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Especialização esportiva precoce: perspectivas atuais da psicologia do esporte
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Especialização esportiva precoce: perspectivas atuais da psicologia do esporte
E-book333 páginas5 horas

Especialização esportiva precoce: perspectivas atuais da psicologia do esporte

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Sobre este e-book

Uma possibilidade de estudo e de análise de uma temática polêmica. Este livro atende ao universo de profissionais que atuam junto ao fenômeno esportivo em direções que partem da Educação Física escolar até ao treinamento de alto nível. Da maneira como está trabalhado, preenche o vazio espaço existente no campo do esporte, da Educação Física escolar e da Psicologia esportiva, com colaborações resultantes de pesquisas bibliográficas ou aplicadas, dos mais renomados pesquisadores e docentes universitários de grandes centros e laboratórios de estudo. Esta obra preenche uma lacuna na literatura científica brasileira, escrita com conteúdos fundamentais do nosso desporto a luz da Psicologia e que, deve ser utilizado como base em programas de graduação e pós-graduação nos cursos de Educação Física e de Psicologia.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento5 de dez. de 2019
ISBN9788583340560
Especialização esportiva precoce: perspectivas atuais da psicologia do esporte

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    Especialização esportiva precoce - Afonso Antônio Machado

    solução?

    Capítulo 1

    A CRIANÇA NO ESPORTE

    Benno Becker Júnior

    Elenita Telõken

    O número estimado de crianças envolvidas nos programas de iniciação esportiva, nesta última década do milênio, é impressionante. De acordo com Gould (1987) a estimativa seria de algumas centenas de milhões de jovens em atividades esportivas no mundo. Como grupo, segundo Becker Junior e Telõken (2000), elas representam uma das forças mais poderosas e importantes da atividade humana. Que influência traz a criança à participação em atividades esportivas?

    Uma grande parte da mídia internacional, expressa que esporte é saúde. Aliados a essa posição estão vários estudos científicos que têm e apontam os benefícios do esporte para a criança (HELLSTED, 1987; ROBERTSON, 1992; FEPSAC, 1996). Nessas últimas décadas, entretanto, uma série de investigações (SKUBIC,1956; MARTENS, 1978; SMITH, 1986; PIERCE e STRATTON, 1981; GOULD, 1987; GARCÉS DE LOS FAYOS,1995; FEPSAC, 1996; TELÔKEN, 1997; SCALON, 1998), referem os prejuízos que o esporte competitivo pode causar às crianças. Neste capítulo pretendemos ampliar a discussão sobre vários aspectos que envolvem a participação da criança no esporte.

    MOTIVAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE

    As crianças que freqüentam as primeiras séries da escola de I Grau adoram a Educação Física e o esporte, colocando-os entre as atividades favoritas (THOMAS, LEE e THOMAS, 1988). Muitas crianças estão significativamente envolvidas em esportes organizados em escolas e clubes. Para que se tenha uma idéia deste envolvimento, numa temporada de dezoito semanas, de acordo com Gould e Martens (1979) elas dedicam a seu esporte uma média de onze horas/semanais.

    Os motivos de participação de crianças no esporte foram estudados por vários investigadores, como pode ser observado a seguir:

    a) Alegria (KLINT e WEISS, 1987; ROBERTSON, 1992);

    b) Aquisição de habilidades (JOHNS, 1985);

    c) Competência e desenvolvimento de habilidades (JOHNS, LINDNER e WILKO, 1990; KLINT e WEISS, 1987);

    d) Forma, status social, saúde, liberação de energia, influência de outros (BRODKIN e WEISS, 1990).

    Para a maioria das crianças, o nível máximo de participação ocorre aos doze anos, etapa em que ingressarão na adolescência inicial. Na etapa do ensino médio ou universitário, os adolescentes referem muitas queixas e desmotivação com o desporto. Dos treze anos em diante há uma redução na participação no esporte, sendo que aos dezoito ocorre uma redução crucial na mesma (EWING e SEEFELD, 1989). Teria a criança uma mudança normal de hábito ao chegar à adolescência ou os professores fazem (ou deixam de fazer) coisas que afetam a motivação dos jovens para o esporte?

    A CRIANÇA ESCOLHE SEU ESPORTE?

