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O Que Aconteceu Com Benjamin?
O Que Aconteceu Com Benjamin?
O Que Aconteceu Com Benjamin?
E-book227 páginas3 horas

O Que Aconteceu Com Benjamin?

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Sobre este e-book

Você toparia passar um final de semana com suas amigas da época do colégio?
Unidas pela infância e, quiçá, desunidas pelo destino, seis amigas decidem passar um final de semana juntas, em uma casa de charme, no campo, em um local longínquo, sem internet. Deixam para trás, basicamente, a última década — filhos, maridos, profissões — apenas por dois dias!
Contudo, o inusitado acontece: Beatriz, que entrava no nono mês de gestação, dá à luz, de forma prematura, ao pequeno Benjamin. Poucas horas depois, o bebê desaparece.
O que aconteceu com Benjamin? É o que todas querem saber. Tudo poderia ter sido evitado se a verdade tivesse sido protagonista desde o início…
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento20 de out. de 2023
ISBN9786525460550
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    Pré-visualização do livro

    O Que Aconteceu Com Benjamin? - Juliana Gomes

    Parte 1

    Capítulo 1

    29/05/2022

    1h30min da manhã

    As contrações, antes a cada quinze minutos, agora estavam ocorrendo em menos de um minuto. Beatriz olhava o relógio de parede, feito em mogno, uma relíquia antiga, dentre tantos outros objetos que pareciam ter vindo de um antiquário, e repousavam naquele quarto. Tudo tão diferente do quarto da maternidade, iluminado e claro, que ela imaginava em seus planos…

    — Estão muito fortes, não sei se vou aguentar mais! — balbuciou, ainda de olho no relógio, pensando em quanto tempo seria necessário para Benjamin vir ao mundo.

    — Você vai conseguir, sim, amiga, você é forte! — confortou-a Mariana, segurando sua mão, que a apertava tão forte que chegaram a brotar lágrimas nos olhos. Mas essa dor não era nada, se comparada às fisgadas do parto, pensou Mariana, embora a experiência dela tivesse sido com analgesia. Luis, seu marido, dizia que, no parto da Helena, existiam duas Marianas, a Mariana antes da analgesia, que tinha feições que lembravam um animal feroz, e a Mariana após a picada milagrosa, que estava tão plena que mais parecia uma mentora de ioga.

    — Bia, você está indo muito bem! Não perca o foco. Atenção à respiração — orientava Ana, que embora tivesse quase uma década de experiência na obstetrícia, com mais de vinte mil horas de plantão na Maternidade Criança Feliz, referência no estado, jamais imaginaria que o destino lhe traria o desafio de fazer o parto do primeiro filho de uma das suas melhores amigas, em um lugar tão ermo, sem qualquer tipo de recurso.

    Antes mesmo que o ponteiro mais fino, trabalhado em bronze, desse meia volta na circunferência do relógio, mais uma contração, que parecia estar esmagando o útero de Beatriz.

    — Aaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiii! — gritou ela, limpando, com as costas da mão que estava livre, o suor salgado que escorria para dentro dos seus olhos, causando-lhes ardência. Por um lado, a dor nos olhos poderia, quem sabe, tirar a atenção da tortura vivenciada nos órgãos inferiores.

    — Pode gritar à vontade, Bia, é o seu momento! — disse Brenda, que andava em círculos em torno das amigas, os passos da sua sapatilha Louis Vuitton martelando o piso de madeira cumaru. Bem que ela avisava Beatriz, que não tinha como não urrar, gritar, gemer, e todos os sinônimos existentes para isso, durante as contrações que antecipavam o parto, no momento em que ficavam mais fortes e praticamente intoleráveis.

    Amanda e Natália seguiam tentando, inutilmente, buscar encontrar sinal nos celulares, cada um de uma operadora distinta. Não era possível que não tivesse um quartinho onde pelo menos um risquinho de serviço disponível pudesse aparecer. Afinal, tudo estava se passando em 2022! Difícil acreditarem que estavam sem contato com o mundo, mesmo em tempos de wi-fi, que fazem do Brasil o segundo país no mundo onde mais pessoas se conectam à internet e o terceiro em que mais se utilizam as redes sociais, em que praticamente tudo o que é feito, é retransmitido em tempo real, para quem quiser ser espectador.

