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Choque Final
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E-book673 páginas8 horas

Choque Final

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Sobre este e-book

Fechando a emocionante trilogia entre Messias e Will, Carlos Di Vienna nos coloca dentro da última trama da misteriosa e enigmática sequência. Sabendo da inteligência de Will, e que ele não aceita adversidades, Messias se preocupa com uma possível fuga, e descobre que Will arquitetou um plano preventivo para uma possível prisão, e de dentro do presídio continua com o jogo mortal. Antes de ser preso, deixara três bombas prontas para serem detonadas, e além delas, três passageiros do voo 1008 serão escolhidos e sofrerão os últimos atentados. Seu plano prevê uma segunda fuga, e livre, parte para o choque final com Messias Ebras. As dificuldades aumentam, quando Messias descobre que mais alguém está tentando matá-lo, o qual responde pelo codinome: “Lobo”. Enquanto Lobo passeia pela trama, o jogo mortal prossegue, e como Messias estava com a família no voo, fica evidente que são os últimos escolhidos. E assim a impactante trilogia de Carlos Di Vienna chega ao fim com um desfecho extraordinário.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de mai. de 2022
Choque Final

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    Pré-visualização do livro

    Choque Final - Carlos Di Vienna

    CHOQUE FINAL

    VOO 1008

    Carlos Di Vienna

    - 24/AGO/2022 -

    © COPYRIGHT 2022 POR CARLOS DI VIENNA

    Todos os direitos reservados ao Autor

    PUBLICAÇÃO PARTICULAR

    Sem nenhum vínculo com Editora.

    Capa: CARLOS DI VIENNA

    Título da obra: CHOQUE FINAL – VOO 1008

    Demais obras do Autor:

    NOS BRAÇOS DO DESTINO

    ALGUÉM TE OBSERVA

    PRESENÇA TRAIÇOEIRA

    LEMBRA-SE DE MIM?

    UMA LONGA VIAGEM

    UM ANJO SEM ASAS

    UM ANJO SEM ASAS II

    O OUTRO LADO DA FAMA

    TUDO A SEU TEMPO

    DIFÍCIL ACREDITAR

    OS SETE ESCOLHIDOS – VOO 818 (Início deste livro)

    DE VOLTA AO JOGO – VOO 998 (2ª parte deste livro)

    TUDO TEM UM PROPÓSITO (Autobiografia)

    EM POUCAS PALAVRAS (Mensagens)

    POR QUE O MEU FILHO? (Autoajuda)

    INVISÍVEL AOS OLHOS (Poemas)

    CONTATO COM O AUTOR: carlosdivienna10@gmail.com

                  PRIMEIRO LIVRO DA TRILOGIA MESSIAS VS WILL

    OS SETE ESCOLHIDOS

    - VOO 818 –

      SEGUNDO LIVRO DA TRILOGIA MESSIAS VS WILL

    DE VOLTA AO JOGO

    - VOO 998 -

              TERCEIRO LIVRO DA TRILOGIA MESSIAS VS WILL

    CHOQUE FINAL

    - VOO 1008 -

    Esta é uma obra

    de ficção

    criada pelo autor.

    Qualquer semelhança

    com a vida real,

    terá sido uma mera

    coincidência.

    Dedico este livro ao meu filho

    Kaikke Vianna

    (Carlos Henrique Viana),

    e ao meu sobrinho e revisor

    Fábio de Oliveira,

    os meus maiores incentivadores.

    O LOBO

    Capítulo Um

    BAIRRO BROOKLIN VELHO - SÃO PAULO

    A casa localizada na Rua Joaquim Nabuco era alugada, porém ideal para manter sua privacidade, sendo o local apropriado para se transformar no audacioso, temido e vingativo Lobo.

    Um animal de porte físico feito para a caça, com dentes caninos preparados para quebrar os ossos dos cordeiros, com visão noturna e um olfato cem vezes melhor do que o humano.

    Chegou o momento de bater de frente com Messias e Will.

    Caminhou até um dos quartos, o menor, que ficava à direita, e entrou na sua toca, no lugar da transformação.

    Pegou cuidadosamente a caixinha acrílica na qual guardava o par de lentes de contato na cor verde-escuro, e se aproximando do amplo espelho, começou a colocá-las com calma e agilidade.

    Se observou por um instante.

    Perfeito! Olhos de lobo.

    Aproximou-se da cômoda, abriu uma caixa de papelão colorida, tirou de dentro dela uma peruca de cabelos lisos e colocou-a na cabeça. Ajeitou-a de forma que ficasse na posição correta, e passou as mãos pelos cabelos que caíam sobre os ombros. Então finalizou o disfarce colocando um boné e um óculos de aro preto com lentes sem grau.

    Voltou a se olhar no espelho, satisfeito.

    Irreconhecível!

    Olhou para a parede à direita onde tinha uma foto colorida de um lobo com os dentes expostos e em pleno ataque, a qual trazia a frase:

    "OS LOBOS NÃO PERDEM O SONO

    POR CAUSA DAS OPINIÕES DAS OVELHAS".

    Aspirou profundamente e segurou o ar nos pulmões por um momento. Então o soltou gradativamente, sentindo a transformação acontecendo. O homem racional cedia lugar ao animal selvagem, inconfiável e vingativo.

    Abaixo da foto do lobo na parede, havia outras duas menores, uma de Messias e outra de Will.

    Aproximou-se das fotos rosnando e expondo os dentes.

    ― O lobo está com fome de vingança, e os cordeiros serão surpreendidos! Na floresta da vida o ataque pode acontecer a qualquer momento. Teria sido melhor terem se mantido afastados da alcateia, mas vocês feriram a alma deste animal, que sangra, como se fosse o próprio coração.

    Voltou a se olhar no espelho, verificando agora a vestimenta, e se deu por satisfeito com a camiseta escura, a calça jeans e o par de tênis surrado.

    Retirou-se da toca e passando pela sala, pegou a chave do carro.

    Na garagem, entrou no veículo e olhou no banco traseiro verificando se a mochila estava lá. Apertou o botão do controle remoto, e observou pelo retrovisor o portão se abrindo automaticamente.

