Império Da Luz
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Império Da Luz - Débora Falcão
Império da Luz, por Débora Falcão
[ 2 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
Débora Falcão
Império da Luz
Saga Cidade de Cristal
Livro II
[ 3 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
[ 4 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
Débora Falcão
Império da Luz
Saga Cidade de Cristal
Livro II
1ª Edição
Recife, PE
Débora Teixeira Falcão de Oliveira
2015
[ 5 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
Edição
Débora Falcão
Revisão
Débora Falcão e Esdras Freitas
Diagramação
Débora Falcão
Capa
Débora Falcão
Copyright © Débora Falcão, 2015
ISBN: 978-85-914999-1-5
Direitos mundiais reservados, em Língua Portuguesa, por Débora
Falcão. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou
transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou
mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer
sistema ou banco de dados sem permissão por escrito da autora.
Clube de Autores Ltda.
www.clubedeautores.com.br
www.livroscidadedecristal.blogspot.com
facebook.com/livrosdedeborafalcao
deboratriz@gmail.com
OLIVEIRA, Débora Teixeira Falcão de.
Império da Luz – Saga Cidade de Cristal Livro II / Débora
Falcão – Recife: Clube de Autores, 2016.
B869.3
1. Ficção e Contos Brasileiros I. Título
ISBN: 978-85-914999-1-5
Revisado conforme o novo acordo ortográfico
[ 6 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
Ao meu amado, meu primeiro fã,
incentivador e amigo.
Sem você, eu não teria conseguido.
A Deus, pelo amor e misericórdia infinitos.
[ 7 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
[ 8 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
"A espada lhe cairá sobre o braço e sobre o olho
direito; o braço, completamente, se lhe secará,
e o olho direito, de todo, se escurecerá."
Zacarias 11:17
[ 9 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
[ 10 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
Prólogo
Jerusalém, Israel
Universidade Seven Rays
31 de dezembro de 2033
A festa de réveillon estava bastante alegre. A entrada do novo
ano era muito esperada, porém havia bem mais que a simples
passagem de um ano. Muita gente comemorava em bares, praias,
cidades famosas do mundo inteiro, hospedadas em hotéis ou em
casas, praças públicas, etc. Todos estavam na expectativa da
contagem regressiva.
Com aquele grupo não era diferente. Reunidos numa sala
reservada especialmente para aquele fim, no novo edifício sede da
Universidade Seven Rays, algumas pessoas aguardam por ela. Ela não
se demora; há muito que fazer.
Aquele grupo se reunia assim como tantos outros grupos
espalhados pelo globo. Era uma vigília. Vinte e quatro horas a fio, se
revezando em orações constantes a Gaya por seu filho. Essa vigília
acontecia há mais de mil anos.
Os filhos da Irmandade da Luz estavam todos reunidos numa das
salas, esperando. Eles sempre estavam esperando, mas num dia
como aquele, onde a conjunção dos astros e a numerologia da data
eram importantes, a espera era definitiva, e eles estavam todos
juntos, aguardando o chamado. Havia uma sensação mais forte desta
vez, em todos eles, de que naquele dia era finalmente chegado o
momento.
A entrada dela interrompe os sussurros monocórdios da sala
principal. O silêncio é quebrado apenas pelo farfalhar de suas saias
negras, contrastando com a pele alva. Em seu colo, brilha um
[ 11 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
pingente dourado, um círculo talhado com minúsculos galhos e folhas,
envolto em outro círculo de mesmo talhe, símbolo que usava desde
sua consagração como Alta Sacerdotisa da Irmandade. Os Filhos a
viram passar para a sala principal e ficaram ansiosos. Era ela quem
decidiria o futuro deles, que dependeria dos sinais naquela noite.
Aproxima-se da janela. Fogos de artifício se espalham pelos céus
da bela cidade. Muitos vestindo branco se apinhavam na praça
central, de onde se podia ver o imponente edifício Kamar, com suas
imensas janelas refletindo a dança colorida das luzes. Suspira.
Seus olhos azuis perscrutam cada movimento, tentando
identificar o que deseja. Fecha os olhos e se concentra nos sons.
Sorrisos, festejos. Tudo parece como todos os anos, mas algo lhe diz
que é o momento certo. Os astros estão alinhados, congruentemente
com as profecias pagãs da época em que a própria Gaya surgira
envolta em galhos de um carvalho, vestida com a noite, tendo a lua e
as estrelas por suas joias, e suas palavras foram para sempre
registradas no Livro da Irmandade.