    Beatriz, que era dos tipos que nunca falava palavrão (pelo menos socialmente, embora ainda considerasse estar em um meio social), sempre primando pela educação e pela finesse, imaginava, na sua cabeça, aquela sequência de palavras de baixo calão que usava, desde criança, para se acalmar: Droga, merda, puta, cu. Mas só na mente!

    — A cabeça está coroando! — exclamou Ana, animada com a situação.

    Amanda e Natália vieram correndo, juntando-se às amigas, no quarto que havia virado, naquelas últimas horas, uma sala de parto.

    Beatriz tentou tocar a cabeça de Benjamin, sem sucesso, uma vez que seu braço pareceu curto demais. Mais uma sensação de rasgo abaixo da cintura, e uma dor nos quadris que ela jamais imaginaria que seria possível sentir. De todas as leituras que havia feito sobre trabalho de parto, processo do nascimento do bebê etc., ninguém nunca lhe falara sobre essa dor nos quadris — parecia que eles estavam se abrindo, uma sensação de vários ossos quebrando ao mesmo tempo.

    — Ele é cabeludo, Bia!! — disse Brenda, com amor, vendo, entre as pernas da amiga, uma textura abundante, esbranquiçada.

    Mariana também queria ver, mas sentia a importância de seguir segurando a mão da parturiente, que apertava tão forte, que uma das suas unhas cravou na ponta do dedo vizinho, decepando a pele e fazendo sair sangue.

    Beatriz levantava os quadris, enquanto lágrimas escorriam de seus olhos.

    — Bia, você precisa ser forte, não faça esse movimento, pois assim você pode se machucar e também machucar o bebê — recomendou a amiga médica, com a autoridade que sempre lhe foi um talento, e que somente tinha se aperfeiçoado com os anos de experiência.

    Uma força sobre-humana, que Beatriz sequer havia tido tempo de assimilar, tomou conta de seu corpo. E, de forma totalmente involuntária, sem qualquer comando do seu cérebro, em uma explosão, que se traduziu em um brado rouco, forçou o corpinho que deixava de pertencer ao seu ventre.

    Nesse momento, Ana segurava, com as duas mãos, o rostinho inteiro do bebê, de modo firme, mas com a delicadeza necessária.

    — Força, Bia, mais uma vez!

    Novamente sem pedir licença, aquela força, que parecia sobrenatural, tomou conta do corpo de Beatriz, que urrou mais uma vez, expulsando Benjamin até a altura dos ombros.

    Ana continuou puxando, com cuidado, o bebê, até que, de forma confortável e fácil, saíram, do corpo de Beatriz, as perninhas que faltavam, restando Benjamin, finalmente, apresentado ao seu novo mundo.

    Segundos de silêncio se sucederam, parecendo uma eternidade aos olhos daquelas mulheres reunidas no quarto e, principalmente, à nova mãe. Como se todos os corações tivessem parado de bater. Até que, para o alívio de todas, Benjamin abriu a boquinha minúscula, encheu seus pulmõezinhos de ar, e começou a chorar.

    Brenda, rapidamente, deu a tesoura à amiga médica, que procedeu ao corte do cordão umbilical do bebê, entregando-o, em seguida, à mãe.

    Beatriz acolheu Benjamin em seus braços, e assim ficou, pelos próximos minutos, sentindo o cheirinho do seu filho, tão esperado, que estaria vindo para tornar a sua vida cem por cento completa. Enquanto isso, Ana utilizava as sacolas plásticas e toalhas organizadas cuidadosamente pelas amigas, para tentar tornar o ambiente o mais higienizado possível, após a expulsão da placenta.

    O velho relógio marcava duas horas da manhã, em ponto.

    Clic. Uma foto, tirada por Amanda, pelo celular da nova mamãe, registrou o momento: Beatriz e seu bebê.