    Saiu para a rua movimentada e se dirigiu para a Cimpol, precisamente para a BAC I - BASE DE APOIO DA CIMPOL, localizada na Rua Hugo D’Antola no Bairro da Lapa, próximo à ponte do Piqueri.

    Estacionou a alguns metros do prédio e ficou observando a movimentação de entrada e saída do edifício.

    Respirou fundo, pegou a mochila, abriu a porta e desceu.

    Caminhou com passos firmes e seguros em direção à entrada da Base da Cimpol, subiu os degraus e chegou na recepção.

    Olhou à direita e avistou uma discreta placa que informava: acesso ao estacionamento. Seguiu na direção indicada, verificando se não estava sendo seguido, abriu uma porta e começou a descer vários degraus.

    Logo chegou no estacionamento e observou os carros estacionados.

    Estivera ali há dois dias, e do interior do seu automóvel verificou onde os investigadores costumavam estacionar seus veículos.

    Caminhou silenciosamente pela garagem passando ao lado das vagas, sendo que três indicavam idosos, três deficientes e cinco exclusivas.

    As vagas exclusivas estavam todas ocupadas e levou alguns segundos para se certificar qual carro era o que estava procurando.

    Então se agachou entre o veículo e a parede, abriu a mochila e pegou a bomba. Fez um cálculo de tempo e acionou o explosivo.

    Com a ajuda de um pedaço de arame, prendeu-a no chassi do veículo, debaixo do tanque de combustível.

    Levantando-se, observou ao redor. Nenhum movimento.

    Caminhou então até a porta que o levaria à recepção e à saída.

    3º PRESÍDIO PAULISTA COM. LOPES NULMAM

    Will se encontrava sentado no seu catre com a mente em turbilhão.

    Na cela em frente, Montanha estava deitado, aparentemente adormecido, enquanto passos se aproximavam pelo corredor.

    O indivíduo parou diante da porta de sua cela e o fitou.

    Desceu do catre e se aproximou do funcionário do presídio.

    ― E então? Se decidiu?

    O homem fardado fitou Will friamente.

    ― Sim. Mas quero dois milhões de reais.

    Will permaneceu em silêncio por um instante, sabendo que não havia brechas para uma barganha, já que sua voz deixara claro que havia batido o martelo.

    ― Ok ― disse, estendendo a mão através das grades da cela. ― Eu consigo este dinheiro.

    Apertaram-se as mãos selando o acordo.

    ― Como posso chamá-lo?

    ― Lyon... Me chame de Lyon.

    ― Está bem, Lyon. Me providencie um celular com alguns chips.

    Fábio Oliver conversava com sua esposa Cristina na sala do apartamento do casal, localizado no Condomínio Alto da Mata na Rua Werner Goldberg, na cidade de Barueri na grande São Paulo.

    Ela estava sentada no sofá, e ele, após observar o tempo através da janela, se aproximou e se sentou ao seu lado.

    ― Como você está, querida? ― perguntou segurando sua mão.

    ― Tentando aceitar. Como poderia imaginar que em meio à tanta felicidade, aconteceria uma tragédia dessas?

    Fábio beijou sua mão.

    ― Verdade. Tudo corria tão bem e de repente...

    A imagem do acidente voltou em sua mente, e numa fração de segundos pôde rever o fogo, a fumaça e os gritos de terror.

    Soltou as mãos da esposa, e balançou a cabeça, tentando afugentar as lembranças que insistiam em regressar sem autorização.

    Cristina acariciou seu rosto.

    ― Não foi nada fácil perder o nosso bebê no quarto mês de gestação, Fábio ― disse, sentindo os olhos se enchendo de lágrimas. ― Esperava por este momento há anos, e já o via em nossos braços.

    Ele também começou a chorar.

    ― Já sentia o seu cheiro...

    ― Vamos superar todo este sofrimento, querido, e tudo isso ficará pra trás quando engravidar novamente. Não tenho dúvidas de que isso acontecerá em breve. Deus vai nos dar este presente.

    Ele concordou com um aceno.

    ― E quanto a seu pai?

    Fábio se levantou e caminhou pela sala.

    ― Estou perdendo as esperanças, Cris.

    ― Não! Não perca! Um milagre vai acontecer.

    ― Só se for realmente um milagre.

    Ele voltou a chorar, agora com mais intensidade.

    ― Tudo vai terminar bem ― disse, indo abraçá-lo. ― Em breve tudo será esclarecido e teremos Talisson de volta.

    ― Algo me diz que ele está morto, Cris.

    ― Não! Não está!

    ― O pior de tudo é saber que sou o culpado ― disse, irritado, soltando as mãos dela e caminhando pela sala. ― Não era para ele estar lá naquele momento, e sim eu.

    Só mudaria a situação... Seu pai estaria aqui, mas você não.

    ― As coisas tinham que acontecer assim, porque Deus escreve certo por linhas tortas. Temos muito o que aprender com tudo isso. Confio que seu pai vai aparecer, que vou engravidar novamente, e que tudo voltará à normalidade. Vamos ser muito felizes e um dia vamos olhar para trás e entender o que Deus queria nos ensinar.

    Ele olhou para ela, desanimado, tentando secar o rosto.

    ― Ultimamente venho me sentindo desamparado, como se Deus estivesse bem longe de mim.

    ― Ele jamais faria isso conosco.

    ― Éramos o casal mais feliz do mundo, Cris, e agora...

    ― Deus nunca nos abandonou e nem vai abandonar. Todos passam por provações na vida, e chegou o nosso momento. Deus está sim, nos fortalecendo, mostrando que nada é fácil, mas que caminha ao nosso lado.

    Fábio preferiu se calar, pois sabia que estava indo longe demais e não queria ofender a Deus com blasfêmias desmedidas.

    ― Você precisa de duas coisas... Descansar um pouco e aprender a confiar mais em Deus. Vamos deixar tudo nas mãos de Jesus, pois ele tem e quer o melhor para nós.

    Ele concordou e começou a caminhar em direção ao quarto.

    ― Fábio...

    Ele parou e se voltou para ela.

    ― E arranque do coração o desejo de vingança.

    ― Vou tentar.