Volta-se para o centro da sala. As pessoas que ali estão,
chamadas Sentinelas, a observam. Senta-se entre eles na posição de
lótus e se concentra em seu chakra frontal, onde repousa o Olho-de-
Deus.
Tudo parecia como sempre, até que um ruído se destaca dos
demais. Ela abre os olhos, mas não focaliza em ninguém. Apenas
escuta.
Socorro!
Os Sentinelas se levantam e correm para a janela. O que antes
era festa passa a ser uma grande confusão. Pessoas correm de um
lado para outro, outras gritam, outras choram. Não havia mais lugar
para a alegria. Algo estranho estava acontecendo, mas a Alta
Sacerdotisa não se movia. Apenas esperava.
"Varias pessoas estão desesperadas, algumas segurando roupas
nas mãos", disse uma moça.
Mas a mulher nada responde. A moça se aproxima e toca seu
ombro.
[ 12 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
Sacerdotisa Meriadne?
Ela sorri.
É chegado o momento.
Levanta-se e desamarra do pulso um pequeno pacote de cetim
preto. Quatro Sentinelas correm para seus lugares, representando os
quatro elementos, e organizam no chão um círculo mágico, cada um
com um objeto representando seu elemento sagrado.
Meriadne retira do pacote um pó violeta. Há muito tempo
esperava por este ritual. Finalmente, a Purificação chegou.
Caminha
pelo interior da sala, jogando o pó e fechando o círculo, repetindo
algumas palavras em Sânscrito.
<"Asubhih atha re mrtyn! Ekah hrdi ekah gatim. Premâ sukha
yôga."> (Vida para os mortos! Um coração, um destino. Amor,
felicidade, união.)
Os Sentinelas rezam para os quatro elementos.
<Dese jalam agnam vâyuh
> (Terra, água, fogo, ar).
Meriadne dança em torno da fumaça que se erguia de uma vela
roxa previamente acesa, no centro do círculo, representando o
elemento espírito, e o saúda.
"Seja bem vindo, Senhor da Luz. Que o deus da Sabedoria Antiga
o ilumine neste novo momento. É chegado o tempo."
De sua garganta sai uma melodia suave. Seus olhos azuis são
misteriosos e seus lábios se movem constantemente, com a música.
Suas mãos e seus dedos se movimentam em gestos graciosos e
significativos, e seus cabelos compridos acompanham a dança. Este
mesmo ritual se repete em cada uma das dez futuras Províncias do
planeta, sendo acompanhado pessoalmente pelo líder Kamar de cada
uma delas, e por videoconferência pelo Secretário Geral das Nações
Unidas, Monsieur Junius de Margeau.
Enquanto isso, em todo o planeta, em todos os lugares, pessoas
desaparecem misteriosamente do local onde estavam, deixando
apenas suas roupas do mesmo modo que as vestiam, e o pânico se
instaura em todas as partes do mundo.
[ 13 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
[ 14 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
Capítulo 1 – Prisioneiro
Jerusalém, Israel
Agosto de 2034
Oitavo mês após a Purificação
O trânsito parecia normal, como sempre. Ecocars por todos os
lados, mas uns poucos carros antigos a gasolina ainda circulavam. Era
difícil encontrá-los desde o fim da Guerra Negra. Um caos por causa
da escassez de combustíveis a base de petróleo ocorreu assim que a
Guerra isolou as principais fontes da matéria-prima no Oriente Médio,
e os demais produtores, como o Brasil, vendiam o barril a preços
muito acima do mercado. Gasolina virou artigo de luxo, e sua outra
alternativa, combustível a base de álcool, era também um artigo
vendido exclusivamente pela América do Sul. Mesmo dentro do país
produtor, havia a crise, e combustível acabava sendo moeda de troca
entre cidades com estoque e outras, produtoras de comida.
Para evitar competição do próprio mercado, o valor do álcool
também era altíssimo, portanto, impossível de se manter esse meio
de transporte. Por causa disso, novas alternativas para o problema
tiveram de ser criadas. O que se tornou ouro negro
passou a ser a
causa do colapso nos transportes, exigindo novos meios.
O Japão, que já havia criado os melhores modelos de carros
elétricos décadas antes, desenvolveu-os de maneira a popularizá-los,
tornando-se o principal produtor. As pessoas que ainda possuíam
bens e desejavam manter um determinado estilo de vida, trocaram
seus antigos carros pelos modelos ecológicos, mas ainda assim, um
novo costume se sucedeu: o de andar a pé e de bicicleta. Muito disso
se devia à própria Guerra: os tempos difíceis acabaram por fazer o
povo economizar em transporte, e muitas ruas destruídas ou em fase
[ 15 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
de reconstrução, tudo isso acabava por fazer os motoristas desistirem
de saírem com seus carros.
