O Amor Te Estende A Mão
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O Amor Te Estende A Mão - José William Dutra
O Amor Te Estende A Mão
10 contos sobre o amor LGBT+
José William Dutra
Larissa 7
Votos de Amor 9
O Amor Vai Além da ‘Capa’ 25
Eu, Confusa 43
Deixe Que O Amor Te Liberte 59
Não Me Deixe Escapar 74
Pequenos Para Entender 90
O Sussurro Do Armário 101
Sorriso Da Lua 102
Rosa Amarela 118
Esqueça Os Coelhos 132
Cada Fotografia, Um Momento 148
Pra Quê Soltar De Mim? 162
Dedico esta obra a comunidade que segue lutando e resistindo...
Larissa
Será que tu consegue ouvir meu canto da tua janela?
É que a saudade do teu abraço me faz cantar
e também fico a olhar a minha entreaberta
Me perdendo nas lembranças do teu estar.
Quando foi a última vez que te vi?
Que passei meus dedos nos teus cabelos ondulados?
A distância foi acomodando teu ir
e a volta ficou só no aguardo.
Branquinha... Como vai teu cheiro?
Imploro que tu volte antes deu esquecê-lo.
Será que me esqueço?
Só há um jeito de impedir
Volta com aquele sossego
de quem nunca vai pensar em partir
Manda da mesma janela
Teu canto misturado com risada,
Uma cara das mais dispersas
e teu perfume nela embalada.
Se não quiser nada disso
Manda mensagem, liga pra mim
Odeio ver alguém de artifício,
Mas pra tu eu sempre digo sim.
Votos de Amor
– Consegue ouvir?
Gabriel pouco deu importância a pequena concha do laboratório de biologia. Lutava em não a aproximar do seu ouvido esquerdo.
Quer mesmo que eu acredite nas baboseiras que seu avô te contava?
.
Repreendi com o olhar seu comportamento. Meu avô era um grande velejador, já navegou por lugares inimagináveis. Se ele garantir que se pode ouvir o mar ao encostar uma concha na sua orelha, acredite, é certo que conseguirá.
Lucas, seu avô tem uma imaginação muito fértil... E você também...
.
Olhei para os lados.
Nenhum sinal de vida naquele ambiente vago, exceto os pequenos seres vivos que viviam na morbidade do laboratório.
Aproveitei o silêncio e empurrei-o de surpresa a parede próxima do aquário.
Seu susto veio acompanhado de um sorriso, e de um barulhinho que tentei estancar com um "shiiuu...", pondo meu dedo sobre seus lábios.
Apertei sua cintura e ficamos grudados. Quase que o beijo se formava...
Quase o tive em mim...
Mas ele escapuliu, assim que já fechava os olhos para beijá-lo.
Ali não era o lugar certo. Nenhum lugar era correto para ter aquele garoto de cabelo cacheado em meus braços.
No corredor, Gabriel tentava disfarçar sua escapadela, em vão. Aquele sorriso bobo que sempre fazia, como se pedisse desculpas por amar.
Não nos falamos até a saída do Instituto.
Desculpa, amor...
.
Tudo bem. Não havia do que se desculpar. Gabriel não compreendia que eu o amava. E poderíamos estar rodeados por todas as pessoas da cidade, ou isolados em um laboratório. Nada seria capaz de mudar a forma que eu iria amá-lo.
Caminhamos até minha casa. Com poucos diálogos.
Minha mão tocou a sua durante o balançar dos braços na caminhada. No mesmo instante, a dele recuou.
Olhei em seus olhos e novamente se desculpou.
–Quando iremos andar de mãos dadas, Gabriel?
Você sabe que não podemos...
.
– Nós? Você não pode... Ou melhor, pode, mas não tem coragem.
Lucas... O que meus pais vão pensar? E meus amigos? Eu tenho uma vida que vai desabar quando todos souberem
.
Parei meus passos. Consegui controlar minhas emoções. Mas as pernas não se moviam.
– E eu, Gabriel?
Ele segurou minhas mãos. Implorava para que entendesse seus impasses e o perdoasse por aquilo.
Sorri bobamente até que percebesse.
Soltou minhas mãos rapidamente quando se deu conta. Envergonhado. Continuamos a andar.
Eu te amo, muito. Não me vejo feliz sem você
.
Não faz muito tempo que o conheci. No instituto mesmo. Sempre houve lealdade e honestidade em nossa relação. Um companheirismo de se invejar.
Era até fácil se passar por bons amigos. Mas a situação se torna insuportável quando se passar por bons amigos
já não é mais o bastante.
Em casa, mirei o horizonte pela janela do meu quarto.
Era uma tarde magnifica. As pessoas brincavam na pracinha que tem bem em frente. Pets, crianças, pais, idosos. Tudo harmonicamente com a energia positiva do lugar.
Engraçado como as vidas alheias parecem ser perfeitas. Todos felizes e sorridentes diante das minhas tristezas. Os seus problemas se tornam maiores assim. Como um pássaro preso que observa a liberdade dos outros.
A liberdade de ser quem se é de verdade.
Será que vale a pena ser a indecisão de alguém? Quem ama não poupa esforços para amar.
Por vezes, também me pergunto se estou sendo egoísta. Devo dar o tempo necessário a ele. Não é nada fácil.
Mas não seria um sentimento fraco, se fosse fácil?
Jogo meu corpo entre os lençóis. Bufando por estar tão indeciso quanto Gabriel.
***
A noite era tão bela quanto aqueles olhos.
Nos encontramos no circo, como combinado. Estava lotado. A cidade inteira veio se divertir na noite do mágico.
Uma roupa leve, cores fracas e simples. Encaixava perfeitamente com aquela pele branca. Olhos tão fortes como jabuticabas. Encantadores.
Um corpo magro, comum. Entretanto, Gabriel era único, porque o amava e conseguia sentir isso todas as vezes que o tinha perto de mim.
Ele guiou-me adentrando no bosque, bem afastado do público.
Vagamos pelo breu das árvores.
Por fim, nos recostamos em um pé de Cambuci.
Era tão bom tê-lo pertinho de mim. Não precisávamos falar nada. Nosso abraço era o suficiente.
Levantei minha vista para o céu e nada encontrei. A copa das árvores bloqueava o brilho das estrelas.
Você não perde a oportunidade de ver as estrelas
.
Tenho um certo vício pelo céu. Ainda mais afastado da metrópole, onde posso contempla-las com mais