    Depois que ele entrou no quarto, Cristina se sentou no sofá e olhou para o alto, orando: Te suplico, meu Deus: ajude meu marido, pois ele está sofrendo muito, e não estou podendo fazer muita coisa.

    No quarto, Fábio se aproximou da janela e puxou a cortina.

    Em seguida pegou o celular e buscou por uma foto numa pasta.

    Então a imagem de Messias Ebras preencheu a tela do telefone.

    ― Maldito! ― gritou irritado, jogando o celular na cama. ― A culpa é sua! Mas vou me vingar! Nem que seja a última coisa que faça!

    Messias e Sarah Ebras estavam na sala do Comandante Pedro Garber no prédio da Cimpol, localizado na Rua Hugo D’Antola no Bairro da Lapa, próximo à ponte do Piqueri.

    ― Creio que já podem desmontar a Base Secreta ― comentou Garber ―, ou vai mantê-la por mais tempo?

    Messias e Sarah se olharam por uma fração de segundos.

    ― Acho melhor esperar um pouco mais, Comandante.

    ― Está acontecendo alguma coisa que não estou sabendo?

    ― Não está acontecendo nada ― respondeu Sarah. ― Precaução.

    Garber os fitou atentamente, coçando o queixo.

    ― Precaução? Acredita que Will vai tentar fugir mais uma vez?

    ― Ele não é de se entregar facilmente.

    ― Sei disso, Messias, mas Will está num dos presídios de maior segurança do estado, e diante da primeira fuga, toda a atenção está voltada para ele. Sabemos disso e ele também.

    ― Garber, enquanto Will viver, nunca estarei em paz.

    O Comandante da Cimpol fez uma pausa pensando no que Messias havia falado, e voltaram-se a fitar.

    ― Ele é diferente de todos, não é mesmo? Há uma ligação muito forte entre vocês, como se fossem ímãs se atraindo, não é assim?

    Messias concordou com um aceno, enquanto Sarah o fitava.

    ― Vocês são inteligentíssimos e ficam tentando adivinhar o que o outro vai fazer para poder se antecipar. Você do lado bom e ele do mau. Assim como gêmeos que recebem avisos inexplicáveis de que coisas más estão por acontecer um com o outro.

    ― Se eu não me antecipar, Garber, ele fará isso.

    ― Will pode até tentar fugir pela segunda vez, contudo, seu plano não surtirá efeito como o anterior, pois todos os olhos e câmeras daquele presídio estão voltados para ele. Repito, Messias: sabemos disso e ele também.

    Sarah e Messias se olharam novamente.

    ― Concordo que Will é inteligentíssimo e que não consegue ver obstáculos à sua frente, mas ele mesmo deve estar conformado de que vai passar o resto da vida naquele lugar.

    ― Ele não é do tipo de homem que se conforma com alguma coisa.

    ― Pode até não ser, entretanto sabe até onde pode ir. Visitei o presídio pessoalmente e conversei com Abelardo Simom. Abel garantiu que toda a atenção está voltada para a cela de Will.

    Sarah olhou para Messias interrogativamente.

    ― Abelardo Simom é o diretor do presídio onde Will está preso.

    ― Ah...

    ― Gostaria muito de poder falar também com Abel.

    ― Faça isso, Messias. Tenho certeza de que se tranquilizará quando ver com seus próprios olhos que Will não tem como fugir daquele lugar.

    Será que não tem mesmo? Para Will não há o impossível.

    ― Vou ligar para Abel e informar que você vai passar por lá.

    ― Ok, Garber. Agradeço.

    ― Mas admiro sua preocupação e dedicação. É isso que o diferencia dos demais investigadores da Cimpol... Você quer sempre estar um passo à frente do oponente. Pode deixar a Base Secreta montada mais um tempo em sua casa, e se precisar de apoio pode utilizar Leonardo Manganello e Sérgio Corine. O prevenido morreu de velhice, não é mesmo?

    Sorriram.

    ― Jamais colocaria em xeque a competência de Abel, Garber, porém sei com quem estou lidando.

    ― Sim, claro! Que Will fique onde está. Todo esforço para que isso aconteça, é louvável.

    Garber voltou a fitar Messias.

    ― Não está me escondendo nenhuma informação, está?

    ― Claro que não. Jamais faria isso.

    ― Nenhuma ligação suspeita?

    ― Não. Apenas pressentimento mesmo ― disse, levantando-se, enquanto Sarah fazia o mesmo. ― Agradeço a sua atenção, Garber, e principalmente por deixar em atividade por mais um tempo a Base Secreta.

    Apertaram-se as mãos, se despedindo.

    ― A Base Secreta foi uma boa ideia. Tratando-se de Will ou não, o próximo caso pode ser comandado de lá com o auxílio de Leo e Corine.

    Garber sabe que está falando com o seu melhor investigador, pensou Sarah, e não perde a oportunidade de agradá-lo.

    ― Mais uma vez, obrigado, Garber. Vou procurar Abelardo.

    ― Faça isso o quanto antes. Vou avisá-lo da sua visita.

    Despediram-se mais uma vez, agora com um aceno, e saíram do escritório, iniciando a caminhada em direção a saída.

    ― Pelo jeito Garber confia plenamente neste tal Abelardo Simom.

    ― Sim. Foram amigos de infância. Mas a situação favorece, Sarah. O comandante tem razão, pois todas as atenções estão voltadas para Will e ele sabe disso. Mas é esta tranquilidade que não posso ter. Will sabe que está sob o olhar de todos, e num determinado momento a confiança pode levar ao erro, e é tudo que Will está esperando, entende?

    ― Sim. Todos estão atentos em Will, mas num determinado momento alguém pode vacilar, pois confia que os demais estão concentrados.

    ― O perigo é todos vacilarem ao mesmo tempo, Sarah. Isso sempre acaba acontecendo quando muitos fazem a mesma coisa... Todos estão atentos, então posso dar uma relaxada.

    Sarah olhou para Messias.

    ― Todos podem relaxar... menos você.

    Ele sorriu.

    ― Menos nós.

    Laerte Mantovanni estava sentado no sofá da sala, tendo ao seu lado a namorada Renata e em sua frente Maristela, sua mãe.

