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Da Esperança Ao Medo
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Da Esperança Ao Medo
E-book336 páginas4 horas

Da Esperança Ao Medo

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Sobre este e-book

Após passar por um período de relativa estabilidade, crescimento e esperança, o Brasil entrou em um pandemônio político que o arrastou para a crise durante os anos de 2010, combinando insatisfação popular, corrupção, problemas econômicos, perda de credibilidade das instituições, entre outros. Neste livro, o autor passa um raio x pela década mais turbulenta da Nova República, apresentando todos os acontecimentos e opinando sobre as causas da regressão que temos enfrentado nos dias atuais, e que tanto tem sido característica na nossa história. Por fim, opina sobre alguns temas e personagens relevantes do cenário atual, e faz projeções sobre quais os prováveis passos que serão dados nos próximos anos pelos detentores do poder.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento25 de abr. de 2021
Da Esperança Ao Medo

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    Pré-visualização do livro

    Da Esperança Ao Medo - Manoel Martins Jr

    Da Esperança ao Medo

    A história da década mais turbulenta

    da Nova República

    Manoel Martins Jr

    [ 2 ]

    [ 3 ]

    [ 4 ]

    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO ...................................................................... 9

    PARTE I – O CAMINHO PARA O IMPEACHMENT ..... 12

    Impeachment ou golpe? ............................................................................. 12

    Tempos de esperança ................................................................................. 13

    Sai Lula, entra Dilma................................................................................... 16

    Protestos de 2013, um país de cabeça para baixo .................................. 18

    Surge a operação Lava-Jato ........................................................................ 21

    Eleições de 2014, o resultado que não deveria ter acontecido ............. 25

    O culminar da crise ..................................................................................... 31

    Uma resposta para a pergunta ................................................................... 39

    PARTE II – DO IMPEACHMENT À ELEIÇÃO DE

    BOLSONARO ....................................................................... 41

    Eleições municipais, o fundo do poço do PT ........................................ 41

    O governo Temer ........................................................................................ 44

    A Lava-Jato ganha força ............................................................................. 52

    Eleições de 2018: antecedentes ................................................................. 71

    O momento decisivo .................................................................................. 83

    PARTE III – O GOVERNO BOLSONARO ....................... 96

    O falso discurso da união ........................................................................... 96

    A escolha do ministério ............................................................................ 101

    Filhos, um problema ................................................................................. 108

    As queimadas na Amazônia ..................................................................... 117

    A saída do PSL ........................................................................................... 121

    A Reforma da Previdência e a atuação da área econômica................. 124

    Tinha uma pandemia no meio do caminho .......................................... 130

    A saída de Moro: um duro golpe ............................................................ 143

    Eleições municipais: um verdadeiro teste ao bolsonarismo ............... 149

    [ 5 ]

    PARTE IV – ABSTRAÇÕES SOBRE O PASSADO E O

    FUTURO ............................................................................. 158

    O crescimento do golpismo: realidade ou delírio? ............................... 158

    Impeachment, um sonho ainda distante ................................................ 167

    Uma elite problemática ............................................................................. 173

    O liberalismo tupiniquim ......................................................................... 181

    A esquerda e o novo PSDB ..................................................................... 207

    Frente ampla: uma urgência democrática .............................................. 233

    Atualização: a batalha das autocríticas ................................................... 238

    Parlamentarismo e reforma política ....................................................... 242

    Eleições de 2022: cenários e perspectivas ............................................. 255

    REFERÊNCIAS ................................................................. 271

    SOBRE O AUTOR ............................................................. 298

    Da Esperança ao Medo, por Manoel Martins Jr

    A todos que, como eu, dedicam os seus dias a aprender e

    lutar por um país mais livre, igual e democrático,

    denunciando o fascismo e autoritarismo de qualquer

    espécie.

    [ 8 ]

    Da Esperança ao Medo, por Manoel Martins Jr

    INTRODUÇÃO

    Desde muito cedo, minha adolescência, para ser

    mais exato, me tornei um interessado pelo mundo da

    política, tanto a relacionada à minha localidade, como

    nacionalmente. Não segui carreira dentro do jornalismo,

    economia ou afins (por enquanto), como se é habituado a

    ver para os especialistas do tema que inundam as nossas

    tvs explicando as nuances de tão complexo, surpreendente

    e complicado tema. Longe disto, estou mais para um mero

    eleitor que procura se manter informado sobre o que

    acontece, lê diferentes pontos de vista, estuda, e interpreta

    os temas segundo a sua própria visão de mundo pessoal.

