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O Vale Da Sorte
O Vale Da Sorte
O Vale Da Sorte
E-book290 páginas4 horas

O Vale Da Sorte

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Sobre este e-book

Em uma cidadezinha rodeada de grandes montanhas, três amigos, desde pequenos, costumeiramente vivem juntos algumas aventuras. Com o passar do tempo eles acabam conhecendo antigos moradores do vilarejo. Vivendo o dia a dia, eles irão descobrir que o Vale da Sorte está cheio de mistérios. Reis, Princesas e Príncipes, Fadas, Unicórnios, Magos, Bruxos e viagens através do tempo, compõem essa fabulosa história, em que o passado se junta com o presente sem que muitos dos moradores se apercebam.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de ago. de 2022
O Vale Da Sorte

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    O Vale Da Sorte - Neide Góes

    CAPÍTULO I

    A Mancha de Fogo

    Em um dia comum, numa tarde ensolarada, três amigos – Arthur, Gustavo e Sandro – tinham acabado de sair da escola e, como de costume, se dirigiam à casa de um deles para estudar. Com passos calmos, iam conversando e brincando enquanto caminhavam. De repente se assustaram ao ouvir um barulho parecendo de queima de fogos e se distraíram ao olhar para o céu e ver algo subindo. Não era um pássaro, não eram fogos de artifício, não era uma nuvem, tampouco uma pipa. Nada, nadinha disso. Por subir tão rápido, não dava para de imediato decifrar o que era. Mas parecia algo voando com asas enormes, vestindo uma roupa verde, que ia subindo, subindo, subindo em disparada, fazendo um barulho estarrecedor, igual a cem carros velhos ligados ao mesmo tempo. Seguia rumo ao espaço como um foguete. Em milésimos de segundos a sua velocidade ultrapassou os pássaros, os aviões e as poucas nuvens que existiam. Já lá no alto, havia se tornado uma mancha no céu, confundindo facilmente, para quem olhava de baixo, com um segundo sol. E, de súbito, parou. O sol ficou manchado, delineando uma meia-lua deformada. Parte dele havia escurecido. Não era um eclipse, pois viram que a mancha que subiu rapidinho é que havia tomado parte do sol. Sol, sombra, sombra, sol.

    Imediatamente os três garotos piscaram os olhos, entreolharam-se e não acreditaram no que estavam vendo. Achavam que estavam tendo alguma alucinação. Surpreendidos, indagaram:

    — Olha aquilo lá em cima, vocês estão vendo? – disse Arthur, apontando para o céu e indagando. — Deve ser um pássaro grande!

    — O que será que é? De onde saiu aquilo? – questionou Gustavo, que estava tão apavorado que seus olhos perderam instantaneamente o brilho.

    Sem se dar conta, Gustavo começou a acelerar os passos, carreando à frente e falando sem parar...

    — Pela fumaça, deve ser um foguete que está perdido, ou um bicho voando...

    — A coisa vai cair! Corram! – disse Sandro, gritando e atropelando a fala do amigo. — Salve-se quem puuudeeeer... – completou, meio que gaguejando. — Vamos nos proteger debaixo daquela cobertura! – ele finalizou, apontando para a casa mais próxima que avistaram e que por sorte tinha um telhado bem largo, com uma pequena parte que chegava a invadir a calçada.

    Corriam colidindo as pernas com os braços, imitando quase a velocidade da mancha que acabaram de ver, iguaizinhos aos cavalos que disputam em milésimos de segundos uma largada de corrida. Era um Deus nos acuda!, pois, ao mesmo tempo em que eles corriam apressadamente, iam deslizando com os pés para trás, parecendo que havia debaixo da sola de seus sapatos mais do que uma dúzia de cascas de banana, fazendo-os realizar um esforço tremendo para dar um passo à frente.

    Quando conseguiram se proteger debaixo do telhado, estavam com os rostos pálidos, o corpo tremendo e com os materiais da escola escangalhados – mal conseguiam segurá-los. Conseguiram paralisar os pés, mas o corpo ainda tremia como uma vara verde.

