Abra Seus Olhos
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Abra Seus Olhos - Barbara Lucia
Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
LU926a Silva, Barbara Lucia
Abra seus Olhos / Barbara Lucia Silva – Ituiutaba: Clube de Autores
Publicações S/A, 2017.
276p., 14x21 cm.
ISBN: 978–85–916864–0–71.
Ficção e Contos Brasileiros. 2. Romance.1. Título
CDD: B869.3
CDU: 82–3/82–31
Edição: 2019
Autora Barbara Lucia
Wattpad Brasil / Clube de Autores
Publicação Independente
Nota da autora
Quando não se pode enxergar, a vida se torna mais difícil por não poder ver como todo mundo. Mas isso não significa que a pessoa seja incapaz, pois é possível aprender a enxergar através dos outros sentidos, bem como aprender a fazer as coisas do dia a dia sozinha mesmo que haja limitações, contudo todo ser humano tem suas limitações, não é mesmo?
A mensagem que gostaria de deixar com este livro vai muito além da questão da deficiência visual, é a maneira como o ser humano aponta o dedo para o outro sem se lembrar que todos somos iguais, somos falhos, em evolução e, o mais importante, todos nós erramos. Se todos fôssemos cegos
, no sentido de não enxergarmos os defeitos e erros apenas dos outros com o intuito julgar, discriminar ou condenar, não julgaríamos a aparência de ninguém, não falaríamos mal da roupa dos outros, não agiríamos com preconceito em relação a nenhuma pessoa com deficiência, cor da pele do outro, enfim... e nem invejaríamos nada do outro.
O que custa para os que enxergam serem um pouco cegos
vez ou outra? Seja cego e não julgue, não inveje, não fale mal, não veja maldade onde não tem, não seja preconceituoso, não fique apontando o dedo para os outros, não critique de forma a magoar e prejudicar o outro... Seja cego
e aprenda a sentir a vida da forma mais bonita que existe: enxergando com os olhos do coração, da caridade, da humildade, do amor!
Grata por você ler meu livro, ele significa muito para mim e espero que tenha passado uma boa mensagem a todos. O preconceito é algo que precisamos superar de uma vez por todas, pois não há motivos para que ele exista. Repense seus atos, não dê motivos bobos para que preconceito algum exista, não faça com os outros o que você não gostaria que fizessem com você!
Com carinho,
B.L. Silva.
Prólogo
O que seria mais difícil: aturar as brigas de família ou ser obrigado a aprender as regras da vida sozinho? Infelizmente, Johnatan Willians enfrentou os dois problemas juntos e de uma só vez. Os problemas de casa foram crescendo junto a seu coração, o que acabou com sua infância e adolescência e agora, já adulto, John, como gosta de ser chamado, ainda sofre as consequências da infância. Via seus pais se xingando, quase agredindo e insultando um ao outro. Os dois não estavam nem um pouco preocupados com a educação do pequeno John, que até aquele momento só havia aprendido coisas ruins.
E ele convivera com isso, tentando sobreviver sozinho. Foi criado pela sua avó materna, Jozefa, de bom coração, bondosa, mas com sérios problemas de saúde. Dona Zefa só cuidou de seu neto até ele completar dezesseis anos de idade. Logo depois do aniversário de John, dona Zefa faleceu, deixando para trás uma herança em dinheiro, sua casinha humilde e as lágrimas sofridas de John.
Esse foi mais um impacto que John sofreu na vida, modificando–o mais uma vez, fazendo–o sofrer ainda mais, esmagando sua fé e esperança como se não fossem nada. Quando completou 17 anos decidiu procurar trabalho já que, até aquele momento, havia sobrevivido de economias da avó.
Então, John trabalhava, ia para a escola e voltava para casa. Mas o que ele havia aprendido sobre as lições básicas da adolescência? Nada. Por isso, quase se afundou no mundo das drogas, quase se matou, quase se perdeu. Mas com esforço e força de vontade que surgiu sabe–se lá de onde, ele conseguiu se recuperar, aprendendo de forma árdua a lição.
Porém, as coisas estavam diferentes, pelo menos em alguns sentidos. John havia aprendido muitas coisas no passado triste que tivera. No presente, já mudou de emprego novamente, já que os seus patrões não querem saber de pagar bem. John ainda tem mágoas em seu coração em relação aos seus pais. Precisava se livrar disso para seguir com sua vida, mas não conseguia...
Estava na hora de se levantar.
O relógio despertou exatamente às cinco para seis. Era hora de ir para o trabalho. Trabalhava como garçom e além de servir, abria o estabelecimento e colocava tudo em ordem até às sete da manhã, hora em que os fregueses começavam a chegar. O seu estresse era resultado deste trabalho irritante, no qual o patrão era o mais insuportável possível, mas precisava aguentar, pois precisava do dinheiro para sobreviver.
