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A Era Das Trevas
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A Era Das Trevas
E-book273 páginas4 horas

A Era Das Trevas

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Sobre este e-book

Em um mundo dividido em cinco raças superiores, entre eles dragões e híbridos, magos costumavam ser respeitados pela magia que possuíam. O surgimento da “saliência negra” e a ganância dos homens, no entanto, mudou tudo. Quando Sinfonis, mago da sabedoria, e os outros quatro magos responsáveis pela existência da paz no mundo que denominam “Forma”, lacram a fonte do poder das trevas com as próprias vidas, passam a serem alvos da crueldade de um terrível sacerdote, Arupe Dadlam. Logo quando alguns deles começam a cair, fica claro que será preciso algo a mais para salvar o mundo das Trevas. Em meio a ganância e medo, muitas profecias são criadas e o futuro passa a ser sombrio para todos, fazendo muitos temerem ao mal. Doze viajantes então, se tornam os responsáveis pela busca da esperança em terras esquecidas e misteriosas, sendo eles, seres com má sorte e infelizes. Eliza, filha de Sinfonis, ao descobrir ter as lembranças do seu amor verdadeiro apagadas pelo próprio pai, decide ser a primeira a embarcar nesta viagem. No caminho, ela encontrará criaturas com histórias infelizes, aparências sombrias e desejos de vingança, assim como terá de lidar com os obstáculos típicos de um mundo perdido no caos. E não só ela, como todos os outros onze viajantes terão de aprender a deixar seus problemas de lado para partirem em busca da salvação de quem os ensinou a se odiarem.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento5 de mai. de 2020
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    A Era Das Trevas - Caique M Gomes

    Ao contrário do que podemos imaginar, o reflexo no espelho pode ser o mundo real do mundo inverso em que vivemos. Um mundo onde a magia sempre existiu e ainda existe.

    Eugesnoc rev?

    A Era das Trevas

    Parte I

    Os Doze Viajantes

    Segredo e Sangue

    A escuridão cobria os olhos de todos. Não havia nada para eles ali, porém os cinco magos continuavam a observar preocupados.

    - O que faremos agora, Sinfonis? – disse um mago de capa laranja, cujo nariz assemelhava-se a narina de um dragão – Os homens alcançarão as trevas, eles querem isso, e ela os chama. Consegue sentir?

    Estavam em uma caverna. Em um monte distante, um monte oculto pela escuridão do mundo e imerso de uma energia ruim, localizado nas terras desertas do Planalto dos Homens. Até mesmo o menor dos pedregulhos se agitava, irritado com a presença das cinco figuras. Bem a frente dos magos se encontrava o motivo a que todos deveriam temer.

    Tratava-se de um pequeno lago subterrâneo, nada comparado aos outros lagos da Forma, de água doce e animais exóticos, este lago tinha suas peculiaridades, na verdade, ao invés de água, o lago era feito de um liquido negro e espesso que emanava de si a energia ruim que preocupava a todos os ali presentes.

    Apenas um deles parecia não se deixar levar para o medo e começar a lidar com os efeitos que aquilo teria naquela terra, este mago era sábio e se chamava Sinfonis.

    Sinfonis era um mago alto e magro, porém sua barba desgrenhada não dizia nada sobre sua enorme sabedoria, que apesar de estar em um corpo já marcado pelo tempo, continuava a ser o que tinha de melhor.

    Apesar de não parecer muito atento ao que Adregon acabara de falar, sabia que com toda certeza, o mago Dragão estaria agora amedrontado pelo que via. Disso Sinfonis sabia, e, aliás, da maior parte de tudo o que existia no mundo o mago da sabedoria tinha conhecimento, no entanto, naquele momento, não tinha uma resposta inteligente para uma simples pergunta. O que afinal iriam fazer com aquela nova praga?

    - Me perdoaria se eu dissesse que todo meu conhecimento não deverá servir para nada? Sei o que você sabe Adregon. Sei sobre o caos que percorrerá nosso mundo, se os homens obtiverem conhecimento do que vemos agora.

    Um pequeno estalido na caverna fez todos se calarem e trouxe de volta o silêncio, os magos voltaram para seus pensamentos tormentosos.

    Magnor, Mago dos Magos, regente de Magnória, terra dos orgulhosos Magos somente Magos, foi o primeiro a quebrar o silêncio, sua voz expressava sua arrogância:

    - Talvez seja a hora de confrontar os homens enquanto ainda temos tempo. Eles devem entender que nosso poder é maior do que qualquer outra espada ridícula. Não podem e nem nunca conseguirão nos tirar o poder – disse Magnor. - Sabe o que devemos fazer Sinfonis, mostrar nosso poder. Nossa mágica deve emergir perante as cabeças dos homens e abaixá-las até que vejam o lugar deles. O...