    O Brasil, assim como o mundo em geral, passou

    por intensas mudanças nesta última década, de uma

    forma tão gritante que dificilmente um roteirista de

    hollywood, por melhor que seja, conseguiria prever ou

    bolar uma história tão cheia de pontos interessantes e

    viradas repentinas, nem sempre para o bem, como as que

    vivenciamos nos últimos 10 anos. Quem, em 2011, acharia

    que chegaríamos a 2020 com este cenário? Assim, esta

    obra tem como intuito de discorrer sobre os principais

    acontecimentos que levaram a resultar nas históricas

    eleições de 2018, quando o Brasil apresentou uma das

    maiores renovações políticas de sua história, e deu uma

    clara guinada à direita, empunhando bandeiras raivosas

    de mudanças e contra os velhos atos relacionados à

    chamada velha política. Depois disso, ela se aprofunda

    sobre a primeira metade do conturbado governo

    Bolsonaro, e, por fim, tenta, audaciosa e arriscadamente,

    [ 9 ]

    Da Esperança ao Medo, por Manoel Martins Jr

    formular previsões sobre quais serão os próximos passos,

    e o que nos aguarda para a década seguinte, ou pelo

    menos o seu início.

    Todos os fatos narrados são corroborados com

    fontes jornalísticas, sendo apenas representações de coisas

    plenamente conhecidas e noticiadas, nada criado da

    minha cabeça. Porém, advirto sobre dois pontos: 1) a obra

    não se resume a noticiar, existe sim um lado, que deixo

    claro durante o livro, uma opinião própria sobre o

    desenrolar dos acontecimentos e seus principais

    personagens, e que considero o principal propósito destes

    escritos; 2) as opiniões são dadas sob o ponto de vista

    meramente político, direcionado às atuações políticas das

    vertentes noticiadas, ou seja, não sou um intelectual que

    se propõe a discutir sobre erros e acertos de teorias

    econômicas ou visões políticas, até por não ter bagagem

    teórica nem conhecimento para isto.

    Como eu humildemente anuncio em meu blog

    pessoal, não sou o dono da verdade. Você poderá

    concordar veementemente com algumas de minhas ideias,

    e discordar de forma brutal de outras. Não acho que

    devamos pensar com cabeça de militante, como um

    combo fechado onde defenderemos tudo o que nos foi

    oferecido até o fim. Por muito tempo me identifiquei como

    um liberal de direita, e como um crítico veemente do PT.

    Porém, o caminho errático, no meu entender, que os

    liberais tomaram nos últimos anos me fizeram se afastar

    destas correntes, ao mesmo tempo, abri meus horizontes

    para uma perspectiva mais social que parece estar distante

    [ 10 ]

    Da Esperança ao Medo, por Manoel Martins Jr

    das discussões destes grupos. Ainda me alinho com os

    liberais (verdadeiros) em muitos aspectos, e considero

    algumas de suas lutas corretas, mas parei de ver a

    resolução dos problemas do mundo a partir de um único

    lado. Como sociedade, somos complexos demais para não

    admitir que boas ideias que dão certo podem chegar de

    vários lados distintos. O purismo é uma praga, o

    equilíbrio e a moderação são os caminhos.

    Como vocês irão ver durante a leitura, me reservo a

    criticar o que acho errado em todas as vertentes da política

    nacional, e elogio o que considero correto. Sou assim,

    concordem ou não, me achem um estúpido ou um gênio,

    um rei da sapiência ou alguém que não diz nada com

    nada. No mais, faço meus votos que aproveitem o livro e

    possam formar seus próprios pontos de vista sobre os

    acontecimentos, e que o nosso maltratado Brasil encontre

    um dia o futuro que faça jus ao seu potencial e às

    qualidades de seu povo.

    Cordialmente,

    Manoel Martins Jr

    [ 11 ]

    Da Esperança ao Medo, por Manoel Martins Jr

    PARTE I – O CAMINHO PARA O

    IMPEACHMENT

    Impeachment ou golpe?