    Será que se pode dizer que a criança escolhe seu próprio esporte? Para que isso fosse verdadeiro, deveria ser oportunizada a ela a informação e a prática de diferentes esportes. Depois dessa vivência ela poderia optar pela que viesse mais ao encontro de suas aptidões e necessidades psicofísicas (BECKER JUNIOR, 1992). Será que isso ocorre na realidade?

    Na introdução da criança no esporte, o pai parece ser a figura mais importante da família (GREEN e CHALIP, 1998; LEWKO e EWING, 1980). Os componentes desta, de outro lado, parecem ser os modelos mais importantes para a criança participar no esporte, do que seus colegas e a própria escola. O modo como os pais encaminham a criança para os programas de iniciação esportiva não é bem esclarecido pelos autores. Segundo Becker Junior (2006) alguns pais matriculam seu filho em uma escola esportiva sem consultá-lo, apenas informando o horário que deverá comparecer a mesma. O critério para a escolha da atividade, muitas vezes, é que naquele horário os pais têm afazeres profissionais ou sociais, que os impediriam de ficar cuidando da criança. Assim, em vários casos, as escolinhas passam a ser depósito de crianças.

    Como enfrenta a criança uma situação semelhante? Será que ela tem tamanho, habilidade e motivação para o esporte que está sendo obrigada a praticar? Muitas vezes, esta situação de conflito pode ser a causa de transtornos que são enfrentados pelo professor de Educação Física que atua na escolinha (nem sempre pessoas formadas são responsáveis por elas) e, é claro, pela própria criança. A diferença em tamanho e a falta de habilidade poderão determinar estímulos negativos (rejeições) por parte de seus colegas, gerando redução de autoestima e de motivação para persistir na atividade. Segundo Pierce e Stratton (1981) 63% de crianças e adolescentes desportistas consideram jogar mal ou cometer erros, como as piores situações de estresse no esporte. Terá a criança estrutura de ego para aguentar tal pressão?

    Há pais que sempre aspiraram praticar determinados esportes e projetam estes sentimentos nos seus filhos, induzi-los a realizar os seus sonhos (BECKER JR. 1992; ORLICK, 1992). Outros que foram campeões municipais em determinada modalidade, esperam que seu filho alcance na mesma, níveis mais altos no mínimo um campeonato estadual. Estas cobranças podem levar várias crianças a atingir níveis extraordinários de rendimento, pelas suas qualidades psicofísicas, mas, ao atingir tais marcas, algumas delas podem mostrar desmotivação, tristeza e depressão que contribuem para o abandono precoce das atividades esportivas (BECKER JUNIOR, 1989). Além de serem diferentes qualitativamente dos adultos, elas têm expectativas e necessidades distintas a respeito do esporte. Várias pesquisas (SMOLL, 1986) que ouviram as crianças sobre seus motivos para envolverem nos programas esportivos, apontaram os seguintes objetivos:

    •Ter alegria.

    •Aperfeiçoar e aprender novas habilidades.

    •Estar com amigos e conseguir novas amizades.

    •Sentir emoções.

    •Adquirir forma física.

    Assim, é de grande utilidade, que os treinadores e pais oportunizem estes objetivos às crianças através dos programas esportivos. Muitas vezes estes estão completamente dissociados das metas pessoais do treinador e pais.

    Um outro fator que interfere na escolha de um esporte por parte da criança é a ordem de nascimento. Os filhos primogênitos parecem escolher os esportes menos perigosos que os outros filhos (CRATTY, 1989). Na verdade eles não escolhem, parece haver uma proteção dos pais, que só permitem a participação do primogênito em esportes de menor risco. Este autor, em um levantamento entre atletas olímpicos, verificou que a maioria deles é segundo ou terceiro filhos.

