Paralisia
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Paralisia - Luiz G. Teixeira
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CAPÍTULO 1: PRIMEIRO PESADELO
OS OLHOS CASTANHOS SE ABREM MOROSAMENTE, observando o zero, tudo permanece completamente preto em seu campo de visão. A temperatura começa a cair gradativamente, nem aquelas cobertas de algodão em torno do seu corpo, o protegia do álgido. A escuridão da madrugada pela primeira vez incomodava o pequeno Richard, ele começou a fazer suas primeiras tentativas de locomoção, primeiro os dedos das mãos, fracassando. Richard fechou os olhos, na tentativa de que ao abri-los, todo aquele pesadelo tivesse acabado, apenas uma ilusão.
Tic, tac, tic, tac, tic,tac
O relógio no criado-mudo ao lado da cama mostra a hora: três da manhã. A porta descerra lentamente, como se um ladrão noturno estivesse infiltrando-se. A dobradiça começa a ranger. Um cheiro terrível de esterco instaura pelas suas narinas, fazendo seu estômago embrulhar. O celular vibrava no criado-mudo, se pudesse atender, certamente gritaria por socorro. A porta fechou junto com um baque gigantesco, que ecoou por cada cômodo daquela casa, irritando seus tímpanos.
Richard sente a presença de outra pessoa no quarto, seus olhos permanecem paralisados, apenas pretendendo contemplar o rosto daquele ser, certamente um homem ou um demônio. Ele fecha os olhos mais uma vez, ouvindo os latidos dos cães e um barulho de carro vindo da alameda. A coberta começa a descer pausadamente do seu corpo, sendo arremessada no chão, sentindo as mãos firmes e geladas mexendo nas suas pernas. Ao descerrar as esferas castanhas, pode avistar um pequeno clarão se formando abaixo da sua cama, que começa a crescer bruscamente.
O fogo caminha lentamente para sua escrivaninha, onde encontra-se seu PC gamer e livros, posteriormente para o guarda-roupa, queimando por completo cada uma das suas vestimentas e seguindo em direção da sua cômoda, transformando suas fotografias em cinzas. Não pode avistar mais nada, além daquele fogaréu destruindo todos os seus sonhos.
— Ma…Ma… Mãe!
Uma tempestade surge do nada, apagando repentinamente o incêndio, quando deu por si, tudo tinha voltado ao normal e aquele mesmo indivíduo continua o observando da porta, fazendo-o se sentir a pessoa mais fraca do mundo. O homem de quase dois metros de altura começa a avultar o corpo de Richard. Ele escuta os batuques de tambor bem fraco no fundo.
Pensou que ia fugir de mim pelo resto da vida, Rick?
Aquela voz fez com que seus olhos derramassem algumas gotas de lágrimas, aquele timbre grosso, rouco e sem vida. Os batuques começam a ficar ainda mais fortes.
O demônio sentou-se ao lado de Richard, junto com todo aquele cheiro de dejetos, acariciando os cabelos escuros do garoto.
Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, vem a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos daí hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, não nos deixei cair em tentação, mas livrai-nos do mal.
Richard aguardou alguns segundos, não era religioso, mas acreditava na bondade divina e certamente aquele ser no seu quarto temeria quaisquer palavras sagradas. Os segundos se transformaram em minutos, estava tudo retornando ao normal, incluindo as movimentações do seu corpo, ele fechou os olhos, dessa vez caindo num sono leve e profundo.
O despertador tocou às seis horas da manhã em ponto, o garoto levantou abruptamente, tudo tinha voltado como era, finalmente. Richard entrou no banheiro, lavando o rosto com sabonete líquido, em seguida, regressa para o quarto, pegando o uniforme azul e branco, da escola. Ele segurou o celular nas mãos, sem nenhuma notificação de mensagem. Hoje era o último dia de aula, estava prestes a entrar de férias, a maioria dos seus colegas não iria para a escola, mas precisava se despedir dos amigos.
Ele coloca a mochila nas costas, abrindo a porta do quarto, caminhando pelos corredores da morada. O sol estava mais claro que o normal, sua casa, estava mais limpa que o natural, estava tudo perfeito demais. O aroma do café é sentido ao descer o primeiro degrau da escadaria, adjunto a um eflúvio de um delicioso bolo, tentava adivinhar o sabor, mas estava confuso.
— Mãe!
Ele passou primeiro pela sala de estar, seguindo pela de jantar e quando estava por chegar à cozinha, começou a pisar em algumas gotas vermelhas e escura, sangue. Não pode acreditar quando contemplou aquela cena, o corpo da sua mãe completamente esfaqueado no pavimento, aquela iluminação brilhante, transformou-se rapidamente na escuridão, aquele ainda era o seu pesadelo, teve certeza quando notou a sombra daquele homem de quase dois metros, segurando uma faca de cozinha. O seu corpo parou novamente, sua oração de nada havia servido. Richard escuta uma risada macabra refletindo pelos seus ouvidos. Ele não tinha domínio de mais nada.
— O que você quer?
Aquela risada diabólica, não parava, ecoava por cada lugar. Ele rezou outra vez, para que aquilo tivesse um epilogo.
Suas orações não adiantam de nada, pequeno Rick. Não notou isso? Pode continuar quantas vezes quiser, pode lutar quantas vezes quiser, mas este pesadelo não é seu, quem está no controle de tudo aqui, sou eu. Acha mesmo que tudo estaria tão perfeito assim? Café da manhã e bolo? É um ingênuo por pensar isso. Não sabe por quantos infernos passei, para chegar até você. Foram tempos de espera e finalmente estamos aqui, um na frente do outro, como sempre teve que ser.
— Por favor, pare! Eu quero ir embora.
O corpo da mulher havia desaparecido do pavimento. A sombra permanece parada, segurando aquela faca na mão, riscando algumas vezes na cerâmica da parede.
É cedo demais, Rick. Não acha? Nem nos conhecemos primeiro. Mas saiba que sei mais de você, do que você imagina, afinal, somos um só. Estaremos juntos todos os dias, não adianta tentar fugir, te encontrei uma vez e te encontraria milhares de vezes. Este ainda não foi o pior lugar que te levei, você pode acordar a qualquer momento, mas posso te matar a qualquer segundo, basta suas pálpebras fecharem e estou no controle. Não fique atordoado pequeno Rick, este não é o meu plano e muito menos o meu sonho. Ao acordar, lembre-se de contar este pesadelo para sua mamãe.
CAPÍTULO 2: AVISO
RICHARD LEVANTA DA CAMA RAPIDAMENTE, como se tivesse acabado de se salvar de um afogamento. Ele corre em direção do banheiro, ligando o chuveiro, sentindo a água gelada cair por todo o seu corpo. Por um instante indagou, se aquele momento atual fosse real ou fruto da sua imaginação, secou-se na toalha e percorreu pelos corredores da morada, ainda era madrugada, o dia nem tinha começado. Ele observou a chuva desabar na parte externa, passou a mão pelo corpo, estava tudo sob controle. Ele olhou pela fresta do quarto da sua mãe, ela continua deitada ao lado do pai, dormindo num sono profundo. O trovão fazia um forte barulho, o relâmpago ilumina uma parte da residência.
O que tudo aquilo significava, afinal?
Não conseguiu fechar mais olhos, ficou parado na cozinha, mexendo no celular, escutando músicas aleatórias no