A Embolada De Alagoinha
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A Embolada De Alagoinha - Aparecido Galindo
A EMBOLADA DE ALAGOINHA – APARECIDO GALINDO
A EMBOLADA DE ALAGOINHA
APARECIDO GALINDO
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A EMBOLADA DE ALAGOINHA – APARECIDO GALINDO
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A EMBOLADA DE ALAGOINHA – APARECIDO GALINDO
Dedicatória
A Joaquim Castor, pelo grande legado cultural com o qual presenteou seus descendentes e o povo de Alagoinha.
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A EMBOLADA DE ALAGOINHA – APARECIDO GALINDO
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A EMBOLADA DE ALAGOINHA – APARECIDO GALINDO
SUMÁRIO
Capitulo I: A Embolada
Apresentação, 7. Na Rua Quinze, 11. Um dia destes em Mauá, 19. Os pioneiros da mídia, 27. A embolada segundo os emboladores, 33. Coco, embolada ou rojão?
52. A arte popular, 66. A cultura popular, 73. O hibridismo como resposta ao colecionismo, 80. Sobre o Nordeste e outras anedotas, 91.
Capítulo II: A Embolada de Alagoinha
Jaracatiá, onde o vento canta! 109. Origens da Embolada de Alagoinha, 128. Características da E.A: rima e métrica, 134. O roteiro, 144. O andamento, 150. O ritmo, 156.O
ganzá, 161. A arte e as dicotomias, 166.
Capítulo III: Embolando no Oitão
A arte como vida, 173. José Maria Galindo: A arte e a resistência, 176. Paulo Castor: A arte e a memória, 188. A embolada no Oitão, 197. O artista em Alagoinha, 201.
Considerações finais, 213. Glossário, 217. Referências, 5
A EMBOLADA DE ALAGOINHA – APARECIDO GALINDO
139. Biografia, 247.
ÌNDICE DE FIGURAS
Figura 1: José Maria Galindo, 107. Figura 2: Centro de São Bento do Una, 118. Figura 3: Casa de Joaquim Castor na serra do Jaracatiá, 128. Figura 4: Emboladores em Alagoinha/PE, 170. Figura 5: Zé Maria durante apresentação no Oitão com o pesquisador Aparecido Galindo, 183. Figura 6: Paulo Castor durante entrevista ao pesquisador Aparecido Galindo, 196. Figura 7: O Oitão, 200. Figura 8: Capa do LP de Zé Castor pela MUSICOLOR, selo da Gravadora Continental - Data de produção, 04/1979, 204. Figura 9: Netos de Joaquim Castor em Alagoinha, 212.
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A EMBOLADA DE ALAGOINHA – APARECIDO GALINDO
Apresentação
Este livro tem como objetivo apresentar e discutir a manifestação cultural da embolada em duas de suas variantes, a mais conhecida e imortalizada por artistas como Caju e Castanha, Peneira e Sonhador, entre outros, e a realizada na cidade de Alagoinha/PE, distante pouco mais de duzentos quilômetros do Recife. Por que apresentar? Pelo fato de que inúmeras pessoas ainda não conhecem essas formas de canto e poesia e para que através do contato com esse estudo elas possam adentrar no universo tanto desta arte, quanto de seus representantes. Por que discutir? Muito já foi falado e escrito sobre a embolada, no entanto pouco se ouviu dos emboladores. Este trabalho pretende colocar a voz desses artistas em destaque, para só então ir buscar fontes bibliográficas sobre o tema. Ninguém é mais 7
A EMBOLADA DE ALAGOINHA – APARECIDO GALINDO
gabaritado para falar sobre algo, do que aquele que o faz, que o vive e o defende nas ruas, nas praças, nas casas...
Aparecido Galindo, Escritor.
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A EMBOLADA DE ALAGOINHA – APARECIDO GALINDO
CAPÍTULO I
A EMBOLADA
"É pro coco remar
Mariano vem cá
ô Mariano vem cá
pra o coco remar."
Refrão de embolada executado em Alagoinha/PE.
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A EMBOLADA DE ALAGOINHA – APARECIDO GALINDO
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A EMBOLADA DE ALAGOINHA – APARECIDO GALINDO
Na Rua Quinze
O ano era 2012, mês de junho e o inverno começava. Fui ao centro de São Paulo para vender livros e levei um pandeiro. Sai ainda cedo de São Bernardo do Campo cidade que pertence ao Grande ABCDMRR, um
subúrbio composto por sete municípios que se encontram a sudeste da capital paulista. Desci na estação Sé, após hora e meia de viagem entre ônibus, trem e metrô. Passei em frente da catedral e os moradores de rua já haviam sido enxotados de suas camas improvisadas, pelas equipes da prefeitura. Fato que chamou bastante a atenção por que havia toda uma logística envolvendo tal procedimento: primeiro vinham os guardas municipais, acordando as pessoas, depois passava uma caminhonete recolhendo os papelões e os colchões e por último uma equipe de limpeza com água, rodo e muito sabão.