E, para completar, a faculdade se iniciaria dali um mês. Tudo bem, sua vida não é perfeita, John, não dá para fazer melhor, pesava ele, sempre quando abria a porta do armário para trocar de roupa. Deveria se conformar? Não, ele precisava enfrentar seus problemas, exorcizar seus demônios... Mas como? Sua fé, sua esperança, sua força de vontade, tudo que sentia de bom, tudo o que ele tinha, inclusive sua avó, se foi, levando o John alegre, confiante e esforçado para sempre...
Seria mesmo para sempre? Ou será que a ignorância, a raiva e o orgulho em seu coração serviriam como barreira contra pessoas que pudessem fazê-lo sofrer e machucá-lo? Só seu coração sabia a resposta.
Mas John precisava aprender algumas lições muito valiosas em sua vida, lições que jamais esqueceria. Seu destino já estava traçado e ele deveria reconhecer que ninguém, nenhum humano tinha que ser perfeito
ou ter uma vida perfeita
para ser feliz. Deveria aprender a enxergar pelos olhos de outras pessoas, se colocar no lugar dos outros, deixar seu orgulho de lado. Enxergar o mundo pelos olhos de outras pessoas. Mal sabia o que o destino reservava para ele... E John conhecerá um lado muito diferente da vida e das pessoas, assim como enxergará a vida com outros olhos...
♥
Um amor de pessoa
Allyson Lopez é uma garota inteligente, alegre e esforçada, força que vem de seu avô João, que sempre lhe deu conselhos valiosos, porém, seu irmão, Maxuel, trata–a ainda como se fosse uma menininha sensível, frágil, incapaz e desprotegida. Ally não gosta deste tratamento e com razão, a superproteção de Max atrapalha seu crescimento em todos os sentidos de sua vida. Ally sabe muito bem se cuidar sozinha desde quando adquiriu a cegueira e aprendera tudo com a mãe, com os professores, psicólogos, enfim, com todos que poderiam ajudá-la a ter uma vida tranquila, sem essa ideia de se sentir impotente e dependente de todos em razão da cegueira.
Como uma de suas professoras sempre afirmava:
– ... As pessoas só sentirão pena se você mesma se tratar desta forma, Ally. A cegueira não é doença, você não é inferior a ninguém e é capaz de viver normalmente!
E Ally aprendeu na prática, sempre foi ensinada pelos professores que ser cega não é sinônimo de constrangimento, inferioridade ou qualquer outra coisa que a diminuísse ou a deixasse em negação ou que colocasse sua capacidade de aprendizado, superação e autonomia à prova. E por mais que Max insistisse em dizer, não com palavras, mas com seus gestos, que ela não pode mais ver o mundo, Ally não se deixa abater, afinal, seu irmão apenas teme que se machuque, mas, agindo desta forma, ele a atrapalha de certa forma em seu progresso, pois ela precisa de apoio e força, não o contrário.
Ainda é difícil para Max compreender que Ally é totalmente capaz, que já não é mais uma menininha e independente, ele não enxerga que ela pode viver sem que ele a cerque como se fosse uma criança aprendendo a andar e, na verdade, essa fase já havia passado, os primeiros passos já foram dados e, agora, Ally só precisava que Max confiasse nela.
Já está acostumada a não enxergar com os olhos, aprendeu a ver de outras formas e não tem por que ficar chorando pelos cantos, se sentindo impotente, como acontecia em sua adolescência. Este é seu mundo agora e ela compreende isso.
Ally era feliz na cidade onde morava, em Ituiutaba, interior de Minas Gerais. Todos são atenciosos e a conhecem, pois é voluntária em um Orfanato e em um Lar para Idosos. As crianças a adoram, a respeitam e compreendem que a falta de visão de Ally não a limita completamente, é claro que limitações todos tem, mas ela não se deixa aprisionar–se por elas.
Todos os dias, Allyson sai de casa para caminhar, mas Max não a deixa ir sozinha e somente com a bengala, não podia discutir com seu irmão, ele era teimoso. Mas, apesar disso, ela o amava mais do que tudo, era a única coisa que sobrou em sua vida. Conseguia viver normalmente desde o dia em que aprendeu a se virar sem sua visão.
Tudo bem, Ally não ligava para as pessoas que sentiam pena, tentava mostrar a elas que não tem que sentir pena ou dó, o que lhe falta é a visão e as pessoas não tem que a tratar como se aquilo fosse o fim do mundo, porém, é preciso incluir a todos sem qualquer distinção, sem exclusão, sem ignorância, dando oportunidades iguais a todos os cidadãos.
