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Império Da Luz
Império Da Luz
Império Da Luz
E-book773 páginas4 horas

Império Da Luz

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Sobre este e-book

Milhares de pessoas no mundo inteiro desapareceram misteriosamente. Este evento marca, definitivamente, o início da Profecia de Gaya, e a Alta Sacerdotisa da Irmandade da Luz, Meriadne, declara Junius de Margeau o Filho da Profecia. O homem mais influente do mundo consegue, finalmente, encontrar uma alternativa para a Guerra Negra e os conflitos do Oriente Médio, e acaba por realizar o impossível: um acordo de paz entre duas nações que guerreiam há milênios. No QG dos Rejeitados, Keren-Hapuque luta para trazer Josh de volta à sanidade, guiar os seus liderados ao seu destino e lidar com a revelação de um infiltrado entre os seus. Enquanto isso, uma guerreira, uma arma secreta, tem sido preparada contra os Rejeitados pela Força Kamar: a Guerreira Púrpura! E todas as ações irão levá-los a um final surpreendente, enquanto Magia e Ciência são apenas dois lados de uma mesma moeda, e o mundo caminha para uma nova era de paz. Será?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de fev. de 2020
Império Da Luz

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    Pré-visualização do livro

    Império Da Luz - Débora Falcão

    Império da Luz, por Débora Falcão

    [ 2 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    Débora Falcão

    Império da Luz

    Saga Cidade de Cristal

    Livro II

    [ 3 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    [ 4 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    Débora Falcão

    Império da Luz

    Saga Cidade de Cristal

    Livro II

    1ª Edição

    Recife, PE

    Débora Teixeira Falcão de Oliveira

    2015

    [ 5 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    Edição

    Débora Falcão

    Revisão

    Débora Falcão e Esdras Freitas

    Diagramação

    Débora Falcão

    Capa

    Débora Falcão

    Copyright © Débora Falcão, 2015

    ISBN: 978-85-914999-1-5

    Direitos mundiais reservados, em Língua Portuguesa, por Débora

    Falcão. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou

    transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou

    mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer

    sistema ou banco de dados sem permissão por escrito da autora.

    Clube de Autores Ltda.

    www.clubedeautores.com.br

    www.livroscidadedecristal.blogspot.com

    facebook.com/livrosdedeborafalcao

    deboratriz@gmail.com

    OLIVEIRA, Débora Teixeira Falcão de.

    Império da Luz – Saga Cidade de Cristal Livro II / Débora

    Falcão – Recife: Clube de Autores, 2016.

    B869.3

    1. Ficção e Contos Brasileiros I. Título

    ISBN: 978-85-914999-1-5

    Revisado conforme o novo acordo ortográfico

    [ 6 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    Ao meu amado, meu primeiro fã,

    incentivador e amigo.

    Sem você, eu não teria conseguido.

    A Deus, pelo amor e misericórdia infinitos.

    [ 7 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    [ 8 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    "A espada lhe cairá sobre o braço e sobre o olho

    direito; o braço, completamente, se lhe secará,

    e o olho direito, de todo, se escurecerá."

    Zacarias 11:17

    [ 9 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    [ 10 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    Prólogo

    Jerusalém, Israel

    Universidade Seven Rays

    31 de dezembro de 2033

    A festa de réveillon estava bastante alegre. A entrada do novo

    ano era muito esperada, porém havia bem mais que a simples

    passagem de um ano. Muita gente comemorava em bares, praias,

    cidades famosas do mundo inteiro, hospedadas em hotéis ou em

    casas, praças públicas, etc. Todos estavam na expectativa da

    contagem regressiva.

    Com aquele grupo não era diferente. Reunidos numa sala

    reservada especialmente para aquele fim, no novo edifício sede da

    Universidade Seven Rays, algumas pessoas aguardam por ela. Ela não

    se demora; há muito que fazer.

    Aquele grupo se reunia assim como tantos outros grupos

    espalhados pelo globo. Era uma vigília. Vinte e quatro horas a fio, se

    revezando em orações constantes a Gaya por seu filho. Essa vigília

    acontecia há mais de mil anos.

