas que não consegue também inventar situações irreais, algo que pudesse gerar ilusões no presente e dolorosas decepções no futuro. Ela deveria responder na verdade não foi bem assim, mas usou outros termos para a mesma resposta:

    — Bem... Você sabe como o Andrei é teimoso e turrão, meu filho — falou depois de escolher mentalmente as palavras. — Tivemos uma conversa muito difícil e eu precisei até ameaçar abandoná-lo para que ele se convencesse, mas acabou dando tudo certo no final.

    Ah, agora as coisas se encaixam no lugar comum onde sempre estiveram, Rick pensou, tentando mais uma vez não se deixar abater por aquela triste realidade. Estava acostumado a ela e, de certo modo, ficaria preocupado se fosse diferente. Significaria que a mãe tivera de fazer sacrifícios ou até mesmo de implorar e humilhar-se para alcançar seu objetivo.

    Rick balançou a cabeça para espantar aqueles pensamentos ruins, escancarou um sorriso enorme, abriu os braços o máximo que pôde e envolveu Alicia em um abraço cheio de gratidão.

    — Poxa, mãe, muito obrigado mesmo! Eu a amo muito, sabia?

    Ela retribuiu ao abraço e o beijou várias vezes no rosto.

    — Eu também o amo muito, meu filho! Parabéns pelo seu aniversário! Que você seja cada vez mais, mais e mais feliz.

    Sua voz era tão terna que fez Rick pensar em coisas macias, suaves, veludosas...

    — Obrigado, mãe! A senhora é tão legal... Não. Pensando bem, é a mãe mais legal do mundo, sabia?

    Alicia sorriu e o envolveu com aquele olhar de ternura e compaixão que é uma peculiaridade das mães genuinamente amorosas. No fundo, sabia que felicidade era uma realidade que andava longe do cotidiano do filho e isso a entristecia também.

    — Não sei se sou a mãe mais legal do mundo, Rick, mas posso garantir que sou a mais orgulhosa por tê-lo como filho — ela falou e logo fez beicinho. — Poxa, mas você está crescendo muito rápido. Nasceu um dia desses e já está completando treze anos! Vai devagar, ok? Me deixa curtir um pouquinho mais a sua infância.

    — Infância? — o garoto protestou encarando-a. — Que negócio é esse de infância, mãe? Eu sou adolescente e daqui a pouco já poderei ser chamado de jovem, está bem? Esquece isso aí que a senhora falou.

    Ela o abraçou com mais força.

    — Pois, para mim, você será sempre um menino. Mesmo quando for homem, será o meu meninão crescido.

    Depois se afastou um pouco e, tentando arrumar o topete desalinhado que Rick se recusava a cortar, ordenou:

    — Agora, vá! — olhou no relógio de pulso. — Três minutos já se passaram. Então o meu jovem adolescente tem exatos vinte e sete minutos para estar pronto. Depois tomamos café e vamos buscar o presente na casa da sua tia.

    Mal ela acabou de falar e ele foi correndo para o banheiro. Enquanto Alicia estendia o lençol e recolhia peças de roupas e livros que estavam espalhados sobre o carpete, falou bem alto para que o filho pudesse ouvir de onde estava:

    — Você pode até não ser mais criança, Rick, mas continua tão desorganizado como quando tinha cinco anos.

    Na verdade, o nome registrado na certidão de nascimento do filho de Alicia era José Ricardo, mas esse nome só era ouvido na hora em que os professores faziam a chamada dos alunos. Depois de o garoto responder presente, todos voltavam a esquecer o nome oficial e, tanto dentro quanto fora do ambiente familiar, o apelido entrava em ação. Os próprios professores, tirando o momento da chamada, também o tratavam por Rick.

    Por volta das dez horas, Mãe e filho chegaram à casa de Célia. Ela era irmã do pai de Rick e, por causa de divergências conceituais e do constante mau humor do Andrei, os dois não se davam muito bem. Mas Rick só iria compreender essas questões anos mais tarde, quando passasse a conhecer melhor a complexidade das relações humanas, principalmente no que se refere à intimidade dos laços consanguíneos.

    Sua tia morava em uma chácara, nos arredores da cidade. Fazia tempo que ele não ia lá. Célia andava muito triste desde que o marido morrera devido a problemas cardíacos, havia uns sete anos. Embora fosse quase vinte anos mais velho do que Célia, Guido parecia ter uma saúde inabalável, razão pela qual sua morte pegou todos de surpresa.

    Desde então, a tia de Rick não fazia muita questão de receber visitas e se desleixou em todos os sentidos. A chácara, que antes vivia cheia de pessoas alegres e festivas, tornou-se um lugar triste e sombrio. Era como se todo o encanto daquele lugar dependesse da participação do proprietário e houvesse se extinguido com a ausência dele.

    Na verdade, Rick também havia sentido muito a morte do tio, mas a pouca idade que

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