    Se tem algo que me incomoda é quando eu penso

    se me identifico como um sonhador utópico ou como

    alguém prático, que sempre vê um fim aceitável justificar

    os meios, ainda que ele não seja do modo que eu gostaria

    em meu mundo ideal. Para falar a verdade, às vezes meu

    lado sonhador é proeminente, principalmente com a

    severidade com que eu julgo àqueles a quem não gosto ou

    desconfio, não tolerando qualquer desvio de conduta,

    vociferando contra os mesmos. De outro lado, assumo o

    papel pacifista, tolerante, até conformado, em outras

    ocasiões, aceitando que as coisas são assim mesmo, e é

    melhor que elas melhorem, nem que seja um pouco e

    lentamente, dentro de uma estabilidade sistêmica.

    Normalmente adoto essa tolerância para os que eu tenho

    algum afeto ou admiração. Eu já vivi esses dois papéis nos

    últimos anos, que, aliás, se tornou um núcleo polarizador

    dentre tantos na vida política do país perante uma crise

    que se arrasta há tanto tempo.

    Essa dualidade está presente na minha visão do

    evento histórico ocorrido entre dezembro de 2015 e agosto

    de 2016. Um tortuoso processo que era o culminar de uma

    crise que já vinha desde antes das eleições de 2014. Uma

    presidente que teve sua reeleição forjada dentro de

    mentiras e corrupção, no processo eleitoral mais sujo da

    história, e que acabou sendo o seu impetuoso castigo. Ela

    [ 12 ]

    Da Esperança ao Medo, por Manoel Martins Jr

    continuou no poder, mas não conseguiu governar mais,

    porque esta reeleição nunca deveria ter acontecido. Que

    entrasse qualquer um, até o Levy Fidelix, e não teríamos

    um golpe tão forte e covarde contra uma democracia que

    parecia finalmente se estabilizar.

    E aqui chegamos na pergunta do milhão,

    impeachment ou golpe? Sinto dizer, mas existem aspectos

    que tornam as duas narrativas diferentes sobre o episódio

    erradas e corretas ao mesmo tempo. Claro, a palavra

    inglesa que não foi traduzida é mais chique, e ganhou a

    boca do povo, mesmo dos mais humildes, talvez

    orgulhosos de pronunciarem tão difícil termo. Como não

    se acostumar? Eu nasci durante o primeiro processo de

    uma jovem Nova República, apenas quatro anos após a

    promulgação da Constituição Cidadã, contra Fernando

    Collor, e me preparava para votar em somente minha

    quarta eleição no segundo. Ambos tristes episódios que

    representaram o fim de períodos de estabilidade e

    esperança. Quando um rapaz então com menos de 25 anos

    já o presenciou duas vezes na vida, alguma coisa estará

    errada, não?

    Tempos de esperança

    Mas vamos começar esta história do começo, como

    deve ser. A crise de 2016, como dito, iniciou-se bem antes.

    Primeiramente, tivemos o período do otimismo e da

    bonança. Como muitas vezes já contado pelos poetas dos

    tempos modernos, em 2002 tivemos a primeira vez em

    mais de 40 anos que um presidente eleito pelo povo

    passava a faixa presidencial para outro. Era um momento

    [ 13 ]

    Da Esperança ao Medo, por Manoel Martins Jr

    simbólico para um país que tanto havia sofrido, sonhado e

    lutado por sua liberdade. Embora vivendo um período

    conturbado, afetado pela crise dos países emergentes, que

    detonou a economia depois dos bons primeiros anos do

    Plano Real, e por uma seca que provocou até mesmo

    apagão em várias partes do país, dando o primeiro dos

    castigos ao PSDB por ter aprovado de forma

    inconstitucional a reeleição, o Brasil respirava esperança.

    O desaprovado Fernando Henrique Cardoso passou a

    faixa para Lula, finalmente eleito após três tentativas

    frustradas, ex-operário e sindicalista, membro de um

    partido de esquerda sem devaneios, com ampla

    militância, denominado dos Trabalhadores. Dois

    presidentes com linhas e personalidades tão diferentes, e

    não importava quais seus gostos pessoais por cada um,

    presenciávamos ali a essência da democracia!