    ― Filho, estou preocupada com você.

    ― Eu também, amor. Você anda muito distraído e vem falando muito de Messias Ebras, e o pior... com ódio.

    ― Não me obriguem a esquecer o que não pode ser esquecido.

    Maristela passou as mãos pelo rosto, nervosa.

    ― Filho, jamais esquecerei o que aconteceu com seu pai, e saiba que a cada lembrança, agulhas ferem meu coração, mas Messias Ebras fez o possível para salvá-lo.

    Laerte fitou-a profundamente.

    ― Será que realmente fez? Meu pai tinha um instinto forte, não levava desaforos para casa, e era respeitado pela população tanto quanto Frederico Dotie e Napoleão Matella. Meu pai incomodava porque era justo e verdadeiro. Não se tornou um dos vereadores de Itapevi à toa. O povo o elegeu. Fez por merecer, mas muitos não aceitavam este fato.

    Fez uma pequena pausa, e finalizou.

    ― Acho que Messias Ebras não gostava de meu pai.

    Renata acariciou seu braço.

    ― Sei que é difícil esquecer o que aconteceu, amor, pois não consigo dormir uma noite sem me lembrar da tragédia, mas seria melhor...

    ― Também não me esqueço e nem vou me esquecer.

    A cena na qual recebera a fatídica notícia retornou à mente...

    Estava na casa de Renata.

    Depois de alguns minutos, foi para o quarto fazer companhia pra Aparecida, enquanto Renata preparava o seu jantar.

    Estava ao lado de Aparecida quando a porta se abriu e Renata entrou.

    — Olha só... o seu jantar acabou de chegar.

    — Ainda não, mãe — disse Renata, séria. — Estou quase finalizando. Só mais alguns minutos.

    Laerte olhou para ela, preocupado.

    — O que aconteceu? A sua cara é de pavor.

    — É melhor vir comigo. Mas se prepare, amor, pois aconteceu mais uma tragédia nesta maldita história do voo 818.

    Lembrou-se do pai.

    — Meu pai! — gritou, ao perceber o que poderia ter acontecido.

    Correu para a sala, e se colocou diante da televisão.

    Paulo Lents fazia uma transmissão ao vivo.

    — O sexto atentado da Saga do Voo 818 aconteceu aqui sob este viaduto em Barueri — a imagem mostrava o local por detrás dele. — Messias e sua equipe não conseguiram chegar a tempo. O vereador Ulisses Mantovanni da cidade de Itapevi foi encontrado dependurado com uma corda amarrada ao pescoço.

    — Não! — gritou, levando as mãos ao rosto. — Meu pai, não!

    Renata o abraçou, acariciando seu braço.

    — Sei o que está sentindo, mas, por favor, tente se acalmar.

    — Claro que meu pai seria um dos escolhidos — disse, revoltado. — Era um homem influente e colocava medo nos poderosos.

    ― Jamais me esquecerei daquela horrível cena ― disse, sentindo os olhos lacrimejando ―, onde vi meu pai enforcado e dependurado sob aquele viaduto, com o vento a balançar seu corpo.

    Maristela e Renata se olharam em silêncio.

    ― Messias Ebras salvou tantas pessoas, vários escolhidos, e por que será que não chegou a tempo de salvar meu pai?

    ― Você sabe muito bem, filho, que nem sempre conseguimos atingir o nosso objetivo, assim também foi com Messias. Não tenho dúvidas de que fez tudo que podia, e se irrita até hoje por ter chegado atrasado.

    Laerte olhou para a mãe por um instante.

    ― Não sei por que algo em mim diz que não foi bem assim.

    ― Você está errado, amor. Não havia motivos para Messias se atrasar e deixar seu pai morrer. Este sentimento de ódio e de vingança está transformando seu coração. Concentre-se no seu projeto de se candidatar a vereador na próxima eleição, se eleger, e assim honrar o nome da família Mantovanni... Honrar seu pai, que lá de cima está observando tudo.

    Ele tentou sorrir.

    ― Não tenham dúvidas de que vou me eleger, e vou solicitar o mesmo gabinete de meu pai. Vou colocar uma foto dele bem grande na parede, para que todos que entrarem se lembrem do quanto ele foi importante para a cidade e para todos nós.

    Maristela sorriu, concordando.

    ― Agora quanto a Messias ― prosseguiu, deixando a alegria se desvanecer aos poucos ―, não sei se conseguirei perdoá-lo, pois este sentimento vem da alma, e não tenho controle sobre ela.

    Depois de mais um instante de silêncio, Renata comentou:

    ― A dor é forte, mas Deus vai abrandando, acalentando, e no tempo certo verá as coisas por outro ângulo.

    ― Espero realmente que seja assim.

    ― Oro a Deus para que seja, filho. Enquanto isso, foque no seu trabalho e no seu projeto. Será um grande orgulho vê-lo naquela Casa de Leis, legislando junto com os demais vereadores.

    Ele deixou surgir um pequeno sorriso no canto da boca.

    ― Tenha certeza de que a minha felicidade será bem maior do que quando vi seu pai eleito e sendo empossado, porque estarei vendo os dois lá, lado a lado, com os mesmos sonhos e objetivos.

    ― Obrigado, mãe.

    ― Agora vou preparar um suco para vocês.

    Assim que Maristela saiu, Renata voltou a falar sobre o assunto, e no quão importante seria tê-lo como vereador na Casa de Leis, mas Laerte já não conseguia mais ouvi-la, pois sua alma gritava de dor ao visualizar mais uma vez o corpo imóvel de Ulisses Mantovanni dependurado sob o viaduto.

    Como acalmar esta sede de vingança?

    Após sair do prédio da Cimpol, Messias e Sarah Ebras voltavam para casa, porém, resolveram parar numa padaria localizada na Rua Afonso Sardinha no Bairro da Lapa, para tomar um café.

    Encontravam-se na área externa onde havia algumas mesas com cadeiras sob guarda-sóis, e estavam sentados numa delas.

    ― Quando vai falar com Abelardo?

    ― O mais rápido possível, pois sinto que Will planeja uma nova fuga.

