Comportamento autolesivo na adolescência: uma proposta de compreensão a partir da função da autolesão
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Comportamento autolesivo na adolescência - Myrthes Freitas Lopes Dezan
A Sandro Dezan, esposo amado que sempre está comigo, caminhando junto, me motivando e ajudando a renovar as forças nos momentos difíceis. Aos meus filhos Matheus Lopes Dezan e Gustavo Lopes Dezan, pelo incentivo diário e por rigorosamente cobrarem minha dedicação aos estudos e à pesquisa.
AGRADECIMENTOS
A Deus, que sonhou para minha vida sonhos mais altos do que eu poderia ter e fez tudo acontecer de acordo com seus planos. É certo que nem sempre entendia quando aconteciam mudanças de percursos, mudanças de projetos, vidas que vinham, vidas que partiam, momentos alegres, momentos difíceis e, por vezes, barreiras que pareciam intransponíveis. Confiava e seguia na certeza de que tudo fazia parte do projeto de Deus. Sim, agradeço a Deus, por Ele e para Ele estou aqui.
Aos meus pais, vidas que se foram, mas que se fazem presentes nas lições, no exemplo, na educação. A disciplina, amor e exemplo de meu pai, Salvador Lopes, nos encorajava a não nos desviarmos nem para a esquerda, nem para a direita, pois o caminho era seguir firme nos ensinamentos de Deus, e assim o fiz. Quando era adolescente minha mãe, Madalena Ferreira Lopes, poupava-me de algumas tarefas, pois queria ver a filha estudando: Filha,
, dizia ela, estude, quero um bom futuro para você!
Queria ter feito mais para compensar tamanha confiança. Agora, nestas poucas linhas, só me cabe agradecer o amor que recebi.
Aos meus irmãos, sim quero falar o nome de todos: Mirinalva Ferreira Lopes, Solimar Lopes, Gilmar Lopes (vida que se foi), Merivaldo Lopes, Asdrúbal Onésimo Lopes, Lindinalva Lopes e Eunice Ferreira Lopes (vida que se foi). Em nome deles agradeço aos meus cunhados, cunhadas, sobrinhos e sobrinhas e aos meus sobrinhos-netos. Não me construí sozinha, estas pessoas com quem cresci, brinquei, sorri, chorei fazem parte do que me tornei. Sou resultado do que cada um deles deixou comigo.
À família que me constitui, Sandro Lúcio Dezan, Matheus Lopes Dezan e Gustavo Lopes Dezan. Com eles minha vida se completou e, graças ao apoio que me deram, chegar até aqui foi uma contemplação de momentos de superação.
À Gislane Rocha Coutinho Giro, amiga irmã que trago no coração desde a minha infância. Com ela vivi momentos incríveis da minha adolescência, juventude e vida adulta, quando me presenteou com pessoas que amo, seu marido Rodrigo Benincá Giro e suas filhas Amanda Coutinho Giro e Lívia Coutinho Giro.
A Suzana Rodrigues de Souza, minha grande amiga de toda a vida, irmã de coração. Seu lar acolhedor constituído pelo seu marido Elson Pimentel e seu filho Breno Rodrigues Pimentel, sempre foi para mim e para meus filhos um porto seguro, lugar acolhedor e fonte de alegria.
Aos amigos Adivalter Sfalsin e Rosicleia Iglesias Gobbo e suas adoráveis filhas Hamane Iglesias Sfalsin e Shaya Iglesias Sfalsin, pelo apoio, compreensão e grande contribuição na tradução do inglês e espanhol e contribuição nos esclarecimentos sobre a visão europeia do desenvolvimento da adolescência e suas atitudes frente ao problema do Comportamento Autolesivo na Inglaterra, mas agradeço principalmente por me fazerem sorrir em dias difíceis.
A Amanda Marques Léllis, Betina Hatum Mendes, Larissa Hastenreiter Barbatto Lorenzutti, Luiza Ferreira Costa e Paula Fernandes de Moraes, minhas colegas do curso de Psicologia da Universidade Vila Velha - UVV que estiveram comigo no início desta jornada e pacientemente me ouviram e me impulsionaram a continuar. Compreendiam a minha alegria e dela participavam.
Aos adolescentes da Igreja Batista de Campo Grande, Cariacica/ES, dos anos de 1986 a 2006, por confiaram a mim uma maravilhosa e incrível fase de suas vidas e que, até hoje, carinhosamente me chamam de Tia My. Foi com eles que aprendi sobre fases impressionantes da adolescência. Hoje são homens e mulheres, mas continuam sendo meus adolescentes
.
Aos professores Dra. Maria Riziane Costa Prates (UVV), Dra. Sirley Trugilho da Silva (IFES) e Dr. Humberto Ribeiro Junior (uvv), membros da Banca de Qualificação e da Banca de defesa do Mestrado, ocasiões em que apresentaram importantes orientações à presente pesquisa.
À Professora Doutora Simone Chabudee Pylro minha orientadora do Programa de Mestrado em Segurança Pública da Universidade Vila Velha/ES, agradeço pelos ensinamentos, por me mostrar direções possíveis e me conduzir no caminho escolhido. Todo o processo desta obra foi construído e estruturado sob seu olhar criterioso tornando possível o aprendizado e crescimento acadêmico que agora compartilho com todos.
"Um dia faz declaração a outro dia, e uma
noite mostra sabedoria a outra noite."
Salmos 19:2.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
APRESENTAÇÃO
A adolescência, período determinado pelo fim da infância e início da vida adulta, é marcada por transformações físicas, psíquicas e biológicas, não apenas a aparência dos adolescentes é diferente de quando eram crianças, mas eles também pensam e falam de maneira diferente
(PAPALIA, 2012, p. 387). Compreender essa fase da vida é sempre um desafio que requer conhecimento dos processos do desenvolvimento e sensibilidade para perceber como os fatores internos e externos combinam-se e influenciam a construção do sujeito.