    E o período Lula confirmou os anseios de quem

    esperava por tempos melhores. A economia voltou a

    decolar, os investimentos foram ampliados, o desemprego

    e a inflação caíram. Programas sociais foram ampliados,

    pobres ganharam cotas e conseguiram acesso às

    universidades, e muita gente melhorou de vida. Foi um

    período sem igual, talvez o melhor desde a época do

    famigerado Milagre Econômico de Delfim Netto. Sim,

    embora na época eu não desse o braço a torcer, pude fazer

    um juízo crítico com mais isenção recentemente e

    reconheci que as coisas melhoraram mesmo, e

    melhoraram principalmente para a classe dominante. É

    verdade que os pobres receberam suas benesses como

    [ 14 ]

    Da Esperança ao Medo, por Manoel Martins Jr

    nunca antes, mas elas pareceram migalhas perto do que

    faturaram grandes empresários, às custas de empréstimos

    com juros camaradas do BNDES, ou das inúmeras obras

    de infraestrutura que foram postas em ação em todo o

    país, e até em países de governantes amigos. Tal detalhe

    seria um aspecto importante da ruína do próprio PT

    depois. O auge foi após a crise de 2008, quando o mundo

    todo naufragou em recessões profundas, mas o Brasil

    pouco sentiu.

    Porém, tudo isso veio a um custo pesado.

    Aproveitando-se de uma autonomia, consentida ou à

    revelia, nunca pude tirar esta dúvida, instituições de

    investigação começaram a ter um protagonismo também

    nunca antes visto. Ainda no primeiro mandato de Lula, o

    primeiro escândalo: o denominado Mensalão. Em parte

    vítima de um sistema de governo fadado ao fracasso, o PT

    passou longe de ter uma maioria ideológica para

    governar, e, por isso, teve que se aliar à centro-direita

    fisiológica. Era o começo da repartição de cargos sem

    quaisquer escrúpulos entre partidos, e, pior, do

    pagamento de parlamentares com dinheiro ilícito por seus

    votos. Mesmo com a descoberta do esquema, a coisa só

    piorou a partir daí, o partido governante gostou de como

    o processo funcionava, e aglutinou cada vez mais

    partidecos em torno de si. A ideologia deles não

    importava mais, eram apenas abutres sedentos por um

    lugar nas tetas do Estado. O PT de Lula se tornou cada vez

    mais hegemônico.

    [ 15 ]

    Da Esperança ao Medo, por Manoel Martins Jr

    O Mensalão foi a prova de como o detalhe menos

    importante em um processo de impeachment são os

    malfeitos. No meu mundo ideal, e vamos pela primeira

    vez citar meu lado utópico, não existiria um, mas sim

    motivos graves em série para derrubar o presidente. No

    parlamentarismo, certamente seria o sim. Porém, Lula

    sobreviveu. Não houve sequer pedidos de afastamento, e

    nem protestos nas ruas por sua saída. A economia ia bem,

    não se tinha motivos para protestar. A oposição, por sua

    vez, erroneamente achou que deixá-lo sangrar até a

    eleição seria a melhor estratégia. Lula saiu forte, e foi

    reeleito com facilidade depois, mas as investigações

    derrubaram seu braço direito, um dos principais homens

    por trás de sua chegada ao poder, como também de sua

    governança depois, e que era fortemente cotado para

    substituí-lo: o Ministro da Casa Civil, José Dirceu. Aí está

    outro aspecto que influenciaria no que vimos mais de 10

    anos depois.

    Sai Lula, entra Dilma

    Outros escândalos, de menor importância, vieram

    depois, mas Lula passou o bastão rondando os 80% de

    popularidade. O Brasil continuava feliz. Dizem que

    círculos internos do PT ainda levantaram a possibilidade

    de golpear a democracia e lutar por um terceiro mandato

    do presidente. Não é de se duvidar, amigos próximos

    como Hugo Chávez e Evo Morales fizeram isto, ou fariam

    o mesmo depois, sempre com o bom e alegado intuito de

    proteger a revolución, e a esquerda latino-americana

    vigente gostava de imitar uns aos outros. Estávamos no

    [ 16 ]

    Da Esperança ao Medo, por Manoel Martins Jr

    grande

    momento

    do

    chamado

    bolivarianismo,

    inaugurado por Chávez, e a estabilidade democrata

    sempre para no momento que deixa de servir aos seus

    próprios interesses. Não se sabe se Lula foi um autêntico

    democrata que rechaçou a ideia de cara, ou chegou a ser

    tentado pela sede de poder, mas viu que era uma

    possibilidade remota que só geraria desgaste para si

    mesmo ou o partido. O que se viu é que, sem Dirceu, ele

    escolheu uma sucessora, que também havia sido sucessora

    do próprio Dirceu na Casa Civil. Oito anos depois, o Brasil

    veria a história novamente, ao eleger a primeira mulher

    para o cargo máximo da Nação.