    Sarah tomou um gole de café.

    ― Will é atrevido ― disse, pondo a xícara sobre o pires ―, mas todos estão atentos aos seus movimentos, e uma fuga agora é praticamente impossível. Não creio que irá tentar, pois a chance de dar errado é grande.

    Messias coçou o queixo, pensativo.

    ― Concordo. Entretanto tenho certeza de que ele está planejando alguma coisa. É difícil explicar. Sinto isso, entende? Além de inteligente, Will é o pior vilão que encontrei em todos estes anos. Ele quer estar sempre no comando, e principalmente me infernizando.

    Sarah observou por um instante o movimento de carros e transeuntes.

    ― Ele está preso, mas certamente não se esquece de você.

    ― Como não me esqueço dele. É um jogo e tenho que estar à frente.

    Tempos atrás diria que Messias estaria enlouquecendo.

    Neste momento, o celular de Sarah começou a tocar.

    Olharam para a tela e a foto mostrava que era sua irmã Marly.

    ― Ó, meu Deus! Acho que minha mãe piorou.

    ― Eu disse para você ir ficar com ela. Atenda logo!

    Sarah colocou no viva-voz.

    ― Oi, Marly... Por favor, diga que as notícias são boas.

    ― Infelizmente não, irmã. Nossa mãe está muito ruim.

    Houve um momento de silêncio, no qual Messias a fitou.

    ― Pode falar ― pediu, séria. ― Acho que estou preparada.

    ― Acabei de falar com o médico, e ele a desenganou. Disse que não tem mais nada que possa fazer.

    ― Deus do céu!

    Messias segurou firme sua mão.

    ― Sabia que este momento estava prestes a acontecer, mas não imaginei que seria tão dolorido. Ela ainda está conseguindo se comunicar?

    ― Sim. Sussurrando.

    ― Fale pra ela, Marly, que eu a amo muito e que ela foi e sempre será a pessoa mais importante da minha vida.

    ― Não sei se vou ter forças...

    ― Faça isso por mim, pois não sei se chegarei a tempo.

    Ambas estavam profundamente abaladas.

    ― Está bem. Estou entrando no quarto. Não seria melhor fazer uma videochamada?

    Sarah fez uma pausa, pensando na proposta.

    ― Não sei se vou conseguir falar com ela. Acho que vou chorar. Mas podemos tentar.

    ― Ok. Vou desligar e fazer a videochamada.

    A ligação foi encerrada e logo depois o celular voltou a tocar.

    Sarah atendeu, e pôde ver a imagem da mãe na cama, debilitada, com o lençol indo até o queixo, tentando sorrir.

    ― Oi, mãe ― disse, segurando as lágrimas. ― Como é bom te ver.

    ― Oi, filha ― sussurrou. ― Te amo!

    As lágrimas rolaram no rosto de Sarah.

    ― Eu também te amo, mãe. Sempre vou te amar.

    Não conseguiu continuar, pois as palavras travaram em sua garganta.

    ― Cuide-se... Fique tranquila... Estou bem.

    ― Não estou no Rio, mas vou dar um jeito de ir vê-la.

    ― Está bem... Fico te aguardando... Um beijo.

    ― Outro para você, mãe... Te amo muito!

    A mãe levou vagarosamente a mão direita à boca e jogou um beijo.

    Sarah retribuiu o gesto e em seguida a imagem mostrou Marly se afastando do leito, chorando.

    ― Te aguardo aqui, Sarah.

    ― Ok. Irei o mais rápido que puder. Beijos.

    Messias a fitava com carinho.

    ― Seja forte ― disse ―, e se não conseguir, estou por aqui.

    ― Obrigado, querido ― disse, secando o rosto.

    Neste momento o celular de Messias emitiu um aviso sonoro avisando que uma nova mensagem havia chegado.

    Pegou o aparelho e percebeu que era um número desconhecido.

    Se olharam, pensando simultaneamente: É Will.

    Ele pegou o aparelho, destravou a tela e leu: OLÁ, MESSIAS!

    ― Não tenho dúvidas de que é Will ― disse, mostrando a mensagem.

    ― Acho que vocês têm uma comunicação telepática.

    O aviso sonoro informou que havia chegado outra mensagem.

    ― E ele pode ficar enviando mensagens da prisão?

    ― Não. Mas sempre dá um jeito de conseguir o que deseja.

    ― O que ele disse agora?

    Messias observou a mensagem e mostrou para ela em seguida:

    OLHE PARA O SEU CARRO.

    Olharam para o veículo estacionado do outro lado da rua, umas três vagas à esquerda, e então ele explodiu, transformando-se numa imensa bola de fogo.

    Olharam-se assustados e agradecidos por ninguém estar por perto no momento da explosão.

    ― Não acredito que mesmo da prisão Will vai continuar o jogo.

    ― Ele é surpreendente, Sarah. Você está certa... Mesmo da prisão, o jogo continua.

    Capítulo Dois

    Paulo Lents apresentava o programa NA HORA DO FATO direto dos estúdios da INDI TV em Alphaville, Barueri, São Paulo, e milhões de telespectadores acompanhavam ao vivo em todo o território brasileiro.

    As imagens mostravam uma aglomeração de pessoas próximas a um veículo em chamas numa determinada rua de São Paulo, e alguns metros dali, em pé na calçada, passivos e em silêncio, Messias e Sarah Ebras observavam a cena.

    Houve um corte para o estúdio, entretanto no telão por detrás de Paulo Lents as imagens do tumulto ao redor do carro continuavam sendo mostradas.

    ― Este veículo em chamas que vocês estão vendo pertence a Cimpol e quem o utilizava era o investigador Messias Ebras, que estava com a esposa Sarah. Para a sorte de ambos, o carro explodiu enquanto eles tomavam café. O fato ocorreu em frente a uma padaria na Rua Afonso Sardinha, no bairro da Lapa em São Paulo.

    Ele deu três passos, focando em outra câmera.

    ― A pergunta que fica no ar é... Estaria Will mesmo de dentro da prisão seguindo com o seu plano de vingança contra Messias Ebras? Confirmamos que os celulares são proibidos no presídio, porém, Will sempre encontra um meio de lidar com estas proibições, e acaba conseguindo atingir seus objetivos.