    Sinfonis ergueu a mão e interrompeu o orgulho de Magnor antes que este irrompesse de sua garganta, os outros três magos continuavam a encarar o espesso liquido negro.

    - Não se atreva, Magnor, sua arrogância alimenta o mau e assusta o bem. Não é aos homens que devemos colocar a culpa pelo nosso medo. Essa magia negra emergiu e pode com certeza ser despertada por qualquer um. Sendo ela usada contra nós por híbridos, dragões, monstros, trolls, e o pior, por nós mesmos.

    - Só posso ter entendido errado, mas, desconfia que um de nós cinco, líderes das raças que compõem este mundo, ousaria usar este poder para espalhar o caos no mundo? Não vim de tão longe e distante para ouvir tal loucura, Sinfonis, sabemos bem que o único que poderia pensar em agir de tal forma seria seu amigo Helliot.

    Helliot permaneceu silencioso, ele era o mago da raça mais subestimada que poderia existir, o das criaturas silenciosas e sombrias. Tinha ao seu comando bestas, mortos-vivos, Trolls, pragas, e outros inúmeros seres aberrantes, estranhos e sombrios.

    Suas terras localizavam-se no ponto mais escuro da Forma, era conhecida como Helldawn e todos os seres que residiam lá eram chamados de sombrios. Mas os olhos de Helliot não condenavam a estranheza das criaturas, e era por isso que Sinfonis sabia que ele com certeza os defenderiam.

    Sua voz foi paciente e fria quando falou:

    - Minhas criaturas berrariam, urrariam, mas em nenhum caso eles seriam cruéis o suficiente para provar deste poder. E eu muito menos. Meus poderes estão na escuridão, mas isso aqui, eu chamaria de trevas.

    Sinfonis pareceu convencido, Héliott era tão fiel á luz quanto qualquer um daqueles magos. Dias antes havia procurado o mago para pedir conselhos, disse que suas criaturas estavam agitadas, e que seus poderes não estavam mais os confortando como queria. Eles sentiam que a ascensão das trevas logo voltaria, e agora Sinfonis sabia do que estava falando.

    Sinfonis voltou a si quando uma pequena discussão começara, quando pigarreou obteve o divino silêncio.

    - Abriremos o conselho das raças – ouviram-se lamentações de todos os cantos, mas Sinfonis prosseguiu – Enquanto isso nós usaremos nossa força para selar o esconderijo das trevas. As cinco raças devem saber o que está acontecendo, e todos nós deveremos entrar em um acordo com o que fazer.

    Magnor como sempre, não ficou nada satisfeito, geralmente discordava de tudo o que Sinfonis falava e o mago da sabedoria sabia que principalmente agora, ele não hesitaria.

    - Quando você diz as cinco raças, magos, híbridos, dragões, sombrios, está incluindo também os homens? Aqueles que sua querida mulher um dia profetizou que traria a destruição para a magia?

    Desta vez, foi Yaara quem intercedeu, a Maga dos híbridos; respeitada pelos homens metades feras e metade homens. Esta raça era uma das mais inseguras entre as outras cinco. Nunca era possível saber exatamente de qual lado os híbridos escolheriam lutar.

    - Subestima os homens tanto que acredita que ainda possamos pará-los, no entanto, devemos tê-los ao nosso lado. Não sabemos se as trevas trazem aliados consigo, muito menos se uma nova raça pode surgir e destruir todas as outras.

    Magnor virou-se para Yaara, com sua ira tinindo pelos olhos, o mago odiava ser questionado por outro mago que não fosse Sinfonis.

    - Yaara, metade mulher e metade feiticeira, eleita para ser maga dos híbridos. Onde mora a magia em você se nem em si mesma confia para derrotar um simples homem que empunha um aço?

    Yaara tinha o corpo perfeitamente esculpido, seu cabelo era longo e preto e seus olhos brilhavam revelando o tom verde escuro. Usava um manto lilás cintilando a cada movimento, assim como os fios negros de seu cabelo. Era claramente possível notar a magia em si.

    - A discussão está encerrada, aguardem até a convocação para o conselho das raças, até lá mantenham tudo sobre controle, e não deixem que nenhuma informação escape para os ouvidos errados. Devemos selar o esconderijo com uma magia antiga, vinculada com as nossas próprias vidas, um comprometimento de que nenhum de nós será negligente.