    Os filhos da Irmandade da Luz estavam todos reunidos numa das

    salas, esperando. Eles sempre estavam esperando, mas num dia

    como aquele, onde a conjunção dos astros e a numerologia da data

    eram importantes, a espera era definitiva, e eles estavam todos

    juntos, aguardando o chamado. Havia uma sensação mais forte desta

    vez, em todos eles, de que naquele dia era finalmente chegado o

    momento.

    A entrada dela interrompe os sussurros monocórdios da sala

    principal. O silêncio é quebrado apenas pelo farfalhar de suas saias

    negras, contrastando com a pele alva. Em seu colo, brilha um

    [ 11 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    pingente dourado, um círculo talhado com minúsculos galhos e folhas,

    envolto em outro círculo de mesmo talhe, símbolo que usava desde

    sua consagração como Alta Sacerdotisa da Irmandade. Os Filhos a

    viram passar para a sala principal e ficaram ansiosos. Era ela quem

    decidiria o futuro deles, que dependeria dos sinais naquela noite.

    Aproxima-se da janela. Fogos de artifício se espalham pelos céus

    da bela cidade. Muitos vestindo branco se apinhavam na praça

    central, de onde se podia ver o imponente edifício Kamar, com suas

    imensas janelas refletindo a dança colorida das luzes. Suspira.

    Seus olhos azuis perscrutam cada movimento, tentando

    identificar o que deseja. Fecha os olhos e se concentra nos sons.

    Sorrisos, festejos. Tudo parece como todos os anos, mas algo lhe diz

    que é o momento certo. Os astros estão alinhados, congruentemente

    com as profecias pagãs da época em que a própria Gaya surgira

    envolta em galhos de um carvalho, vestida com a noite, tendo a lua e

    as estrelas por suas joias, e suas palavras foram para sempre

    registradas no Livro da Irmandade.

    Volta-se para o centro da sala. As pessoas que ali estão,

    chamadas Sentinelas, a observam. Senta-se entre eles na posição de

    lótus e se concentra em seu chakra frontal, onde repousa o Olho-de-

    Deus.

    Tudo parecia como sempre, até que um ruído se destaca dos

    demais. Ela abre os olhos, mas não focaliza em ninguém. Apenas

    escuta.

    Socorro!

    Os Sentinelas se levantam e correm para a janela. O que antes

    era festa passa a ser uma grande confusão. Pessoas correm de um

    lado para outro, outras gritam, outras choram. Não havia mais lugar

    para a alegria. Algo estranho estava acontecendo, mas a Alta

    Sacerdotisa não se movia. Apenas esperava.

    "Varias pessoas estão desesperadas, algumas segurando roupas

    nas mãos", disse uma moça.

    Mas a mulher nada responde. A moça se aproxima e toca seu

    ombro.

    [ 12 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    Sacerdotisa Meriadne?

    Ela sorri.

    É chegado o momento.

    Levanta-se e desamarra do pulso um pequeno pacote de cetim

    preto. Quatro Sentinelas correm para seus lugares, representando os

    quatro elementos, e organizam no chão um círculo mágico, cada um

    com um objeto representando seu elemento sagrado.

    Meriadne retira do pacote um pó violeta. Há muito tempo

    esperava por este ritual. Finalmente, a Purificação chegou. Caminha

    pelo interior da sala, jogando o pó e fechando o círculo, repetindo

    algumas palavras em Sânscrito.

    <"Asubhih atha re mrtyn! Ekah hrdi ekah gatim. Premâ sukha

    yôga."> (Vida para os mortos! Um coração, um destino. Amor,

    felicidade, união.)

    Os Sentinelas rezam para os quatro elementos.

    <Dese jalam agnam vâyuh> (Terra, água, fogo, ar).

    Meriadne dança em torno da fumaça que se erguia de uma vela

    roxa previamente acesa, no centro do círculo, representando o

    elemento espírito, e o saúda.

    "Seja bem vindo, Senhor da Luz. Que o deus da Sabedoria Antiga

    o ilumine neste novo momento. É chegado o tempo."

    De sua garganta sai uma melodia suave. Seus olhos azuis são

    misteriosos e seus lábios se movem constantemente, com a música.

