Recortando & Tecendo Ideias

De Iná Sanzi Souza E Elisabete Rabaldo Bottan

No início de 2020, um fenômeno colheu a humanidade de surpresa: a pandemia da Covid-19, uma doença causada pelo novo Coronavírus. Para enfrentá-la e minimizar suas consequências, as autoridades sanitárias determinaram que a população se mantivesse em afastamento social. Diariamente, escutava-se: “fique em casa”, uma medida de proteção individual e coletiva indispensável para reduzir sofrimento e mortes. [...] Neste contexto, a Elisabete e a Iná, mesmo cumprindo rigorosamente as ordens, se recusaram a parar e conseguiram, com talento e criatividade, continuar a produzir. Talvez tenham até trabalhado mais do que nos tempos normais das suas vidas. Aproveitaram para construir esta obra com que agora nos brindam. Elas nos mostram, com muita sensibilidade, uma forma de encarar o isolamento, compartilhando histórias de gente como a gente. [...] Assim, caro leitor, este livro não tem a pretensão de entregar-lhe “protocolos” para enfrentar épocas de crise ou para pensar nos seus “recortes” de forma fragmentada. Longe disso! A obra tem potência para provocá-lo a (re)pensar seus recortes e a entendê-los, desde que você os insira em seu próprio contexto histórico, pessoal e social. Junte-os e “toque a vida”. Boa leitura! Djalmo Sanzi Souza Dentista sanitarista

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 3 de jul. de 2020

Pré-visualização do livro

Prefácio

No início de 2020, um fenômeno colheu a humanidade de surpresa: a pandemia da Covid-19, uma doença causada pelo novo Coronavírus. Para enfrentá-la e minimizar suas consequências, as autoridades sanitárias determinaram que a população se mantivesse em afastamento social. Diariamente, escutava-se: fique em casa, uma medida de proteção individual e coletiva indispensável para reduzir sofrimento e mortes.

As ruas ficaram quase vazias, as aulas foram suspensas, empresas de vários setores da economia pararam completa ou parcialmente suas atividades. A pandemia nos afastou, e as consequências não demoraram a surgir. A distância dos familiares, dos amigos e da rotina levou as pessoas a viverem emoções como saudade, tristeza, tédio, irritação e ansiedade. Em uma época caracterizada por extraordinários avanços em todos os campos das ciências, a doença desafiou e escancarou toda a fragilidade da humanidade. O mundo mudou drasticamente num piscar de olhos.

Neste contexto, a Elisabete e a Iná, mesmo cumprindo rigorosamente as ordens, se recusaram a parar e conseguiram, com talento e criatividade, continuar a produzir. Talvez tenham até trabalhado mais do que nos tempos normais das suas vidas. Aproveitaram para construir esta obra com que agora nos brindam. Elas nos mostram, com muita sensibilidade, uma forma de encarar o isolamento, compartilhando histórias de gente como a gente. Como nos dizem em um dos capítulos: "isolar-se pode ser percebido como ócio criativo".

Há vários aspectos do livro a serem realçados. No capítulo denominado Crise, há uma pergunta que me instigou: que lições tirar da crise? Esta e outras perguntas que se encontram ao longo dos textos fazem o leitor refletir sobre nosso comportamento em sociedade, não estritamente no período da pandemia, também em outras épocas de crises, quando a humanidade enfrenta uma série de restrições. Que atitude assumimos: enfrentamos ou nos acomodamos? As autoras mostram que, dependendo de nossas posturas, algumas palavras podem conter outros sentidos. Crise deixa de ser associada a perigo e passa a ser entendida como oportunidade. Paralisar, que significa imobilizar, passa a expressar parar para pensar.

Outro capítulo aborda recortes como espaços e fragmentos de momentos da vida com características e emoções próprias, que, em algumas vezes, separam, mas, em outras, unem. Recortes unidos podem mostrar caminhos.

Portanto, se, por um lado, o período de isolamento provocado pela pandemia muda drasticamente nossas rotinas, por outro, não retira do ser humano a possibilidade de aproveitar suas potencialidades e evoluir. Assim, tal qual De Masi, este entendimento está representado na expressão "isolamento criativo. Da mesma forma que o termo ócio não pode ser associado à preguiça e falta de vontade para realizar tarefas, a palavra isolamento" não representa necessariamente fechar-se para o mundo.

Outra perspectiva refere-se à necessidade que as pessoas têm de se relacionarem, convivendo, em diversos espaços sociais, com amigos, familiares e alguns grupos. Portanto, estamos sempre acompanhados. Logo, quando estamos sós, afastados e isolados dos outros, carregamos o pensamento destes grupos, diz Vygotsky em seus estudos sobre a formação do indivíduo e suas relações sociais. Neste ponto, o leitor poderá avaliar os seus relacionamentos no período de isolamento social, usando as tecnologias existentes (Facebook, Whatsapp, entre outras). Certamente elas contribuíram para que as pessoas se mantivessem em contato, mas será que é o suficiente para não colocar em risco as relações interpessoais?

Com a pandemia, os cenários mudaram. Andamos com o rosto protegido por máscaras. No capítulo chamado Máscaras, são discutidas outras representações que ela