Apesar disso, ela nunca deixa de agradecer quando alguém se dispõe a ajudá-la a atravessar a rua ou pegar um ônibus, afinal, por mais que possa fazer muitas coisas sem enxergar, outras, no entanto, não é possível se não haver acessibilidade como, por exemplo, um sinal sonoro nos semáforos para avisar a pessoa cega se pode ou não atravessar. Por isso Max tem medo que sua irmã caminhe por ai sozinha, mesmo que ela seja teimosa
e insistente, igual a seu avô.
Ambos não visitam seu avô João há alguns anos, consequência de brigas de família, o que acabou afastando todos uns dos outros. Vovô João era um exemplo de vida e superação para Ally. Paraplégico por conta de um acidente, ele sempre trabalhou para sustentar a família, tinha vários amigos, todos gostavam dele e ninguém falava uma só palavra sobre o que havia acontecido com o movimento de suas pernas.
Mas Ally e Max receberam a notícia de que seu avô não estava bem de saúde e que desejava vê-los, talvez pela última vez. A cidade onde vovô João morava era grande, com arranha–céus enormes e lindos, mas a natureza era raridade.
Ficava no sul do país e seria um desafio, mais um para Ally que nunca saiu do interior de Minas Gerais. Seria um grande desafio para os dois, pois Ally não ia apenas visitar o avô, mas iniciaria a faculdade também já que conseguiu uma bolsa de estudos no curso de psicologia.
Sorte? Destino?
O fato era que Ally conseguiu passar no vestibular e na mesma cidade que seu avô morava. Estava animada com a mudança, mas Max estava preocupado com essa mudança, com os efeitos que isso impactaria na vida da irmã, como sempre sua superproteção falava mais alto e ele não enxergava que suas atitudes estavam a impedindo de crescer e ser feliz.
Não bastava Ally dizer que não tinha problema algum ficar sozinha, pois existem pessoas de bom coração em todo lugar da faculdade e ela saberia se virar sem que ele a cercasse o tempo todo, mas não a escutava. Ainda faltava menos um mês para as aulas começarem, então partiram, deixando para trás amizades e saudade.
Ally sofreu por ter que deixar as crianças e o pessoal do asilo, que tanto gostavam dela, mas era um mal necessário. Agora as coisas mudariam. Tudo ficaria mais difícil, mas nada significava um bicho de sete cabeças para ela.
Mas, e agora? Como se adaptar a um lugar ao qual não é acostumada e muito menos adaptado a ela?
♥
Aos quatro anos, brincava com seu pai no quintal da casa da tia. Aos cinco, aprendeu a andar de bicicleta com seu pai e aprendeu a fazer um sanduíche diferente que seu irmão inventou. Maxuel não era um irmão de má influência
, mas era superprotetor e não deixava a irmã fazer nada que, para ele, pudesse machucá-la. Mas Ally, sempre inquieta, saia correndo por ai e Max ia atrás, apavorado. Já seu pai a ensinou a tocar piano e violão para que ela se aquietasse. E Ally era tão boa no que aprendia que seu pai se empolgava a cada aula.
Mas, de repente, todos ficaram estranhos...
Ally ficou cega aos seis anos. De repente. Do nada. E depois disso, as coisas mudaram abruptamente, Ally precisou de apoio total da família e precisou se adaptar a um mundo que ainda não era totalmente adaptado a ela. Porém, seus pais se afastaram e os únicos que conseguiram guia-la foram Max e vovô João. Ally cresceu e a revolta da adolescência a consumiu e quando passou a fase rebelde, em seu lugar, havia uma nova pessoa, mais madura e compreensiva.
Havia recuperado o bom humor, o sorriso irradiante, a alegria. Mas Ally não tinha seus pais para vê-la se reerguer, crescer e vencer os medos de uma cegueira repentina. Nunca soube e nunca saberia os motivos que levaram seus pais a irem embora e se dependesse de Max, nunca saberia. Seria doloroso e pioraria o recomeço de suas vidas e Max não permitiria jamais que Ally sofresse por conta de seus pais...
Desde então, ele cuida da irmã, sua superproteção a livrou de muitas coisas durante a infância e a adolescência, coisas que se Ally soubesse, talvez jamais perdoasse as pessoas que um dia amou e que depois a abandonaram quando mais precisou. Agora, era dever de Max a proteger... A proteger da própria família!
O que é ser cega?
É aprender a ser forte quando escutar: Você é incapacitada (o)!
É vencer todos os obstáculos que as pessoas lhe impõem!
É ser forte e corajosa (o) em todo e qualquer momento da sua vida, pois ela é difícil!
É jamais desistir de seus sonhos e aprender a escutar a