    O DESENVOLVIMENTO DA COMPETIÇÃO

    A competição é uma comparação social do resultado de uma criança contra outra ou contra padrões de rendimento. Esta comparação pode ser realizada também entre grupos de crianças. A conduta da criança de fazer comparações com seus colegas permite obter informação sobre seus próprios níveis de habilidade. Ela aprende sobre sua força e fraqueza ao competir com outra criança de mesmo nível de habilidade. Thomas et. al. (1988) ressaltam que a competição e o ganhar ou perder não são a mesma coisa. Vencer ou perder é somente o resultado da competição e não o processo competitivo. A criança que enfrenta um competidor de idade e habilidade superiores a sua e que atua com muita motivação mostrando um rendimento dentro de suas possibilidades, não deve aborrecer-se se perder um jogo. Mas o inverso, uma criança de mais idade e habilidade perder para outra de menos idade, poderá chocar o jovem perdedor.

    COMPETIÇÃO ESPORTIVA PARA CRIANÇAS

    A cada temporada que se inicia, um número enorme de crianças aparece para aprender algum esporte e, talvez, chegar a ser um atleta de alto nível. Elas são submetidas a uma autêntica peneira, que vai eliminando a grande maioria para conseguir-se um grupo de qualidade. Isso só não acontece em escolinhas esportivas particulares, cujo interesse é o de manter um número máximo de crianças (e a taxa que o pai da criança paga) a qualquer preço.

    A preocupação dos que trabalha nas escolinhas, tem sido a de aperfeiçoar cada vez mais, a metodologia de avaliação das crianças, sem levar em conta o sentimento que cada uma delas vivencia no processo. Cratty (1989) refere que raramente o impacto da luta competitiva nos jovens participantes é neutro, seja em seus corpos ou personalidades. Na verdade, o esporte competitivo compara o desempenho do pequeno atleta frente a outros ou contra marcas (padrões). Essa comparação pode ser entre grupos. A criança faz comparações para ganhar mais informações a respeito de seu nível de capacidade. Neste sentido ela tem muito mais informações sobre a influência dos seus chutes no futebol e arremessos no basquetebol, contra adversários, do que arremessando uma pelota em distância, sozinha. Por isso, prefere competir com outras do mesmo nível de aptidão, para testar o seu valor. Muitas vezes isso não ocorre, o que pode implicar em traumas mais severos para os que levam desvantagens, em geral os mais jovens e menores (BECKER JUNIOR e TELÔKEN, 2001a). Escolas com alunos muito pobres, com estatura inferior e habilidade menor várias vezes são massacradas pelo escore e pela humilhação, frente a escolas particulares (com melhores instalações, material e professores) de clientela abastada, com maior estatura e habilidade (BECKER JUNIOR e TELOKEN, 2001b).

    É verdade que crianças mais hábeis podem oferecer um modelo para as menos hábeis e melhorar o seu desempenho, mas, no momento de competir individual ou coletivamente, deve-se tentar emparelhar as forças. Vencer um adversário demasiadamente fraco não aumenta a autoestima do vencedor, o perdedor fica humilhado e sua autoestima é reduzida. Observa-se, assim, a necessidade de colocar atletas e equipes mais parelhas para as competições infantis. Mesmo assim, isso não garante um clima ideal de prática esportiva entre as crianças, pois maioria dos sentimentos negativos vivenciados pelas crianças após as competições esportivas, é devida a ênfase que dão os pais, treinadores e dirigentes à vitória.

    Se isso ocorrer, haverá uma situação de estresse, que pode prejudicar a criança na estruturação de sua personalidade.

    O ESTRESSE COMPETITIVO

    O estresse é o resultado de um desequilíbrio que ocorre quando a criança percebe o seu nível de aptidão e as exigências do meio ambiente (THOMAS ET AL., 1988). Estas exigências têm origem, geralmente, no treinador e na família. A comunicação inadequada por parte do treinador e de membros da família, será objeto de análise mais adiante. Estas demandas levam a um incremento no nível de ansiedade dos jovens, com repercussões sobre as funções do ego como afeto (autoestima), orientação, senso-percepção e área motora (execução das ações). Um programa de Educação Física baseado em fortes competições esportivas pode resultar em estresse que irá prejudicá-las (LINTUNEN, 1997). Várias vezes isso tem ocorrido porque a competição é muito mais importante para o professor de Educação Física do que para os pequenos praticantes (THOMAS ET AL., 1990; BECKER JUNIOR, 1992). Se examinarmos objetivamente o esporte, poderemos verificar que a competição em si mesma não é boa nem má, o que realmente importa são as circunstâncias do ambiente onde a criança compete..