    Suas mãos e seus dedos se movimentam em gestos graciosos e

    significativos, e seus cabelos compridos acompanham a dança. Este

    mesmo ritual se repete em cada uma das dez futuras Províncias do

    planeta, sendo acompanhado pessoalmente pelo líder Kamar de cada

    uma delas, e por videoconferência pelo Secretário Geral das Nações

    Unidas, Monsieur Junius de Margeau.

    Enquanto isso, em todo o planeta, em todos os lugares, pessoas

    desaparecem misteriosamente do local onde estavam, deixando

    apenas suas roupas do mesmo modo que as vestiam, e o pânico se

    instaura em todas as partes do mundo.

    [ 13 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    [ 14 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    Capítulo 1 – Prisioneiro

    Jerusalém, Israel

    Agosto de 2034

    Oitavo mês após a Purificação

    O trânsito parecia normal, como sempre. Ecocars por todos os

    lados, mas uns poucos carros antigos a gasolina ainda circulavam. Era

    difícil encontrá-los desde o fim da Guerra Negra. Um caos por causa

    da escassez de combustíveis a base de petróleo ocorreu assim que a

    Guerra isolou as principais fontes da matéria-prima no Oriente Médio,

    e os demais produtores, como o Brasil, vendiam o barril a preços

    muito acima do mercado. Gasolina virou artigo de luxo, e sua outra

    alternativa, combustível a base de álcool, era também um artigo

    vendido exclusivamente pela América do Sul. Mesmo dentro do país

    produtor, havia a crise, e combustível acabava sendo moeda de troca

    entre cidades com estoque e outras, produtoras de comida.

    Para evitar competição do próprio mercado, o valor do álcool

    também era altíssimo, portanto, impossível de se manter esse meio

    de transporte. Por causa disso, novas alternativas para o problema

    tiveram de ser criadas. O que se tornou ouro negro passou a ser a

    causa do colapso nos transportes, exigindo novos meios.

    O Japão, que já havia criado os melhores modelos de carros

    elétricos décadas antes, desenvolveu-os de maneira a popularizá-los,

    tornando-se o principal produtor. As pessoas que ainda possuíam

    bens e desejavam manter um determinado estilo de vida, trocaram

    seus antigos carros pelos modelos ecológicos, mas ainda assim, um

    novo costume se sucedeu: o de andar a pé e de bicicleta. Muito disso

    se devia à própria Guerra: os tempos difíceis acabaram por fazer o

    povo economizar em transporte, e muitas ruas destruídas ou em fase

    [ 15 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    de reconstrução, tudo isso acabava por fazer os motoristas desistirem

    de saírem com seus carros.

    Um novo modelo de transporte ainda estava sendo estudado

    pelas secretarias de infraestrutura do mundo inteiro, uma criação

    também japonesa de carros utilizando energia eletromagnética.

    Assim, poderiam otimizar o espaço, construindo vias em vários níveis,

    e não somente a nível do solo. Era ainda um projeto em estudo, mas

    muitos acreditavam que este tempo viria rápido. Enquanto isso, o

    trânsito das cidades era composto de ecocars, bicicletas e pedestres.

    E era assim que estavam as ruas em torno da praça central da

    cidade, construída no coração do complexo urbano que se formou em

    Jerusalém. Uma praça organizada, limpa, planejada. De frente para

    ela, um imponente edifício coberto de janelas que refletiam a luz da

    lua. Ao seu lado, a sede da Universidade Seven Rays, que se tornou o

    complexo estudantil de ensino superior mais importante do mundo,

    com filiais em todas as Províncias, como passaram a ser chamados os

    blocos econômicos de países. Sua torre branca se elevava acima dos

    edifícios da praça, tornando-se um ponto de referência.

    Um casal atravessa a rua no lado contrário à Seven Rays, e entra

    no saguão de uma torre de 400 metros de altura. Um elevador os

    leva direto ao topo, onde o melhor restaurante de Israel está

    instalado, e de onde dá para ver toda a cidade e até além das

    fronteiras. Uma bela vista.

    Recebidos pelo mâitre, foram conduzidos a uma das melhores

    mesas, reservada com antecedência pelo cavalheiro.