    — Estamos seguros aqui! – disse Arthur.

    — Por enquanto... Será? – falou Gustavo. — Vai que aquela coisa cai! Eu quero minha mãe! Buá, buá, buá... – ele completou, quase que choramingando.

    — Espera um pouquinho, Guto. Estamos quase chegando em casa. Eu tenho uma ideia. Vamos traçar um caminho beirando só os telhados – esclareceu Sandro, tentando acalmá-lo e aproveitando para se acalmar também.

    — Então vai um na frente protegendo o outro – pediu Guto.

    — Eu vou primeiro! – falou Arthur. — Espera só um pouquinho... Deiiixa eu veeer se a mancha não está caindo.

    Espichando o pescoço para fora do telhado, Arthur olhou para o céu com um olho aberto e o outro fechado.

    — Para mim, a mancha está se mexendo, mas só lentamente. Acho que por precaução a gente deve ficar só mais um pouquinho aqui.

    Inertes, eles resolveram ficar por lá mais alguns segundos. Sandro, que naquele momento estava um pouco mais tranquilo, se arriscou a dar uma olhada para dentro da casa e pedir ajuda para o dono. Ao colocar a cabeça pela fresta do portão, avistou uma rede de balanço na varanda com o morador deitado e, fora dela, as pontas das botas que ele calçava. Ouviram zzzzzz... o seu ronco.

    — Olha lá! Tem gente na casa... Mas parece que está dormindo... – falou o Arthur. — Vamos acordá-lo e pedir ajuda!

    — Sandro, se ele não acordou com esse barulhão, imagina se vai acordar com a gente chamando! – falou Guto, e continuou... — Arthur, vem cá e olha para o céu de novo.

    Alongando o pescoço o máximo que podia para fora do telhado, disse:

    — É, agora parece que a mancha estacionou.

    — Então vamos... – pediu Guto. — Mas vamos correndo...

    Sentindo-se protegidos, começaram a colocar um dos pés para fora da calçada, e o outro pé timidamente ensaiava para ir beirando o asfalto.

    Sorte deles foi que a mula que pertencia ao Seu Joaquim não havia passado. Ela costumava sempre cruzar com eles, no mesmo lugar e no mesmo instante, mas, ao correrem para escapar do objeto, nem sequer se lembraram da pobre mula e de que, quando o animal passava, sempre falavam em coro boa tarde, dona Josefina!. E, sempre após a prestigiarem com brincadeiras, eles riam e cordialmente davam licença para que ela passasse antes deles. Se isso acontecesse, como de costume, seria uma confusão danada. Imaginem se eles colidissem com a mula, que passava transportando as entregas dos fregueses da mercearia do Seu Joaquim. Os meninos sabiam que ela era esperta, pois bastava o Seu Joaquim colocá-la na direção certa, dar a ela um pedaço de rapadura e dizer pode ir, Josefina. Ela ia, mascando o doce, e voltava sem se perder no caminho. Cada dia da semana entregava as mercadorias para um cliente. Não adiantava pedir ou colocar dois pacotes, porque a mula empacava, e também empacava se quando voltasse o seu Joaquim não desse para ela um pedaço de rapadura para que saboreasse enquanto descansava da viagem.

    Naquele momento, os três estavam assustadíssimos e realmente muito confusos, sequer se lembraram da mula. Seus olhos se mexiam para cá e para lá, parecendo o pêndulo de um relógio de cuco anunciando a passagem dos segundos. Mas, não só os olhos estavam estranhos, o corpo no geral dava sinais de estar desestabilizado, num formato de S, sem que eles se dessem conta.

    Para não correrem risco, resolveram antever para onde a mancha ia. Ficaram à espreita de qualquer movimento vindo do alto para, assim, poderem retornar ao equilíbrio normal do corpo ou entortar novamente, se fosse necessário. De tão alarmados, os meninos estavam como um pedaço de quebra-queixo quando é cortado: esticados e puxados para todos os lados, tendo dificuldade de sair do lugar.