    Capítulo 2

    Uma hora depois

    Após ajudarem a amiga que havia acabado de dar à luz, preparando-lhe um sanduíche quentinho de queijo com peito de peru defumado, deixando-lhe uma jarra cheia de água (todas sabiam que amamentar dava muita sede!), acomodando a coberta de lã sobre as suas pernas, e buscando a mini banheira infantil que serviria como caminha para Benjamin naquela noite, Brenda, Mariana, Ana, Amanda e Natália deram um beijo na mais nova mãe do pedaço, e recolheram-se aos seus aposentos, que ficavam no mesmo corredor.

    — Se precisar de qualquer coisa, é só avisar, estamos deixando as portas abertas, com os ouvidos de prontidão — avisou Ana —, mas assim você consegue ficar mais à vontade com o seu Ben!

    — E a porta da casa e as janelas estão devidamente trancadas com chaves. Estamos seguras — confortou Mariana, recebendo olhares de aprovação de todas.

    A Pasárgada do Bandeira era uma casa de charme que contava com três quartos, sendo uma suíte maior, na qual ficara Beatriz com o bebê, e outros dois quartos com dois beliches cada um.

    — Amanhã já vamos para casa, e ninguém vai acreditar do que fomos capazes de realizar nesse final de semana. — Riu Amanda.

    — Amanhã não, hoje mesmo, já passou da meia noite — corrigiu-a Ana, com semblante aliviado, e todas aquiesceram, ao fitar o antigo relógio.

    — Quero só ver a cara da Dona Maria, quando ver que viramos sete — complementou Natália.

    — Meninas, vocês são tudo para mim! Só tenho a agradecer, depois desse susto, mas deu tudo certo! — reconheceu Beatriz, amamentando o filho, com o colostro que desceu rapidamente, mesmo no parto prematuro.

    — A natureza é muito perfeita, mesmo! — pensou Ana, em voz alta.

    O abajur, de porcelana e bronze — mais uma peça digna de antiquário — ficou ligado, auxiliando Beatriz a enxergar um pouco melhor, mesmo na penumbra, e colocar a fralda no seu bebê. A anfitriã da Pasárgada do Bandeira, Dona Maria, realmente era preparada — no armário da dispensa, havia fraldas descartáveis, de tamanhos variáveis. As amigas jamais imaginariam que iriam utilizar, já que a ideia era um final de semana apenas entre mulheres, sem filhos, até que o saco amniótico de Benjamin rompeu, e o trabalho de parto evoluiu tão rápido que não seria possível que as amigas saíssem dali. O fato de uma delas ser obstetra simplificou a decisão das amigas, ainda mais em um contexto no qual a cidade delas estava a cinco horas de distância.

    — Que loucura! — exclamou baixinho Beatriz, já sozinha no quarto, enquanto enleava Benjamin, adormecido, na sua própria camiseta de manga comprida, que serviria de vestimenta de modo temporário, até que voltassem para casa.

    Após colocar o filho na caminha improvisada e registrar o momento no seu celular, Beatriz se deixou levar pelo sono, e agora percebia o quanto estava cansada. Tomou um gole de água, e em menos de trinta segundos, havia adormecido.

    Duas horas depois, abriu os olhos e olhou pela janela, vendo que o dia estava começando a clarear.

    A noite foi longa, mas ao mesmo tempo, pareceu passar em um instante.

    Buscando relembrar o que havia acontecido, se Benjamin havia nascido ou se tudo não passara de um sonho, Beatriz apalpou seu ventre. Apesar de ainda estar com o volume bastante aumentado, já não carregava um bebê. A seguir, dirigiu seus olhos para a banheirinha onde estaria seu filho e, tomada por um susto, gritou:

    — Benjamin!!!!!!!

    O bebê havia sumido.

    Capítulo 3

    Um mês antes

    Natália

    Dessa vez, preciso ir. Já é a terceira vez que minhas amigas de infância marcam um final de semana, apenas entre mulheres, e furo. Em 2019, tinha uma boa desculpa, a Sofia tinha apenas cinco meses, ainda sob a amamentação exclusiva, e eu não podia ficar mais do que meio período longe dela…

    — Tire bastante leite e deixe algumas mamadeiras prontas — recomendava Brenda no nosso grupo do WhatsApp. Ela inclusive tinha dado de presente, no chá de bebê surpresa que minhas amigas haviam organizado um mês antes da Sofia nascer, um extrator de leite elétrico.