    Você está deslumbrante, tanto quanto esta vista! disse o

    homem, erguendo a taça do caríssimo champanhe francês Safra

    Especial deMargeau, assim chamada por ser datada de 2001, ano de

    nascimento de Junius de Margeau, o francês mais famoso e influente

    do mundo, e apontou para a cidade iluminada.

    A moça sorri e ergue sua taça.

    [ 16 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    Obrigada, você é sempre muito gentil.

    Esta é uma noite muito especial, ele diz. Ele faz um sinal com

    uma mão erguida e um garçom entende a deixa, avisando aos

    músicos do local. A melodia da Rapsódia de Rachmanioff inunda o

    ambiente ao som suave de violinos.

    Nossa música! exclama a mulher.

    O homem se levanta, apenas para se ajoelhar diante dela. Todos

    os clientes do restaurante assistiram à cena. Ele abriu uma caixinha

    preta, forrada de cetim, e de dentro podia se ver um brilho nada

    discreto.

    Meu Deus! ela sorriu. O diamante rodeado de brilhantes

    parecia sorrir para ela.

    Agatha, quer se casar comigo?

    A moça chorava. Sim! Mil vezes sim!

    O homem se levantou para abraçá-la. Todos bateram palmas.

    Ao sentarem-se, o mâitre se aproximou, o homem fez os

    pedidos, e a mulher admirava seu diamante, apontando-o para a

    entrada da gerência. Com os dedos polegar e indicador da mão

    esquerda, ela deslizou delicadamente sobre o anel; e como quem

    acaricia em admiração à rara joia, acionou um dispositivo, emitindo

    um sinal para duas pessoas não muito longe dali, que pensavam

    quase como uma única mente.

    Algumas horas depois, o casal entra num lugar pouco visitado

    pelas pessoas comuns. Uma entrada dificultada para todos, mas

    conhecida deles.

    Finalmente, estão de volta.

    [ 17 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    Os dois se viraram para quem os recebera. Os lábios

    desenhavam uma linha fina no rosto duro. Os braços desnudos de

    músculos definidos se cruzaram diante do corpo.

    Um trabalho impecável. falou ela.

    Obrigado, disse o homem.

    "Os irmãos já estão conectados ao restaurante. A incursão

    definitiva será esta madrugada. Os dois estão convocados. Até lá,

    poderão descansar."

    Está bem, disse o homem, já se afastando.

    Ah, Abraham?

    Sim?

    Você estava ótimo.

    Ele sorriu. Obrigado.

    Abraham, antigo líder do grupo de judeus que se refugiara nos

    subterrâneos da cidade durante a Guerra Negra, havia abdicado de

    sua liderança local em favor da liderança dela. Era agora seu braço

    direito naquele lugar e recebia as principais missões externas. Após

    falar com a líder, seguiu seu caminho até sua câmara. A mulher que o

    acompanhava ficou, retorcendo nervosamente no dedo o falso anel

    de noivado.

    Obrigada por me permitir participar desta operação, disse com

    ansiedade.

    Perscrutada do alto da cabeça aos pés, não obteve resposta por

    alguns poucos minutos.

    "Você se mostrou uma boa recruta. Merecia esta chance. Mas,

    Dinah? Não me decepcione."

    [ 18 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    Dinah moveu a cabeça afirmativamente e se retirou para a ala

    feminina do lugar.

    Após a saída de Dinah e Abraham, a mulher ficou sozinha.

    Aquela havia sido uma operação sigilosa e arriscada. Já havia alguns

    anos que as operações planejadas por ela estavam sendo sabotadas

    por um infiltrado. Era complicado definir quem os estava traindo.

    Porém alguém muito poderoso a havia alertado anos antes, antes de

    tudo começar, antes que a guerra implacável atingisse todo o mundo,

    antes que perdesse pessoas preciosas, antes que passasse de uma

    jovem garota, prestes a morrer sacrificada ao deus da Irmandade, a

    uma mulher dura com objetivos específicos a cumprir.

    Cuidado com os espias, lembrou-se de ouvi-lo dizer. Havia

    alguém os sabotando, só precisava descobrir quem. E foi pensando

    nisso que resolveu visitar uma ala isolada do esconderijo.

