Seguir Em Frente
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Autoajuda para você
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Seguir Em Frente - Carlos Augusto
Carlos H. Augusto
Seguir em
Frente
1
Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão
...
Filipenses 3.13
Dedico esta obra a todos aqueles que, de alguma forma, estão acorrentados aos erros que cometeram no passado, e sem esperança de encontrar uma salvação, acreditam que suas vidas terminaram. A estes, digo que o perdão de Deus está disponível para tocar seus corações, e afirmo, sem a menor sombra de dúvida, que uma nova história pode ser escrita para vocês a partir de hoje. Digo isso como quem chegou ao fundo do abismo, e quando pensei que era meu fim, a mão poderosa de Deus me tirou de lá. Ele pode tirar você também.
2
Em memória de Juliane Fagundes, minha amada e querida amiga do coração. Nunca esquecerei o brilho de seu sorriso, tampouco os momentos mágicos que passamos juntos na adolescência. Não posso entender o porquê algumas coisas acontecem em nossas vidas, nem qual motivo que a levou a pôr termo à própria vida. Tudo que posso dizer é que Deus sabe de todas as coisas e meu conforto é me agarrar à esperança de que Ele tenha, de alguma forma, alcançado seu coração nos últimos momentos.
3
Lembranças de um menino
Aconteceu numa tarde outonal quando completei nove anos.
Lembro-me do céu estriado cheio de cores no entardecer, e do grande lago que ficava no alto de uma montanha onde papai e eu costumávamos visitar todos os anos nesta mesma data. Eu segurava o Fortaleza, meu barquinho à vela de casco feito com madeira rústica, que havia ganhado de presente aos cinco anos. Nada nesse mundo me era tão prazeroso quanto vê-lo deslizar pela superfície espelhada do lago, amarrado por uma linha fina de soltar pipas. Em meus poucos anos, passei tardes inteiras envolvido neste meu mundo de vai e vem deixando que o vento brincasse com meu barco, empurrando-o para longe de mim só para ter o prazer de puxá-lo novamente. Sentia-me feliz por isso. Gostava de vê-lo se afastar conduzido por ondulações tênues que se formavam no lago, simplesmente para ter o prazer de contemplar sua partida como quem assiste um navio zarpando rumo à um país distante. Nessa idade, não precisava de muito para me sentir feliz. Papai observava de longe, uma satisfação brilhando em seus olhos, e eu sabia que assim como eu, essa mesma felicidade o invadia nestes momentos que passávamos juntos na montanha.
Era nosso melhor momento. Eu com meu minibarco a velas, ele com seu violão antigo que ganhara do avô dele, uma herança de família.
O tempo não passava quando estávamos juntos, e nem mesmo a iminência de uma noite fria nos fazia querer partir. Para mim, uma criança empolgada e segura em meu mundo de fantasias, aquele era o dia perfeito. Era como se nada mais além de nós dois fosse importante, como se nunca, jamais momentos como aquele fossem terminar.
Eu só queria estar ali, com meu barco, com meu pai me olhando e dando-me a certeza de que tudo iria bem. Imaginava que a vida era 4
como uma tarde colorida, onde barcos e violões se encontravam e juntos criavam a aparente felicidade de um momento eterno.
Mas nesse dia os acordes do violão cessaram cedo demais.
Eu deveria ter notado o silêncio do violão, como sempre fiz, só que desta vez, Fortaleza estava sobre o lago e dera uma guinada radical para o lado, por conta de uma lufada de vento e quase virou sobre a água. Por um momento senti medo de que ele viesse afundar, e isso exigiu de mim toda atenção que possuía. Aquele barco, de fato, era minha vida. Se a água o tomasse, o peso da vela encharcada faria com que ele descesse feito uma pedra.
Um nó surgiu em minha garganta só de pensar, mas me contive para não entrar em desespero. Mais ventos fortes começavam a soprar sobre minha cabeça e a vela do barquinho se agitava estufando-se de um lado para o outro. Agarrei-me à linha que o prendia com pulso firme e com gestos ágeis, consegui reverter a situação e colocá-lo a favor do vento novamente. Senti que minhas pernas estavam bambas, minha testa forrada por um suor frio e pegajoso. Foi por pouco. Tão logo a situação fora controlada uma centelha de orgulho encheu meu peito. Fortaleza estava salvo, afinal, e tudo agora estava sob controle. Puxei o barquinho para perto da margem do lago só por segurança e em seguida amarrei a linha num pedaço de raiz seca presa ao chão. Ele não iria a lugar algum. Virei-me para meu pai, procurando sua reação, queria que ele visse o bom marinheiro que eu era. Perto dele, eu me sentia um grande capitão, sentia que era capaz de fazer qualquer coisa que imaginasse. Atrás de mim, a mais ou menos dez metros de distância, um violão estava caído para o lado de forma desleixada, e no lado oposto, o corpo do meu pai estendia-se feito uma rocha deslocada por cima da grama.