    Porém, a mancha estava lá paradinha e, por isso, tudo começou a ficar aparentemente normal. Restava apenas continuarem a andar em direção à casa de Sandro.

    — Ufa! Acho que finalmente já podemos ir – disse Sandro.

    — Podemos, não... – respondeu Gustavo, começando a entortar o corpo de medo, pois já estava ouvindo um barulho de algo vindo não sei de onde...

    — Por quêêê? É o homem-pássaro descendo? – indagou Arthur.

    — Não... Pior que não... Olhem a mula... Saiam da frente! Escondam-se! – gritou ele.

    Como se já não bastasse todo aquele alvoroço, veio a mula, sem freio, sem direção alguma. Vrummm!! Em disparada! Ióóó, Ióóó, plof, plof.

    Passou sacodindo os pacotes, com a boca fechada e cheia de baba de rapadura nas extremidades, pingando no chão. Atravessou na frente deles, que quase foram de encontro a ela e, por muito pouco, não foram todos derrubados no chão.

    — Mula esperta! Não perdeu o doce que ganhou – observou Arthur, bem, bem tranquilo. — Hoje tá tudo engraçado. A mula tá atrasada, mas correndo assim ela vai acabar chegando na hora. Não vão nem perceber.

    Mal sabiam os meninos que a mula corria não pela pressa de entregar os pacotes, mas porque estava tão assustada quanto eles – ou mais. Ao ouvir o estrondo, tinha empacado, com as patas bambas, e nada poderia fazê-la se mexer. Mas, como bicho sente mais que gente barulho em terra firme, alguns pequenos animais começaram a sair de suas tocas. Um ratinho minúsculo e ligeiro apavorou-se e atravessou por entre as patas da mula, e o seu rabo ficou enroscado nos pelos do animal graças ao grude do melado da baba que a Josefina deixara cair. Para se livrar do bichinho, a mula assustada desempacou de imediato! Como um trovão... Vruuummm.

    Com a velocidade que ela passou, os meninos não viram o rato na pata da mula. Ainda bem, porque se o rato caísse... Ah, com certeza quem empacaria seriam eles.

    — Acho que já podemos ir – disse Sandro. — Olha como a mula cooooorre!

    Nesse exato momento o pé tímido dos meninos, que ensaiava para sair da calçada, parecia mexer num movimento lento de balé. Pra dentro e pra fora. Pra fora e pra dentro. Sem equilíbrio algum. Também, pudera! Os garotos não poderiam arriscar-se mais, pois sabiam que a qualquer momento poderia vir algo do céu ou algo da terra. Mas, continuaram andando com cautela.

    — A mancha continua parada. Que alívio! – disse Gustavo. — Gente, tô suando! Fica aí, mancha! Quietinha! Não se mexe, tá?

    Um minuto de delírio bastou para ele acreditar que o objeto lá de cima estava ouvindo-o. Arthur e Sandro acabaram rindo do que ouviram e, assim, sentindo-se mais relaxados. Saíram da calçada, fazendo um revezamento.

    — Primeiro o Arthur vai à frente. Eu, no meio, e o Sandro fica atrás, como na fila da escola – disse Gustavo.

    Conforme iam caminhando, tudo acabou virando mais uma brincadeira. Soldado pra frente, soldado pra trás.

    — Para frente para proteger pelotão, soldado... Sentido! – disse Sandro.

    — Sim, Senhor!!! Sim, Senhor!!! – responderam Arthur e Gustavo, fazendo continência, respeitando assim a ordem do capitão.

    O que acabara de acontecer era tão anormal quanto uma tartaruga que ultrapassa um coelho numa corrida. Mas, como criança é criança em todo lugar, foram esquecendo com rapidez o que havia ocorrido.

    — A gente se diverte, né? – disse Arthur. — Eu estou achando que aquilo lá é um homem – disse ele, observando o objeto enquanto caminhava.

    — É que subiu muito rápido, mas é um homem. Eu vi também. – disse Gustavo.