    Paulo fez uma pequena pausa, voltando à câmera anterior.

    ― Estão me informando aqui no ponto que a produção acabou de falar com Abelardo Simom, diretor do presídio onde Will está preso, e ele confirmou que nada de anormal aconteceu e o indivíduo continua detido. Será uma coincidência, ou Will está tendo acesso a aparelhos de celular e de lá vem comandando uma equipe aqui fora?

    Ele voltou a olhar para o telão.

    ― Vamos falar com Stella Milla que já está no local.

    As imagens mostraram a repórter à frente do carro ainda fumegando.

    ― É com você, Stella! Atualize as informações.

    ― Bom dia, Paulo! Bom dia a todos que nos acompanham. Consegui falar agora há pouco com Messias Ebras, e ele confirmou que recebeu duas mensagens antes da explosão onde pediram que olhasse para o carro.

    ― Então realmente há a possibilidade de ser Will?

    ― Sim. Messias não confirmou, mas explicou que as estranhas mensagens direcionam as suas suspeitas para Will, entretanto, a dúvida é que ele sempre ligava, e não costumava mandar mensagens. Sarah chegou a comentar que talvez ele tenha mudado de tática, pois não está podendo falar, já que está preso e não quer ser descoberto com o celular.

    Stella Milla fez uma pequena pausa.

    ― Estarei acompanhando o caso e qualquer novidade volto a chamá-lo. Stella Milla falando Na Hora Do Fato. É com você, Paulo.

    ― Ok, Stella. Qualquer novidade pode nos chamar ― disse, voltando a se sentar na bancada. ― Fiquem ligados, pois vamos verificar as informações e confirmar se foi mesmo Will que provocou a explosão. Voltamos logo após os comerciais.

    Em seguida a luz vermelha com a informação ao vivo se apagou, e Paulo Lents se levantou, pegando o celular.

    Procurou por um determinado contato e iniciou a ligação.

    Foi atendido após o sexto toque.

    ― Oi, Paulo...

    ― Olá, Messias. Achei que não ia me atender. Você acha mesmo que foi Will?

    ― Sim. Ele sabe que não tem como fugir, já que todos estão de olho nele, mas era certo que encontraria um jeito de continuar o jogo e me destruir.

    ― Se os celulares são proibidos na prisão, como conseguiu se comunicar com você?

    ― Will sempre encontra um jeito de realizar seus planos, pois é muito persuasivo. Além disso, se tornou uma pessoa famosa, e alguns sentem prazer em ajudá-lo, sem contar que deve ter dinheiro envolvido.

    ― Verdade. James Seer ganhou muito dinheiro, e deve ter uma boa quantia guardada em algum lugar.

    ― Mas vou esclarecer tudo isso rapidamente, pois vou fazer uma visita ao presídio e falar com Will. Ele sempre foi sincero e vai me dizer o que está acontecendo.

    ― Boa sorte, Messias, e tome cuidado. Sabe onde me encontrar caso precise de alguma coisa.

    ― Obrigado, Paulo. E se ficar sabendo de algo, por favor, me avise.

    ― Ok. Farei isso.

    Maycon Giraim estava no consultório médico do Dr. Ebraim, no Hospital São Paulo. Acomodado na cadeira de rodas, olhou rapidamente para os pais Lineu e Dalva que o acompanhavam na consulta, e em seguida para Pâmela Lima, sua namorada.

    Nunca mais serei o mesmo.

    ― Como estou, Doutor?

    ― Você está ótimo, Maycon, pois está vivo! Os ferimentos das pernas e dos braços estão sendo bem cuidados e cicatrizam bem.

    Dalva sorriu para o filho, mas ele se manteve sério.

    ― Continuem com os curativos, pois estão sendo bem-feitos e estão surtindo efeito. Se sentir alguma dor, os remédios são os mesmos. Ao sair, agendem o retorno para daqui a três meses.

    ― Ok. E quanto ao andar, Doutor? Vou ficar mesmo dependente desta cadeira de rodas?

    Dalva se esforçava para segurar as lágrimas.

    ― Tenho que ser honesto com você, meu rapaz. Me baseio nos exames e eles mostram que o problema é irreversível.

    Dalva olhou para Pâmela, que se mantinha passiva. A impressão que teve era que ela não estava ali, mas preferiu acreditar que o seu silêncio vinha da angústia de não acreditar que tudo aquilo estava realmente acontecendo.

    Maycon mantinha o rosto abaixado, triste e desanimado, e enquanto isso, Pâmela tentava encontrar uma saída para a situação.

    Não posso passar a minha vida ao lado de um inválido! Pensou, enquanto Lineu falava algo para o filho, tentando animá-lo. Maycon sempre foi um homem bonito e atraente, mas se ficar com ele agora, vou me tornar sua babá, não a sua mulher.

    O doutor olhou para ele, que se mantinha cabisbaixo.

    ― Maycon, você teve muita sorte. Já é um grande milagre estar vivo. Outros não tiveram esta oportunidade.

    ― Verdade, filho ― apoiou Lineu. ― Veja por este lado.

    Dalva olhou para Pâmela, esperando que dissesse algo.

    ― Vai dar tudo certo, amor ― disse, tentando se parecer convincente.

    ― Sei que vai precisar de um tempo para se adaptar e aceitar a situação ― continuou o médico ―, e agora no início será uma briga intensa com você mesmo, mas tenho certeza de que será muito feliz.

    Maycon olhou para ele, incrédulo.

    ― Sei que não acredita, pois a dor, o desespero e o desânimo não te deixam ver a situação pelo lado positivo, mas dias melhores virão. Você não é o meu primeiro paciente. Já vi esta história antes, e o final sempre impressiona. Não será diferente com você.

    ― O doutor tem razão, filho. Estamos juntos e tudo dará certo.

    Ele se mantinha cabisbaixo.

    ― Maycon, olhe para mim ― pediu o médico.

    Fitaram-se por um instante.

    ― Você tem uma família linda que te ama, e pelo que vejo todos estão dispostos a fazer o impossível para te ajudar a vencer esta batalha.