Um novo modelo de transporte ainda estava sendo estudado
pelas secretarias de infraestrutura do mundo inteiro, uma criação
também japonesa de carros utilizando energia eletromagnética.
Assim, poderiam otimizar o espaço, construindo vias em vários níveis,
e não somente a nível do solo. Era ainda um projeto em estudo, mas
muitos acreditavam que este tempo viria rápido. Enquanto isso, o
trânsito das cidades era composto de ecocars, bicicletas e pedestres.
E era assim que estavam as ruas em torno da praça central da
cidade, construída no coração do complexo urbano que se formou em
Jerusalém. Uma praça organizada, limpa, planejada. De frente para
ela, um imponente edifício coberto de janelas que refletiam a luz da
lua. Ao seu lado, a sede da Universidade Seven Rays, que se tornou o
complexo estudantil de ensino superior mais importante do mundo,
com filiais em todas as Províncias, como passaram a ser chamados os
blocos econômicos de países. Sua torre branca se elevava acima dos
edifícios da praça, tornando-se um ponto de referência.
Um casal atravessa a rua no lado contrário à Seven Rays, e entra
no saguão de uma torre de 400 metros de altura. Um elevador os
leva direto ao topo, onde o melhor restaurante de Israel está
instalado, e de onde dá para ver toda a cidade e até além das
fronteiras. Uma bela vista.
Recebidos pelo mâitre, foram conduzidos a uma das melhores
mesas, reservada com antecedência pelo cavalheiro.
Você está deslumbrante, tanto quanto esta vista!
disse o
homem, erguendo a taça do caríssimo champanhe francês Safra
Especial deMargeau, assim chamada por ser datada de 2001, ano de
nascimento de Junius de Margeau, o francês mais famoso e influente
do mundo, e apontou para a cidade iluminada.
A moça sorri e ergue sua taça.
[ 16 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
Obrigada, você é sempre muito gentil.
Esta é uma noite muito especial
, ele diz. Ele faz um sinal com
uma mão erguida e um garçom entende a deixa, avisando aos
músicos do local. A melodia da Rapsódia de Rachmanioff inunda o
ambiente ao som suave de violinos.
Nossa música!
exclama a mulher.
O homem se levanta, apenas para se ajoelhar diante dela. Todos
os clientes do restaurante assistiram à cena. Ele abriu uma caixinha
preta, forrada de cetim, e de dentro podia se ver um brilho nada
discreto.
Meu Deus!
ela sorriu. O diamante rodeado de brilhantes
parecia sorrir para ela.
Agatha, quer se casar comigo?
A moça chorava. Sim! Mil vezes sim!
O homem se levantou para abraçá-la. Todos bateram palmas.
Ao sentarem-se, o mâitre se aproximou, o homem fez os
pedidos, e a mulher admirava seu diamante, apontando-o para a
entrada da gerência. Com os dedos polegar e indicador da mão
esquerda, ela deslizou delicadamente sobre o anel; e como quem
acaricia em admiração à rara joia, acionou um dispositivo, emitindo
um sinal para duas pessoas não muito longe dali, que pensavam
quase como uma única mente.
Algumas horas depois, o casal entra num lugar pouco visitado
pelas pessoas comuns. Uma entrada dificultada para todos, mas
conhecida deles.
Finalmente, estão de volta.
[ 17 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
Os dois se viraram para quem os recebera. Os lábios
desenhavam uma linha fina no rosto duro. Os braços desnudos de
músculos definidos se cruzaram diante do corpo.
Um trabalho impecável.
falou ela.
Obrigado
, disse o homem.
"Os irmãos já estão conectados ao restaurante. A incursão
definitiva será esta madrugada. Os dois estão convocados. Até lá,
poderão descansar."
Está bem
, disse o homem, já se afastando.
Ah, Abraham?
Sim?
Você estava ótimo.
Ele sorriu. Obrigado
.
Abraham, antigo líder do grupo de judeus que se refugiara nos
subterrâneos da cidade durante a Guerra Negra, havia abdicado de
sua liderança local em favor da liderança dela. Era agora seu braço
direito naquele lugar e recebia as principais missões externas. Após
falar com a líder, seguiu seu caminho até sua câmara. A mulher que o
acompanhava ficou, retorcendo nervosamente no dedo o falso anel
de noivado.
Obrigada por me permitir participar desta operação
, disse com
ansiedade.
Perscrutada do alto da cabeça aos pés, não obteve resposta por
alguns poucos minutos.