    Dilma não era uma mulher de grandes feitos até

    então. Na verdade, havia ganhado destaque somente nos

    governos petistas mesmo. Havia sido uma militante

    estudantil, integrante de grupos guerrilheiros contra a

    Ditadura Militar, tendo sido presa e torturada. Era uma

    neófita até mesmo no PT, já que foi um membro de longo

    tempo do PDT Brizolista antes, quando havia chegado no

    máximo a atuar como Secretária de Fazenda da cidade de

    Porto Alegre, sem grandes resultados. Não eram bons

    predicados para tamanha responsabilidade, mas ninguém

    ligava. A verdade é que se elegeria quem Lula apontasse o

    dedo, era o auge do PT, e ninguém teria a audácia de

    questionar o feeling do chefe. O fato é que o presidente

    estava destinado a querer fazer história, e tinha escolhido

    sua sucessora com boa antecedência, viajando pelo país

    inteiro para apresentá-la. Descolou o título de "Mãe do

    PAC", o programa de crescimento mais ambicioso da

    [ 17 ]

    Da Esperança ao Medo, por Manoel Martins Jr

    gestão petista, com justiça ou não, fazendo-a inaugurar

    inúmeras obras, mesmo as inacabadas, enquanto a Justiça

    Eleitoral fazia vistas grossas à campanha antecipada.

    E foi a partir daí que as coisas começaram a dar

    errado. Mesmo apostando na continuidade de quase toda

    a equipe econômica de Lula (Henrique Meirelles saiu), a

    estratégia mágica do PT dava sinais de arrefecimento, e,

    assim como o Milagre Econômico da Ditadura, não durou

    para sempre. O desemprego começou lentamente a subir,

    o PIB não apresentou a mesma força de crescimento de

    antes, e a inflação não ficou tão fácil de ser controlada.

    Políticas errôneas foram adotadas, como uma desoneração

    que quase quebrou o setor elétrico, e obrigou a ter seu

    custo repassado aos consumidores depois. Apesar de a

    economia ter começado a ficar fragilizada, a política de

    intervenção estatal foi reforçada, com crescentes gastos. A

    receita para o desastre estava montada. Para piorar tudo,

    Dilma claramente não era do ramo, não tinha o trato que

    seu antecessor possuía com o mundo político, e isto

    cobraria um alto preço.

    Protestos de 2013, um país de cabeça para baixo

    Ainda assim, durante mais de dois anos Dilma

    sustentou uma confortável popularidade herdada de Lula.

    Até que tudo explodiu em, por acaso, junho de 2013. O

    Brasil estava às vésperas do primeiro de seus três grandes

    eventos, outra herança dos tempos áureos. Dali a pouco

    começaria a Copa das Confederações, um ano depois a

    Copa do Mundo seria realizada em terras tupiniquins

    após 64 anos. Por fim, em 2016 teríamos as Olimpíadas do

    [ 18 ]

    Da Esperança ao Medo, por Manoel Martins Jr

    Rio pela primeira vez na história. Eram os grandes

    projetos de Lula para mostrar a grandeza no novo Brasil.

    O problema é que o boom econômico que sustentaria

    tranquilamente este momento já havia passado.

    Os

    custos foram enormes, turbinados por uma corrupção

    como nunca dantes vista, e só ajudou a acelerar a

    degradação econômica e moral, como também a revolta

    da população.