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A EMBOLADA DE ALAGOINHA – APARECIDO GALINDO
Demorei-me um tempo observando aquele
espetáculo paulistano e depois segui para a Rua Quinze de Novembro. Era um lugar onde imaginava colocar meus livros de poesia a venda, declamar alguns poemas e com muita sorte negociar ao menos um. E nisso entrava o pandeiro, o tocaria para chamar a atenção dos transeuntes. Não sabia eu que o lugar mais eminente da Rua Quinze de Novembro que fica ao lado do antigo Prédio do Tesouro bem na esquina com o Pateo do Colégio já estava ocupado. Ouvira falar dos EMBOLADORES* que vinham à cidade, fazer a sua arte no meio da rua, improvisar versos, contar histórias e até mesmo já tinha presenciado alguns deles se apresentando, mas aquele dia mudou para sempre o modo como eu via esses artistas de rua e o que eles faziam. Descia com o pandeiro na mão, cantarolando 12
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algo, não lembro o que, mas quando vi os emboladores tratei de guardar o instrumento o mais rápido que pude.
Era cedo e creio ter sido a sexta ou sétima pessoa a chegar à roda que se formava em volta deles. Recordo o nome da dupla, PENEIRA E SONHADOR, anos depois por força do livro que agora escrevo ouviria dezenas de áudios deles através de gravações em feiras ou em estúdio. Mas não foram somente eles que me chamaram a atenção. Um homem que sempre estava próximo da roda, que vendia CDs e DVDs da dupla destoava do resto da cena.
O que eles cantavam eu já havia escutado inúmeras vezes em diversos lugares e por duplas diferentes. A começar pelo:
*Ver termos grifados no Glossário.
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A EMBOLADA DE ALAGOINHA – APARECIDO GALINDO
"Você diz que está cansado
de dar em cantador ruim
quero ver se você pode
passar por cima de mim."
Não somente o refrão da EMBOLADA, como também os versos pareciam iguais aos que eram cantados em outras feiras por outros cantadores e em outros lugares. Os palavrões e os gracejos também eram semelhantes, principalmente aqueles onde um cantador diz que o adversário é "veado" ou que já "comeu" a mãe dele. Também iguais eram as piadas com o público, mas com especial cuidado para os mais pobres. Lembro que um senhor de paletó e gravata foi chamado de "vossa senhoria" enquanto que um homem negro que carregava uma garrafa de cachaça foi apelidado de "filho do cão" . O
espetáculo continuou com mais algumas emboladas, uma 14
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delas tinha como mote:
"Paraná, Paraná
Paraná é Curitiba
João Pessoa, Paraíba
Fortaleza, Ceará."
Imaginava que ali começaria um verdadeiro DESAFIO onde os cantadores provariam os seus conhecimentos como homens que viajavam por todo o Brasil. Como eles mesmos diziam enquanto ofereciam os seus produtos que "[...] viviam da arte e que tinha vindo de muito longe, do Nordeste, para cantar ali." (PENEIRA, 2012) Houve sim um desafio, mas de palavrões, creio que tenha escutado a frase "vou arrancar seu cabaço" e "esse negão te pegou" umas dez ou quinze vezes. Uma mulher de dentes negros e cabelo desgrenhado aproximou-se da roda para ouvir, foi insultada tantas vezes com dizeres 15
A EMBOLADA DE ALAGOINHA – APARECIDO GALINDO
como "essa já morreu e não sabe" ou " o diabo deixou um capeta fugir" que por muito pouco não foi para vias de fato contra os artistas.
Eu continuava ali, observando cada aspecto da apresentação. Tudo parecia muito perfeito para que fosse de improviso. Não falo dos versos por que a experiência de vida já tinha me ensinado que muitos cantadores levam alguns poemas feitos em casa e os cantam na rua dando a impressão de que estão improvisando na hora.
Mas pelo fato de que ao final de cada embolada os cantadores avisavam "[...] Olhe, essa e outras emboladas estão no CD, cantemos só um pedacinho, o resto está lá.
(SONHADOR, 2012)" Não havia dúvidas, nada ali era improvisado e eles não tinham nenhuma vergonha de esconder e o público parecia não estranhar o que era feito. Foi entre uma embolada e outra que um dos 16
A EMBOLADA DE ALAGOINHA – APARECIDO GALINDO
cantadores, parando para beber água e conversar com o homem que vendia os produtos da dupla, olhou para mim e perguntou "[...] E você, também é poeta? (PENEIRA, 2012)"
O pandeiro estava escondido na bolsa, assim como os livros, como poderia ele ter descoberto?
Respondi que sim, que escrevia, cantava embolada, versos de aboio, repente de viola em vários estilos... Falei aquilo na maior simplicidade, assim como quem diz o que fez durante o dia em uma roda de amigos. Mas o embolador pareceu muito incomodado com o que ouviu e respondeu "[...] É, hoje em dia, qualquer um é poeta!
(PENEIRA, 2012)" Não tive ali a oportunidade de dar uma resposta, nem sabia qual daria. Pensei em arrancar o pandeiro e enfrentá-lo em um desafio de verdade.
Daqueles que vi meu pai pegar com seus primos em 17
A EMBOLADA DE ALAGOINHA – APARECIDO GALINDO
Alagoinha quando eu era criança. Queria mostrar que não era "qualquer um" e que a embolada já está em minha família a mais de cem anos. Mas fiquei calado. Aquilo era apenas um show, estava claro. Era um lugar onde os cantadores iam se apresentar a um público que pouco se importava se eles não respeitavam ninguém e nem mesmo a arte que diziam defender. Houve mais uma meia hora de palavrões e agressões