Ogum em minha vida: relatos de fé
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Ogum em minha vida - Pai Márcio de Ògún Adiolá Nirá
Sumário
Capa
Página de Créditos
Folha de Rosto
Pontos de referência
Capa
Página de Créditos
Folha de Rosto
Página Inicial
Colofão
Ogum em minha vida : relatos de fé© Pai Márcio De Ògún Adiolá Nirá 2023
Produção editorial: Vanessa Pedroso
Revisão: Helen Bampi
Imagem de capa: Shutterstock
Design de capa: Giovana Bandeira Grando
Editoração: Giovana Bandeira Grando
Conversão para Ebook: Cumbuca Studio
CIP-Brasil. Catalogação na Publicação
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
N63o
Nirá, Márcio de Ògún Adiolá
Ogum em minha vida [recurso eletrônico] : relatos de fé / Pai Márcio de Ògún Adiolá Nirá. - 1. ed. - Porto Alegre : Buqui, 2023.
recurso digital ; epub
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-85-8338-737-4 (recurso eletrônico)
1. Nirá, Márcio de Ògún Adiolá. 2. Babalorixás - Biografia 3. Livros eletrônicos. I. Título.
23-86901
CDD: 299.673092
CDU: 929:259.4
Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária - CRB-7/6439
Todos os direitos desta edição reservados à
Buqui Comércio de Livros Eireli.
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Porto Alegre | RS | Brasil
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Ogum em minha vida : relatos de féEste livro relata partes da minha vida religiosa nos meus 44 anos e as vivências de filho de santo para o babalorixá pai Márcio de Ògún, patriarca de uma família religiosa com mais de trezentos seguidores em todo o Brasil.
Me chamo Márcio, sou o primeiro filho de Luís e Noeli e nasci no dia 28 de julho de 1978, em um ano de Oxalá, em uma sexta-feira, dia de Iemanjá.
Nos meus primeiros anos de vida, por volta dos meus 4 anos, meu pai e minha mãe se separaram e eu passei a viver com o meu pai, que me relatou que, depois disso, ele e eu passamos a perambular por todos os lados, chegamos até a dormir em rodoviárias, viajando para Getúlio Vargas, para a casa de meus avós paternos. Meu pai sempre foi muito excluído por sua família (ESSA É A SINA DE NOSSA FAMÍLIA) por seu modo de sobrevivência, então ele passou a morar e a trabalhar desde muito cedo para minha tia-avó Leocádia, conhecida como Magali.
Lembro também que passei partes da minha infância sendo cuidado pela Magali ou por pessoas estranhas que hoje entendo quem eram. Meu pai e a Magali eram muito próximos, pois ela já tinha criado meu pai e meus três tios.
Depois da separação, meu pai se casou novamente, com a Diva, que passou a me cuidar, quando podia, é claro, pois todos trabalhavam muito na época.
Meu pai, Magali e Diva tinham casas noturnas — que na época eram chamadas de zona
—, meu pai trabalhava de garçom com meus tios para a Magali na boate e foram crescendo e fazendo suas casas também, época em que meu pai falava que ganhava muito dinheiro. Houve uma época em que toda a minha família tinha casas noturnas.
Magali tinha seis filhos, que eu chamava de primos. Éramos muito próximos, até por idade. Do pouco que lembro, meu pai me buscava nas segundas-feiras para ficar com ele ou eu ficava com os primos na casa da Magali para brincar, pois vivia mais longe do que perto deles.
Venho de uma família de pessoas que frequentavam casa de religião onde era cultuado umbanda, Exu e nação na cidade de Osório, e por motivos ligados à doença na minha infância, desde muito cedo, ainda bebê, fui batizado e tive segurança de vida e saúde, pois nasci debilitado, com oito meses de gestação e com infecção nos ouvidos e na cabeça. Hoje não saberia explicar o que era na época.
Também me lembro de flashes de obrigações de religião, o cheiro das defumações e pessoas me escondendo em sessão de Exu, eu espiando pelos cantinhos cheio de curiosidade, que hoje, com mais clareza, eu sei do que se tratava.
Me lembro de uma casa de madeira onde havia bandeirinhas coloridas no telhado e um congá cheio de imagens de índios e uma senhora toda de branco sentada me esperando, o cheiro forte de defumação, o assoalho vermelho… Essa cena me vem à cabeça até os dias de hoje: era mãe Luiza de Ògún, minha primeira mãe de santo, do caboclo Urubatãn das matas.