    Há uma crítica muito forte, quanto às consequências das competições sobre a personalidade da criança. Algumas pesquisas, no entanto, mostram que, em geral, elas determinam níveis médios de estresse. Não podemos, entretanto negar que outras atividades não esportivas, dentro da sala de aula, podem criar mais estresse (THOMAS et al, 1988).

    Alguns autores (SCANLAN e PASSER, 1978; 1979; SKUBIC, 1965) utilizaram questionários para a avaliação de perturbação emocional determinada pela competição abordando mudanças nos padrões de alimentação, sono e humor. O inusitado é de que Skubic (1965) encontrou mais relatos de instabilidade emocional, na Pequena Liga de Baseball, entre os vitoriosos. Por outro lado, Scanlan e Passer (1978; 1979) examinando os níveis de ansiedade de estado antes e após as competições, verificaram que os dos vitoriosos eram menores do que os dos derrotados.

    Para verificar objetivamente, o estresse imposto à criança pelo esporte, Hansen (apud CRATTY, 1989) utilizando a telemetria, mediu a frequência cardíaca dos meninos que jogavam na Pequena Liga de Baseball. Verificou que, antes de rebater a bola que lhe ia ser jogada, cada um apresentava cerca de 166 de batimentos cardíacos, em média, ou seja, 56 a mais que a média dos outros colegas que mostravam cerca de 110 bpm. Este registro, entretanto, não significa que ocorra prejuízo para as crianças submetidas à pressão deste tipo.

    Deve-se registrar que o tipo de esporte, individual ou de equipe, interfere no nível de pressão sofrida pelas crianças. Estudos de campo mostraram que atletas de esporte individual apresentam maior nível de ansiedade do que os de equipe (GRIFFITH, 1972; SIMON e MARTENS, 1979). Também existem ações que impõem elevada pressão o seu executor. O pênalti no futebol e no futebol de salão, o tiro de 7 metros no handebol e o lance-livre no basquetebol, são ações que podem representar tensão máxima, de acordo com a significância da partida e o escore do momento em que o lance será efetuado. Um pênalti que será cobrado por um jogador cuja equipe esteja vencendo de 6 x 0, impõe pouca pressão a seu executor a menos que a mesma seja obrigada a vencer por 7 x 0, para tornar-se campeã ou classificar-se. No tênis, o tie break parece ser o momento mais crucial e na natação e atletismo, o momento do tiro de saída para provas curtas, onde cada atleta sabe que não há como recuperar- se de uma má saída (BECKER JUNIOR, 1997).

    Nos clubes de futebol sul-americanos, que disputam competições em todas as categorias, desde as escolinhas até os profissionais, há algumas realidades estressantes para criança e jovens: a) tem que ser titular na equipe; b) tem que atuar bem durante o período que integram cada categoria; c) tem que vencer o campeonato. Em outras palavras, o atleta tem que produzir em alto nível sob pena de ser mandado embora. A criança, nestes clubes, já enfrenta uma realidade dos atletas profissionais: ou produz ou sai! (VAN YPEREN, 1994).

    No contexto desportivo atual, a criança tem iniciado os treinamentos numa idade precoce. Algumas por possuírem muita habilidade, são remetidas a academias ou clínicas. Nestes contextos, segundo Weinberg e Gould (2001) os jovens treinam de 25 a 30 horas semanais, com pouca folga para atividades de uma pessoa de sua idade. Além de sofrer as pressões da busca constante de resultados superiores nas competições iniciam a ser envolvidos na engrenagem profissional como se fossem adultos. Jennifer Capriati, atleta de renome internacional do Tênis americano, de acordo com Weinberg e Gould (2001), tornou-se profissional deste esporte aos 13 anos e antes disso já era milionária pelo contrato fechado com a publicidade de roupas esportivas. Estes autores supõem que parte da culpa da conduta de Capriati de abandono do Tênis e problemas com drogas pode ter sido por esta pressão precoce do ambiente esportivo.

