Manifesto Gaia Pela Evolução Da Espécie Humana
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Manifesto Gaia Pela Evolução Da Espécie Humana - Ana Paula Selva

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folha de rosto.jpgDados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Índices para catálogo sistemático:
1. Evolução humana : Tecnologia : Aspectos sociais 303.483
Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427
—— Todos os direitos reservados ——
Sumário
Sonhos e inteligência espiritual
Pandemia e ruptura da realidade
Reprogramação mental
Gaia: matéria e espírito
Sonhos e inteligência espiritual
Meu nome é Ana Paula Selva. Ana Paula é o nome que recebi quando nasci. Selva é o nome que escolhi para marcar meu pertencimento à Gaia e minha trajetória em me tornar o que eu sou: uma manifestação da natureza. O caminho que me trouxe até aqui teve duas motivações. Uma motivação era a busca por mim mesma, por saber quem eu sou e por encontrar meu lugar no mundo. A outra era a busca por encontrar os meios que me permitissem exercer minha vocação e minhas habilidades de forma que eu pudesse contribuir para a construção de um mundo equilibrado. O interesse em estudar mudanças climáticas surgiu com minhas experiências no montanhismo. Foi a prática de escalar montanhas que expandiu minha perspectiva de mundo para além da vida na cidade. Através dela, eu percebi a separação entre civilização e natureza, e a modificação profunda do corpo da Terra provocada pelo modo de vida civilizado. Também despertou em mim a consciência de que sou parte da natureza, o que me trouxe o desejo de viver mais integrada a ela, em um ambiente mais natural. E me trouxe o reconhecimento das montanhas como seres que criam, testemunham e experimentam a vida.
Como eu tinha interesse pela ciência e em ser professora, considerava seguir a carreira acadêmica, e então decidi fazer um mestrado em ecologia sobre comunicação e mudanças climáticas, com o objetivo de analisar as notícias na televisão referentes a esse problema, conciliando, assim, com minha graduação em audiovisual. Além do desejo de me encontrar profissionalmente, estava tentando me reerguer após ter passado por traumas que me fizeram experimentar aspectos sombrios da nossa sociedade e abalaram certezas que eu tinha. Porém, o período do mestrado acabou por intensificar todas as minhas angústias. Eu tinha uma ideia romântica sobre como seria a carreira acadêmica, ideia que foi sendo dilacerada conforme fui entendendo a dinâmica da academia. Isso me trouxe o sentimento de que esse mundo não era para mim, o que me desestabilizou bastante, pois já havia passado por experiências de trabalho que me indicaram que eu não me daria bem no mundo das empresas. Eu tinha esperança que a academia seria um refúgio da lógica capitalista, mas estava enganada. Nem mesmo o montanhismo, que era minha válvula de escape, escapava dessa lógica, que foi tomando conta do universo da escalada a cada ano que passava. Também descobri que as práticas terapêuticas, que iniciei durante o mestrado, e mesmo as práticas espirituais, estavam submetidas à lógica do capitalismo. Em geral, os problemas emocionais, mentais e espirituais são abordados de maneira individualizada, ignorando em grande medida as causas que vêm do nosso modo de viver e pressupondo a nossa adaptação às condições colocadas pelo capitalismo.
Quanto mais estudava e tomava consciência do modo de vida da civilização, mais me parecia que não haveria como superar o capitalismo. Não conseguia vislumbrar uma alternativa viável perante um destino aparentemente inevitável, no qual todas as esferas da vida seriam submetidas à dinâmica de crescimento econômico infinito. Nada parecia ter o poder de parar sua expansão até que, em meus estudos, me deparei com a existência de Gaia. Gaia é como o nosso planeta é chamado pelos cientistas que alcançaram o conhecimento de que a Terra é um corpo vivo e que nós, seres humanos, somos parte desse corpo. Sendo parte do corpo de Gaia, tudo que nós fazemos afeta a sua dinâmica, contribuindo para seu equilíbrio ou desequilíbrio. As mudanças do clima e as pandemias são consequências do desequilíbrio que o modo de viver da civilização causa no corpo da Terra. À medida que estudava essa relação, percebi que não seríamos nós que colocaríamos um limite ao capitalismo. Quem está colocando esse limite é Gaia. A exploração da Terra que sustenta a civilização se tornou insustentável e Gaia está reagindo para se defender e regenerar o seu corpo. Caso não sejamos capazes de mudar o nosso modo de viver para nos adaptarmos às dinâmicas do corpo da Terra, o limite final será a extinção da nossa espécie. A história da humanidade pode acabar como o fracasso de uma espécie que não foi capaz de se adaptar à natureza.
