Kizoomba: Cosmogonia Bantu
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Kizoomba - Zezinho França
Zezinho França
KIZOOMBA
Image 2Kizoomba – Cosmogonia bantu
Catalogação na publicação
Elaborada por Editora AWETO Publicações
Índice para catálogo sistemático
I. Candomblé
Copyright © Zezinho França, 2021
Todos os direitos reservados
Diagramação: Rodney Gomes
Editora AWETO Publicações - CNPJ: 31.113.605/0001-12 Avenida Dona Benedita Franco da Veiga, 2301 Bairro Feital - Mauá – SP- Cep: 09330-765Site: https://bit.ly/awetoeditora.
Facebook: https://www.facebook.com/aweto.publicacoes
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Image 3ZEZINHO FRANÇA
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Kizoomba – Cosmogonia bantu
Eu, TAWA-LAWESI, muana diu Igbualamo
Diu zanzi, zanzi KIBUKI SAMBA-DE-RUN.
Ungunzo, Burungunzo,
diu Mutakaloombo, Mutalambo.
Diu Zazira, Tata Mukambo, Bela Korokosi.
Contentarei no Samba de N’Banda.
De Makuiu, Makuiu Kwana N’Zambi,
Rosi N’fá, Rosi N’Bambi;
Makwuiu, Makwuiu Kwana N’Zambi.
Bença minha Mãe, bença meu pai.
Ao passo que me lembrarei.
Direi-Dirá.
4
ZEZINHO FRANÇA
Joselito Evaristo da Conceição – Tata Tauá
Meu querido amigo que tanto se dispôs a me ensinar os segredos do culto Congo Angola.
Sacerdote dedicado, estudioso criterioso.
Saudades.
5
Kizoomba – Cosmogonia bantu
SUMÁRIO
Introdução...........................................................................9
Prefácio...............................................................................14
I.Quem são os bantus........................................................16
II.A Religião e o africano....................................................25
III.Ontologia Bantu..............................................................40
A noção geral do ser.A terra e o território...................57
V.Hambas, Minkice e Bakulos...........................................60
VI.O Panteão bantu.............................................................69
VII.A hierarquia kimbundu-bakongos...............................82
Sacerdotes na África......................................................84
Divisão Sacerdotais no Brasil.......................................84
VIII.As máscaras dos Minkice............................................88
IX.Sistema oracular bantu..................................................91
X.Cosmogonia 1..................................................................95
A criação do universo segundo os bantus..................95
XI.Cosmogonia bantu 2....................................................105
A Criação da Terra........................................................105
XII.A adaptação do culto no Brasil..................................118
XIII.A formação do culto no Brasil...................................126
XIV. As famílias de Santo.................................................137
XIV.As Casas matriciais....................................................154
Tumbenci........................................................................154
Terreiro Bate Folha, Mansu Banduquenqué...............156
6
ZEZINHO FRANÇA
Terreiro da Goméia.......................................................158
Polêmicas e mais polêmicas.............................................160
Iniciação duvidosa.............................................................162
Odete: A Vedete.................................................................167
Axé do Beiru..................................................................169
Tumba-junçara...............................................................171
Amburaxó - Massaganga de Cariolé do Santo
Amburaxó................................................................173
Conclusões finais......................................................................179
Sobre o autor....................................................................182
Bibliografia e referências..................................................189
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Image 4Kizoomba – Cosmogonia bantu
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ZEZINHO FRANÇA
Introdução
oi num encontro patrocinado pelo meu querido
Tata N’Zazi que o tema "Pambu N’Jila e a Criação
do Universo" surgiu com mais ênfase. Já havia F falado outras vezes sobre o tema, mas naquele
episódio o interesse se propagou. Pediram então que eu fizesse uma live para complementar o ensinamento, e depois outras vieram no mesmo tom, mostrando que o tema era deveras complexo para ser entendido.
Muito por conta do sincretismo desta entidade com a divindade Eşu dos ioruba-nagôs. Assim, percebi que, não somente este sincretismo dava forma e identidade aos Minkice, (divindades bantus), mas também moldavam seus arquétipos e cultos. Foi assustador.