    Suas botas grossas galgavam devagar os corredores escondidos,

    por trás do local onde os seus liderados costumavam ficar. Iluminado

    apenas por uma lanterna, o corredor deu por fim numa porta

    trancada. Com sua digital, ela a abriu.

    Diferente de todo o resto daquele lugar, a sala tinha uma

    estrutura de concreto no centro da sala maior, sendo a parede frontal

    construída por vidro blindado. Uma porta de metal pesado guardava a

    entrada da estrutura, que estava sempre iluminada, e conservava um

    catre, uma latrina, uma mesa e uma cadeira. Era uma prisão, e sua

    existência ali só era conhecida por quatro pessoas além dela mesma.

    De dentro da cela, um homem, sentado na beira da cama, olhava

    para a recém-chegada.

    Seus olhos fixaram-se nos dela. Os dois se reconhecem, mas de

    maneiras diferentes. Ela olha com tristeza. Ele, com frieza.

    "Bom dia, Keren. Ou devo dizer noite? Convenhamos que este

    não é o melhor lugar para se definir as horas...".

    [ 19 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    Um sorriso surge no canto de seus lábios, sua barba por fazer

    esconde uma covinha que antes a encantava. Um brilho maléfico

    ilumina os olhos daquele que um dia fora seu guardião e melhor

    amigo.

    A voz dela era dura.

    Josh.

    "Já faz algum tempo que não recebo sua ilustre visita. Apenas

    um de seus liderados me traz comida e, pela frequência, devo calcular

    que não vem me ver há... o quê? Uma semana?"

    Josh se levantou e veio caminhando até a parede de vidro onde

    estava Keren, e olhou nos seus olhos. Por um instante, Keren pensou

    que olhava nos antigos olhos de Josh.

    Não sentiu saudades?

    Por um momento Keren se sentiu perdida naquele olhar, e sua

    mão sentiu um desejo quase incontrolável por tocar sua face. Sem

    perceber, sua mão se ergueu e tocou o vidro, na altura do rosto de

    Josh. Quando isso aconteceu, um brilho cruel passou pelo olhar dele,

    e seu rosto mudou, sutilmente, de uma expressão de carinho para

    desdém.

    Por que não abre esta cela para matarmos esta saudade?

    Com raiva, Keren bate com a mão fechada no vidro, e se vê

    decepcionada por aquela barreira entre seu golpe e o rosto dele.

    Completamente inadequada ao momento, uma risada sarcástica faz

    eco no silêncio. Josh ria. Ria de Keren.

    Desculpe, querida, mas você é muito engraçada...

    Keren o observa rir, sem nenhuma expressão em seu rosto.

    Apenas uma gota de suor escorre por suas costas, até o cós da calça.

    Ele para de rir e olha para ela.

    [ 20 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    "Olhe para si mesma, Keren. Você não vê a hora de se jogar nos

    meus braços."

    "E há quase quatro anos você parece não ver a hora de me

    matar."

    Não é verdade, querida. Antes quero... digamos... ele a olha

    lascivamente. ...aproveitar os espólios...

    Keren se aproxima suavemente, retomando o controle total de

    suas emoções e reações. Chega a encostar o nariz no vidro,

    encarando Josh, olho no olho. Sua voz era muito baixa.

    "Parece que sua missão falhou miseravelmente. E por causa de

    uma mulher."

    Continuaram se encarando em silêncio. Keren deixa-o sozinho.

    ***

    Universidade Seven Rays

    Meriadne entrou na sala de rituais místicos, localizada na ala

    leste do prédio, pertencente ao curso de História Mística da

    Humanidade. Lá estavam cinco pessoas, todas do sexo masculino e

    com idades entre 8 e 28 anos. E aguardavam por ela; ela lhes daria

    destino.

    Aldrich aguardava em seu lugar. Estavam confinados dentro

    Universidade desde o Dia da Purificação, oito meses atrás,

    aguardando a decisão dela. Tinha medo do que aconteceria. Ouvira

    histórias de que seriam sacrificados em honra à Serpente Antiga.

    Estudara muito para chegar até ali. Fora tratado como a um deus, um

    príncipe. Todos foram. E agora, seus destinos seriam traçados.