    — Que nada! – respondeu Sandro. — Quem voa são os heróis de quadrinhos, os da TV... Homens não voam! Eu sei de tudo isso. Já li um montão de revistas. Tenho até uma coleção inteirinha.

    — Gente, não olhem, mas... Ela tá descendo! Brrrr! – falou Gustavo, aterrorizado. — É, vamos ficar por aqui...

    Realmente a mancha começou a descer. Pegou a velocidade de um raio, passando abaixo de um avião, das poucas nuvens e pousando na altura em que os passarinhos voam livres, antes dos fios e dos galhos das árvores mais altas. Ficou lá. Plainando. Parada.

    — Tá vendo, era um homem mesmo! – afirmou Arthur.

    — Caramba... Como ele conseguiu? – falou Gustavo, alarmado e indignado.

    — Olha lá, tá indo em direção a minha casa... – alertou Sandro.

    Com a mancha em uma altura mais baixa, o dia voltou a clarear. Eles ficaram boquiabertos ao vê-la mais de perto, agora fazendo bem menos barulho. Arthur, o mais curioso deles, foi o primeiro a se arriscar e fixar os olhos para o alto. Parou. Observou. Analisou, respirou e depois disse:

    — É um homem-pássaro!

    — Sério? Que bacana! – disse Sandro. — Como os heróis das histórias em quadrinhos!

    — É mesmo! – exclamou Guto.

    — Olha lá... Parece que ele está indo próximo a minha rua – observou Sandro, apontando em direção ao super-herói, que estava bem longe deles, porém não muito alto.

    Imediatamente, ao perceber que sua perna não tremia, aproveitou, respirou fundo, engoliu um bocado de ar, depois saliva, tossiu e, encorajado, disse:

    — Vamos logo para a minha casa. Lá a gente vai ter certeza de se ele realmente está pela vizinhança.

    Correram em disparada, com o olhar mirando o homem-pássaro, e foram conversando em voz alta até chegarem à casa do amigo. Passaram pelo portão, deixando-o aberto, e quase que colidiram com o Melão – o cachorro da família de Sandro, que sempre esperava por eles para brincar. Na ânsia de ver o homem-pássaro o mais perto que podiam, entraram na casa subindo os degraus da escada e se debatendo uns contra os outros, sem se aperceberem disso, e seguiram correndo pelo corredor até adentrarem no quarto do Sandro. Quando viram, já estavam todos afobados tentando disputar um espaço para se encaixarem num sofá que ficava de frente a uma pequena janela que dava para a rua. Lá do alto avistaram um menino brincando com uma bancada cheia de aparelhos, usando um capacete enorme cheio de lâmpadas de diversos tamanhos e cores e com um controle remoto um tanto esquisito nas mãos.

    — Caramba, olha lá embaixo! – falou Guto, tentando achar um espaço para esticar o braço e apontar para o menino. — Agora olha lá no alto!

    — Tô vendo o menino, olha nas mãos dele! – disse Sandro. E completou: — Esperem aí...

    De repente ele saiu do sofá, deixando os dois amigos com mais espaço. Arthur se acomodou e tratou de tirar a mochila do ombro. Enquanto os dois investigavam as ações do menino, Sandro arremessou os materiais da escola na mesinha onde costumeiramente estudava e puxou uma escada que ficava escondida em um vão entre a parede e sua cama beliche. Ligeiramente subiu alguns degraus, depois ficou nas pontas dos pés para pegar uma caixa no alto, mas não adiantou. Então, esticou os braços mais que podia e, com as pontas dos dedos, puxou para perto dele uma caixa que ficava no fundo do seu armário. Levantou a tampa e remexeu a caixa todinha, colocando quase tudo para fora. Por fim, esforçou-se para pegar, no meio das quinquilharias, três binóculos antigos, que faziam parte da sua coleção.

    — Venham aqui, me ajudem! Com esses binóculos a gente pode ver melhor – disse ele.

    — Segura aí, Arthur. Vem cá, Guto! – Sandro chamava ansiosamente seus amigos e simultaneamente testava qual era o binóculo com o qual se poderia ver melhor.

