Aspectos pedagógicos do ensino da natação da criança ao idoso
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- Nota: 5 de 5 estrelas5/5uma excelente linguagem, ótimo formato gramatical, excelente padrão de conceitos
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Aspectos pedagógicos do ensino da natação da criança ao idoso - Antônio Carlos Mansoldo
Mansoldo
Capítulo 1
ADAPTAÇÃO AO MEIO AQUÁTICO: ESTRUTURA DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM
Antônio Carlos Mansoldo
Introdução
Embora 75% do planeta terra esteja ocupado pelas águas, nós seres humanos adotamos como habitat natural o ambiente terrestre para vivermos, fato este que de certa maneira nos limita bastante em termos de deslocamento e sobrevivência no meio líquido, exigindo desta forma a criação de estratégias e técnicas as quais possam fazer com que superemos tais dificuldades. O primeiro passo para superarmos esta limitação é aprender a nadar e conseguir dominar o meio aquático. É importante esclarecer que o nadar que significa o deslocamento na água sem auxilio é diferente do domínio do meio líquido que é condição fundamental para o aprender a nadar.
Este domínio do meio líquido seria a condição do indivíduo controlar seu corpo na água em qualquer posição mesmo considerando que a piscina ou o local da atividade fosse relativamente raso possibilitando ficar em pé com o nível da água na altura do tórax. Antes de iniciarmos o processo da aprendizagem é importante esclarecermos o porquê das atividades que serão descritas abaixo, e para tal mostramos a seguir as alterações que envolvem o praticante quando ele sai do ambiente terrestre e entra em contato com a água:
Quadro 1 – Diferenças entre ambiente terrestre e aquático.
Fonte: elaborada pelo autor.
Iniciando pela respiração que no ambiente terrestre é totalmente inata e livre em relação à quando e como inspirarmos e expirarmos o ar, ao iniciamos uma atividade aquática temos que reeducar a respiração uma vez que cada nado tem sua técnica respiratória que define momento e posição ideal para a soltura e captação do ar. Outro fator a ser considerado é a posição do corpo do nadador que sugere relaxamento e descontração para que seu corpo seja totalmente sustentado pela água, fato este até então totalmente desconhecido para que sempre realizou atividades em terra e na posição em pé, continuando realçamos outras condição igualmente nova para o aluno iniciante, que é a condição de flutuabilidade, fato este embasado pela teoria de Arquimedes
que diz: Todo corpo mergulhado em um líquido recebe uma força de baixo para cima chamada empuxo, força esta que equivale ao peso do volume do líquido deslocado
.
Esta teoria justifica a capacidade de o ser humano nadar na superfície da água sem o risco de afundar, uma vez respeitadas as técnicas natatórias apropriadas.
Destacamos algumas variáveis que poderão interferir ligeiramente na teoria ou princípio de Arquimedes: Densidade da água; há diferenças significativas entre a água doce a água salgada e a água barrenta, isto significa que quando mais densa for a água (mais pesada), mais fácil será ficar na superfície da mesma como exemplo a água do mar que por ser salgada e mais densa que a água da piscina (doce) favorece uma maior flutuação desde que não seja na arrebentação (onde as ondas quebram), para sentirmos esta maior flutuabilidade precisamos estar em contato com a água do mar em uma região onde não haja ondas arrebentando.
Outra variável significativa é a composição corporal do indivíduo que vai entrar em contato com a água seja ela qual for, pois a quantidade de músculos e a quantidade de tecido adiposo (gordura) irá interferir na capacidade de flutuação, em razão dos músculos serem mais densos do que a água (mais pesados) e a gordura ser menos densa, fazendo com que excesso de músculos dificulte a permanência em cima da água, já quem tem mais gordura encontrará facilidade para a mesma tarefa, isto não quer dizer que seja impossível para o musculoso nadar, não podemos esquecer que a técnica é fundamental para a permanência na água, neste caso será necessário certos movimentos para dar sustentação ao corpo do praticante.
É importante esclarecer que há uma grande diferença entre flutuar (boiar) e se sustentar na água, flutuar não depende de técnica, depende da relação peso específico (densidade) e empuxo (Arquimedes), podendo o praticante testar esta relação deitando na água e sentindo que consegue ficar em cima dela ou não, sem se movimentar. Já a sustentação é a capacidade de ficar em cima da água independentemente da relação peso/empuxo, onde através de movimentos técnicos conseguimos ficar a superfície.
Na sequência, falaremos sobre o equilíbrio que é afetado diretamente quando se entra na água e o professor pede para o aluno deitar na mesma, neste caso é de se esperar uma certa inadaptação por parte deste aluno em razão da posição horizontal em um ambiente onde há movimentação constante da água (marolas), tal movimentação poderá causar no praticante certa desorientação uma vez que para seu aparelho vestibular (órgão que controla o equilíbrio labirinto
) esta nova experiência não está registrada em seu acervo motor, ou seja não há informação anterior da posição e da movimentação que seu corpo sofre neste momento, podendo gerar no início tonturas e as vezes náuseas.
A resistência da água é outra condição nova para o praticante, uma vez que no ambiente terrestre a resistência do ar é praticamente despercebida, porém, na água a resistência é um fator presente em todo deslocamento. Esta resistência é sentida à medida que o praticante tenta se deslocar mais rápido na água seja em pé ou deitado, esta resistência é real e tem a capacidade de quadruplicar à medida que você dobra a velocidade, para tanto é necessário o desenvolvimento de técnicas que irão minimizar, mas não eliminar tal efeito.