Quando terminei o mestrado, a situação não parecia tão urgente como é agora; no entanto, eu já estava preocupada o suficiente e ciente de que, em algum momento no futuro, seria afetada pelas consequências do desequilíbrio que estamos causando. Essa preocupação me motivou a continuar os estudos no doutorado para responder à pergunta que havia ficado comigo: como seremos capazes de sobreviver ao embate entre as forças do capitalismo e as forças da Terra? Estamos adaptados para viver na dinâmica da civilização, e nosso modo de ser, pensar e agir está submetido à lógica capitalista. Isso inclui o método científico, tornando a ciência a fonte de produção do conhecimento necessário para a expansão da economia e para a criação de tecnologias que intensificam a intervenção humana na Terra e em todos os seus seres.
O caminho para o doutorado parecia ser estudar o fato de sermos programados para viver no capitalismo e o próprio método científico. No entanto, eu não conseguia visualizar onde e como isso poderia ser feito. Certamente, seria necessária uma pesquisa interdisciplinar que superasse a divisão entre as ciências humanas e as ciências da natureza. Uma divisão característica do nosso sistema científico que evidencia o ponto de vista a partir do qual tentamos entender a vida na Terra: observamos a natureza como se estivéssemos fora dela. Meu mestrado já havia sido uma tentativa de pesquisa interdisciplinar, mas encontrei dificuldades para elaborar uma reflexão que integrasse tudo o que havia estudado. Cada área, disciplina e linha de pensamento criam diferentes linguagens e visões de mundo, tornando complicado o diálogo entre elas. Quando fui escrever minha dissertação, era como se não soubesse em qual língua pensar, tendo ainda que atender aos critérios de como um texto científico deveria ser. Outro aspecto importante que não conseguia situar no método científico era a intuição de que não seria possível encontrar a resposta que procurava sem conciliar conhecimento com autoconhecimento. Como conseguiria pensar fora da perspectiva da civilização se minha forma de ser, pensar e agir foi configurada por ela, assim como o método de fazer ciência?
As dúvidas me deixaram perdida sobre como fazer o doutorado. Eu não sabia em qual programa, com quais referências teóricas ou qual metodologia poderia realizá-lo. Essas dúvidas eram acompanhadas pela angústia de que possivelmente o mundo iria acabar. Ao mesmo tempo, eu continuava mergulhada em minha crise pessoal, que havia se agravado. Apesar de aparentemente bem-sucedida por obter um título de mestre e um emprego como professora universitária, a sensação de não pertencer a esse mundo gritava dentro de mim. Eu me sentia devastada por usar meu conhecimento dentro de um sistema de educação configurado para formar pessoas para o mercado de trabalho. Também não me sentia segura, devido ao meu jeito de ser e pensar, de que conseguiria manter um trabalho para garantir meu sustento financeiro. Além disso, em busca de resolver meus traumas e meu estado depressivo, estava passando por um processo terapêutico que acabou piorando minha depressão e se tornando ele próprio mais um trauma.