    O primeiro estava com suas lentes arranhadas, mas era o que permitia enxergar melhor. O segundo, faltava-lhe uma das lentes. O terceiro era pequeno demais, e seu alcance era quase nulo. Mesmo assim, revezando os binóculos, vistoriaram com detalhes o acontecimento na rua debaixo. E ficaram absolutamente maravilhados ao ver todo o movimento daquela parafernália funcionando.

    — Que maneiro! – falou Guto.

    — É demais, olha tudo aquilo! – comentou Sandro, cutucando com o cotovelo o amigo.

    — Vamos lá ver de perto... – sugeriu Arthur.

    Desceram as escadas e saíram em sentido à rua. O Melão, vendo a correria de longe, já foi saindo rapidinho da frente.

    — Vem, Melão! – chamou Guto.

    O cachorro, sem saber o que realmente estava acontecendo ou por um instinto animal, foi recuando, com pegadas largas para trás, e se escondeu atrás de uma pequena e esquelética árvore, através da qual dava para vê-lo quase por inteiro. Gustavo, vendo o cão assustado, parou de chamá-lo. E também não insistiu muito, por ter percebido que já estava ficando muito distante dos amigos. Então, rapidamente carreou para alcançá-los, deixando o portãozinho aberto. O cão subiu até o quarto de Sandro. Colocou o focinho na janela e olhou em direção à rua debaixo. Em seguida, desceu as escadas e correu em disparada ao encontro dos garotos.

    CAPÍTULO II

    Um Novo Amigo

    Os três garotos chegaram ofegantes pertinho do menino, que remexia em toda aquela parafernália, e ficaram estarrecidos por até aquele momento nunca terem visto nada igual. Sandro, para descansar da corrida, sentou-se na beirada da calçada próximo à bancada onde estavam os aparelhos. Melão, que estava seguindo os garotos, juntou-se a ele. O cachorrinho chegou com a língua para fora, respirando apressadamente, e ficou grudado em seu dono, sentindo-se protegido. Enquanto eles tentavam retomar o fôlego, Gustavo e Arthur estavam bem animados com o acontecimento e disputavam quem falava primeiro:

    — Oi... A gente veio ver se era você mesmo quem estava comandando o voo daquele homem lá de cima...

    — Guto, eu cheguei primeiro. Sou eu que tenho o direito de perguntar... – reclamou Arthur.

    — Ei, eu cheguei antes... Você não percebeu? Seu espertinho hahahaha! – questionou Guto, alertando o amigo.

    — Não liga! – pediu Sandro, dirigindo o olhar para o novo garoto. — Eles são sempre assim, brigam por qualquer coisa. Ai, ai, ai... se não sou eu pra pedir pra vocês pararem! Vai... Deixa que eu pergunto... – disse Sandro, entrando no meio dos amigos na tentativa de separá-los e acabar com a disputa.

    — É você que está fazendo aquele homem voar? – questionou Sandro para ele.

    O menino olhou-o rapidamente e continuou a sincronizar o voo do homem-pássaro apertando simultaneamente umas dezenas de botões. Estava tão compenetrado que não deu para prestar muita atenção nele, mas como gesto de resposta acenou com a cabeça dizendo sim.

    — Olha os botões em cima da mesa, agora daquele lado, e tem também um montão naquela cadeira – observou Arthur, falando baixinho, colado no Guto, tentando não atrapalhar o garoto.

    Mas foi por pouco tempo. Animado e curioso, ele falava sem parar, como estivesse engolido uma fita de gravador, depois falava tudo de novo, sem perceber que havia acabado de repetir.

    — Vejam! Ao mesmo instante em que ele levanta os olhos para o céu, olha enviesado em direção ao controle remoto e olha para o céu e para a mesa. Mesa, céu, céu, mesa... Puxa! Como você consegue? Se fosse eu, me atrapalharia todinho... Noooossa! Parece um maestro de orquestra, mas daquelas orquestras bem graaandes!

