Entretanto outras estórias
De nuno graça
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Sobre este e-book
Um Caligrama, inúmeros Haikus e outros escritos.
Várias estórias. Vários estilos. Várias vozes. Apenas um autor.
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Entretanto outras estórias - nuno graça
Agradecimentos
Aos meus leitores, que me fizeram acreditar que seria possível continuar a viver o meu sonho de criança.
Aos meus filhos, sem eles de nada vale sonhar.
Aos meus sobrinhos, P. e R., os meus primeiros filhos
e também os meus primeiros leitores.
À Cátia, que me sabe ler tão bem.
À Marisa Cardoso, pelas imagens sem filtros.
Ao Dinis Lapa, pelo dom da palavra.
E à minha mãe, de quem tenho muitas saudades.
Para o meu mais novo, Santiago, cujo espírito inquieto, personalidade
multifacetada e versatilidade está também patente nesta obra.
E também porque muito gosto dele, mil milhões.
Prefácio
Onde afluem ressonâncias de Kafka, Cervantes e, no estilo, uma prosa erudito-popular dimanada e fecunda, Nuno Oliveira Graça manuseia a língua portuguesa como quem revira a terra para encontrar minhocas ao lado dos grandes temas da literatura mundial. Amor, morte, transformação, liberdade. Este livro é, pois, uma jornada do herói, ou melhor, do anti-herói, uma vez que não existem em Xavier a moralidade e o carisma do herói, nem tão-pouco a imoralidade do vilão. Existe, sim, a hesitação, a angústia da impotência (como disse Luiz Pacheco numa entrevista, «a pessoa escolhe a sua própria prisão, ou cai nela»), o amor paterno-filial, a dor da perda, tudo isto em textos que passam uns pelos outros olhando-se de relance, apenas se roçando para provocar um efeito borboleta. O Xavier de um texto não é o mesmo que do outro. São vozes em uníssono, mas de tempos, sonhos, desejos e experiências distintos. Todo o livro nos dá uma sensação de metamorfose. De um dia para o outro, deixamos de ser quem éramos ontem. Uma metamorfose brotada de marcos miliários na vida de alguém, desde a revelação do dom da escrita (o autor cita Bergson, mas também podia ter acrescentado um pensamento de Wittgenstein: «Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo») ao nascimento de um filho. O autor aventura-se, também, na poesia, num texto comovente dedicado à mãe, bem como em haikus (ou mosaikus, palavra essa que poderia dar o título ao livro) que rivalizam com os de Borges. Resta acrescentar que Nuno Oliveira Graça tem, como será evidente após o mergulho nestas palavras, muita graça.
Dinis Lapa
Salto ao eixo na terra da Casa Amarela
Saudades, só portugueses conseguem senti-las bem,
porque têm essa palavra para dizer que as têm.
Fernando Pessoa
As gargalhadas que ela dava quando eu a agarrava à força e só desgrudava quando por fim lhe arrancava um beijinho, como que a pedir-lhe desculpa quando estava zangada ou irritada comigo. Ajudar-me a fazer revisões para o teste de francês num fim de semana, sem que nunca tivesse tido aulas de francês. Proferir a frase eu já vi este filme
, mesmo que na verdade não o tivesse feito, ainda que acreditasse genuinamente que o tinha, tais as semelhanças entre os enredos dos filmes. Estas são as primeiras coisas que me lembro quando recordo a minha mãe.
Lembro-me também de mais alguns momentos, não propriamente de os ter vivido na realidade, mas de os ter imaginado na intimidade. Isto é, vivi-os certamente, ainda que a minha memória não o saiba. Mas imagino-os desde tenra idade, porque sempre que podia, escapulia-me para ver, rever e viver o velho álbum de fotografias de família. Aqueles momentos, para sempre paralisados no tempo, ficariam para sempre arquivados na posteridade.
Este álbum de fotografias era impressivo! Todo preto, unido por umas argolas de ferro prateadas e robustas, recheado com páginas