    Ironicamente, o período de transe coletivo em que o

    Brasil entrou há sete anos começou como um protesto da

    extrema-esquerda. Um protesto como qualquer outro

    sobre um tema qualquer, como aqueles que acontecem

    todos os meses reunindo meia dúzia de militantes

    inflamados, e que ninguém dá muita atenção. Naquele

    caso, o protesto era contra um aumento do valor das

    passagens de ônibus em São Paulo. Um movimento

    chamado Passe Livre saiu às ruas e tomou umas

    porretadas da polícia, como sempre também acontece. Só

    que, por algum motivo que ninguém nunca saberá, ali foi

    a senha para algum cataclismo dentro da mente das

    pessoas. Uma população que desde o impeachment de

    Collor estava adormecida, de repente acordou, e com

    raiva. Os protestos seguintes foram cada vez maiores, e se

    espalharam pelo restante do país. Também eram

    violentos, para além da tradicional repressão policial,

    nasciam os chamados black blocks, ainda dentro da

    parte esquerdista das manifestações, que acuavam e

    lançavam sua fúria contra repartições públicas e

    particulares, veículos de imprensa e agentes públicos.

    [ 19 ]

    Da Esperança ao Medo, por Manoel Martins Jr

    A coisa logo saiu do controle do movimento que

    iniciou tudo, e as pautas ficaram difusas. Protestava-se

    sobre tudo e ao mesmo tempo sobre nada. Protestava-se

    pelo prazer de protestar, a revolta havia se tornado cool.

    De repente toda uma fúria guardada foi posta para fora

    sem dó, e quem pagou o preço foi quem estava no poder.

    Governadores, prefeitos, todos viram sua popularidade

    cair, e medidas como o aumento das passagens foram

    canceladas, em vão, coitados, já era muito mais que isso. O

    lema não são apenas 20 centavos, referente ao tal

    acréscimo, ganhou força. Mas quem estava na ponta de

    tudo era Dilma, logo, os ferozes ânimos tiveram um alvo

    preferencial, e sua popularidade despencou. Eu também

    fiz parte desse processo histórico. Em meu vigente espírito

    quase reacionário, vi no calor das pessoas uma esperança

    de ter as mudanças que almejava, o país perfeito que me

    era negado por aquele sistema, e também sai às ruas.

    Interessante notar dois detalhes destes protestos

    que explicariam muito o porvir: em primeiro lugar, uma

    essência nacionalista forte: bandeiras dos estados eram

    queimadas em praça pública, frente a uma exaltação do

    pavilhão nacional, relembrando os bons tempos do Estado

    Novo de Getúlio Vargas. Segundo, havia um esforço

    enorme para se autoafirmar como apartidários. Militância

    de partidos de esquerda, até do PT, acostumadas a

    participar de tais atos e ainda sem ter noção do que

    acontecia, tentaram surfar na onda, mas acabaram

    expulsos aos xingamentos, e até agressões. Mesmo nomes

    da então oposição tucana não eram bem vistos. Nós não

    [ 20 ]

    Da Esperança ao Medo, por Manoel Martins Jr

    sabíamos, mas tais demonstrações eram o sinal de uma

    extrema direita ressentida, que pela primeira vez em

    quase 30 anos sentiam um espaço para respirar e se

    mostrar ao mundo. Viram a oportunidade perfeita na

    legitima revolta de população, e souberam redirecionar

    para si uma resposta para os males vigentes. Refletindo

    sobre os episódios citados, não é difícil fazer a ligação com

    o patriotismo fascista e lemas como "O meu partido é o

    Brasil" que se tornariam populares anos depois.

    Como é comum de se acontecer, o ratos temem

    principalmente o povo, e o Congresso se apressou para

    dar as tais respostas que a população pedia. Para alívio

    deles, tão quão espontaneamente as manifestações

    inflaram, elas encolheram até finalmente acabar sem

    deixar qualquer coisa concreta construída ou legado

    benéfico, e várias das proposições que poderiam causar

    um estrago no sistema foram podadas. Ainda assim,

    Dilma sancionou uma proposta que se transformaria em

    outra chave para o seu fim: regulamentou as delações

    premiadas.

    Surge a operação Lava-Jato

    E assim chegamos ao bendito ano de 2014, ao qual

    deveria ser histórico para o Brasil, com o provável

    hexacampeonato em casa na Copa do Mundo, mas

    terminou com uma série de fatos marcantes e não tão

    alegres assim, tanto no futebol como na política. Dilma

    resistiu às manifestações de 2013, mas nunca

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