Textos de uma garota que não usa letra maiúscula
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Sobre este e-book
textos de uma garota que não usa letra maiúscula relata as experiências e as preocupações que preenchem o cotidiano de uma menina comum que está tentando, apesar das dificuldades, aprender a ver o lado bom da vida e lidar com milhares de pedaços de seu coração batendo depois de tanto tempo sem se manifestar.
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Textos de uma garota que não usa letra maiúscula - Luiza De Falco Becker
sobre começos e histórias tristes
1. início
não sou escritora. não sei como começar um livro. devo admitir, na verdade, que não sei como começar, continuar ou finalizar um livro. em outras palavras, não sei como escrever um livro. entretanto a luiza de oito anos, que, por algum motivo, ainda mora dentro de mim, cochichou no meu ouvido que todo livro bom começa com um era uma vez
; ela parecia saber do que estava falando. sendo assim, era uma vez. e agora? era uma vez e o que mais? o que aconteceu entre o era uma vez
e o felizes para sempre
? não sei. ainda. aparentemente, descobriremos juntos. declaro, com isso, o início. o início de um livro escrito por uma não escritora
. escrito por mim: uma garota que não usa letra maiúscula.
2. isso não é uma história qualquer
era uma vez... uma menina esnobe. vazia de bondade. dentro dela havia somente uma coisa: a necessidade de se sentir superior. essa menina acordava todos os dias, penteava seus cabelos sedosos e falava para si mesma que ninguém era bom o suficiente. somente ela. ela era a mais bonita. a mais justa. a mais magra. a mais inteligente. a menina só não percebia, porém, que era, também, a mais arrogante. a mais negativa. a menina estava perdida, mas não queria encontrar seu verdadeiro eu.
era uma vez… uma garota quebrada. tomem cuidado, não era a menina, mas sim uma garota. essa garota deitava todos as noites e rezava para dormir eternamente, sem precisar acordar e passar por mais um dia sendo insignificante. a garota falava, sempre que possível, sobre o quanto não era o suficiente. sobre o quanto não merecia o amor. não merecia a vida. merecia, segundo ela, somente seus remédios e sua tristeza. a garota estava perdida, porém apesar de tentar, não conseguia encontrar seu verdadeiro eu.
era uma vez… também, uma sala de aula. a menina e a garota, mesmo não tendo muito em comum, acabaram juntas no mesmo lugar. a menina fez vários amigos. a garota fez alguns. a menina não gostava da garota. ela não merecia estar ali. a garota não gostava da menina, mas não se importava com sua presença. a menina espalhou mentiras. a garota ficou sozinha. a menina era a dona da razão. a rainha da verdade. pena, entretanto, que seu trono era falso e a tiara não lhe pertencia. a garota continuou sozinha. isso não mudou. sozinha ela foi se encontrando. conhecendo-se. amando-se. por outro lado, a menina seguiu com tudo e com todos. até que, aos poucos, a coroa foi se desfazendo. mês após mês restavam menos súditos. a menina, porém, continuava negando a se achar. enfim, a menina, de um dia para o outro, não tinha mais um reinado e, acima de tudo, estava ainda