Em uma viagem para a Europa, movida pela esperança de que talvez lá encontrasse o que procurava, o que acabei encontrando foi a consciência de que o caminho que eu estava ou outros caminhos convencionais oferecidos pela sociedade não me ajudariam a resolver meus problemas, em especial, o meu estado depressivo. Essa constatação me trouxe uma clareza sobre minha situação que me impediu de continuar com a ilusão de que em algum momento conseguiria me encaixar na sociedade e, como consequência, os meus dilemas internos se resolveriam. O fim dessa ilusão foi uma experiência de fim de mundo, que me colocou em um estado de vazio existencial. Eu me sentia morta por dentro, restando apenas o sentimento de desolação. Havia perdido toda a motivação em viver e era insuportável e desesperador permanecer nesse estado. Recorrer aos antidepressivos não seria uma solução. Já havia sido medicada com eles e o que experimentei foi uma anestesia de meus sentimentos e uma desconexão profunda de mim mesma, que me desestabilizou ainda mais. Eu sentia que a solução que precisava estava além do meu conhecimento e tentava desesperadamente encontrá-la, até que um dia uma ideia se formou em minha mente: o suicídio era a solução. Encontrar uma solução me trouxe um grande alívio, em função da expectativa de por um fim ao sofrimento. Mas também me deixou triste, porque eu queria poder me realizar e experimentar a vida e sabia que isso traria sofrimento a minha família. Porém, como não via outra opção e não conseguia mais suportar o estado em que estava, aceitei o suicídio, que me parecia a atitude lógica e racional a ser tomada, e me coloquei a encontrar um modo de realizá-lo.
Durante os dias seguintes a essa decisão, enquanto buscava um meio para realizar o suicídio, aconteceu o inesperado. Uma noite tive um sonho que me ajudou a entender o que estava acontecendo comigo e me mostrou o que eu poderia fazer. O sonho também mudou meu estado de espírito. Quando acordei, estava me sentindo viva por dentro e com um novo ânimo para encarar os problemas. Esse sonho me permitiu desistir do suicídio ao me apontar um novo caminho, que não tinha conseguido ver antes. Decidi, então, seguir sua orientação, e comecei a fazer mudanças em minha vida. Uma delas foi iniciar um novo processo terapêutico, no qual os sonhos eram instrumentos para o autoconhecimento combinados com conhecimentos xamânicos. Com a terapia, comecei a me lembrar cada vez mais dos sonhos e me surpreendi com o seu poder em mostrar o que se passava comigo e a me ajudar a resolver os problemas. Essa experiência despertou em mim o questionamento acerca de tudo que havia estudado sobre subjetividade, cognição e comportamento humanos. Nenhuma teoria ou conceito levava em consideração essa habilidade do cérebro. Também tomei consciência de que não havia recebido nenhum tipo de educação para aprender a me relacionar com os sonhos.
Antes desse sonho que me salvou, outros já tinham me intrigado. Tive sonhos nos quais eu vivia uma vida paralela, que às vezes era uma continuação do que eu vivia no cotidiano. Durante a adolescência, cheguei a me confundir com algumas situações, se haviam acontecido durante a vigília ou durante o sono. Quando era criança, me encontrei nos sonhos com seres de outros mundos ou outras dimensões. Eles falavam de coisas sobre mim e sobre o que aconteceria no meu futuro. Embora eu não me lembrasse do teor das conversas, esses sonhos me fizeram crescer tendo medo de extraterrestres e espíritos. Uma vez, já na faculdade, um sonho me mostrou como finalizar um jogo de videogame de RPG, o que deu certo. Em outra vez, sonhei com alguém me ligando para oferecer uma proposta de emprego como professora, o que aconteceu pouco depois que acordei. Isso me surpreendeu porque eu nem havia procurado por esse emprego. Apesar dessas experiências, ainda não tinha buscado entender melhor os sonhos, em parte por um pouco de medo, em parte pela influência do entendimento científico predominante de que os sonhos não têm nenhuma função. O que mudou com o sonho que me abriu um novo caminho. Ele se tornou a minha referência por mais de uma década. A cada vez que o revisitava, entendia um pouco mais o que ele queria me dizer e para onde estava me levando.
Outra mudança que esse sonho me trouxe foi retomar o trabalho com produção audiovisual, do qual me afastei durante o mestrado. Eu ainda tinha vontade de fazer o doutorado, mas fiquei com a impressão de que o sonho indicara que não o faria, ou que isso não aconteceria do jeito que imaginava. Acabei decidindo me envolver com a divulgação científica, uma maneira de conciliar a produção audiovisual com a ciência, além de ver nela a possibilidade de encontrar um meio para fazer uma síntese da pesquisa do mestrado que fosse de fácil compreensão. Eu sentia a necessidade de elaborar melhor o que havia estudado e de transformar isso em algo útil para