O que é mídia-educação
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Sobre este e-book
Este trabalho tem o objetivo e a pretensão de tentar contribuir, ainda que modestamente, para que o Estatuto da Criança e do Adolescente saia do papel e se torne realidade no Brasil, assegurando que todas as crianças brasileiras tenham acesso efetivo a uma educação de qualidade com todas as tecnologias disponíveis e a uma comunicação livre e sem preconceitos. É com essa intenção que convidamos os leitores a visitá-lo.
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O que é mídia-educação - Maria Luiza Belloni
CAPÍTULO 1
MÍDIA-EDUCAÇÃO
A MEDIAÇÃO ESCOLAR INDISPENSÁVEL PARA A CIDADANIA
*
A criança terá direito à liberdade de expressão; este direito inclui a liberdade de procurar, receber e partilhar informação de todos os tipos, independentemente de fronteiras, seja oral, escrita ou impressa, na forma de arte ou através de qualquer outro meio de escolha da criança.
CONVENÇÃO DA ONU SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE,1989
1. Autodidaxia: novos modos de aprender
Para iniciar a discussão destas modestas reflexões sobre assunto tão vasto e complexo, gostaria de ressaltar que o objetivo deste trabalho, como de resto de toda minha atuação como professora e pesquisadora, é o de contribuir para a efetivação dos direitos da criança e do adolescente, especialmente o direito à educação de qualidade e o direito à comunicação, tal como expresso no artigo da Convenção em epígrafe.
Os modos de acesso ao conhecimento de amanhã são difíceis de imaginar e, então, o melhor caminho será centrar o foco no utilizador (usuário) por duas razões logicamente necessárias: entender como funciona esta autodidaxia para adequar métodos e estratégias de ensino; e assegurar que não se percam de vista as finalidades maiores da educação, ou seja, formar o cidadão competente para a vida em sociedade o que inclui a apropriação crítica e criativa de todos os recursos técnicos à disposição desta sociedade. É urgente atualizar a tecnologia educacional porque uma nova
autodidaxia importante está se desenvolvendo há vários anos nos jovens por meio das mídias
(PERRIAULT, 1996a, p. 23).
Faz já 40 anos que Mc Luhan lançou seu famoso desafio o meio é a mensagem
e, desde então, muitos especialistas têm procurado compreender como e o quê se aprende por intermédio das mídias
. Com sua frase lapidar, o pensador canadense, que muitos consideraram visionário e catastrofista, queria refutar a tese, muito em voga na época, da neutralidade do meio tecnológico: ao transmitir a mensagem, afirmava ele, o meio transmite também algo mais que lhe é inerente e que age sobre o conteúdo, transformando-o. Este algo mais é o que hoje chamamos linguagens
das mídias eletrônicas.
Crianças que durante anos consomem televisão de modo frenético (isto quer dizer quase todas) absorvem certo tipo de mensagens, específicas do discurso televisual, em termos de linguagens, estilos, aspectos técnicos, elementos estéticos, que são de natureza diferente dos conteúdos. A televisão habitua o espectador a, por exemplo, privilegiar mensagens curtas (protótipo ideal: anúncio publicitário), a praticar o zapping e a desligar
a atenção ou o aparelho quando um certo ritmo de sucessão de imagens e sons não é respeitado.
Em um estudo que marcou época nos anos de 1980, Patrícia Greenfield mostrou que as crianças que veem muita televisão têm melhores aptidões para construir conceitos de relações espaço-temporais, para compreender as relações entre o todo e suas partes, e até para identificar os ângulos das tomadas de imagens
(takes ou prises de vue), o que significa um reforço das faculdades de abstração, pois qualquer teoria é, antes de mais nada, uma maneira de ver as coisas (GREENFIELD, 1988). Parece incontestável, hoje, que as crianças desenvolvem por impregnação novas capacidades cognitivas e perceptivas, como por exemplo: fazer anotações enquanto veem um programa de vídeo; inventar uma boa pergunta para animar um chat; saber intervir num programa de TV interativa (jogo, teleconferência ou outro); reconhecer um quadro famoso ou estilo de um pintor; reconhecer e identificar um trecho musical, entre muitas outras já conhecidas e banalizadas e outras ainda inimagináveis (PERRIAULT, 1996, p.