    Empolgadíssimo, começou a esticar os braços como se fosse ele mexendo nos botões.

    —Tum! Paratibum! Bum! Bum! Ufa! Só de imitá-lo um segundo já estou cansado!

    — Para, Arthur! – pediu Sandro. — Você vai deixá-lo tonto!!

    — Gente, olhem pra baixo, bem nos pés dele – disse Gustavo.

    — Não tô vendo nada! – exclamou Arthur.

    — Eu também não tô vendo nada! O que é que tem? – perguntou Sandro.

    — Hahahaha! É que não tem nada mesmo além dos pés – gargalhou Gustavo.

    — É, seu sabichão, tentou nos enganar, né? – questionou Arthur.

    — Era só pra você parar de falar um pouquinho, senão ele não responde, viu... Caramba, parece que tá ligado numa tomada!!!

    — E já vão vocês de novo... – reclamou Sandro. — Eu acho que ele parece um malabarista de circo! Toc, toc, toin, toin!

    — É verdade, Sandro! – concordou Arthur. — Nossa, olha essas luzes, como piscam! Lembram pequenas tochas de fogo... E lembram também as luzes do pisca-pisca da árvore de Natal lá de casa. Isso quando funcionam, né, porque vira e mexe a gente tem que tirá-las para achar aquela que está queimada, e daí é uma confusão só.

    — Hahahaha! Em casa sempre acontece a mesma coisa – falou Sandro. — Psiu!! A gente tá distraindo ele com os comandos!

    — Sim! Sou eu mesmo que estou comandando, e o homem lá de cima é o meu pai – interveio o menino.

    — Esse controle remoto é bem maior que o meu do videogame. Se eu tivesse um desses aí faria umas manobras incrivelmente radicais, como faço com os bichinhos dos jogos. E esse capacete é bem maior que a sua cabeça... Não é? – questionou Gustavo para o garoto. — Quase que não dá para ver os seus olhos!

    — É verdade... – alertou Sandro, olhando firmemente para ele.

    — Huummm... – disse Arthur, querendo balbuciar algo ao perceber que o capacete era cheio de fios embaralhados vindos de uns minúsculos buracos no teclado, que ficavam apoiados em cima de uma cadeira. Impressionado, comentou:

    — Se ele mexer no botão errado será uma catástrofe no céu e na Terra.

    — É mesmo, nem quero ver. – disse Gustavo, fechando os olhos com as mãos.

    Naquele momento o homem de asas voava pra cá e pra lá. Sentindo-se à vontade no céu, começou a dar piruetas no ar. Uma, duas, três... De repente estatuou em pleno ar, e um dos motores soltou uma fumaça...

    — Olha lá! É fumaça! Olha o que ele tá escrevendo: P-AAAA – disse Arthur, tentando ler.

    PAZ! – leu Sandro. — Que legal! PAZ E ALEGRIA PARA TODOS. Sensacional! hahahaha!

    Assim que a fumaça se dissipou no ar, ele começou a fazer acrobacias aéreas parecendo que estava pisando em um fio invisível, e aí os três amigos ficaram tão deslumbrados com suas manobras que estatuaram de boca entreaberta e nem piscavam os olhos. Nesse exato momento, três passarinhos que tinham laçados em seus pés um cordão vermelho, fizeram de uns fios esticados pelo menino um palanque e também ficaram admirados, com a cabeça virada para o céu e os bicos entreabertos, parecendo que estavam imitando os três garotos.

    — Nooossa!!! – falou Guto, fascinado.

    — Xô, xô! Sai... Sai... – falou o novo amigo para os passarinhos, tentando assustá-los, ao perceber que eles escolheram justamente um dos fios dos aparelhos para pousar.

    — Olha lá, Melão, até os passarinhos gostaram do homem-pássaro! – falou Sandro para o seu bichinho de estimação.

    — Espanta esses pássaros pra mim, gente... Por favor! – pediu o dono da parafernália acenando desesperadamente para o fio em que os bichinhos estavam...

    — Deixa com a gente!

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