    Raglin e Morgan (apud BECKER JUNIOR, 2006) referem que 47% de crianças experimentaram esgotamento, conhecido como burnout, durante sua vida esportiva. Destas, 87% declararam que é o pior sofrimento que vivenciaram na vida esportiva. Por outro lado, Telõken (1997), numa amostra de 300 crianças brasileiras, envolvidas em iniciação esportiva, encontrou somente 12,67% delas com o quadro de burnout.

    Nota-se que, frente a uma mesma realidade competitiva, as crianças reagem de modo diferenciado. Algumas são tremendamente sensíveis às derrotas, sofrendo durante vários dias após um fracasso, ao passo que outras elaboram rapidamente um insucesso. Algumas enfrentam situações limites com naturalidade e outras se desesperam. Estas diferenças parecem estar vinculadas à fase de desenvolvimento psicossocial referida por Erikson (1963) como confiança básica versus desconfiança básica, que ocorre entre o nascimento e o primeiro ano de idade. O básico para a criança, nesta etapa evolutiva, é o desenvolvimento de um sentido de confiança na previsibilidade do mundo e na sua habilidade de afetar os fatos ao seu redor. Este autor acredita que a conduta da pessoa que cuida da criança (geralmente a mãe) é crítica para a resolução bem-sucedida desta crise pela criança. As crianças que superam esta etapa com um sentido de confiança são aquelas cujos pais são amorosos e respondem de um modo imediato e previsível. Estas crianças aplicarão este sentido de confiança para outros relacionamentos sociais. E o esporte é um contexto em que a criança mostra claramente a confiança e a desconfiança, mormente em situações de risco.

    Cratty (1989) acredita que o impacto da família na formação da personalidade da criança é maior. O modo como os pais, irmãos e amigos reagem aos primeiros fracassos, nas etapas evolutivas da criança, parece produzir maior ou menor confiança e autoestima e, mais tarde, pode refletir na sua conduta nas competições esportivas. A criança com autoestima baixa é mais sensível às frustrações do que a que possui autoestima alta (SMITH, SMOLL e PTACEK, 1990).

    A INFLUÊNCIA DOS PAIS

    O pai, de acordo com Lewko e Ewing (1980) é a figura de maior influência para o ingresso da criança no esporte, comparado a outras pessoas da família e a própria escola. Nesta última década do milênio há um crescimento importante da mãe, na introdução e manutenção da criança na prática desportiva (BECKER JUNIOR, 2001), mormente aquelas separadas que fazem o papel de mãe e pai ao mesmo tempo. Assim, um fator importante para a qualidade da participação da criança nos programas esportivos, é a conduta dos pais (HELLSTEDT, 1987). Como as pessoas mais próximas dela têm importância em situações de estresse, supõe-se que os pais apóiem de modo incondicional nestes momentos (MILLS e CLARK, 1982). Este comportamento paterno é necessário aos jovens já que eles não possuem habilidades de enfrentamento dos problemas como os adultos (CUTRONA e RUSSEL, 1990). Isto não significa que o pai deve estar o tempo inteiro intervindo nos momentos em que o filho tem problemas a enfrentar no esporte. Analisando a conduta de pais de jovens desportistas, verifica-se que existem os que se dedicam a apoiar com sobriedade, outros que nunca estão presentes e ainda outros que só perturbam por sua conduta totalmente desequilibrada (BECKER JUNIOR, 2001).

    Não podemos ser ingênuos pensando que tudo o que de bom e de mal a que criança apresenta é devido a seus pais. Entretanto, um trabalho cuidadoso deve ser feito com os pais para que eles apoiem, com adequação, seus filhos na prática do esporte. O clima ideal na família seria aquele em que a criança fosse recebida sempre com afeto, após as competições, independente do resultado alcançado. Este ambiente daria maior segurança a ela pela certeza de que é amada como pessoa e não pelo que faz dentro da competição. Muitíssimos pais dizem que proporcionam este ambiente na família. Na verdade, eles até gostariam de fazer isso, mas não conseguem. Sua linguagem não verbal, das atitudes, é muito mais forte e denota vários sentimentos de decepção, mágoa e raiva (MARTENS, 1986), e a contradição na comunicação deixa a criança muito insegura e mal preparada para a próxima competição esportiva. A continuidade dessa vivência de sentimentos ambivalentes pode dar uma ideia da insegurança que pode tomar conta da criança daí para

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