    Os quatro magos se postaram em volta de Sinfonis, todos cravaram a unha ao mesmo tempo sobre a mão, e deixaram seu sangue vermelho escorrer pelos dedos. Sinfonis imitou o gesto um pouco mais tarde e disse em voz alta palavras em uma língua que um dia ele quisera nunca ter conhecido. Medíocre e ligada a seres que um dia foram a perdição daquele mundo.

    - Somales etse oderges moc as sasson sadiv!

    Os cincos magos se afastaram e os pedregulhos que antes se opunham a sua presença agora tiveram que se submeter a suas ordens. Aos poucos, pedra por pedra, pedregulho por pedregulho, uma parede rochosa e grossa o suficiente para não ser arrombada por nenhum ogro, foi criada. Ela não possuía fechaduras para que nenhum mago de arte travessa a tentasse abrir, muito menos uma chave para um homem tentar se apoderar. Era apenas uma parede, impossível de se passar sem o sangue dos quatro magos enquanto estes ainda estivessem vivos.

    Sinfonis olhou para os magos e com um pequeno aceno demonstrou sua fraqueza, lidar com feitiços assim lhe dava cansaço.

    Não demorou nem mesmo dois segundos para Yaara desaparecer como um sopro, junto com ela, Helliot, que se consumiu em sombras. Adregon e Magnor permaneceram imóveis, Sinfonis tinha certeza, o assunto para eles ainda não tinha terminado.

    Adregon suspirou, suas narinas inflaram, e seus olhos se tornaram enormes.

    - Sinfonis, eu espero que não me entenda mal, mas abrir um conselho me parece a coisa mais estúpida a se fazer. Precisamos agir de imediato - Adregon olhou para Magnor buscando apoio - Precisamos mostrar para eles o nosso poder.

    As palavras de Adregon enfureceram Sinfonis, o mago sábio deixou seus olhos percorrerem sobre o mago, quis se lembrar da importância dele, e por que tamanha ousadia deveria ser ignorada.

    De todo o conhecimento que retinha as mais simples lições sempre foram as mais importantes, e ele sabia que naquele momento deveria se lembrar de uma muito importante.

    Pouco sabe os que dizem saber de tudo.

    Com sua manta laranja, com mangas longas sobrando sobre seus punhos, Adregon tinha o rosto castigado pelo tempo e maquiado de arrogância. Suas sobrancelhas sempre se mantinham arqueadas e sua barba estava sempre chamuscada, seus cabelos eram ruivos desbotados, quase castanhos. Seu nariz era o que ele tinha mais próximo de um dragão, Sinfonis sempre achou que era pelo cheiro de enxofre que tomava conta de Dragona, a terra dos Dragões.

    Quando seus olhos voltaram a encarar o rosto de Adregon, Sinfonis soltou o ar, um pouco mais tranquilo.

    - Encerramos nossa reunião algum tempo atrás, voltaremos a discutir no conselho das raças - Sinfonis se virou, olhou para Magnor e Adregon quase que ao mesmo tempo - Até lá apenas guardem segredo em suas mentes e limpem o sangue em suas mãos.

    Ele sorriu e depois foi a sua vez de desaparecer.

    Teto de vidro

    O grande palácio de vidro parecia pequeno diante da multidão presente, o Grande Baile de Inverno em Comûnia era sem sombra de dúvida a maior comemoração para os homens.

    Os homens eram seres da raça predominante no Planalto dos Homens, onde a principal cidade se denominava Comûnia, e seu Rei era Octavio Comunis.

    Octavio Comunis sempre fora um rei soberbo e ganancioso, desde que fora nomeado rei após a morte de seu pai, tentara a qualquer custo fazer dos homens algo além do que seres inferiores e sem magia. Mesmo tendo um amor não correspondido, quando se casou, foi com a mulher não só mais bonita, também a mais doce. O nome dela era Orquídea.

    A Rainha Orquídea dera ao rei dois filhos, o corajoso Ohvmerrard e o sensato Ottor, ambos tinham suas características peculiares, que serão notáveis ao longo desta história; que infelizmente não terá muito a participação da Rainha Orquídea e sua doçura, isso porque há tempos ela se fora, deixando o rei exposto a sua ganância e soberba novamente.

    Desde que perdera sua rainha, Octávio Comunis passou todos os seus dias culpando os magos pela morte de sua amada, ela havia sido levada por uma doença rara, que o rei de Comûnia acreditava poder ser curada pela magia. Pelo menos, era isso que ele fazia todos acreditarem, mas havia quem contestasse o motivo de seu rancor.

    Quando a sua disposição a enfrentar os magos caiu nos ouvidos de todos daquela terra, muitos malfeitores apareceram dizendo serem servos de forças ocultas que podiam levar o rei a sua mais desejada vingança.