    Fez uma pausa para ele absorver as palavras.

    ― Me responda com sinceridade... Se pudesse escolher entre estar nesta situação e não estar mais aqui, como aconteceu com algumas pessoas que estavam lá com você, o que escolheria?

    Ele pensou na resposta, mas manteve-se calado.

    ― Deus te deu uma nova chance. Não estou dizendo que vai ser fácil, mas Ele está te dando uma nova oportunidade.

    Maycon continuou calado.

    ― A nossa maior força, meu jovem, não vem das nossas pernas, mas de Deus. Há muitos cadeirantes mais felizes e realizados do que muitos que andam livres por aí, porém tomando caminhos e decisões erradas.

    ― Vai dar tudo certo ― murmurou Pâmela.

    ― Estaremos juntos com você, filho ― garantiu Dalva.

    Maycon tentou sorrir, olhou rapidamente para Pâmela e para os pais, e voltou a fitar o médico.

    ― Obrigado por tudo, Doutor Ebraim, principalmente pelo apoio e pelas palavras de incentivo.

    ― Imagina. Estou aqui para isso. A princípio me preocupo com o primeiro obstáculo, a depressão. Se você a afugentar, não tenho dúvidas quanto a sua vitória. A resposta que você não me deu, me ajudaria a perceber se ela está perto ou longe.

    ― Doutor, vou ser sincero com o senhor... A primeira resposta que me veio à cabeça foi de não estar mais aqui, mas seria a resposta de uma pessoa fraca e sem motivos para viver.

    Ele olhou para os pais e para Pâmela.

    ― Tenho muitos motivos para viver, e nunca me considerei fraco.

    O médico sorriu abertamente.

    ― Ok. Boa sorte! Se precisar, sabe onde me encontrar.

    Despediram-se e se retiraram do consultório.

    Ao chegarem à recepção, enquanto Dalva ia no guichê agendar a próxima consulta, Lineu estacionou a cadeira de rodas num ponto onde não atrapalhasse ninguém, e deixou Maycon de frente para a televisão.

    Pâmela se sentou numa cadeira ao seu lado, e olharam para a TV.

    Paulo Lents falava sobre o atentado a Messias Ebras, e repetiam as imagens do carro em chamas.

    ― Ainda estão tentando matar Messias ― comentou Lineu.

    ― Pena não terem conseguido.

    ― Maycon! Não fale assim! Tire esta raiva do coração, filho.

    Pâmela olhou para a televisão e depois para o namorado.

    Não acredito que isso esteja acontecendo comigo, pensou. Fiz o diabo para separar Maycon de Lavínia, para agora ter que empurrá-lo para cima e para baixo nesta maldita cadeira de rodas! Não é isso que quero para mim.

    Maycon sentia a frieza de Pâmela, mas não se irritou, apenas se lembrou de Lavínia, e se perguntou se o seu comportamento seria igual.

    Lavínia, queria tanto que estivesse aqui agora.

    Abelardo Simom estava em seu escritório no presídio, sentado diante de Ronny Cotolo, chefe da segurança e dos seus auxiliares, Martins e Lemos.

    ― Creio que vocês estão sabendo do atentado que Messias Ebras da Cimpol sofreu na manhã de hoje.

    Eles balançaram a cabeça afirmativamente.

    ― Já se formou um furdunço dos diabos!

    ― Estava vendo na televisão, chefe ― disse Ronny.

    ― Estão achando que foi Will o responsável pelo atentado, e que continua o jogo de vida e morte com o investigador daqui da prisão. Isso é inaceitável! Já falei com o pessoal da televisão e garanti que Will continua quietinho na sua cela.

    ― Disso não temos a menor dúvida, senhor ― disse Martins, olhando para Lemos. ― Estamos vindo da cela de Will. Ele está lá, dormindo.

    Abelardo ficou em silêncio por um instante, pensativo.

    ― Merda! Será possível que temos um traidor entre nós?! Alguém que está colaborando com Will, e está fornecendo celulares para ele?

    ― Não creio, chefe ― disse Ronny. ― Estamos atentos a tudo, pois sabemos o quanto o prisioneiro é perigoso. Estamos cuidando disso pessoalmente, não é mesmo Martins? Não é isso, Lemos?

    Eles concordaram, balançando a cabeça veemente.

    ― Mas algo me diz que alguém está colaborando com ele. Quem mais tem acesso à cela de Will?

    ― As circunstâncias nos levam a crer que Will é o autor do atentado ― disse Lemos, sério ―, mas pode ser que não. Com certeza Messias Ebras tem outros inimigos. Talvez neste caso, Will seja inocente.

    Pensativo, Abelardo ficou em silêncio por um instante.

    ― É... Pode ser que esteja me precipitando. O problema é que a pressão sempre cai sobre nós. Ou melhor... Sobre mim! A população, a televisão, a Cimpol. Até o Comandante Pedro Garber já me ligou. Todos acham que Will é o responsável pelo atentado.

    ― Mas acho que desta vez todos estão errados ― comentou Lemos.

    ― Quantos seguranças tem acesso a ala onde Will está detido?

    ― Vários, chefe ― respondeu Ronny. ― Temos dois plantões por dia, diurno e noturno, num revezamento de doze por trinta e seis. Em cada plantão temos quatro seguranças. Sei o que está pensando, e tem razão, mas poderia ser qualquer um deles.

    ― Entendi, Ronny. O que eu quero, é atenção máxima! Sei que temos que estar atentos a todos os detentos, porém, quero que a cela de Will seja a mais vigiada do presídio, entenderam?!

    Eles balançaram a cabeça afirmativamente.

    ― Vocês são os responsáveis pelos seguranças, então estejam atentos. Se perceberem alguém agindo de modo suspeito ou falando algo com ele, traga-o imediatamente a mim. Por outro lado, se Will for inocente neste caso, logo descobriremos.

    Abelardo se levantou.

    ― Obrigado! Estão dispensados.

    ― Sim, senhor! ― responderam, praticamente ao mesmo tempo.

    Depois de saírem do escritório, Ronny, Martins e Lemos caminharam pelo corredor do presídio indo em direção às celas.