Ao escrever a música sou rebelde
, os compositores M. Alejandro e Paulo Coelho (1978), de uma forma poética, num desabafo que bem poderia estar escrito nas folhas de caderno de um (a) estudante, parecem compreender que a construção da individualidade é influenciada pela vida em sociedade e na percepção do mundo pelo sujeito a partir de suas próprias expectativas. O personagem construído na narrativa se tornou rebelde
pela forma como foi tratado e por não ter tido seus sonhos compreendidos, vejamos:
Sou Rebelde
"Eu sou rebelde porque o mundo quis assim
Porque nunca me trataram com amor
E as pessoas se fecharam para mim.
Eu sou rebelde porque sempre sem razão
Me negaram tudo aquilo que sonhei
E me deram tão somente incompreensão
Eu queria ser como uma criança
Cheia de esperança e feliz
Eu queria dar tudo que há em mim
Tudo em troca de uma amizade
E sonhar, e viver, esquecer o rancor
E cantar, e sorrir e sentir só o amor"
Para os autores, a infância seria, então, a representação de um período em que nos sentimos seguros e estamos livres de frustrações, assim, parecem concluir que, se fosse possível voltar a se sentir como uma criança também seria possível um recomeço, uma vida mais serena e com melhores perspectivas.
Entre os meus 17 anos a 38 anos, estive envolvida em projetos da comunidade evangélica nos municípios de Cariacica/ES e Vila Velha/ES. Estes projetos consistiam em encontros semanais visando o acolhimento de adolescentes para, a partir de estudos, debates, dinâmicas e recreação, orientá-los para novos papéis na vida social e para a tomada de decisões. Nesse período foi possível verificar que, para alguns adolescentes, vivenciar alguns fatos da vida, acontecimentos inesperados (ou esperados, mas não suportados), era uma questão complexa.
Nem sempre foi fácil, mas o esforço conjunto permitiu a obtenção resultados positivos, tornando a tarefa gratificante e levando a compreensão de que o trabalho com adolescentes se faz possível quando se tem disposição de crescer junto, aprender com e estar aberto a constantes mudanças de paradigmas.
No período de 1997 a 2017, ao trabalhar na Policial Federal, atuei na prevenção e repressão de crimes financeiros, crimes contra o meio ambiente, repressão a entorpecentes, crimes contra a ordem pública, entre outras atividades de polícia judiciária e administrativa. Nos anos de 2005 a 2007 participei de uma das maiores operações da Polícia Federal contra tráfico de pessoas, Operação Sodoma
e outras operações policiais que surgiram no desdobramento.
No percurso das investigações me deparei com diversas meninas, no período da adolescência, que foram influenciadas e enganadas por quadrilhas de tráfico de pessoas com a promessa de uma vida promissora. Dado meu interesse pelo público adolescente, esse problema tornou-se objeto de meu trabalho de conclusão do Curso Especial de Polícia – Especialização em Polícia Judiciária no ano de 2007, com o título: Tráfico internacional de pessoas como afronta aos direitos e garantias fundamentais.
Com formação em Direito pela Universidade Vila Velha/ES (2006), dediquei-me aos estudos da organização administrativa dos órgãos públicos me especializando em Direito Público e Privado no ano de 2014. Em todas estas atividades, sempre mantive o foco no ser humano e suas particularidades, com atenção especial a adolescência.
Com esta motivação, já aposentada da Polícia Federal, ingressei no Curso de Psicologia na Universidade de Vila Velha, no ano de 2018, paralelo à graduação, no início do ano de 2019, ingressei no Programa de Mestrado em Segurança Pública da Universidade Vila Velha - UVV. O ingresso no referido programa propiciou a minha aproximação o campo das violências, em específico, com a, temática da autolesão na adolescência.
PREFÁCIO
A autolesão sem ideação suicida é um comportamento que envolve ferir-se deliberadamente, sem que haja intenção de causar a morte. Esses comportamentos podem variar de leves a graves e podem ser difíceis de identificar. Algumas práticas autolesivas são socialmente aceitas e até mesmo encorajadas em algumas culturas. Porém, por vezes, também compreendem comportamentos preocupantes, especialmente entre adolescentes, pois podem envolver cortes, queimaduras, mordidas, arranhões, entre outras ações.
Dentre as discussões já realizadas sobre esse assunto, admite-se que o comportamento autolesivo sem ideação suicida possa estar relacionado a uma forma de lidar com sentimentos intensos, expressar emoções reprimidas ou até mesmo obter uma sensação de controle em momentos de dificuldade. Embora esse comportamento possa ser uma forma de lidar com a dor emocional, essa prática pode ter consequências graves para a saúde física e mental em longo prazo, de modo que esse assunto tem despertado a atenção de educadores e pesquisadores nos últimos anos.
Este livro é fruto de um estudo exploratório sobre o tema, em que a autora apresenta uma abordagem do comportamento autolesivo na adolescência, segundo a perspectiva de pessoas de diferentes idades e regiões do Brasil, e a partir de três grupos: aqueles que nunca se autolesionaram intencionalmente, nem conhecem alguém que o tenha feito; aqueles que nunca se autolesionaram, mas conhecem alguém que já se autolesionou propositalmente; e pessoas que se autolesionaram intencionalmente.
A leitura desse material pode contribuir no sentido de ampliar as informações sobre o comportamento autolesivo junto a adolescentes brasileiros, e assim, ajudar educadores e profissionais de saúde mental a entenderem melhor essa realidade complexa e delicada.
Simone Chabudee Pylro
Doutora em Psicologia
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