    Muitas foram às tentativas do rei, mas poucas tiveram sequer algum pequeno e mínimo resultado.

    Mas o tempo passou e levou junto com ele a inocência dos filhos do rei, que cresceram e acabaram por infelizmente herdarem o seu legado. A dominação da Forma.

    Os malfeitores e falsos profetas continuaram a aparecer, mas quando finalmente um chegou a convencer o rei sobre seu poder, um sacerdote oportunista e suas três amargas e cruéis criadas, ele havia dito ao rei que a ascensão dos homens perante a forma viria através de um de seus filhos, aquele que o rei considerava bom e doce como a sua Rainha Orquídea fora, para que a magia sombria o transformasse em alguém cruel e impiedoso.

    Octávio Comunis conhecia seus filhos, sabia que Ottor era o mais doce e sensível e ao mesmo tempo mais fraco como a sua rainha falecida, aquele que também lhe trazia vergonha e decepção pela sua natureza tão diferente.

    Por mais que o tal sacerdote se mostrasse disposto e muito satisfeito com a escolha, o orgulho e ambição do filho mais velho do rei, Ohvmerrard, não deixaram que Ottor se submetesse as práticas sombrias do sacerdote, pois acreditava que ele é quem deveria ser o rei.

    Ohvmerrard só conseguiu convencer o sacerdote quando contou segredos que o próprio pai desconhecia, despertando o interesse do malfeitor, que dizia poder transformar os sentimentos do qual ele sentia vergonha em um poder sem igual.

    Mas antes ele deveria se casar, e é por isso que o Grande Baile de Inverno no luxuoso e grandioso palácio de vidro era hoje ainda mais grandioso e especial.

    E era naquele baile, naquela cidade, onde se encontrava a imprevisível e indesejada Eliza, uma feiticeira.

    Eliza sabia muito bem que sua presença ali era um perigo constante a ameaça de guerra, uma vez que os homens proibiram a visita de magos e sua magia em suas terras.

    A jovem moça soubera pelo seu próprio pai que os homens só detestavam os magos por não possuírem magia, apesar de seu rápido desenvolvimento e construções luxuosas e incríveis, eles eram incapazes de usar magia. Eliza não imaginaria como seria, era por isso que talvez perdoasse o ódio dos homens.

    Com um disfarce certo, vestido longo azul de seda e os pés descalços escondidos embaixo, com os cabelos castanhos escuros cercando o rosto ao modo de escondê-lo, Eliza poderia admirar certamente a Grande Comemoração, e ao olhar pelos arredores do castelo, sabia que valia a pena.

    A construção do Castelo era inteiramente de vidro, era possível ver se todo o baile pelo lado de fora, e saber reconhecer cada cabeça e seus donos. Os lustres que iluminavam o grande salão eram de prata pura, e as velas vermelhas, feito sangue, sustentando chamas alaranjadas crepitantes, que tornavam o salão um lugar ainda mais confortável.

    O chão era de mármore branco e frio, cujos pés de Eliza há muito tempos atrás já conseguira se acostumar.

    Isso porque apesar da rivalidade, Eliza possuía amigos naquelas terras, amigos que ela costumava visitar quando seu pai e o antigo rei dos homens mantinham uma aliança forte.

    - Deveria lhe entregar ou retirar-lhe para uma dança?

    Eliza reconheceria aquela voz rouca e doce em qualquer reino, era Lorin com seus cabelos castanhos e vestimenta típica de um guerreiro. Lorin era um rapaz jovem e bonito, pertencente a raça dos homens, mas com um coração mais mágico do que qualquer outro. Lorin era amigo confidente do segundo filho do Rei Comunis, Ottor Comunis, cujo coração assemelhava-se ao de Lorin e o tornavam tão próximos.

    - Não posso ter vindo para um baile a não ser para uma boa dança com um antigo amigo.

    Eliza envolveu Lorin entre seus braços, quase o sufocando, havia se passado centenas de dias desde que eles se viram e a saudade era inevitável.

    - Em tempos conturbados, se eu fosse filho do mago mais sábio da forma, eu não viria exatamente no local aonde todos planejam uma ascensão perante as raças. – Lorin conduziu Eliza em uma dança, com o ritmo lento soando pelo salão – O pior está por vir, Eliza, os homens dizem que uma força veio para fortalecê-los e finalmente poderão enfrentar os magos e destruir Oraculana.

    Eliza sabia muito bem das controvérsias e planos dos homens, muitas lendas contavam os absurdos feitos dos homens para alcançar a magia, e os castigos severos dados á eles quando tentavam.