"Você se mostrou uma boa recruta. Merecia esta chance. Mas,
Dinah? Não me decepcione."
[ 18 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
Dinah moveu a cabeça afirmativamente e se retirou para a ala
feminina do lugar.
Após a saída de Dinah e Abraham, a mulher ficou sozinha.
Aquela havia sido uma operação sigilosa e arriscada. Já havia alguns
anos que as operações planejadas por ela estavam sendo sabotadas
por um infiltrado. Era complicado definir quem os estava traindo.
Porém alguém muito poderoso a havia alertado anos antes, antes de
tudo começar, antes que a guerra implacável atingisse todo o mundo,
antes que perdesse pessoas preciosas, antes que passasse de uma
jovem garota, prestes a morrer sacrificada ao deus da Irmandade, a
uma mulher dura com objetivos específicos a cumprir.
Cuidado com os espias
, lembrou-se de ouvi-lo dizer. Havia
alguém os sabotando, só precisava descobrir quem. E foi pensando
nisso que resolveu visitar uma ala isolada do esconderijo.
Suas botas grossas galgavam devagar os corredores escondidos,
por trás do local onde os seus liderados costumavam ficar. Iluminado
apenas por uma lanterna, o corredor deu por fim numa porta
trancada. Com sua digital, ela a abriu.
Diferente de todo o resto daquele lugar, a sala tinha uma
estrutura de concreto no centro da sala maior, sendo a parede frontal
construída por vidro blindado. Uma porta de metal pesado guardava a
entrada da estrutura, que estava sempre iluminada, e conservava um
catre, uma latrina, uma mesa e uma cadeira. Era uma prisão, e sua
existência ali só era conhecida por quatro pessoas além dela mesma.
De dentro da cela, um homem, sentado na beira da cama, olhava
para a recém-chegada.
Seus olhos fixaram-se nos dela. Os dois se reconhecem, mas de
maneiras diferentes. Ela olha com tristeza. Ele, com frieza.
"Bom dia, Keren. Ou devo dizer noite? Convenhamos que este
não é o melhor lugar para se definir as horas...".
[ 19 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
Um sorriso surge no canto de seus lábios, sua barba por fazer
esconde uma covinha que antes a encantava. Um brilho maléfico
ilumina os olhos daquele que um dia fora seu guardião e melhor
amigo.
A voz dela era dura.
Josh.
"Já faz algum tempo que não recebo sua ilustre visita. Apenas
um de seus liderados me traz comida e, pela frequência, devo calcular
que não vem me ver há... o quê? Uma semana?"
Josh se levantou e veio caminhando até a parede de vidro onde
estava Keren, e olhou nos seus olhos. Por um instante, Keren pensou
que olhava nos antigos olhos de Josh.
Não sentiu saudades?
Por um momento Keren se sentiu perdida naquele olhar, e sua
mão sentiu um desejo quase incontrolável por tocar sua face. Sem
perceber, sua mão se ergueu e tocou o vidro, na altura do rosto de
Josh. Quando isso aconteceu, um brilho cruel passou pelo olhar dele,
e seu rosto mudou, sutilmente, de uma expressão de carinho para
desdém.
Por que não abre esta cela para matarmos esta saudade?
Com raiva, Keren bate com a mão fechada no vidro, e se vê
decepcionada por aquela barreira entre seu golpe e o rosto dele.
Completamente inadequada ao momento, uma risada sarcástica faz
eco no silêncio. Josh ria. Ria de Keren.
Desculpe, querida, mas você é muito engraçada...
Keren o observa rir, sem nenhuma expressão em seu rosto.
Apenas uma gota de suor escorre por suas costas, até o cós da calça.
Ele para de rir e olha para ela.
[ 20 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
"Olhe para si mesma, Keren. Você não vê a hora de se jogar nos
meus braços."
"E há quase quatro anos você parece não ver a hora de me
matar."
Não é verdade, querida. Antes quero... digamos...
ele a olha
lascivamente. ...aproveitar os espólios...
Keren se aproxima suavemente, retomando o controle total de
suas emoções e reações. Chega a encostar o nariz no vidro,
encarando Josh, olho no olho. Sua voz era muito baixa.
"Parece que sua missão falhou miseravelmente. E por causa de
uma mulher."
Continuaram se encarando em silêncio. Keren deixa-o sozinho.
***
Universidade Seven Rays
Meriadne entrou na sala de rituais místicos, localizada na ala
leste do prédio, pertencente ao curso de História Mística da
Humanidade. Lá estavam cinco pessoas, todas do sexo masculino e
com idades entre 8 e 28 anos. E aguardavam por ela; ela lhes daria
destino.
