Abel, O Gladiador no Reino de Ápis
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Abel, O Gladiador no Reino de Ápis - A. M. Saraiva
Capítulo 1
O Reino de Ápis
Em um tempo remoto, mais precisamente 250 anos a.C., no centro da Floresta Amazônica, uma sociedade se organizava como uma grande e produtiva indústria. Era o Reino de Ápis, composto pela abelha-rainha, as abelhas escravas e operárias e os zangões. Todos se uniam para produzir um dos mais valiosos produtos que a natureza pode nos oferecer: o mel e os seus derivados.
Para produzi-lo, tudo e todos se movimentavam de forma perfeita. As abelhas-escravas se dividiam em várias tarefas produtivas. Algumas delas eram responsáveis por sair a campo para identificar o volume de polens e a qualidade das flores distribuídas na floresta. Identificada a boa flor, elas levavam uma amostra em uma bolsa presa à cintura, retornavam ao reino e informavam à abelha chefe. Esta, por sua vez, apresentava em reunião a amostra de pólen e o mapa da região às abelhas transportadoras, que tinham a função de carregar o pólen, quando extraído em escala industrial, até o setor de estoque. Isso causava um verdadeiro caos de movimentação de abelhas na entrada do Reino de Ápis.
Do estoque, as abelhas-operárias levavam os grãos até as linhas de produção, que, então, enchiam as células até o limite do pó e depois recebiam a quantidade certa de outros produtos para sua fermentação. Em seguida recebiam a cobertura final, que cobria cada célula, para ficar abafado e esperar o efeito dos fermentos recebidos. Ao final da linha de produção, o produto recebia a etiqueta de qualidade e a identificação da origem; depois, seguiam para posterior armazenamento por outras abelhas-operárias.
Da entrada do pólen até a última ação da linha de produção, tudo era anotado e coordenado pelas operárias gerentes de produção. O papel delas era fazer fluir, de forma harmoniosa e rápida, a produção. Diante de qualquer desvio de função e erro no andamento do processo, a abelha-operária sofria severas penas, como expulsão do Reino de Ápis, morte, confinamento temporário e prisão perpétua. Tudo era regulado de modo rígido pela pressão dos gritos das abelhas gerentes de produção. Nada passava despercebido de seus olhos e de suas antenas.
Os zangões-plebeus e as abelhas punidas viviam às margens do reino, sem função alguma e sem dó das operárias, visto que estas não podiam se desviar de suas funções. Era comum morrerem de fome ou serem capturados por outros insetos carnívoros, em especial as aranhas e as vespas assassinas, e por algum predador, como sapos e lagartixas.
As vespas vermelhas do oeste eram as mais perigosas, vistas pelo Reino de Ápis como as mais ameaçadoras e perigosas da região. Esse reino, que também era formado por abelhas-rainha, abelhas-escravas e zangões, não produzia nada da natureza. Tais vespas viviam apenas para as guerras, das quais recolhiam as presas prisioneiras que lhes serviam de alimentos. Bárbaras e predadoras, eram comandadas por um zangão déspota e tirano, mais conhecido por Hostílius.
Em Ápis, as legiões eram formadas por outros grupos de zangões, os gladiadores, divididos em três tipos de guerreiros. Os menos experientes eram os hastatis, que compunham a artilharia de frente nos combates; os experientes eram os príncipes, que entravam em cena quando os hastatis se retiravam; e, por fim, os mais experientes eram conhecidos como césares, que entravam com as estratégias de guerra e exerciam o papel de generais, comandantes e conselheiros. Todos eles tinham o papel de proteger o reino contra os ataques de inimigos externos.
Em reunião, os batalhões de gladiadores formavam as centúrias, nas quais decidiam sobre a guerra e a paz diante da iminência de ameaças de outros reinos rebeldes. No Reino de Ápis, o comando dos gladiadores ficava a cargo de César, um enorme zangão que detinha o carinho e a paixão da rainha pelo seu jeito arrogante e brutal de defender os interesses do reino.
Os zangões-plebeus,