Rosa de ouro, Aracy Côrtes e Clementina de Jesus: Entrevistas a Charles Gavin
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De quebra, apresentou ao mundo do disco duas grandes descobertas: Clementina de Jesus e Paulinho da Viola.
Charles Gavin
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Pré-visualização do livro
Rosa de ouro, Aracy Côrtes e Clementina de Jesus - Charles Gavin
Mendonça
Ficha técnica
rosa de ouro
Odeon, 1965
Hermínio Bello de Carvalho Produção
Aracy Côrtes Voz
Clementina de Jesus Voz
Paulinho da Viola Violão, atabaque, voz
Elton Medeiros Pandeiro, atabaque, voz
Nelson Sargento Violão, voz
Anescar do Salgueiro Tamborim, voz
Marçal Percussão
Tião Percussão
Mario Percussão
Dino 7 cordas Violão
Meira Violão
Jair do Cavaquinho Cavaquinho
Canhoto Cavaquinho
Carlos Poyares Flauta
HERMÍNIO BELLO DE CARVALHO e ELTON MEDEIROS
Hermínio, conta pra nós como surgiu a ideia de você montar o espetáculo Rosa de Ouro.
[Hermínio] Antes de tudo, eu luto sempre pelos créditos das pessoas, eu acho que o Kléber Santos que era do Centro Jovem, que era um laboratório de dramaturgia brasileira. E aí dentro desse laboratório eu comecei a fazer um dos recitais chamado Menestrel, que vinha de um processo em que eu fazia distribuição de poesia. E eu tinha encontrado a Clementina [de Jesus] e foi um processo muito louco, porque quando eu a vi fiquei deslumbrado com o que tinha ouvido e com ela, uma figura lindíssima, dançando e cantando. O Oscar Cáceres, grande concertista internacional, que vive em Paris hoje, e o Turíbio Santos me disseram poxa, tem que fazer alguma coisa
. Eu queria colocar ela no palco e tal, mas me perdi dela. De repente, quando a reencontrei, na reinauguração do Zicartola em 1962, eu tive a ideia de iniciar o processo de uma série de concertos com música popular erudita, misturar algumas coisas. O primeiro foi o Turíbio com a Clementina, depois Oscar Cáceres com Aracy de Almeida, Jacob do Bandolim com Aracy Côrtes. Então você vê, os pólos estavam se encontrando. E na apresentação da Clementina, quem estava no palco? O Elton [Medeiros], o Paulinho da Viola e o Benedito César, que é o pai do Paulinho. Quer dizer, tinha já um esboço. E Kléber, uma pessoa muito viva, esperta, um artista sensível você tem um espetáculo pronto
, aí me animei e começamos a nos reunir. Então eu costumo dizer que tanto Rosa de Ouro quanto O samba é minha nobreza são quase criações coletivas, porque o meu conhecimento de samba era limitado, mesmo tendo conhecido desde garoto. Mas o Elton e o Paulinho eram pessoas que estavam mais enfronhados no samba.
[Elton] O que eu me lembro a respeito do Rosa de Ouro é que quando o Zé Keti, o João do Vale e a Nara Leão, que às vezes cantavam no Zicartola, saíram para fazer o Opinião, eu me virei para você [Hermínio] e disse (junto com várias pessoas): Porque que você não pensa em um espetáculo de samba, que desse uma ideia de uma festa da Penha, as pessoas todas em torno de uma mesa. Com cervejas, cantando e, de repente as pessoas partindo para o meio do terreiro e começavam a sambar?
. Isso é uma síntese muito pequena para um espetáculo. Hermínio disse que ia pensar, não parecia nada animado. Dias depois, Hermínio me ligou, dizendo que já estava pronto. Eu perguntei: pronto o quê?
. Ele: o roteiro. Passa lá em casa.
Passei na casa do Hermínio, ele tinha o roteiro onde ele incluía a Aracy Côrtes e a Clementina de Jesus. Aí já mudava, já tinha marcha-de-rancho, o repertório variando muito. Durante os ensaios, percebemos que faltava um violão. Só tinha um violão, que era o do Paulinho da Viola, o Jair do Cavaquinho no cavaquinho e eu e o Anescarzinho do Salgueiro de percussão. Sentíamos falta de mais um violão. Aí ele disse que conhecia um cidadão que tocava violão, samba. Fomos ao morro da Mangueira buscar o Nelson Sargento. [Hermínio — eu morto de medo de subir!
] O Nelson Sargento morava na última casa, ou, como ele dizia, a primeira casa vindo de cima para baixo
no morro da Mangueira, no Challet. Você passava por baixo e via aquela luzinha, a última do Morro da Mangueira, a casa do Nelson Sargento. Fomos então eu e o Hermínio. Quando chegou no meio do caminho, Hermínio disse: não estou me sentindo muito seguro em ir sozinho.
Então fomos para a casa do patriarca, o Carlos Cachaça, e o Hermínio disse: Carlos, estamos precisando ir na casa do Nelson Sargento
, e ele disse eu vou com vocês.
Nós subimos com o Carlos Cachaça, fomos buscar o Nelson Sargento. Deixamos um recado com sua mulher, à epoca, que faleceu, a Leocádia, para o Nelson passar no dia seguinte no Teatro Jovem, demos o endereço. Nelson apareceu no dia seguinte sem violão, sem nada. Dissemos: cadê seu violão?
. Ele disse: ué, eu pensei que fosse para pintar o teatro!
Ele estava pintando paredes, à época. Eu disse, não, é para ser artista!
.
E aí começaram os ensaios.
[Hermínio] Deixa eu contextualizar um pouco, já que você falou do Opinião. Ele estreou em dezembro de 1964, com Nara Leão, Zé Keti e João do Vale. E foi um sucesso. Com Vianinha [Oduvaldo Vianna Filho], o [Augusto] Boal. Nós, com Clementina e Turíbio,
estreamos também em dezembro, uma semana depois, no Teatro Jovem. O recital do Menestrel
. Uma semana, alguma coisa assim. Mas é importante dizer que