Eu não quero mudar você
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Eu não quero mudar você - Leonardo Bento dos Santos
Dedicatória
Dedico este livro aos meus pais, Adalton e Iara, que foram como uma montanha, uma escalada difícil, mas necessária, e ao me elevar a cada passo me ajudaram a vencer as dificuldades em busca de iluminação e espiritualidade.
Dedico à minha esposa Daniela, que desde 2009 sempre esteve ao meu lado me apoiando nas tomadas de decisões e nos momentos difíceis. E que me compreendeu e incentivou em intensos nove dias que passei escrevendo este livro em regime de plantão.
Dedico à Malu, minha filha, que foi o melhor presente que a vida me deu.
Dedico à minha irmã, Isabela, que, embora em Portugal, acompanhou todo o desenvolvimento da obra me dando bastante suporte nos momentos mais difíceis do texto.
Dedico aos meus amigos Fábio Ued, Fernando Ued, Fabão, José Olavo e Neuber, que compartilharam comigo as primeiras opiniões sobre o livro, instigando-me sempre a continuar.
Agradeço aos profissionais de saúde mental que me acompanharam e que têm representado um papel importantíssimo no mundo contemporâneo, embora ainda um pouco "acobertadoEm especial à minha médica Maria Laura Ramalho Olivi, que desde 2011 tem cuidado da minha saúde psíquica, mostrando que o melhor tratamento é feito em parceria e com confiança mútua entre as partes.
Agradeço também a dois importantes colegas de trabalho, André e Juliana, que, embora não tenham participado diretamente do desenvolvimento do livro, tiveram papel primordial ao compreenderem minha ausência por dez dias para o desenvolvimento desta obra, sempre me incentivando.
Introdução
Lion Man
Seu nome era Neo. Ele chegou à Terra em meados dos anos 80, mais precisamente em 01/04/1987 (Dia da Mentira), vindo de alguma morada distante dali que, desde o começo, já deixava uma espécie de saudade no ar. Tudo começou em uma pacata cidade, cujo nome era Bom Retiro.
Seus pais eram dois trabalhadores assalariados, Abel trabalhava no setor administrativo de um comercial de couros e Isaura em uma instituição financeira consolidada no mercado. Casaram-se em 1982 e, como ainda estavam iniciando uma vida financeira juntos, decidiram passar a lua de mel em uma cidade próxima, Aporá.
Cinco anos se passaram quando foram presenteados com o primeiro filho, o já citado Neo. Neo era um bebê esperto, sorridente e independente. Logo bebê sofreu perigos de quase morte, quando um escorpião foi encontrado dentro de seu berço enquanto dormia, mas os desígnios de Deus optaram pela continuidade da vida e Abel conseguiu retirar o aracnídeo dali, salvando a vida da inocente criança, que nada sofreu.
Um fato sobre Neo chamava a atenção das pessoas desde suas primeiras falas. Seu pai, Abel, frequentava um salão de cabeleireiro de um senhor cujo nome era Jader. Na maioria das vezes, Neo acompanhava seu pai nesse salão e era sempre perguntado sobre as capitais do Brasil e do mundo. Não se sabe como, mas ele tinha na ponta da língua as principais capitais do globo terrestre, respondia instantaneamente ao ser perguntado, o que foi se perdendo ao final da primeira infância.
Interessante também era o pé de Neo no Japão. Tão logo aprendeu a assistir à TV, não desgrudava os olhos de live actions, como Jiraya, Black Kamen Rider, Jiban ou Lion Man. Em suas primeiras viagens em família, a bordo de um Fiat 147, sempre pedia a seu pai que sintonizasse uma rádio AM que transmitisse a TV Manchete para ouvir as gloriosas lutas de Jaspion. Quantos fins de tarde colocou um saco de pão na cabeça com os olhos furados para aguardar a chegada de Abel do trabalho e brincar de Lion Man…
O jovem guerreiro tem um segredo. Poderes tem para combater o mal. A força do bem é poder, é a luz.