    Isso acontecia há mais de mil e quinhentos anos, quando a

    Irmandade da Luz fora fundada por uma sacerdotisa de Gaya após

    [ 21 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    uma visão. Segundo a história, Gaya em pessoa apareceu para a

    jovem filha da terra, chamada Indra, vinda de uma antiga linhagem

    bretã de sacerdotisas. A visão lhe ocorreu no fim do quarto século

    depois de Cristo, numa aldeia próxima à grande Londinium, ainda

    dominada pelos romanos. Nela, Gaya deu instruções para que Indra

    preparasse seu filho para o domínio vindouro. A profecia constava de

    que este garoto chegaria ao mais alto escalão do Império, fundando o

    Império da Luz. Gaya afirmava que seu filho nasceria nas terras do

    norte, e que ela deveria cuidar dele.

    Segundo Aldrich estudara, Indra pensava que se tratava do

    Império Romano, e que talvez ele já tivesse nascido. Então,

    abandonou sua aldeia e suas irmãs sacerdotisas e sua família, viajou

    para o norte do Império, e procurou meninos nascidos naquele ano,

    com as características astrais informadas por Gaya. Como muitos

    garotos se encaixavam, Indra formou a Irmandade da Luz, com doze

    mães de garotos que estavam dentro das expectativas. Essas mães

    dedicaram seus filhos à Irmandade, e foram iniciadas nos ofícios, dos

    quais Indra já era sacerdotisa, formando uma irmandade peculiar,

    onde várias doutrinas místicas se misturavam. Era uma religião

    diferente das outras pagãs. Indra tinha conhecimento de muitas

    religiões místicas e sempre buscou se aprofundar mais. E ensinou às

    mães, e também aos garotos, para que aprendessem todos os

    mistérios de Gaya e da profecia.

    Mas aqueles não foram os meninos corretos. E Indra teve que

    procurar outros, e outros, e outros. A Irmandade da Luz cresceu, e

    muitas mulheres foram participando, mesmo não sendo mães de um

    possível filho de Gaya. Para elas, era uma honra ser a mãe do filho da

    deusa mais importante do povo pagão, a Mãe Terra.

    A religião foi conquistando aos poucos os corações de aldeões,

    com mais adeptos, mesmo homens, até que a Igreja Católica chegou

    poderosa no coração da Bretanha.

    Após Indra, outras mulheres tomaram seu posto, sempre

    direcionadas pela consulta aos astros e aos poderes dos quatro

    elementos. Sempre mantiveram o número treze na liderança da

    Irmandade: uma alta sacerdotisa e mais doze sacerdotisas, que agora

    [ 22 ]

    Império da Luz, por Débora Falcão

    podiam ou não ser mães de garotos candidatos ao posto de filho de

    Gaya.

    Com o tempo, as mulheres escolhidas para serem sacerdotisas

    eram mulheres totalmente dedicadas à irmandade, virgens, sem

    contato prévio com homens. O único momento em que poderiam ter

    contato com sexo seria sexo ritual.

    Foi designado, no século XIII, quando uma das irmãs foi morta

    na fogueira pela Inquisição, um grupo de Sentinelas, para fazerem

    vigília vinte e quatro horas pelo filho de Gaya, protegendo os

    candidatos. Na época, a Alta Sacerdotisa Kahla estava organizando os

    antigos diários de Indra e escrevendo o Livro da Irmandade. Kahla

    auxiliou na formação do grupo de sentinelas, composto por mães,

    pais, aspirantes a sacerdotisas e adeptos iniciados nos mistérios da

    Irmandade e seus rituais. Todo o processo foi descrito no Livro.

    Todos os candidatos a filhos eram preparados, em idades

    diferentes, para assumir o posto, caso fossem revelados. E esta

    tradição se mantinha até os dias de hoje. Quando o mais velho

    completava trinta e três anos, aguardavam o sinal de Gaya. Quando

    este não acontecia, a Alta Sacerdotisa decidia seu destino, e

    aguardavam o segundo mais velho completar a idade. Geralmente,

    acompanhava uma grande ascensão política do que assumia o posto

    de mais velho, para que pudesse liderar. Ou apenas, uma ascensão

    de liderança no lugar

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