    - Não é nenhuma novidade a implicância de sua raça com a minha. Não será a primeira nem a última vez que planejam contra minha terra.

    A conversa parecia tão boa, que a dança se conduziu entre o enorme salão. Passaram pelo centro do salão e ficaram bem abaixo do lustre, onde o vestido de Eliza reluziu chamando a atenção de muitos homens e seus olhares assustadores, depois juntos eles seguiram sem sequer notar, para perto da mesa do rei, que nem sequer notou a beleza da feiticeira, pois se empanturrava de comida e mergulhava seu juízo no vinho de modo a escondê-lo. Quando enfim deram uma volta inteira, Lorin ficou em silêncio e Eliza passou a observar as belas donzelas e seus vestidos longos, eram mulheres muito belas e acompanhadas de rapazes fortes. Os anciões também tinham seu espaço, assim como os camponeses, que comiam e bebiam a vontade nas enormes mesas laterais, mas todos vestidos muito bem, quase se assemelhando aos jovens elegantes e pomposos da corte.

    Eliza sabia que aquelas jovens camponesas que mais pareciam princesas, estavam ali com seus vestidos maravilhosos apenas para se exibir ao futuro rei de Comûnia, Ohvmerrard Comunis.

    Quando o som da melodia cessou, os portões gigantes de Comûnia (também feitos de vidro) se abriram. O rei Octavio Comunis que estava atrás de uma enorme mesa de jantar ao fundo do salão se levantou, e o silêncio dominou o local como se ninguém tivesse comparecido.

    Lorin a guiou até a lateral do salão logo atrás das mesas de guloseimas a modo de escondê-la atrás de um pilar, seu rosto demonstrou avidamente sua perturbação.

    - Neste baile – começou o rei chamando a atenção para si – Meu filho Ohvmerrard tomará uma esposa para si, e nós meus caros súditos; começaremos enfim tomar a Forma para nós.

    As palavras do rei quase foram interrompidas pelos passos apressados de dezenas de mulheres mascaradas com vestidos verde-escarlates, elas entraram e juntas abriram entre a multidão curiosa um enorme espaço para o que viria entrar a seguir. Elas dançavam em um ritmo estranho, que era capaz de enfeitiçar qualquer ser de qualquer raça.

    Depois foi a vez do primeiro filho de Octavio Comunis, Ohvmerrard, um rapaz forte e de cabelos negros como a noite. Era sem dúvida um rapaz muito bonito, mesmo Eliza tendo a sensação de que não se conheciam muito bem, muitos falavam sobre sua arrogância, que ela preferia evitar.

    Porém a cena mais chocante veio a seguir, o salão se tornou escuro e os vestidos escarlates das mulheres passaram a brilhar intensamente assim como de Eliza embaixo do lustre, e atrás do Príncipe, um homem e três mulheres de feições sombrias vinham sorridentes, arrastando por correntes uma mulher, na verdade, uma feiticeira. Donatela.

    A cena foi quase o suficiente para Eliza despertar sua fúria, mas Lorin segurou seu pulso firmemente e sussurrou em seu ouvido qualquer palavra que a fez hesitar.

    Donatela era filha de Merantilis, que assim como a mãe de Eliza, era uma das feiticeiras capazes de ver o futuro através de três esferas. Perguntava a si mesmo agora, se Janaína e sua mãe Helena sabiam agora o que as duas filhas faziam e como reagiriam. Será possível que a guerra na forma seria causada por elas?

    Ao ver Donatela, Eliza se recordou que não estava sozinha, olhou ao redor e pode ver os olhos aflitos de Dianna, Guéra, Sandrila e Notória, entre a multidão. Pareciam esperar da filha do Mago Sábio qualquer sinal para agirem.

    Mas o pulso firme de Lorin em seu braço a proibia e a recordava das consequências de um possível ataque.

    - Não tome nenhuma atitude precipitada, Ottor não vai deixar que a machuquem. Você sabe muito bem.

    E sabia, o pior de tudo é que sabia. Ottor tinha a ingenuidade aparente em seus cabelos castanhos e em seus olhos escuros, mas sua bondade o tornava esperto, e ele não deixaria que Donatela se machucasse. Só havia um problema, onde estava Ottor?

    O rei Comunis tomou uma expressão séria, seu sorriso desapareceu e o filho tomou sua posição ao seu lado direito.

    - Quem é ela? – perguntou o rei.

    Gordo e com cabelos longos negros, o rei Comunis parecia estar à beira de um ataque de fúria, seus olhos esbugalhados fitavam Donatela e seu rosto ficou vermelho feito uma maça na boca de

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