Aldrich aguardava em seu lugar. Estavam confinados dentro
Universidade desde o Dia da Purificação, oito meses atrás,
aguardando a decisão dela. Tinha medo do que aconteceria. Ouvira
histórias de que seriam sacrificados em honra à Serpente Antiga.
Estudara muito para chegar até ali. Fora tratado como a um deus, um
príncipe. Todos foram. E agora, seus destinos seriam traçados.
Isso acontecia há mais de mil e quinhentos anos, quando a
Irmandade da Luz fora fundada por uma sacerdotisa de Gaya após
[ 21 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
uma visão. Segundo a história, Gaya em pessoa apareceu para a
jovem filha da terra, chamada Indra, vinda de uma antiga linhagem
bretã de sacerdotisas. A visão lhe ocorreu no fim do quarto século
depois de Cristo, numa aldeia próxima à grande Londinium, ainda
dominada pelos romanos. Nela, Gaya deu instruções para que Indra
preparasse seu filho para o domínio vindouro. A profecia constava de
que este garoto chegaria ao mais alto escalão do Império, fundando o
Império da Luz. Gaya afirmava que seu filho nasceria nas terras do
norte, e que ela deveria cuidar dele.
Segundo Aldrich estudara, Indra pensava que se tratava do
Império Romano, e que talvez ele já tivesse nascido. Então,
abandonou sua aldeia e suas irmãs sacerdotisas e sua família, viajou
para o norte do Império, e procurou meninos nascidos naquele ano,
com as características astrais informadas por Gaya. Como muitos
garotos se encaixavam, Indra formou a Irmandade da Luz, com doze
mães de garotos que estavam dentro das expectativas. Essas mães
dedicaram seus filhos à Irmandade, e foram iniciadas nos ofícios, dos
quais Indra já era sacerdotisa, formando uma irmandade peculiar,
onde várias doutrinas místicas se misturavam. Era uma religião
diferente das outras pagãs. Indra tinha conhecimento de muitas
religiões místicas e sempre buscou se aprofundar mais. E ensinou às
mães, e também aos garotos, para que aprendessem todos os
mistérios de Gaya e da profecia.
Mas aqueles não foram os meninos corretos. E Indra teve que
procurar outros, e outros, e outros. A Irmandade da Luz cresceu, e
muitas mulheres foram participando, mesmo não sendo mães de um
possível filho de Gaya. Para elas, era uma honra ser a mãe do filho da
deusa mais importante do povo pagão, a Mãe Terra.
A religião foi conquistando aos poucos os corações de aldeões,
com mais adeptos, mesmo homens, até que a Igreja Católica chegou
poderosa no coração da Bretanha.
Após Indra, outras mulheres tomaram seu posto, sempre
direcionadas pela consulta aos astros e aos poderes dos quatro
elementos. Sempre mantiveram o número treze na liderança da
Irmandade: uma alta sacerdotisa e mais doze sacerdotisas, que agora
[ 22 ]
Império da Luz, por Débora Falcão
podiam ou não ser mães de garotos candidatos ao posto de filho de
Gaya.
Com o tempo, as mulheres escolhidas para serem sacerdotisas
eram mulheres totalmente dedicadas à irmandade, virgens, sem
contato prévio com homens. O único momento em que poderiam ter
contato com sexo seria sexo ritual.
Foi designado, no século XIII, quando uma das irmãs foi morta
na fogueira pela Inquisição, um grupo de Sentinelas, para fazerem
vigília vinte e quatro horas pelo filho de Gaya, protegendo os
candidatos. Na época, a Alta Sacerdotisa Kahla estava organizando os
antigos diários de Indra e escrevendo o Livro da Irmandade. Kahla
auxiliou na formação do grupo de sentinelas, composto por mães,
pais, aspirantes a sacerdotisas e adeptos iniciados nos mistérios da
Irmandade e seus rituais. Todo o processo foi descrito no Livro.
Todos os candidatos a filhos eram preparados, em idades
diferentes, para assumir o posto, caso fossem revelados. E esta
tradição se mantinha até os dias de hoje. Quando o mais velho
completava trinta e três anos, aguardavam o sinal de Gaya. Quando
este não acontecia, a Alta Sacerdotisa decidia seu destino, e
aguardavam o segundo mais velho completar a idade. Geralmente,
acompanhava uma grande ascensão política do que assumia o posto
de mais velho, para que pudesse liderar. Ou apenas, uma ascensão
de liderança no lugar