Muito se fala do sincretismo católico nos cultos afro-brasileiros, mas pouco se percebe o tamanho e importância da influência do culto iorubano nas duas outras nações étnicas da diáspora, a saber os bantus e os dahomenaos, chamados geges/jejes.
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Kizoomba – Cosmogonia bantu
Na quarta vez que fui instado a falar do mesmo assunto para o mesmo público percebi de maneira contumaz a necessidade de confeccionar um estudo de tratativa sobre o tema. E aqui está ele.
Já havia iniciado um tratado sobre o culto Congo-Angola no Brasil, mas com o advento da coleção AXÉ: OS CAMINHOS DO PÉ
PRETO, onde abordo a instalação do culto de matriz africana nas américas, o tratado acabou por ser cooptado. Foi definitivamente absorvido pelo novo livro. Mas sim, como percebido pelos que já leram esta coleção o tema ficou muito relativizado. Minha mãe de santo, Mametu Ominlodecy chegou a dizer, com muita propriedade e no seu linguajar acadêmico e deliciosamente perturbador, que não passou de semântica. E como sempre, Mãe Solange d’Osun estava certa.
Da mesma ordem, percebi que não poderia falar sobre N’Pambu-N’Jila, ou N’Pambu N’Zila, se não confrontasse de maneira hermenêutica a criação do ser humano sob a visão dos bantus. Isto porque é notório que as informações são obscuras no que tange ao estudo da epistemologia da mitologia bantu em todas as suas subculturas de noções étnicas. Para tanto, é bom lembrar que, como todas as outras estruturas linguísticas africanas, principalmente subsaarianas, os idiomas 10
ZEZINHO FRANÇA
são ágrafos, em quase toda totalidade. Assim, ao contrário dos iorubas, maleses, senegambios e dahomeanos que possuem seus griots
a decorarem e declamarem poemas intermináveis de assento cultural e mitológico, entre os bantus a tradição oral sofre com a volatilidade.
Para tanto, pretendo tratar nesta obra da tradição que nos chega em terras bantus sobre a criação do ser humano e sua multiplicação na terra. Bem como a construção da religião dos bantus em suas características mais intrínsecas, que a difere de modo cabal dos iorubanos, mas que, por força do sincretismo acabou por se associar em terras americanas, pois não é exclusividade do Candomblé brasileiro –
redundantemente falando, pois o Candomblé só existe no Brasil como essência.
Espero que esta obra possa trazer luz aos conceitos obscurecidos pelas trevas do sincretismo e valoração da cultura bantu no que tange à mitologia e seu panteão.
Assim esperamos, assim fazemos.
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Kizoomba – Cosmogonia bantu
PEMBELE O MBUTU NGOLA.
(Salve a nação de Angola.)
Kiuá Nganga Pambu Nzila
(Viva o senhor dos caminhos)
Prof. Tata Zezinho França do Kabilah
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ZEZINHO FRANÇA
MUSSUILU KIKALE NGANA NZAMBI MUAMBI
(Louvado seja o Senhor criador)
PEMBELE O NDANJI UA TUMBA JUNÇARA (Salve a
raiz do Tumba Junçara)
PEMBELE O NDANJI UA TOMBENCI
(Salve a raiz do Tombenci)
PEMBELE O NDANJI UA BATE FOLHA
(Salve a raiz do Bate Folha)
PEMBELE O NDANJI UA GOMEIA
(Salve a raiz da Goméia)
PEMBELE O NDANJI UA MUXICONGO
(Salve a raiz do Muxicongo)
PEMBELE O NDANJI UA AMBURAXÓ
(salve a raiz do Amburaxó)
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Kizoomba – Cosmogonia bantu
Prefácio
oi com grande satisfação que recebi o convite para prefaciar esta obra, destacando o autor Zezinho França., também sacerdote Tata Zezinho França de
F Kabilah, (Tawá-Laewesi) como um dos maiores
estudiosos na cultura Bantu da atualidade, o mesmo conseguiu em sua obra inserir informações valiosas para a aprendizagem e conhecimento não somente para os praticantes e simpatizantes das religiões de cultura afrodescendentes, mas também como fonte de entendimento e estudo para outras nações, religiões e pessoas em geral.