Me lembro também que, de tempo em tempo, minha mãe vinha me ver. Na minha infância, eu vivia de casa em casa, um pouco com a Magali, um pouco em casa de pessoas estranhas. O motivo não era porque meu pai não me amava, mas sim devido ao trabalho que ele havia escolhido, pois como ele tinha a casa noturna, ele não poderia ficar comigo lá, porque a polícia poderia aparecer. Me lembro que eu pedia muito para ficar, e ele falava que poderia ser preso por eu estar na boate à noite. Esse era o motivo por que eu vivia nas casas de pessoas estranhas. Mas algumas vezes meu pai vinha nos domingos me pegar e me levava para dormir no quarto dele, para aproveitar as segundas. Agora, imagine eu dormindo em um quarto ao lado de um salão de dança cheio de pessoas, mulheres da casa e clientes conversando, dando risada, som alto. Esse quarto tinha uma porta com um vão de 20 cm do chão, era uma mega fresta, através da qual se via tudo, tanto de fora para dentro como de dentro para fora, então eu não poderia acender a luz, não poderia ver televisão, não poderia fazer nada, só ficar no escuro e dormir. Me lembro de uma noite em que acordei com fome e sede, e como chamar meu pai nessa hora e com o som alto? Olhe a ideia da criança: peguei meu chinelo e o empurrei por baixo da porta, pensando que ele veria meu chinelo e iria ver o que era ou o que eu precisava. Meu pai não veio, a Diva me mandou dormir e meu pai queria me matar! No outro dia, ele me contou que o inspetor da Civil estava ali dançando com uma menina da casa e o chinelo parou nos pés deles! Sorte de meu pai que não teve problemas.
O pouco que tive de infância foi rolando de casa em casa, apanhando de estranhos — sim, eu apanhava, e até hoje não consigo comer chuchu com guisado porque me lembra uma surra que tive com ripa de cerca. Pelo pouco que lembro, eu devo ter passado por umas oito casas, que meu pai chamava de pensão. Teve casas em que morei que eram à luz de lampião, casas em que dormia no sofá, na cama junto com uma senhora bem velhinha, à luz de velas… Essa era minha infância, sem pai e sem mãe, criado por estranhos, e quando eu os via, era somente por horas, momentos. Quando minha mãe vinha me visitar, era muito rápido, e em uma das visitas eu me agarrei nas pernas dela e, com muito choro e pedidos para me levar junto dela, ela aceitou e meu pai me deixou ir. Hoje, com maturidade, entendo por que ela não queria me levar: meu padrasto não gostava de nós, ele nos tolerava pelo amor à minha mãe.
Minha mãe me colocou na primeira série da escola, eu deveria ter uns 8 anos. Nesse tempo em que estive com ela, notei que ela havia se tornado evangélica, mas mesmo assim era muito devota de Iemanjá e até falava que era filha dela. Ela me apresentou seu filho, meu irmão Rudinei, que deveria ter uns 4 anos. Minha mãe era uma mulher baixa, de 1.50 cm, cabelos negros, longos e grossos, mulher bugra de pele cor de cuia. Quieta, ela não era muito de conversar, e no pouco que conversava, lembrava de sua infância sofrida e algumas coisas dos momentos em que viveu uma vida bem diferente da de hoje. Ela tinha reumatismo e me falava que, quando adolescente, sua mãe era muito ruim com ela e a fazia lavar roupas em rios ou sangas em épocas frias, o que ocasionou muitas dessas dores, pois ela tinha que trabalhar desde muito nova. Ela me falava que tinha feito promessas à mãe Iemanjá de não cortar o cabelo por um período de oito anos, pela saúde de meu irmão, pois ela era muito debilitada, não era uma mulher jovem, já tinha passado de seus 40 anos. Tudo isso, ela me contava em conversas curtas, sem muito poder falar, até porque ela e meu padrasto eram evangélicos nessa época.
Fiquei com minha mãe dos 8 aos 10 anos, e nesse período, tendo convivência com ela, frequentei a igreja Deus é Amor.
Éramos muito simples, me lembro que muitas vezes nossa refeição era o nego deitado
— massa de panqueca grossa, salgada ou doce, uma massa de farinha de trigo com água e sal, salgada no almoço e na janta e doce no café da manhã e no lanche da tarde. A mãe colocava em um saquinho de arroz e me mandava levar de lanche para o intervalo na escola. Minha mãe era casada com um pescador aposentado e não trabalhava por problemas de saúde e ansiedade. Com o passar dos tempos, ela me mandou embora de casa, pois meu padrasto não gostava de mim.
Voltei a morar em Osório, e nessa época meu pai era Testemunha de Jeová. A igreja o fez vender as duas casas de cabaré e tudo que havia lá, pois ele tinha que se afastar da vida mundana. Meu pai trocou as casas por carroça e cavalo e uma moto velha, mas logo à frente a carroça virou com meu pai, meus irmãos e a sua esposa. Meu pai deu