Capítulo 1
Buraco em minha alma
O ano era 1992. Pela primeira vez em sua vida, Neo se sentiu rejeitado. Por mais que tenha sido preparado e amparado pela espiritualidade maior, a primeira grande prova espiritual estava por vir. Sua mãe Isaura passou por sua segunda gravidez, uma gravidez turbulenta, com muitos períodos instáveis de depressão. E um pai esgotado por trabalhar que mal conseguia cuidar da esposa e de seu primeiro filho, portanto, preferia se preocupar com a construção da nova casa para fugir de suas responsabilidades paternas.
Na pré-escola, Neo se destacava. Era nítida suas habilidades nas atividades escolares, mas já ia se criando um olhar perdido de solidão que Neo não conseguia demonstrar. Nessa tenra idade, Neo começou a se fechar.
A mãe Isaura — além da gravidez que tomava muito tempo — trabalhava arduamente em um banco, o que condicionava sua chegada em casa somente à noite em alguns dias; não era diferente com o pai. Abel, como já falado, trabalhava com comércio de couros e estava muito envolvido na construção da nova residência. Era como se Neo não tivesse pais. A grande responsável pela criação de Neo nessa fase foi sua tia Virgínia, irmã de Isaura. Ao mesmo tempo em que Neo se desenvolvia bem nas atividades escolares, os primeiros problemas de relacionamento foram surgindo, pois Neo foi se tornando frágil e dependente. Não sabia usar o banheiro sozinho, gritava sempre:
— Titia, vem me limpar. — A tia Virgínia colocava comida em sua boca, ajudava no banho, ajudava a se enxugar e trocar de roupa.
Neo não podia sair na rua, a mãe havia proibido tia Virgínia de levá-lo para ver o sol. Seu lugar era sempre trancado dentro de casa, assistindo à televisão, em uma casa escura. Diferente de seu primo mais próximo, Dudu, que era filho da outra tia, também irmã de Isaura, a tia Alda, pessoa leve e extrovertida, que teve Dudu em um relacionamento sem compromisso. Dudu era menino da rua, desde pequeno jogava bola na rua, brincava de pique-esconde, pique-pega... Neo via aquele mundo sem entender, sem compreender, embora criança, tinha uma intuição de que algo não ia bem, mas não sabia se expressar.
A chegada de sua irmã, Cecília, foi o mesmo que uma facada bem no centro do peito do pequeno Neo, embora ele ainda não tivesse essa compreensão. O dia foi 18/03/1992. Apenas 14 dias separando a comemoração dos cinco anos de Neo, que obviamente não aconteceu, quando a primeira ferida foi aberta.
Há um buraco em minha alma que sempre me mata.
Capítulo 2
Lar
Poucos dias se passaram do nascimento da pequena Cecília. A antiga casa da Rua Água Formosa ficou pequena. Neo não entendia por que agora havia um berço dentro de seu quarto, seu espaço estava sendo invadido por um ser estranho que chorava sem parar e que agora ocupava o lugar que anteriormente era seu de direito.
Foram muitas viagens na gloriosa Belina, carro recém-adquirido após a venda do Fiat 147. Seu porta-malas gigante e espaçoso carregaram Neo, que adorava aquele espaço, onde muitas vezes brincava com seu primo Dudu nas andanças com seu pai, Abel, pela cidade. Na mudança para a nova casa, carregaram no grande porta-malas os mais diversos objetos e itens da casa anterior.
Um fato curioso que merece ser comentado foi um acidente no sinaleiro em uma dessas andanças. Um motoqueiro apressado atravessou o sinal vermelho enquanto Abel atravessava a rua tranquilamente. A batida foi instantânea e o motoqueiro ficou embaixo do carro com uma perna imóvel toda suja de sangue e um osso exposto. Neo viu tudo de dentro do porta-malas, sem nenhuma proteção nem cinto.