    ― Acho que desta vez não é Will ― disse Lemos.

    Ronny olhou para ele interrogativamente.

    ― É apenas uma suposição, já que está sendo muito bem vigiado.

    ― Sim ― concordou Martins ―, mas não podemos nos esquecer de que estamos falando de Will, alguém frio, inteligente e audacioso, capaz de enfrentar a Cimpol e um dos seus mais competentes investigadores.

    Seguiam pelo corredor.

    ― Alguém que já matou várias pessoas neste absurdo jogo de vida e morte com Messias, e inúmeras vezes conseguiu ludibriá-lo. Inteligente como é, pode sim ter criado um modo de seguir com sua vingança daqui de dentro da prisão.

    ― Ele não ia conseguir sozinho ― disse Ronny. ― Se Will é o autor do atentado e continua com o jogo, alguém está o ajudando, e quero saber quem é o desgraçado! Quero o máximo de atenção, entenderam?!

    ― Sim, chefe!

    ― Fique atento, Lemos, já que é o responsável pela ronda noturna, e à noite a situação complica um pouco mais. Às vezes o silêncio nos engana, e enquanto achamos que nada está acontecendo, planos mirabolantes estão sendo arquitetados ou realizados.

    ― Entendi.

    ― Quero que me comuniquem qualquer fato que acharem suspeito. E tenham certeza de que vão me ver circulando pelo corredor onde está a cela de Will, pois também vou ficar atento a ele. O diretor confia em nós, e vamos corresponder a esta confiança.

    ― Claro, chefe ― concordou Lemos.

    ― Com certeza ― apoiou Martins.

    ― Confio em vocês. Vamos lá! Ao trabalho!

    Seguiram mais alguns metros pelo corredor, e então se separaram.

    Will estava deitado no catre quando ouviu o barulho da porta de ferro sendo aberta, e em seguida, passos pelo corredor.

    Virou-se no colchão ficando de frente para a porta da cela e logo pôde ver a pessoa se aproximando lentamente e parar diante dele.

    Aproximou-se da porta e se olharam em silêncio.

    Então voltaram a atenção para Montanha, o detento que ficava na cela em frente, e perceberam que estava dormindo, pois roncava alto.

    ― Não era para estar aqui ― disse Will. ― O que aconteceu?

    ― Messias sofreu um atentado. Explodiram o seu carro.

    ― Ele morreu?

    ― Não, pois no momento da explosão não estava no carro. Você disse que ia me avisar quando fosse agir.

    ― Não fui eu, Lyon. Tem mais alguém tentando matar Messias.

    Heitor Numas, um dos investigadores da Cimpol – Centro de Investigação Policial de São Paulo, caminhava ao lado de Leonardo Manganello pelo corredor do prédio da BAC I - BASE DE APOIO DA CIMPOL, localizada na Rua Hugo D’Antola no Bairro da Lapa, próximo à ponte do Piqueri.

    ― Então continuam tentando matar Messias Ebras?

    ― Sim. Tudo indica que seja Will.

    Este maldito interesseiro vem colhendo o que plantou, pensou Heitor, irritado. Não era fama que Messias queria? Agora aguente as consequências!

    ― E Messias está bem?

    ― Sim. Por sorte tomava um café com a esposa numa padaria.

    Talvez da próxima vez não escape!

    ― Messias se tornou um homem famoso, Leo, e se era isso que ele tanto queria, agora colhe o que plantou.

    Leonardo olhou para ele, enquanto seguiam pelo corredor.

    ― Ele nunca almejou a fama, Heitor, ela veio naturalmente já que conseguiu resolver vários casos complicados e importantes. A Cimpol e a população reconheceram sua dedicação, profissionalismo e competência.

    Não tem jeito. Todos são puxa-sacos de Messias. Não seria diferente com Leo, que trabalha com ele.

    ― Messias não é um assíduo das redes sociais ― prosseguiu Leo ―, e acho que foi sua neta Sophia quem o incentivou a criar uma conta no Instagram, o que sei é que ele tem milhões de seguidores. As pessoas gostam dele naturalmente. Ele não precisa fazer nada para agradá-los, a não ser continuar sendo esta pessoa simpática, correta e competente que é.

    Ao chegarem na junção do próximo corredor, pararam e se fitaram.

    ― Messias incomoda muita gente, não é mesmo, Heitor? ― perguntou Leonardo, analisando a reação do colega, já que a inveja era nítida.

    ― Nós incomodamos. Basta prendermos alguém, ou desvendarmos alguma organização criminosa. Temos que tomar cuidado, pois algumas pessoas querem se dar bem na vida fazendo o que é ilícito, e se nos colocamos em seu caminho, ficam com ódio e querem se vingar.

    Não era a resposta que Leonardo esperava, pois sabia que Heitor não suportava a fama de Messias e queria estar em seu lugar, mas concordou.

    ― Ainda estão trabalhando na tal Base Secreta?

    Leonardo sabia que a Base Secreta era outra coisa que o incomodava e tentava descobrir onde ela estava instalada.

    ― Sim. O Comandante Pedro Garber preferiu mantê-la por um tempo, já que há uma grande possibilidade de Will tentar outra fuga. Agora então com o atentado, parece que o jogo será reiniciado.

    ― Entendi.

    ― Bem, agora tenho que ir. Até mais, Heitor.

    ― Até mais, Leo.

    Irritado, Heitor Numas seguiu apressado em direção a sua sala, onde sua esposa o aguardava há algum tempo.

    Entrou, fechou a porta e foi se sentar.

    ― É nítida a sua irritação ― disse Brenda, séria. ― O que aconteceu?

    ― Vinha conversando com Leo, e ele não para de falar em Messias.

    ― Você tem que controlar a sua raiva, pois isso pega mal. Principalmente aqui na Cimpol. A maioria sabe da sua picuinha com ele.

    ― Não é picuinha! Messias é metido e quer ser único!

    Esta raiva que Heitor sente de Messias, me dá medo.

    ― Venho lutando para pegar um caso importante, e quando ele chegou, o passaram para Messias.

    ― De que caso está falando?

    ― Daquele assalto bem elaborado à

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