    Nada mais prático, o extrator de leite. Eu poderia, de fato, guardar umas mamadeiras prontas, inclusive congelar, colocando etiquetas com as datas de ordenha, como muitas amigas minhas faziam. Depois, bastava descer do freezer para a geladeira para voltar ao estado líquido, esquentar um pouquinho, e deixar o bebê ser feliz!

    A parte boa disso tudo é que Marcelo poderia ser um pai ainda mais presente naqueles momentos em que a única coisa que fazia Sofia (e, apenas um ano depois, Olivia) parar de chorar, era mamar. Praticamente o que nos distinguia era o fato de eu ter amamentado nossas filhas e ter gozado seis meses de licença maternidade, pois afora isso, meu marido realmente estava sempre a postos, para fazê-las arrotarem, segurá-las no colo, e dar uma atenção redobrada para a Sofia, quando Olivia nasceu, em 2020.

    Um sorriso naturalmente aparece no canto da minha boca, quando me lembro do susto que foi a notícia. Desde que Sofia tinha nascido, apenas três meses antes, não me preocupara em tomar pílula anticoncepcional, até porque sabia que não era qualquer pílula que é indicada para lactantes. Além disso, não diziam que a mãe que concede amamentação exclusiva aos filhos, pela perfeição da natureza, automaticamente não iria engravidar, já que o corpo estaria, em tese, dedicado à nutrição do novo serzinho? Só que não…!

    A verdade é que comecei a ter alguns enjoos, imaginava que eram efeito do cansaço da rotina de mãe de recém-nascido e — pimba! — quase desmaiei quando fiz o teste de gravidez, recomendado pela minha ginecologista e obstetra preferida, a grande amiga, Ana.

    — Como vou contar isso para o Marcelo? — perguntava, em meio a um ataque de riso, à Ana.

    — Amiga, ele vai adorar a notícia! Vocês já desejavam ter dois filhos, não é mesmo? Então, o plano só encurtou um pouquinho! — desconversava Ana, parecendo tentar me fazer recuperar um pouco da sanidade mental. Ana, sempre forte, plena e otimista… como admiro essa amiga…

    Mal sabia ela que estávamos passando por uns apertos, Marcelo havia aplicado grande parte de nossas economias na empresa de seguros da qual virara sócio, e o salário da licença maternidade, como professora, dava apenas para o básico. Fizemos, juntos, uma planilha de custos, e estávamos economizando até na pizza dos domingos, que foi substituída por sanduíche de pão francês, queijo e presunto.

    Afastei esses pensamentos da minha cabeça, respirei fundo, pensei em Deus, que sempre nos ajuda no meio do caos, e respondi:

    — Verdade, ele vai ficar muito contente!

    Voltando aos planos de finais de semana entre amigas de infância, em 2020 elas não marcaram nada, já que estávamos enfrentando a pandemia do covid-19. Pudera, pois eu também não poderia ir, já que Olivia nasceu, Sofia estava com apenas um ano, e acho que qualquer pessoa pode imaginar a loucura que era a nossa rotina em casa. A sorte foi que Marcelo estava trabalhando em home office, e por mais que ele tivesse muito trabalho, conseguia me ajudar demais, já que estava sempre por perto.

    Em 2021, os efeitos da pandemia um pouco mais arrefecidos, com a criação das vacinas, enfraquecimento do vírus etc. (não vou ousar opinar sobre isso, já que aceito minha posição de não ser médica nem cientista), as meninas combinaram um novo final de semana, entre amigas. Foram para uma praia linda, bem agreste, e não pouparam fotos no nosso grupo do WhatsApp — confesso que até me perguntei se estava tão legal assim, para mandarem tantas fotos o tempo todo, pareciam estar mais dispostas a postar fotos do que curtir entre si…, mas isso é comentário de gente invejosa, né?! Não está mais aqui quem falou!

    Na época, Sofia estava com dois anos, e Olivia já tinha completado um. Quem diria, Mariana foi, mesmo com a Helena bebê, com seis meses… logo ela, que sonhou tanto com a maternidade, sofreu dois abortos

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