Em virtude da diversidade de práticas e conceitos que habitam no meio candomblecista, com um apanhado de ideias e procedimentos utilizados por diversas casas, que muitas vezes é passada por gerações criando assim vários cultos paralelos, muitas vezes confundindo as Nações e o culto ancestral se entregando a uma mistura entre Minkice, Orişás e Voduns, o autor teve a ideia de resgatar as origens dando um caminho para os leitores.
Muito se fala sobre religiões afrodescendentes, principalmente da cultura Bantu, Angola, porém pouco estudo se tem sobre o assunto.
Sendo necessário para entendimento de todos o autor abordar alguns fundamentos, hierarquia, história e origens de forma simples e de fácil compreensão de todos.
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ZEZINHO FRANÇA
Acredito que aqueles que lerem esta obra, com certeza não hesitarão em afirmar a importância e grandeza das informações aqui contidas. Fruto de um trabalho de pesquisa, devoção e fé ao sagrado.
Felicitamos ao Tata Zezinho França do Kabilah pela composição da obra, sabendo que é uma fonte de aprendizado e cultura indispensável.
Tata Inkosi Muam
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Kizoomba – Cosmogonia bantu
I.
Quem são os bantus
s bantus são um povo pré-histórico, com
hábitos caçadores e coletores que se formou na
África centro-meridional, e que por volta do
O ano 2 mil AEC se fixou na parte sul do
continente, compreendendo territórios desde os países hoje estabelecidos Camarões, Angola, Uganda, Moçambique, Malawi até a África do Sul. É sem dúvida o maior grupo étnico da África, mas da mesma forma se divide em mais de duzentos subgrupos espalhados por tribos e geografias diferentes. O que formam culturas e mitologias diversas. Todas elas integradas ao mesmo grupo majoritário. Todos os idiomas falados servem ao grupo bantu de processos idiomáticos.
Entretanto os subgrupos idiomáticos podem trazer tanto semelhanças como diferenças bastante sintomáticas. Da mesma forma as mitologias, que apesar de trazerem a mesma fonte de cultura hermenêutica traz muitas disparidades de essência mitológica.
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ZEZINHO FRANÇA
Chegaram ao Brasil por volta de 1560, trazidos da África Sul–
Equatorial, em sua grande maioria vinham de N’Gola (Angola), do Congo (Congo), Costa do Golfo da Guiné, Moçambique e Zimbábue.
Traziam uma vasta dialética de Idiomas tribais, divididos em etnias e subetnias bem distintas. Bakongos, Kimbundu, Kuinguana, Kioko, Ronga, Suaíle, Sutho, Tonga, Umbundu, Yangana, Shona, Zulu entre outras. Falavam a mesma língua, porém traziam com eles muitos dialetos, cerca de 270, representando 2/3 do continente africano, chamado de África Negra. Ajaua, Bemba, Kuanhama, Ganguela, Iaka, Lingala, Makúa, Nhaneka, Nhungue, Nianja.
Eram considerados pelos senhores de escravos como bons trabalhadores e pacíficos, não dados a motins ou revoltas. Na verdade, é uma característica destes povos a temperança nos relacionamentos.
Talvez por isto tenham sido suplantados em suas culturas religiosas pelos iorubanos que chegaram mais de 50 anos mais tarde e em menor número.
Mas, a história dos povos Bantu não se reduz à simples narração de acontecimentos do passado. Engloba toda a sua experiência, cheias de fatos reais, sonhos, vivências, lendas, mitos, histórias comunitárias.
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Kizoomba – Cosmogonia bantu
Engloba o mundo concreto do Bantu, cheio da vida destes povos, que unicamente se mantém presente através da tradição, que se comunica de geração em geração.
O termo Bantu, foi cunhado em 1856 pelo linguista alemão Wilhelm Bleek, para designar um conjunto de dialetos muito aparentados, falados por quase todas as populações do centro e Sul de África, ao Sul do paralelo 5" de latitude norte. Quis-se ver entre todos os grupos de língua Bantu um parentesco também de instituição e modo de viver: mas