Pernas equilibradoras neste tópico temos que considerar que o ser humano para conseguir nadar tem obrigatoriamente de se adaptar a uma condição totalmente diferenciada, tanto pela posição do corpo na água, horizontal, sendo que o deslocamento terá como fator principal a ação dos braços, ficando para as pernas a função de manter o corpo horizontalizado e em equilíbrio rotacional, uma vez que a cada braçada o corpo tende a girar para a esquerda e para a direita constantemente.
Neste sentido a movimentação das pernas deverá ser constante e relaxada para não haver gasto exagerado de energia, porém, mesmo assim temos dados que mostram o rendimento e o gasto energético do batimento de pernas onde temos apenas 10% no máximo de rendimento no deslocamento (velocidade do nadador), enquanto que para este rendimento seria gasto 70% da energia total aplicada ao nado. Tal fato exige uma reflexão quanto ao planejamento de uma aula, onde não podemos deixar de treinar o batimento de pernas para desenvolvermos resistência aeróbica localizada de membros inferiores, lembrando da importância do batimento de pernas durante toda a execução do nado para que o corpo do nadador fique em posição adequada.
Apesar da importância do batimento de pernas no equilíbrio do nadador, um fator chama a atenção pelo contraste de funções, é que a atuação das pernas no ambiente terrestre é de sustentar o restante do corpo e, portanto, suportar seu peso seja ele qual for. Quando o praticante começa a nadar esta atuação dos membros inferiores, além de se alterar, exige uma mudança de tonicidade (quantidade de contração muscular), uma vez que todo o peso de seu corpo será sustentado pelo empuxo. Em razão deste fenômeno temos que alertar o praticante que a movimentação das pernas deverá ser constante, porém sem a necessidade de tanta força para sustentar o corpo, apenas resistência para manter o batimento de pernas durante todo o tempo de nado.
Na sequência temos a atuação dos braços (membros superiores) que na Natação passam a ter função fundamental no deslocamento do nadador, tornando-se elemento responsável pela propulsão na água, 90% ou mais, enquanto que na vida terrestre a atuação dos mesmos no cotidiano é limitada pela atuação como elemento de equilíbrio, transporte de objetos, apoios em corrimão etc. Na água os membros superiores passam a atuar como motor principal, movimentando-se constantemente tendo como vantagem o menor gasto energético, cerca de 30%, em razão da menor massa muscular diferentemente dos membros inferiores.
Este fato faz com que tenhamos uma alteração radical no comportamento do corpo na água, onde o segmento que gasta mais energia por ter mais músculos, é aquele que gasta mais energia, e o segmento mais importante pelo deslocamento do corpo é aquela que gasta menos energia, porém não podemos deixar de usar os membros inferiores pois o corpo se desequilibraria. Devemos levar em conta ao analisarmos estes fatos que a composição corporal do praticante, será decisiva quanto distribuição de energia e deslocamento, uma vez que quanto mais tecido adiposo (gordura) tiver o praticante, menos esforço o mesmo fará para permanecer na superfície e manter seu corpo na horizontal. Neste caso salientamos que geneticamente a mulher tem aproximadamente 20% a menos de musculatura que o homem e 20% a mais de gordura, facilitando assim seu posicionamento na água.
Por fim, nesta nossa análise de contraste entre atividades aquáticas e terrestres, temos que falar da condição do ambiente diferenciado em que o praticante da natação se encontra. Este ambiente exige total readaptação às condições apresentadas pelo meio líquido onde as ações motoras são realizadas em ambiente fluido onde o tato e o apoio são passam a ser esquivos e principalmente instáveis. Queremos dizer com isto que a movimentação do corpo na água não está ligada as experiências motoras em seco aonde o ser humano se movimenta e se desloca por atrito e também por apoios sólidos.
Na água não existe apoio fixo ou sólido toda a movimentação baseia-se em técnicas de movimentação e controle do corpo, técnicas estas que devem ser ensinadas por instrutor competente, fazendo com que o aluno vivencie esta nova condição que é a de se deslocar em um ambiente fluido sem a sustentação sólida de seu corpo e sem os apoios fixos que lhe deem segurança. Todas as atividades na água com o intuito de se aprender a nadar devem ser dirigidas para que o aluno adquira o mais rápido possível o controle de seu corpo na água, que para ele é algo totalmente novo e inusitado, não havendo, portanto, em seu acervo motor experiências anteriores que possam auxiliar neste novo aprendizado.
Feitas estas considerações podemos iniciar as aulas de Natação de maneira a fazer com que a aprendizagem evolua de uma maneira racional, agradável, objetiva e principalmente pedagógica.
Estrutura do processo ensino aprendizagem na natação
fig.1.1O primeiro passo no processo pedagógico de Ensino Aprendizagem da Natação, é iniciarmos as aulas fazendo com que o praticante se envolva com o meio líquido adaptando-se a ele. Esta Adaptação ao Meio Líquido ou Aquático, ambos os termos são corretos, é o primeiro encontro do aluno com a água de uma piscina a qual deverá ter uma profundidade compatível com sua estatura para que possa ficar em pé com segurança e ter uma temperatura agradável ficando a água entre 28 a 30 graus.
Esta temperatura da piscina poderá causar estranheza à aqueles que já