Milhares de sensações sinistras e indescritíveis atravessaram meu peito. Levei alguns segundos para entender a visão e decidir o que fazer. Violão para o lado, papai para o outro. Mas, o que significava aquilo...? Imediatamente parti em sua direção. Ajoelhei-me ao seu 5
lado, e sacudindo-o pelos ombros, gritei seu nome várias vezes.
Papai, acorde, o que está acontecendo, o senhor está bem? As palavras saíam atropelando umas às outras. Chacoalhei seus ombros com mais veemência. Ele não respondia. Novamente senti meu corpo começar a tremer, uma sensação de pavor se apoderando de mim. Com uma das mãos, segurei a cabeça dele, insistindo para que me respondesse.
Nada. Comecei a chorar. Estava no alto de uma montanha, sem ninguém à quem pedir ajuda. O céu sobre minha cabeça já começava a ser engolido por uma escuridão azulada, e as primeiras estrelas despontavam na abóbada celeste.
Olhei perdidamente em todas as direções sem saber ao certo o que estava procurando. Por fim, segurei a mão do meu pai, e, soluçando, fiquei ali, olhando para o horizonte imaginando quando alguém daria falta de nós e viria nos socorrer. O vento estava mais frio do que o normal e o som das árvores sendo chacoalhadas ao longe cortava o silêncio numa sinfonia estridente e assustadora. Olhei para o lago a fim de encontrar Fortaleza, mas sua silhueta havia desaparecido.
Levantei-me depressa soltando a mão do meu pai com cuidado e fui até a beira do lago. O barquinho não estava mais lá. Procurei a linha presa à raiz. Estava arrebentada. Certamente meu nó não fora forte o bastante para sustentá-lo e se desfizera devido aos ventos fortes que estavam batendo no alto da montanha, levando o Fortaleza ao fundo.
Naquele dia, tudo parecia ter escapado das minhas mãos.
Jamais senti um medo tão intenso quanto naquele momento. Tornei a sentar no chão esperando que alguma coisa acontecesse, embora não soubesse o que esperar, exatamente. Chorei, parei de chorar e tornei a chorar novamente. Estava me sentindo extremamente só.
Demoraria pelos menos três horas até que meu pai recobrasse a consciência depois de um desmaio causado por uma queda de pressão arterial. Isso já acontecera em casa algumas vezes, mas nunca na montanha e nem no meu aniversário. Lembro-me que foi a primeira vez que falei com Deus, pedindo a Ele que nos ajudasse. Felizmente, Ele nos escutou e papai se recuperou totalmente, mas seu violão não teve a mesma sorte - sofreu uma rachadura no braço por conta da 6
queda. Quando descemos a montanha em direção ao carro, uma constelação infinita salpicava o céu com luzes cintilantes. Fizemos o caminho de volta lentamente, envoltos por um silêncio aliviado, contudo, para mim algo havia se partido ao meio. Fortaleza se fora para sempre, e não podia contar ao certo as vezes que desejei voltar atrás naquela noite, subir a montanha novamente e resgatá-lo da escuridão fria em que ele se encontrava.
Aquele lugar exuberante e de paisagens belíssimas, tornara-se para mim uma lembrança dolorida que carreguei por anos. Sentia-me feliz pela recuperação do meu pai, contudo, minha alma derretia pelo barquinho, uma das coisas que eu mais amava quando criança.
A noite fora longa, e banhei meu leito em lágrimas. As muitas consolações posteriores e novos presentes não foram suficientes para aliviar o fardo da minha perda. Sempre soube que fiz a coisa certa ao socorrer meu pai, afinal de contas, Fortaleza não passava de um barco barato, carregado com as paixões e fantasias de um menino sonhador. No entanto, não se tratava apenas de um barquinho com um nome presunçoso; até aquele momento, eu acreditava que a vida era perfeita, que o mundo me pertencia; só não conhecia ainda o gosto ácido de perder algo que eu amava.
Capítulo 1
Olhem para este menino
A estória do menino com seu barquinho exposta anteriormente é ilustrativa. Mas, também estranhamente real. Trata-se de um